ZONEAMENTO AMBIENTAL DE UM SETOR DO PARQUE ESTADUAL DA CANTAREIRA E ENTORNO SECCIONADO PELA RODOVIA FERNÃO DIAS (SÃO PAULO, BRASIL)
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- Angélica Tuschinski Dias
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1 ZONEAMENTO AMBIENTAL DE UM SETOR DO PARQUE ESTADUAL DA CANTAREIRA E ENTORNO SECCIONADO PELA RODOVIA FERNÃO DIAS (SÃO PAULO, BRASIL) Dimas Antonio da Silva. Instituto Florestal/SMA. dimas@if.sp.gov.br José Bueno Conti. Depto de Geografia/FFLCH/USP. zeconti@usp.br Jurandyr Luciano Sanches Ross. Depto de Geografia/FFLCH/USP. ross@usp.br Cláudia Harumi Yuhara. CETESB/SMA. claudiay@cetesbnet.sp.gov.br Eduardo Tomio Nakamura. Depto de Geografia/FFLCH/USP. zepkiwi@yahoo.com.br RESUMO O zoneamento ambiental de um setor do Parque Estadual da Cantareira e seu entorno seccionado pela rodovia Fernão Dias foi elaborado com base em uma abordagem sistêmica, considerando-se a integração das informações referentes ao meio físico-biótico, uso da terra e legislação incidente. Essas informações foram obtidas por meio de levantamentos bibliográfico e cartográfico, interpretação de produtos de sensores remotos e trabalhos de campo. A área de estudo localiza-se ao norte da Região Metropolitana de São Paulo, nos municípios de São Paulo, Mairiporã e Guarulhos (Brasil). Está situada entre as coordenadas 23º19 47 e 23º26 20 de latitude sul e 46º31 36 e 46º36 13 de longitude oeste de Greenwich, totalizando 6.988,74 hectares. O zoneamento proposto contempla as seguintes zonas: intangível, primitiva, de uso extensivo, histórico-cultural, de uso intensivo, de recuperação e de uso conflitante, e a zona de amortecimento, externa à unidade de conservação. As recomendações apresentadas neste trabalho procuram subsidiar a revisão do Plano de Manejo do Parque e colaborar para definição de sua zona de amortecimento, de modo a reverter à tendência crescente de isolamento dessa unidade no contexto urbano, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade ambiental da Grande São Paulo. INTRODUÇÃO A Região Metropolitana de São Paulo, com quase 20 milhões de habitantes, está entre os cinco maiores aglomerados urbanos do mundo, incluindo Tóquio, Seul, Cidade do México e Nova Iorque. Nesta região destaca-se o Parque Estadual da Cantareira, um expressivo remanescente de Mata Atlântica, que atua na manutenção da qualidade ambiental e dos recursos hídricos da metrópole. Além disso, esta unidade de conservação apresenta grande potencial para o desenvolvimento de pesquisas 1
2 Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais científicas, atividades de lazer e educação ambiental (Figura 01). Figura 01 Localização da área de estudo. Em 1974, foi elaborado o Plano de Manejo para o Parque Estadual da Cantareira (Negreiros et al.,1974) que estabelece as seguintes zonas para esta área natural: primitiva, de uso extensivo, de uso intensivo e de serviço. Todavia, este plano não foi atualizado, carecendo, desde então, o Parque e sua área envoltória de um planejamento de uso da terra integrado. Segundo Santos (2004), o planejamento é um processo contínuo que envolve a coleta, a organização e análise sistematizada das informações, por meio de procedimentos e métodos, para chegar a decisões acerca das melhores alternativas para o aproveitamento dos recursos disponíveis. O zoneamento, por sua vez, é uma estratégia metodológica que representa uma etapa do planejamento. Conforme o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei Federal nº 9.985/2000), o zoneamento corresponde à: definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo e normas específicas, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz. 2
