Kollemata Jurisprudência Registral e Notarial

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1 PARCELAMENTO DO SOLO URBANO. UNIFICAÇÃO - LOTES. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO. CADASTRO. ESPECIALIDADE OBJETIVA. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CGJSP - PROCESSO: 2007/15736 LOCALIDADE: Sorocaba DATA DE JULGAMENTO: 23/12/2008 DATA DJ: 31/12/1969 RELATOR: Álvaro Luiz Valery Mirra Registro de Imóveis - Imóvel integrante de loteamento, resultante de unificação de lotes - Menção na matrícula de que o imóvel faz frente para via pública diversa daquela a que faziam frente os lotes unificados - Inviabilidade - Ausência de justificativa para tal alteração à luz dos elementos existentes no fólio real e no cadastro da Prefeitura Municipal - Retificação da descrição do imóvel deferida em primeira instância administrativa que deve prevalecer - Recurso não provido. Registro de Imóveis - Expediente em que se discute a retificação da descrição de imóvel matriculado na serventia predial - Processo de natureza administrativa - Inviabilidade de condenação ao pagamento de honorários advocatícios - Recurso provido no ponto. ÍNTEGRA Parecer 404/2008-E - Processo CG 2007/15736 Data inclusão: 28/01/2009 (404/08-E) Registro de Imóveis - Imóvel integrante de loteamento, resultante de unificação de lotes - Menção na matrícula de que o imóvel faz frente para via pública diversa daquela a que faziam frente os lotes unificados - Inviabilidade - Ausência de justificativa para tal alteração à luz dos elementos existentes no fólio real e no cadastro da Prefeitura Municipal - Retificação da descrição do imóvel deferida em primeira instância administrativa que deve prevalecer - Recurso não provido. Registro de Imóveis - Expediente em que se discute a retificação da descrição de imóvel matriculado na serventia predial - Processo de natureza administrativa - Inviabilidade de condenação ao pagamento de honorários advocatícios - Recurso provido no ponto. Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça: Trata-se de recursos administrativos (equivocadamente denominados de "apelação") interpostos por Página: 1 de 5

2 Renato Alves Bittencourt e Sociedade de Melhoramentos Jardim Granja Olga contra decisão da Meritíssima Juíza Corregedora Permanente do Primeiro Oficial de Registro de Imóveis da Comarca de Sorocaba que determinou a retificação da descrição de imóvel unificado, integrante do loteamento denominado "Jardim Granja Olga", objeto da matrícula n , da referida serventia predial, e condenou a Sociedade interessada ao pagamento dos honorários advocatícios do interessado Renato (fls. 149 a 152). Sustenta o Recorrente Renato Alves Bittencourt, em preliminar, a falta de legitimidade e interesse da Sociedade de Melhoramentos Jardim Granja Olga para pleitear a retificação em questão, em razão de não ser titular de direito real sobre os lotes unificados, não representando tampouco os confrontantes dos imóveis, que sequer se insurgiram contra a unificação realizada. Quanto ao tema de fundo, argumenta que a unificação se deu de forma legal e regular, a partir da qual, com o alargamento da avenida São Paulo, o imóvel passou a fazer frente para esta última e não para a avenida Francisco Bassalobre, como decidido em primeira instância administrativa. Acrescenta, ainda, que, por se tratar de imóvel de esquina, cabe ao proprietário, no exercício do direito de propriedade, a escolha da rua para a qual fará frente. Por fim, aduz que a manutenção da frente do imóvel para a avenida Francisco Bassalobre lhe trará restrições, devido à colocação de portaria pela Sociedade de Melhoramentos Jardim Granja Olga, para entrada e saída do local (fls. 159 a 163). A Recorrente Sociedade de Melhoramentos Jardim Granja Olga, por seu turno, afirma ter legitimidade e interesse, no caso, na condição de entidade que congrega os titulares de lotes do loteamento Jardim Granja Olga, com a atribuição de gerir as atividades do empreendimento. No mais, alega que os imóveis, antes da unificação, sempre tiveram frente para a avenida Francisco Bassalobre, tendo havido, com a unificação, indevida menção do Recorrente Renato à sua localização voltada para a avenida São Paulo. Daí por que entende devam ser declarados insubsistentes todos os atos praticados ilegalmente, retornando todas as matrículas unificadas ao "estado primitivo". Requer, por fim, a inversão da condenação ao pagamento de honorários advocatícios (fls. 171 a 175). As contra-razões de ambos vieram às fls. 166 a 170 e 177 a 182. A requerimento da Douta Procuradoria Geral de Justiça (fls. 186 a 191), o julgamento foi convertido em diligência (fls. 192), devidamente cumprida (fls. 205 v. e 212 a 222). Em novo pronunciamento, a Douta Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se no sentido da manutenção da decisão proferida, afastados o reconhecimento da ilegitimidade de parte e de falta de interesse de agir da Recorrente Sociedade de Melhoramentos Jardim Granja Olga e a condenação desta ao pagamento dos honorários do advogado do Recorrente Renato Alves Bittencourt (fls. 224 e 225). Página: 2 de 5

