Ensino da Língua e Cultura Mirandesa. A ideia, o projeto e a prática letiva
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- Zaira Canário Lencastre
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1 Ensino da Língua e Cultura Mirandesa A ideia, o projeto e a prática letiva
2 A Ideia O mirandês é um legado cultural, veículo de identidade, instrumento de comunicação e memória coletiva do extremo nordeste de Portugal (falado ao longo da fronteira a sul de Alcanices, entre a ribeira de Angueira, a poente e sul, e o rio Douro, a nascente), que urgia preservar.
3 Nas últimas décadas do séc. XX, fatores socioeconómicos, sociopsicológicos e socioculturais levaram a uma clara tendência regressiva no seu uso, reprodução intergeracional e a uma substituição gradual pelo português, língua de prestígio (grabe, fidalga)
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5 É através da Escola que é possível desenvolver um processo lento mas eficaz que leva centenas de crianças e adolescentes a acarinhar de forma criadora os bens culturais da sua terra, como parte integrante do Património Cultural Universal.
6 Entendeu-se que o estado tinha deveres e a escola seria a tábua de salvação O Projeto 1982 Conselho Diretivo da Escola Secundária de Miranda do Douro formula um pedido ao Ministério da Educação para a criação de uma disciplina optativa de Mirandês, com resposta negativa. ( não é possível a introdução de disciplinas estranhas aos curricula em vigor para todo o País ( ).
7 : Câmara Municipal de Miranda do Douro fundamenta novo pedido, que vem aprovado por despacho de 8 de Setembro do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Educação autorizando a inclusão a título facultativo, no plano curricular do 5º ano de escolaridade das Escolas Preparatórias do Concelho de Miranda do Douro a Disciplina de Língua e Cultura Mirandesa, com a carga curricular de 2 horas semanais.
8 Programa 1986 Uma equipa de três professores nativo-falantes elabora os conteúdos programáticos da Disciplina, que são homologados pela Secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário. 1986/87: inicia-se o ensino nas Escolas Preparatórias de Miranda e de Sendim. No final ano letivo avalia-se a experiência, realizam-se as 1.as Jornadas de Língua e Cultura Mirandesa e publicam-se as Atas. 1986/87: deixa de funcionar na Escola de Sendim mas continua na de Miranda.
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11 Objetivos - preservar um património linguístico românico nacional; - proporcionar às novas gerações o desenvolvimento de competências comunicativas em língua mirandesa e a capacidade de reflexão sobre o seu uso, estrutura e funcionamento; - estimular nos alunos o gosto pela defesa, valorização e usufruto da língua e dos valores culturais; -fazer a ligação da escola ao meio; - favorecer a compreensão crítica da realidade natural, socioeconómica e cultural em que os alunos se inserem.
12 Prática Letiva Dificuldades e soluções 1993: não tendo o mirandês tradição escrita, verifica o docente a necessidade de uma norma ortográfica, ideia que apresenta no Congresso Variação Linguística no Espaço, no Tempo e na Sociedade, promovido pela Associação Portuguesa de Linguística em Miranda do Douro. 1994: o Departamento de Educação Básica/Núcleo da Organização Curricular e Formação (NOCF/ atende a pretensão dos alunos relativamente à avaliação, que passa a ser quantitativa...a avaliação dessa disciplina deve ser considerada em pé de igualdade com a das outras disciplinas curriculares. No entanto, não deve ter peso em caso de retenção.
13 1995: forma-se um grupo de trabalho, constituído por representantes das variedades do mirandês e por linguistas das Universidades de Lisboa e Coimbra, que elabora a Proposta de Convenção Ortográfica, sob a coordenação de Domingos Raposo e de Manuela Barros Ferreira do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. -Durante os trabalhos surge a ideia de trabalhar para a oficialização da Língua. 1998: Apresenta-se e aprova-se na generalidade, por unanimidade, na Assembleia da República Portuguesa o Projeto-Lei que reconhece os direitos linguísticos da comunidade mirandesa e o direito ao ensino (17 de setembro).
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16 1999: -publica-se a Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa; -Presidente da República, Jorge Sampaio, promulga a Lei 7/99de 29 de janeiro; -Regulamenta-se o Ensino do Mirandês (Despacho ME nº 35/99 de 20 de julho. -O mirandês ganha reconhecimento, proteção, dignidade, afirmação. -Desmistificam-se preconceitos. -Aumenta o nº de alunos.
17 : alarga-se o ensino às Escolas de Sendim (Pré-Escolar, 1º, 2º e 3º ciclos) : -alarga-se o ensino à Escola Secundária de Miranda do Douro (3º ciclo); -é fundada, por Duarte Martins, a revista GAMETA com o objetivo de publicar as produções escritas dos alunos : o ensino chega ao Secundário (10º ano), ao pré-escolar e 1º ciclo de Miranda e Malhadas.
18 O empenho dos docentes tem sido fundamental elaboram o projeto, executam os programas com dedicação e profissionalismo; constroem os materiais e os recursos didático-pedagógicos adequados e necessários (pois não existem manuais) ; diversificam as estratégias e promovem atividades múltiplas e variadas (oficinas de escrita, desenho e legendagem, encenações e representações teatrais, jogos, declamações, danças...) têm de vencer constrangimentos de vária ordem...
19 Motivação e envolvimento dos alunos -motivação e envolvimento dos alunos, que se inscrevem livremente, sem imposições; -participam com entusiasmo nas aulas e nas atividades propostas; -elaboram trabalhos de recolha (literatura oral) e produzem textos, muitos deles publicados na revista Gameta, no jornal escolar O Cartolinha/ L Cartolica ; jornal escolar O Pauliteio/L pouliteiro ; semanário Nordeste ; etc.
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21 Conclusão/Resultados -O Ensino do Mirandês potenciou o uso da língua tanto ao nível oral como escrito, levando à elaboração de uma norma escrita que não existia, fomentando a produção escrita, literária e reprodução pública; -Permitiu uma maior sintonia dos mirandeses com a sua cultura mais profunda; -Contribuiu para o reconhecimento e prestígio da língua; -Deu visibilidade e projeção à língua e à cultura mirandesa tanto a nível local, como nacional e internacional; -Levou a uma tomada de consciência desta causa junto da opinião pública.
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23 Apoio Institucional -apoio incondicional das Direções dos Agrupamentos; - da Autarquia; - dos Pais e Encarregados de Educação; -de Associações, com destaque para a Associação de Língua e Cultura Mirandesa, que está a atribuir anualmente um prémio pecuniário de mil euros para distinguir os melhores alunos no campo da oralidade e da escrita.
24 Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro Domingos Raposo
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