PARECER JURÍDICO. É o relatório, passando, pois, a apreciar a questão.

Transcrição

1 PARECER JURÍDICO O SINDICATO DOS SERVIDORES DA JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL - SINDJUS/RS, entidade sindical, apresenta questionamento descrito a seguir. 1. CONSULTA O CONSULTANTE deseja análise sobre o Projeto de Lei Estadual nº 93/2017, protocolado junto a Assembleia Legislativa, pelo Presidente do TJ/RS, que trata sobre as extinções dos cargos de Oficial de Arquivo (PJ-H) e de Oficial Escrevente (PJ-G-I) bem como sobre a criação do cargo de Técnico Judiciário. É o relatório, passando, pois, a apreciar a questão.

2 2. PARECER O Projeto de Lei em análise procura atender a exigência da Resolução nº 219/2016 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no tocante à unificação da carreira dos servidores no âmbito do Judiciário Estadual e traz como justificativa, também, que a consequente aprovação traria aumento de Recursos Humanos para atuação no Poder Judiciário Estadual. Primeiramente, se faz necessário trazer alguns aspectos acerca da Resolução 219/2016. Importante referir que a Constituição Federal atribuiu ao CNJ à função de fiscalização e a função administrativa. O CNJ está determinando, por meio de Resolução, acerca de assuntos que interferem, demasiadamente, na organização dos Tribunais e, por conseguinte, afronta a Constituição Federal, no que pertine ao artigo 99 que dispõe: Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira. Desta forma, o Projeto de Lei cuja justificativa para a sua elaboração calca-se em determinação contrária a Lei Maior, deve ser rechaçado. O projeto de Lei nº 93/2017 tem como principal justificativa a necessidade de organização administrativa do Poder Judiciário Estadual, diante das grandes dificuldades enfrentadas no cotidiano dos cartórios judiciais por causa do número reduzido de servidores. O referido projeto, na mesma linha da Lei Estadual /2015 que transformou os cargos de Oficial Ajudante em Escrevente, agora extingue esses cargos, passando tais atividades serem desempenhadas por Técnicos Judiciários, com salários inferiores, na medida em que forem vagando, portanto, as duas justificativas para a aprovação do referido Projeto de Lei não se sustentam.

3 Hoje, os cargos de Oficial Escrevente e de Oficial de Arquivo são de provimento isolado, ou seja, não há escalonamento na carreira, contrariamente, portanto, ao de Técnico Judiciário, submetido à Lei nº /2011. A presente proposta também impacta em relação à diferença salarial decorrente das entrâncias, no primeiro grau, assim, a partir do novo quadro, a diferença salarial se dá em razão de avanços na carreira e não por variação de entrância. A análise da constitucionalidade do caso concreto, mostra que não existe nenhum impedimento jurídico em extinção de cargos e criação de novos cargos com mesmas atribuições, desde que sejam preservados os direitos adquiridos dos servidores cujos cargos estarão em extinção. O Supremo Tribunal Federal fixou jurisprudência no sentido de que não há direito adquirido a regime jurídico-funcional pertinente à composição dos vencimentos ou à permanência do regime legal de reajuste de vantagem, desde que eventual modificação introduzida por ato legislativo superveniente preserve o montante global da remuneração, não acarretando decesso de caráter pecuniário. Precedentes." (RE AgR, Relator Ministro Eros Grau, Segunda Turma, julgamento em , DJe de ) Por óbvio, há um enfraquecimento das possibilidades de lutas para melhoria de salários e até de condições de trabalho quando ocorrerem comparações entre os servidores do quadro em extinção, com os servidores técnicos que, já ingressarão no serviço público com condições desiguais. Tal medida, de certa forma separa a categoria e enfraquece os movimentos de luta.

4 Ainda, a ideia central do projeto baseia-se tanto no número reduzido de servidores quanto para atender a exigência da Resolução 219/2016 do CNJ, no tocante a unificação da carreira dos servidores no âmbito do Judiciário Estadual. Todavia, o problema da falta de servidores não se resolve com achatamento de salários e sequer com unificação de careiras, mas sim com investimento financeiro e políticas de melhorias de condições nos ambientes de trabalho. Ademais, mais uma vez os servidores que detêm a maior carga de atribuições e os mais baixos salários dentro da estrutura do Poder Judiciário Estadual sofrem alterações em seus cargos, sempre diminuindo direitos. A precarização de setores dentro do serviço público é sempre medida adotada para apoiar a necessidade de privatização, portanto, devemos atentar para esta possibilidade. O artigo 4º do Projeto de Lei em comento cria o cargo de Técnico Judiciário para cada cargo vago de Oficial Escrevente (PJ-G-I) e de Oficial de Arquivo (PJ-H), nos termos do art. II do art. 1 da Lei n.º /2011. O novo cargo será composto de 03 (três) classes, as quais serão atingidas por meio de promoções, bem como 05 (cinco) padrões de vencimentos para cada classe acarretando progressões remuneratórias, alcançadas face avaliações de desempenho. Para os cargos extintos, que são cargos de provimento isolado e não detém direito a progressão na carreira, o dimensionamento e lotação destes servidores se dão em relação a entrâncias. A partir da aprovação do PL nº 93/2017 os Técnicos Judiciários terão direito a progressão na carreira, podendo ser lotados e movimentados de acordo com os critérios de conveniência e oportunidade da Administração Pública.