3 É o relatório. Passo a opinar. Os elementos de convicção constantes do autos evidenciam que, por ocasião da realização do loteamento denominado "Jardim Granja Olga", os lotes de terreno designados pelos nºs 01, 02 e 03 da Quadra A, de propriedade da empresa Delta Participações e Comércio Ltda., foram descritos e caracterizados como tendo sua frente definida para a Avenida Francisco Bassalobre, assim constando do registro imobiliário (fls. 32 a 34). Ocorre que, com a posterior unificação dos lotes e abertura da matrícula correspondente (de nº ), passou a constar do registro que o imóvel formado pelos referidos lotes faz frente para a avenida São Paulo, confrontando, pelo lado direito, com a avenida Francisco Bassalobre (fls. 47). Contra essa alteração da descrição do imóvel é que se insurge a Recorrente Sociedade Melhoramentos Jardim Granja Olga. De início, cumpre observar que a Sociedade Recorrente ostenta legitimidade e interesse para pleitear a retificação do registro em questão, na condição de entidade que congrega diversos proprietários do loteamento "Jardim Granja Olga", com atuação voltada à manutenção da regularidade do uso e das condições de conservação, utilização e segurança das residências e dos espaços públicos do empreendimento (fls. 15 e 16). E, por certo, importa igualmente às atividades da Recorrente a regularidade registral do loteamento, inclusive no tocante à correta descrição, no fólio predial, dos imóveis que dele fazem parte. Além disso, conforme anotado pela Douta Procuradoria Geral de Justiça, "A par da manifesta legitimidade e interesse da sociedade requerente na correção de dados relativos aos imóveis integrantes do loteamento de interesse de seus associados e que constitui a razão de sua existência, é certo que a constatação de eventual erro, defeito ou inexatidão na indicação de confrontação de imóvel registrado pode e deve ser providenciada até mesmo de ofício pelo oficial (art. 213, I, 'b', da Lei nº 6.015/73)" - fls. 188 e 189. Daí por que, até mesmo para provocar a atuação do registrador ou suprir eventual omissão deste, poderia a Sociedade Recorrente levar a questão ao conhecimento da Meritíssima Juíza Corregedora Permanente, sem que se pudesse indagar a respeito de seu interesse e de sua legitimidade para tanto, nesta esfera administrativa. No que concerne ao tema de fundo, tem-se que, salvo melhor juízo de Vossa Excelência, a razão está com a Meritíssima Juíza Corregedora Permanente, ao determinar a retificação da descrição do imóvel, constante da matrícula n , resultante da unificação dos lotes nºs 01, 02 e 03 da Quadra A do loteamento "Jardim Granja Olga". Página: 3 de 5

