PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 36511/ CLASSE CNJ COMARCA DE BARRA DO GARÇAS

Transcrição

1 AGRAVANTE:MARIA DAS GRAÇAS BARBOSA SILVA AGRAVADO: FRANCISCO SOARES FILHO Número do Protocolo: 36511/2012 Data de Julgamento: E M E N T A AGRAVO DE INSTRUMENTO BUSCA E APREENSÃO LIMINAR INDEFERIDA VEÍCULO NA POSSE DE TERCEIRO PRESERVAÇÃO DA POSSE PRESUNÇÃO DA BOA-FÉ DE TERCEIRO POSSUIDOR INTELIGÊNCIA DO ART DO CC - DECISÃO MANTIDA RECURSO DESPROVIDO. Diante do majoritário entendimento jurisprudencial desta Corte, impõe-se a manutenção da decisão agravada que indeferiu o pedido liminar de busca e apreensão do veículo, pois a medida atingiria terceiro de boa-fé que está em posse e seria atual proprietário do bem e que não é sequer parte no feito. Recurso a que se nega seguimento (TJRS 16ª Câmara Cível - Agravo de Instrumento Nº Relator: Ana Maria Nedel Scalzilli Julg. em 19/05/2009). Fl. 1 de 7

2 AGRAVANTE:MARIA DAS GRAÇAS BARBOSA SILVA AGRAVADO: FRANCISCO SOARES FILHO R E L A T Ó R I O EXMO. SR. DES. JOÃO FERREIRA FILHO Egrégia Câmara: Cuida-se de Recurso de AGRAVO DE INSTRUMENTO interposto por MARIA DAS GRAÇAS BARBOSA SILVA contra a r. decisão proferida pelo MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível da comarca de Barra do Garças/MT, que nos autos da ação de Busca e Apreensão (Proc. nº 129/2012 Código ), ajuizada pela agravante contra FRANCISCO SOARES FILHO, indeferiu o pedido de liminar formulado para que o veículo Fiat/UNO MILLE, ano 2002/2003, Placa KES 1170, fosse apreendido e devolvido à agravante por entender que, operada a venda (do veículo) com a tradição e posterior cessão à terceiro presumivelmente de boa-fé, ausenta-se hipótese legal (...) de concessão da apreensão liminar (cf. fls. 14/15). A agravante relata que, em 16/11/2001, vendeu para Jonatan Augusto Rodrigues de Assis o veículo objeto da lide pelo preço de R$ ,00, cujo pagamento foi realizado pelo cheque nº , sacado contra o Banco Sicredi, agência 748 emitido por A.F. DE SOUZA REFRIGERAÇÃO, mas o título foi devolvido pelo motivo nº 29 (falta de confirmação de recebimento de talonário pelo correntista), visto que o talonário do qual a lâmina fora extraída havia sido furtado no Estado de Mato Grosso do Sul. Relata, ainda, que fez o registro da ocorrência na Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Barra do Garças/MT, dando início à investigação de estelionato contra o comprador, e acrescenta que o veículo, depois, foi encontrado já na posse do agravado, visto que tinha sido financiado na cidade de Senador Canedo/GO. Assim, afirmando a presença dos requisitos necessários à concessão da liminar,pois o negócio jurídico entabulado entre as partes (compra e venda) pode ser declarado nulo, nos termos do art. 171, II, do Código Civil, e sendo a agravante, então, a legítima e exclusiva proprietária do veículo, impõe-se o deferimento do pedido, sob pena de sofrer grave Fl. 2 de 7

3 dano de difícil reparação, pois, assim que o agravado tomar conhecimento do gravame envolvendo o veículo em questão, certamente o alienará a terceiros ou promoverá sua ocultação. Pede, pois, a reforma da decisão, para que lhe seja concedida a busca e apreensão do veículo em comento (cf. fls. 2/13-TJ). A decisão de fls. 36/39 admitiu o processamento do agravo por instrumento, mas indeferiu o pedido de assistência judiciáriagratuita. O MMº juiz prestou informações requisitadas, mantendo a r. decisão agravada pelos seus próprios fundamentos (cf. fls. 44/45). jurídica processual. Não houve oferta de contrarrazões, ante não angularização da relação É o relatório. V O T O EXMO. SR. DES. JOÃO FERREIRA FILHO (RELATOR) Egrégia Câmara: Consta dos autos que em 16/11/2011 a agravante vendeu para Jonatan Augusto Rodrigues de Assis o veículo FIAT/UNO MILLE FIRE, ano 2002/2003, cor branca, placa KES-1170, Chassi 9BD , por R$ ,00, tendo o comprador realizado o pagamento com cheque emitido pela empresa A. F. DE SOUSA REFRIGERAÇÃO, cujo talonário, porém, havia sido furtado, o que acarretou a impossibilidadede compensação do título pelo motivo nº 29, a saber, falta de confirmação de recebimento de talonário pelo correntista. Após a negativa de compensação do cheque, a agravante registrou a ocorrência do fato junto à Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Barra do Garças/MT (cf. fls. 23-TJ), que, por sua vez, localizou o veículo através do sistema Infoseg, já na posse do terceiro, ora agravado, na cidade de Senador Canedo/GO, com informação, inclusive, de que o bem estava gravado com cláusula de alienação fiduciária(cf. fls. 28/29-TJ). Diante disto, a agravante ajuizou a presente ação de busca e apreensão visando a reaver o veículo, mas teve o pedido de liminarnegado pela decisão agravada. Fl. 3 de 7