3 OBJETIVOS Com base nos pressupostos anteriormente apresentados, este estudo tem como objetivos elaborar o zoneamento ambiental de um setor do Parque Estadual da Cantareira e seu entorno seccionado pela rodovia Fernão Dias e subsidiar a revisão do Plano de Manejo desta unidade de conservação. Procura-se assim, contribuir para o planejamento do uso e ocupação da terra, promovendo-se o controle das pressões antrópicas sobre o Parque e a redução da degradação ambiental observada em toda a região. METODOLOGIA Na realização deste trabalho utilizou-se a abordagem sistêmica como base para a integração das informações referentes ao meio físico-biótico, uso da terra e legislação incidente. Essas informações foram obtidas por meio de levantamentos bibliográfico e cartográfico, interpretação de produtos de sensores remotos e trabalhos de campo. Quanto aos instrumentos de planejamento territorial e aspectos legais, foram utilizados os planos diretores de São Paulo e de Guarulhos e respectivas leis de zoneamento do uso da terra; o Plano de Manejo Para o Parque Estadual da Cantareira (Negreiros et al., 1974); o EIA/RIMA da Duplicação da Rodovia Fernão Dias; o Código Florestal Brasileiro e a Resolução CONAMA nº 004/85; as Leis de Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo; a Lei de Parcelamento do Solo Urbano e a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Como referencial conceitual e metodológico valeu-se também do Roteiro Metodológico de Planejamento Parque Nacional, Reserva Biológica, Estação Ecológica do IBAMA (2002). RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 02 apresenta o zoneamento ambiental de um setor do Parque Estadual da Cantareira e entorno seccionado pela rodovia Fernão Dias. A seguir são descritos as definições, os objetivos e os critérios de delimitação para cada uma das zonas de uso identificadas na área de estudo. 3
4 Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais 4
5 Zona Intangível: é aquela onde a natureza permanece a mais preservada possível, não se tolerando quaisquer alterações humanas. O objetivo básico do manejo é a preservação, garantindo a evolução natural (IBAMA, 2002). Predomina na área de estudo, destacando-se a leste da rodovia Fernão Dias. Corresponde, em geral, aos terrenos muito frágeis suscetíveis à erosão linear e aos movimentos de massa. Zona Primitiva: é aquela onde ocorreu pequena ou mínima intervenção humana. O objetivo geral do manejo é a preservação do ambiente natural e ao mesmo tempo facilitar as atividades de pesquisa científica e educação ambiental, e formas primitivas de recreação (IBAMA, 2002). As áreas propostas para compor a Zona Primitiva estão localizadas, à grosso modo, entre a barragem do Engordador e a rodovia Fernão Dias, e no entorno da barragem do Cabuçu. Apresentam, em grande parte, relevo menos dissecado e solos de menor erodibilidade que a zona anterior. Engloba também as áreas com vegetação sujeita à influência direta das vias de circulação e das atividades desenvolvidas no entorno da unidade de conservação. Zona de Uso Extensivo: é constituída, em sua maior parte, por áreas naturais, podendo apresentar algumas alterações humanas. O objetivo do manejo é a manutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano, apesar de oferecer acesso ao público, para fins educativos e recreativos (IBAMA, 2002). Engloba setores onde já se encontram instaladas a maioria das trilhas de interpretação da natureza dos núcleos Engordador e do Cabuçu. Essas trilhas, devido às características do relevo e do solo, devem ser constantemente conservadas, de modo a evitar o escoamento superficial concentrado da água das chuvas e o conseqüente desenvolvimento da erosão linear. Zona de Uso Intensivo: é constituída por áreas naturais ou alteradas pelo homem. O objetivo geral do manejo é o de facilitar a recreação intensiva e educação ambiental (IBAMA, 2002). A Zona de Uso Intensivo ocupa pequena porção da área de estudo. É constituída pelos setores do Núcleo Engordador e Núcleo Cabuçu, nos quais já são desenvolvidas as atividades de recreação, lazer e proteção. Zona Histórico-Cultural: é aquela onde são encontradas amostras do patrimônio históricocultural. O objetivo geral do manejo é o de proteger os sítios históricos ou arqueológicos, servindo à pesquisa, educação e uso científico (IBAMA, 2002). Esta zona compreende o entorno das barragens do Engordador e do Cabuçu e a Casa da Bomba. Salienta-se que o entorno dessas barragens é considerado área de preservação permanente e está situado na área de proteção aos mananciais. Zona de Uso Especial: contém as áreas necessárias à administração, manutenção e serviços da unidade de conservação, abrangendo habitações, oficinas e outros. O objetivo geral de manejo é minimizar o impacto da implantação das estruturas ou os efeitos das obras no ambiente natural ou cultural da unidade (IBAMA, 2002). Devido ao seu caráter 5