5 A previsão do artigo 5º do PL nº 93/2017 em comento explicita a necessária edição de regulamento para a movimentação entre entrâncias pelo Técnico Judiciário, o que não tem previsão no regulamento já existente, restando a esse cargo, inexistência de diferença salarial decorrente de variação de entrância. Quanto ao artigo 6º do referido Projeto de Lei, poderão os Técnicos Judiciários, ou seja, os novos servidores serem designados para exercerem função gratificada, a exemplo do que já ocorre com os Oficiais Escreventes e Ajudantes. Nesta senda, se observa que existe uma linha tênue entre o que o espírito da Lei requer, ou seja, a unificação das carreiras e o que de fato correrá, isto é, ocorrerá a continuidade de distribuição de funções gratificadas que acabam por engessar o trabalhador, eis que as gratificações que, via de regra, não são incorporáveis acabam por tornar-se complementação salarial que supera, inclusive, o vencimento básico e será alcançada ao servidor com base na meritocracia e/ou por designação do Juiz de Direito Diretor do Foro o que torna a designação arraigada em critérios subjetivos, abrindo margem a possibilidade de benefícios de seus pares. Já a previsão do artigo 8º, está em harmonia com o procedimento padrão quanto às atribuições da Corregedoria-Geral da Justiça. Nesse sentido dispõe o Regimento Interno da Corregedoria-Geral de Justiça: Art. 64. Quando encaminhado pelo juiz de direito diretor do foro ofício solicitando provimento de cargo vago nos serviços judiciários de 1º grau, este será autuado e registrado pelo serviço de administração.

6 Art. 65. O expediente será encaminhado: I - ao serviço de controle e provimento de cargos para juntada do quadro dos cargos existentes, providos e vagos na comarca; II - ao SERAJ para juntada do mapa do movimento forense, nos últimos doze (12) meses. Parágrafo único. Quando se tratar de provimento de cargo de oficial de justiça, a secretaria solicitará ao juiz de direito diretor do foro relação dos mandados expedidos nos últimos doze (12) meses. Art. 66. Depois de instruído, o feito será encaminhado ao juizcorregedor da região, para deliberar a respeito, atendendo às informações constantes dos autos, aos critérios adotados na Corregedoria-Geral e às peculiaridades da comarca. Em caso de indeferimento do pedido, deverá ser comunicado o juiz de direito diretor do foro. art. 67. Não sendo hipótese de vacância para remoção, o juizcorregedor emitirá parecer sugerindo outro modo de provimento da vaga. Art. 68. Determinada a expedição do edital de vacância, o serviço de controle e provimento de cargos elaborará o edital, submetendoo à assinatura do corregedor-geral e o encaminhará para publicação no diário da justiça. COMPARATIVO DE CARGOS E SALÁRIOS O cargo de Oficial Escrevente (PJ-G-I) possui três bases salariais que se distinguem pela entrância em que o servidor está lotado. Com uma variação de R$ 875,95 da entrância inicial para a final, o quadro de salários base compõem-se da seguinte forma:

7 Entrância Inicial R$ 3.695,83 Entrância R$ Intermediária Entrância Final R$ 4.571,78 Em detrimento as atribuições do cargo, encontramos as seguintes previsões em consulta a Consolidação Normativa Judicial: Normativa Judicial: Ao Oficial Escrevente incumbe, segundo a Consolidação I substituir o Escrivão, mediante designação e desde que não haja Oficial Ajudante ou este esteja impedido; II atuar nas audiências, digitando ou datilografando os respectivos termos; III digitar ou datilografar sentenças, decisões e despachos; IV exercer outras atribuições compatíveis que lhes forem cometidas pelo magistrado ou pelo titular da serventia; V auxiliar no atendimento ao público. 1º Observado o disposto no 1º do art. 116 do COJE e nas Leis Estaduais nºs /2000 e /2000, a função de Auxiliar de Juiz ou de Pretor será exercida por Oficial Escrevente da Vara mediante indicação do respectivo magistrado titular, competindo-lhe a assessoria nas tarefas jurisdicionais cotidianas, inclusive realizando pesquisas de jurisprudência e doutrina. 2º Em se tratando de Vara/Juizado dotada de Cartório privatizado, são incompatíveis com as do cargo e função de Oficial Escrevente Auxiliar de Juiz ou Pretor (servidor público) as atribuições previstas nos incs. I e V deste artigo; contudo, em tal situação, são-lhe exigíveis as dos incs. II e III se e quando cometidas pelo respectivo

