Jogo sério, nossas carteiras golearam o Ibovespa em abril

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Sérgio Amarante Cabral
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1 Jogo sério, nossas carteiras golearam o Ibovespa em abril Parte do elenco muda para maio, mas o futebol relativo segue absoluto Você gosta de retornos relativos ou absolutos? Nós gostamos de ambos, fazemos questão de persegui-los ambos. Neste abril que se encerrou, nossas três carteiras mensais cumpriram com honra seu propósito duplo. Goleada relativa, vitória absoluta. O que isso quer dizer exatamente? Em termos relativos, batemos o Ibovespa. Para que não restem dúvidas, batemos com o portfólio de small caps, com o defensivo e com o de top picks. Em termos absolutos, todos eles registraram ganhos consideráveis em abril. Logo abaixo, você confere os respectivos percentuais.

Neste abril que se encerrou, nossas três carteiras mensais cumpriram com honra seu propósito duplo. Goleada relativa, vitória absoluta. O que isso quer dizer exatamente?

2 Carteira Abril YTD (*) Small Caps +0,91% +9,77% Defensiva +1,74% +2,91% Top Picks +6,34% -6,38% Ibovespa -0,78% -8,27% (*) Acumulado em 2013, de janeiro a abril. Acima do Ibovespa Confesso que, para nós da Empiricus, é bem importante superar o Ibovespa. Temos sérias críticas à maneira como o índice é construído, aos custosos desvios em seu caráter representativo. O viés em cima de histórias de commodities e a composição ponderada conforme o giro financeiro chamam para si papéis muito cíclicos, e por vezes alavancados. Em compensação, várias empresas pé-no-chão e representativas de uma nova economia brasileira acabam excluídas do benchmark. Você tem que procurá-las em lugares bem menos óbvios, às vezes num beco escuro da Bolsa, entre a São Bento e a Quinze de Novembro. Sem problemas, pois adoramos frequentar esses lugares ermos, que escondem upsides formidáveis. Não temos preguiça em campo, driblamos o zagueiro brutamonte com prazer. E se uma blue chip popular como a Vale integra alguma das carteiras, é porque realmente merece. E se outra como a Petrobras passa longe, é porque não merece. Se essa meritocracia recompensou o Lemann com Ambev, Burger King e Heinz, não deve fazer mal aos nossos portfólios. Brigamos contra um índice de metodologia automatizada, cujas regras de escolha pretendem refletir ações que são (ou eram) grandes e famosas. Onde está o mérito? Nem sempre queremos ações grandes e famosas. Muitas delas estão acima do peso ou envaidecidas por orgulho excessivo. Preferimos ações pequenas & médias que sonham (realisticamente) em se tornar grandes. Preferimos ações humildes, comendo discretamente pelas beiradas, que de repente despontam para surpresa geral da nação. Essa atitude contrária à média está no cerne de todo e qualquer ativo convocado para nossas carteiras mensais. E mesmo papéis aparentemente medianos não estão lá por motivos medianos.

Temos sérias críticas à maneira como o índice é construído, aos custosos desvios em seu caráter representativo.

3 Queremos ganhos A partir do momento em que você coloca sua grana em Bolsa, você espera ganhar, ambiciona ganhar. Sem desculpas, sem rodeios, sem outras compensações. Sob prazo certo de apuração, essa vontade calculista é mais do que legítima. Com ações, você assume riscos que não assumiria na renda fixa coxinha. Em troca, nada mais justo do que premiá-lo com valorizações reais. Pensando nisso (a cada dia no trabalho, a cada noite antes de dormir), montamos portfólios que visam retornos absolutos. Queremos ganhar nas carteiras, para que nossos leitores também ganhem. Ganhar, simples assim: o dinheiro no final de um dado período é maior do que no começo. Não adianta perder menos que o Ibovespa, por exemplo. Não adianta lamentar a situação do Chipre, nem o desleixo do Copom. Como explicar para o seu bolso, para o seu ego, para a sua família e seus amigos que a culpa é do mundo inteiro, menos um? Por isso, temos que ganhar, de preferência golear. Não é fácil, claro. Mas, a cada início de mês, temos que entrar em campo com essa obsessão pela vitória, sequer empate. Muitos financistas se enchem de frescura, esquecem o objetivo final de seu trabalho. Talvez lembrem de detalhes dos modelos que usam, mas se esquecem por que usam esses modelos. Os modelos ganham vida própria na mesma medida em que as recomendações param de respirar. O analista pode estudar uma empresa à exaustão, fazer todas as contas necessárias, apresentá-las com a maestria retórica que a profissão exige. Mas, acima de tudo isso, ele tem que se preocupar com os próprios resultados. Tem que se preocupar se o leitor de suas análises perdeu dinheiro, se os riscos são proibitivos, se o upside não está claro. Digo isso pois existe uma ética por trás de nosso trabalho aqui no Empiricus, a ética que dita a montagem das carteiras a cada virada de mês. Discutimos as saídas e entradas com grande diligência. Preocupa-nos cada ticker selecionado. Por aí, você vai encontrar muita gente montando carteiras mensais, e até semanais. Poucos têm um método ou uma ética embasando suas escolhas. Há quem aposte em milagres. A sorte engana a fome de vez em quando, mas não enche barriga.