6 Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais pontual, esta zona constituída por sede administrativa e casas de funcionários não foi representada na escala do mapeamento adotada, aparecendo muitas vezes, integrada à Zona de Uso Intensivo. Zona de Recuperação: contém áreas muito alteradas pela ação antrópica. É considerada como zona provisória, que uma vez restaurada, será incorporada novamente a uma das zonas permanentes. O objetivo geral de manejo é deter a degradação dos recursos ou restaurar a área (IBAMA, 2002). Compreende as áreas com vegetação degradada pela implantação da linha de transmissão elétrica Ibiúna Guarulhos, de Furnas Centrais Elétricas SA; os depósitos de rejeitos executados pela Pedreira Cachoeira no interior do Parque; os taludes de corte e aterro com solo exposto e vegetação degradada ao longo da rodovia Fernão Dias; os depósitos de lixo e entulho encontrados ao longo da avenida Coronel Sezefredo Fagundes, e os setores que, sofreram incêndio na crista da Serra da Pirucaia. Zona de Uso Conflitante: constitui-se em espaços localizados dentro da unidade de conservação, cujos usos e finalidades, estabelecidos antes da criação da unidade, conflitam com os objetivos de conservação da área protegida. Seu objetivo de manejo é contemporizar a situação existente, estabelecendo procedimentos que minimizem os impactos sobre a unidade de conservação (IBAMA, 2002). Esta zona é representada pela linha de transmissão elétrica Ibiúna Guarulhos, de Furnas Centrais Elétricas SA; pelas vias de circulação rodovia Fernão Dias e avenida Coronel Sezefredo Fagundes, e área ocupada pelo SAAE de Guarulhos, no Núcleo Cabuçu. Zona de Amortecimento: engloba remanescentes florestais expressivos, reflorestamentos, áreas agrícolas, campos antrópicos/pastagem, pedreiras ativas e aterros sanitários. De maneira geral, as áreas urbanizadas ou em processo de expansão urbana situadas nos limites ou próximos ao Parque, foram incluídas na zona de amortecimento com o intuito de evitar o adensamento da ocupação e o parcelamento ainda maior do solo urbano. A definição de critérios que permitiram a elaboração do zoneamento proposto considerou aspectos ambientais, sócio-econômicos e legais, contribuindo assim, para o desenvolvimento de procedimentos metodológicos voltados para o planejamento de unidades de conservação, sobretudo aquelas limítrofes a áreas urbanizadas. CONCLUSÃO O zoneamento proposto deverá ser complementado com a ampliação do horizonte de análise, isto é, ao considerar a área total do Parque e de seu entorno; com a contribuição de estudos de outros componentes ambientais e sócio-econômicos; e com a consideração da percepção ambiental das comunidades locais sobre a área a ser protegida. Este trabalho destaca a necessidade de se revisar o Plano de Manejo desta unidade de conservação, uma vez que já se passaram 33 anos da publicação da primeira versão. Pretende ser uma contribuição ao conhecimento de uma área serrana florestada dos 6
7 Trópicos, situada nas vizinhanças de uma mancha urbana em rápida expansão. Enfatiza também, a importância do cumprimento das leis de proteção ao meio ambiente a fim de preservar o rico patrimônio natural que caracteriza os trópicos úmidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA Roteiro Metodológico de Planejamento - Parque Nacional, Reserva Biológica, Estação Ecológica, IBAMA/MMA, Brasília. Negreiros, O.C. et al. 1974, 'Plano de manejo para o Parque Estadual da Cantareira', Boletim Técnico do Instituto Florestal, 10, Instituto Florestal, São Paulo. Santos, R.F. dos, 2004, Planejamento ambiental: teoria e prática, Oficina de Textos, São Paulo Silva, D.A. 2005, Zoneamento ambiental de um setor o Parque Estadual da Cantareira e entorno seccionado pela Rodovia Fernão dias (BR 381). Tese de Doutoramento em Geografia Física, Universidade de São Paulo USP. 7
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