8 magistrado, assim como as do inc. IV, unicamente quando cometidas por este, à vista do que dispõe o 3º deste artigo. 3º Os titulares das serventias privatizadas deverão dispor de Escrevente qualificado para atuar nas audiências e para datilografar ou digitar as sentenças e demais decisões lançadas pelos respectivos magistrados, exceto se, consideradas eventuais peculiaridades do ofício judicial ou da própria metodologia do trabalho adotada no Juizado, o Juiz/Pretor expressar diversa orientação através de provimento administrativo. 4º O exercício da substituição prevista no inc. I deste artigo e o da substituição de Oficial Ajudante disciplinada no 2º do art. 116 do COJE, não são cumuláveis com o exercício da função de que trata o 1º deste artigo. Já o cargo de Oficial de Arquivo (PJ-H) restringe-se apenas em duas bases salariais, com uma oscilação de R$ 486,06 entre a entrância intermediária e a final, conforme se vê: Entrância Intermediária R$ 5.153,67 Entrância Final R$ 5.639,73 Quanto às atribuições do cargo, importa ressaltar que existe hoje no Estado um total de 09 (nove) cargos vagos, sem qualquer menção ou previsão de ocupação dos mesmos; não sendo localizada na legislação pertinente ao TJRS eventual referência as funções desempenhadas pelo cargo. Noutro giro, o cargo de Técnico Judiciário possui uma variação de padrão base salarial, que se constitui por meio de promoções e

9 avanços na carreira, com uma variável de R$ 1.426,83 entre o padrão A1 inicio de carreira e o C15 fim de carreira. A1 R$ 3.860,28 B6 R$ 4.573,75 C11 R$ 5.038,64 A2 R$ 3.993,46 B7 R$ 4.731,52 C12 R$ 5.100,73 A3 R$ 4.131,24 B8 R$ 4.894,77 C13 R$ 5.162,79 A4 R$ 4.273,76 B9 R$ 4.914,50 C14 R$ 5.224,86 A5 R$ 4.421,22 B10 R$ 4.976,58 C15 R$ 5.287,11 Relativo às atribuições do cargo de Técnico Judiciário, extraindo da Lei /2011 encontramos: Art. 3º As atribuições dos cargos serão descritas em regulamento, considerado o seguinte: [...] IV - Técnico Judiciário Área Judiciária: atividades de cumprimento e formalização dos atos processuais e respectiva certificação, elaboração de documentos, atendimento ao público, efetuar juntada de documentos; proceder à baixa e arquivamento dos processos; executar atividades de apoio administrativo, mediação, conciliação, atuação como instrutor e monitor em cursos de treinamento e aperfeiçoamento de servidores do Poder Judiciário, e outras tarefas de grau médio de complexidade, dentre as demais atribuições definidas em regulamento; V - Técnico Judiciário Área Administrativa: execução de tarefas de suporte administrativo, mediação, conciliação, atuação como instrutor e monitor em cursos de treinamento e aperfeiçoamento de servidores do Poder Judiciário, e outras de grau médio de complexidade, dentre as demais atribuições definidas em regulamento; e VI - Técnico Judiciário Área de Apoio Especializado: execução de tarefas de suporte técnico de grau médio de

10 complexidade, dentre as demais atribuições definidas em regulamento. Destaca-se, porém, que relativamente ao PL nº 93/2017 que extingue os cargos de Oficial Escrevente e Oficial de Arquivo, se concretiza na criação novos cargos de Técnico Judiciário, seja o ingresso de novos servidores, que terão a base de remuneração na quantia de R$ 3.860,28 (três mil, oitocentos e sessenta reais e vinte e oito centavos) flagrantemente inferior ao dos cargos que se visa extinguir. A aprovação do presente projeto de lei, deflagra a manipulação das contas do Tribunal de Justiça, para que se enxugue a folha de pagamento daquele Poder, atacando diretamente os servidores que lá desempenham suas funções, ao tempo que os grandes salários, vantagens e auxílios ficam alheios a qualquer reforma. CONCLUSÃO Conclui-se, portanto, que a aprovação do Projeto em estudo não efetiva as mudanças que se buscam alcançar, pelo contrário, de forma indireta, acaba por retirar ainda mais os direitos dos servidores atingidos. É o parecer. Porto Alegre, 30 de maio de Young Dias Lauxen & Lima, Advogados Associados