4 O MMº. Juiz indeferiu o pleito utilizando-se dos seguintes fundamentos: Analisando os autos, obsrvo que o veículo que busca a autora reaver a posse foi vendido por ela por Jonatan (...) dando em pagamento um cheque, que foi devolvido por falta de confirmação de recebimento de talonário pelo correntista, sendo que, ao tentar resgatar o título, a requerente deparou-se com o desaparecimento do devedor (...). Posteriormente tomou conhecimento que o veículo havia sido comercializado para Francisco Soares Filho, que detém a posse do bem até o presente momento. De fato, consoante a documentação trazida aos autos, verifica-se a impossibilidade do deferimento da medida liminar (...) Veja-se que o veículo que busca a autora reaver já não se encontra mais com a parte que com ela celebrou contrato de compra e venda, tendo sido transferido para terceira pessoa que, ao que tudo indica, não tem conhecimento do descumprimento contratual que prejudicou a requerente (cf. fls. 14/15-TJ) A situação descrita está sendo investigada pela Delegacia de Polícia de Barra do Garças/MT, pois ao que tudo indica, enquadra-se na figura típica do estelionato (CP art. 171), e deve aí ser resolvida enquanto conduta criminosa. Na esfera do direito privado, a providência reclamada pela agravante, envolvida pelas sensações de engano, engodo e frustração, já que, segundo ela mesma, o veículo pode ser objeto de manobra entre o agravado e terceiro, não pode, realmente, ser deferida. Em primeiro lugar, o pedido deve se revestir de verossimilhança, o que, em princípio, está demonstrada pelos documentos apresentados. Contudo, o perigo da demora, que se traduz na urgência da prestação jurisdicional no sentido de evitar que, quando do julgamento final da ação, o provimento principal não tenha mais eficácia, não está demonstrado. O prejuízo deve ser de modo tão aberrante que o direito deduzido se mostre incapaz de aguardar as liturgias procedimentais da irresignação formulada, o que, data vênia, não corresponde à situação ora descrita. O argumento utilizado pela agravante de que o negócio jurídico poderá Fl. 4 de 7

5 ser declarado inválido ante fraude praticada pelo comprador (CC, art. 171, II) se reveste de plausibilidade, mas não basta para que seja deferida, liminarmente, a medida extrema, já que reclama maior dilação probatória. Os reais contornos da relação negocial travada pela agravante e, ao que tudo indica, mal sucedida, não se mostram claros ao ponto de autorizar a medida requerida. Conforme dicção expressa do art do CC, presume-se como de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. O estado de ignorância dos vícios ou obstáculos que atingem determinada situação jurídica impede o deferimento da busca e apreensão no alvorecer da demanda. A situação em análise exige a instrução do feito, com formalização do contraditório, mormente porque a posse dos bens móveis transmite-se com a tradição. Veja-se,a propósito: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO. PEDIDO LIMINAR. INDEFERIMENTO. Diante do majoritário entendimento jurisprudencial desta Corte, impõe-se a manutenção da decisão agravada que indeferiu o pedido liminar de busca e apreensão do veículo, pois a medida atingiria terceiro de boa-fé que está em posse e seria atual proprietário do bem e que não é sequer parte no feito. Recurso a que se nega seguimento. (TJRS 16ª Câmara Cível - Agravo de Instrumento Nº Relator: Ana Maria Nedel Scalzilli Julg. em 19/05/2009) AGRAVO DE INSTRUMENTO MEDIDA CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO VEÍCULO ADQUIRENTE TERCEIRO DE BOA-FÉ PERMANÊNCIA DA POSSE DO BEM - FIEL DEPOSITÁRIA DECISÃO REFORMADA RECURSO PROVIDO. Tendo a parte demonstrado ter adquirido veículo na qualidade de terceira de boa-fé, injusto se faz o despojamento do bem litigado, no entanto,deve este permanecer com o automóvel na qualidade de fiel depositária, até o desfecho da lide principal (TJMT 2ª Câmara Cível Agravo de Fl. 5 de 7

6 Instrumento nº 49311/2008 Relator Des. Maria Helena Garcaglione Povoas Julg. em 30/07/2008). bem lançada /50. Pelo exposto, nego provimento ao recurso, mantendo a r. decisão como Custas pela agravante, observando-se o disposto no art. 12 da Lei É como voto. Fl. 6 de 7

7 A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. JOÃO FERREIRA FILHO, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. JOÃO FERREIRA FILHO (Relator), DES. JURACY PERSIANI (1º Vogal convocado) e DES. DIRCEU DOS SANTOS (2º Vogal convocado), proferiu a seguinte decisão: À UNANIMIDADE, DESPROVERAM O RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR. Cuiabá, 9 de janeiro de DESEMBARGADOR JOÃO FERREIRA FILHO - PRESIDENTE DA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL EM SUBSTITUIÇÃO LEGAL E RELATOR Fl. 7 de 7