Em troca, nada mais justo do que premiá-lo com valorizações reais. Pensando nisso (a cada dia no trabalho, a cada noite antes de dormir), montamos portfólios que visam retornos absolutos.

4 Um processo contínuo Agradecemos aos leitores que têm acompanhado nossas carteiras mês a mês, avaliando os erros e acertos em contexto, e de maneira contínua. Em abril, preparamo-nos para um cenário desafiador versus o Ibovespa, embora menos complicado para as Bolsas internacionais. Temos que reconhecer que os mercados lá fora podem melhorar sem que nos levem junto. Esse descolamento é especialmente válido quando cultivamos pecados tipicamente brasileiros, e destacados. Elegemos a inflação como o grande vício nacional neste momento. Com o IPCA 12 meses acima do teto e possivelmente acima do que vimos no ano passado, não dá pra ficar tranquilo com os custos (nem nós, nem as empresas). Em segundo lugar, o crescimento do PIB para 2013 continua incógnito. Se for de 3% no ano, não será de todo mal. Mas a verdade é que não sabemos. Os 4% planejados pela Fazenda parecem mais distantes a cada dia. Para completar o pódio, o cenário de flexibilização monetária contemplado até o primeiro trimestre agora dá lugar a um BC contracionista. Quem lembra da Selic a 12% ou 15% a.a. não consegue aceitá-la a 7% ou 8% a.a.. Será que voltaremos aos dois dígitos? São três temores concomitantes e de máxima relevância. Não à toa, orientaram em grande monta nossas carteiras de abril, feitas sob cautela. Quem viu o Ibovespa apanhar nos vencimentos de opções e de contratos futuros sabe do que estou falando aqui. Porém, maio é um novo mês. Não revolucionário, mas novo. O novo pode ser contínuo também. Mas por quê novo? Grosso modo, elencamos três motivos: 1) Maio chega repleto de resultados corporativos com base no 1T13. Esses resultados, por vezes, dizem mais que as influências macroeconômicas ou gringas. Um foco certo nos releases de resultados permite fugir da média. 2) De janeiro a abril, testamos alguns limites inferiores e superiores para o Ibovespa, bem distantes da euforia, mas também guardando uma margem segura em relação ao desespero. Num termômetro prático, diria que 52 ou 53 mil pontos são absurdos para o Ibovespa, enquanto a casa dos 60 mil pontos não me parece absurda até o final do ano.

Temos que reconhecer que os mercados lá fora podem melhorar sem que nos levem junto. Esse descolamento é especialmente válido quando cultivamos pecados tipicamente brasileiros, e destacados.

5 3) Inflação, PIB e Selic continuam em pauta como vetores negativos, mas sob intensidade menor do que no início do ano. Notem também que aquele medo de intervenção do Governo Dilma (lembra dele?) vai perdendo força. Mais ajuda quem não atrapalha. Ponderando esses três motivos, construímos carteiras marginalmente mais otimistas para maio. Abdicamos de alguns cases muito defensivos em nome de outros um pouco mais cíclicos, embora sem mudanças radicais nesse sentido. Também aproveitamos para formalizar as apostas em empresas recém-chegadas na Bolsa brasileira (que sejam muito bem-vindas!). Precisamos de sangue novo para correr em veias que estavam ficando ressecadas. Sangue novo nos faz bem.

Ponderando esses três motivos, construímos carteiras marginalmente mais otimistas para maio.

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