4 Isso porque, como bem analisado na respeitável decisão de primeira instância administrativa, e acima referido, os lotes nºs 01, 02 e 03 da Quadra A, antes da unificação, sempre fizeram frente para a avenida Francisco Bassalobre, conforme consta das matrículas correspondentes (nºs , e fls. 32 a 34) e das certidões expedidas pela Prefeitura Municipal de Sorocaba (fls. 35 a 37), nada justificando, com efeito, a alteração da frente dos imóveis pelo simples fato da unificação. Observe-se que o alargamento da avenida São Paulo, em decorrência de desapropriação de parte de área que confronta com o lote n. 01 da Quadra A, em nada altera a situação, já que, de acordo com certidão expedida pela própria Prefeitura Municipal de Sorocaba, o lote em questão, após o alargamento da via referida, "passou a confrontar no lado esquerdo de quem da Avenida Francisco Bassalobre olha para o lote, com a avenida São Paulo" (fls. 57). Vale dizer: mesmo após a unificação dos lotes e o alargamento da avenida São Paulo, o imóvel objeto da matrícula n continuou a fazer frente para a avenida Francisco Bassalobre. E tal situação não pode ser alterada pela vontade única e isolada do titular do domínio dos lotes unificados. Eventuais divergências do Recorrente Renato Alves Bittencourt no concernente ao fechamento do loteamento, à utilização da portaria de entrada e saída do residencial e à obrigatoriedade ou não de associar-se à Recorrente Sociedade de Melhoramentos Jardim Granja Olga ou de contribuir para as atividades empreendidas por esta última, deverão, à evidência, ser resolvidas em outra esfera, que não a registral, não podendo o interessado em questão, para tanto, pura e simplesmente, alterar unilateralmente a frente do seu imóvel. Daí o acerto da decisão proferida pela Meritíssima Juíza Corregedora Permanente, ao determinar a retificação da matrícula n , suficiente para a regularidade registral, não sendo necessários o seu cancelamento e o restabelecimento das matrículas originais, como aventado pela Recorrente Sociedade de Melhoramentos Jardim Granja Olga. Em um ponto, todavia, assiste razão à Recorrente Sociedade de Melhoramentos Jardim Granja Olga: quando sustenta a inviabilidade da imposição do encargo de pagar honorários advocatícios no presente processo administrativo. De fato, sendo o expediente ora em exame meramente administrativo, em que o Juiz Corregedor exerce atividade puramente administrativa, e não jurisdicional, não há que se falar em condenação do vencido em custas e despesas - processuais ou não - e tampouco em honorários advocatícios (Procs. CG nºs 614/2006, 91/92, 192/88). Ainda mais, ressalte-se, na hipótese presente, em que a Sociedade Recorrente não foi, em verdade, vencida. Assim, o recurso interposto pela Recorrente Sociedade de Melhoramentos Jardim Granja Olga deve ser Página: 4 de 5

5 parcialmente provido, para o fim de afastar a condenação que lhe foi imposta no tocante ao pagamento dos honorários do advogado do Recorrente Renato Alves Bittencourt, mantendo-se, no mais, a respeitável decisão proferida. Já o recurso interposto pelo Recorrente Renato Alves Bittencourt não comporta provimento. Nesses termos, o parecer que se submete à elevada consideração de Vossa Excelência é no sentido de ser dado parcial provimento ao recurso interposto pela Sociedade de Melhoramentos Jardim Granja Olga, para o fim de afastar a condenação imposta a esta última do pagamento de honorários advocatícios, mantida, no mais a respeitável decisão proferida, negando-se, por outro lado, provimento ao recurso interposto por Renato Alves Bittencourt. Sub censura. São Paulo, 23 de dezembro de (a) ÁLVARO LUIZ VALERY MIRRA Juiz Auxiliar da Corregedoria Decisão: Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria e por seus fundamentos, que adoto, dou parcial provimento ao recurso interposto pela Sociedade de Melhoramentos Jardim Granja Olga, para o fim de afastar a condenação imposta a esta última do pagamento de honorários advocatícios, mantida, no mais a respeitável decisão proferida, negando-se, por outro lado, provimento ao recurso interposto por Renato Alves Bittencourt. Publique-se. São Paulo, 08 de janeiro de (a) RUY PEREIRA CAMILO _ Corregedor Geral da Justiça. Página: 5 de 5