QUALIDADE DA ÁGUA DE ABASTECIMENTO A PEQUENAS COMUNIDADES
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1 ÁGUA DE ABASTECIMENTO A PEQUENAS COMUNIDADES HEITOR 1, Ana Margarida Fernandes Lic. Farmácia, INSA Largo 1º Dezembro, s/nº Porto, Resumo As águas de origem subterrânea representam uma fonte de abastecimento importante em alguns concelhos da Zona Norte de Portugal. O trabalho que se apresenta corresponde ao estudo da qualidade físico-química da água fornecida a escolas do ensino básico, localizadas no Distrito do Porto, em cinco concelhos com baixo Índice de Atendimento. Foram analisadas 265 amostras que servem utilizadores, tendo-se concluído que a não conformidade com as normas de qualidade em vigor se deve sobretudo à presença de Nitratos e Ferro. O controlo de qualidade em abastecimentos de água a pequenas comunidades, será mais eficaz se forem adoptados programas de responsabilidade partilhada entre autarquias e autoridades de saúde local. Palavras-chave Pequenas comunidades, qualidade da água, controle. Abstract Underground water resources represent an important source of supply in some councils in the north of Portugal. The aim of this work was to study the physic-chemical quality of the water provided to five elementary schools, located in Oporto, in five councils that have a low population supplied. Were analysed 265 samples serving users. From this study we concluded that the presence of nitrates and iron, was non-conformity with the quality standards. Quality control in water that supply small communities will be more effective if autarchies together with local Health Authorities adopt programmes with joined responsibility. 1 Laboratório de Química de Águas Instituto Nacional de Saúde, Dr. Ricardo Jorge, Porto
2 INTRODUÇÃO Na região Norte de Portugal, os recursos hídricos subterrâneos desempenham um papel fundamental, constituindo a principal fonte de abastecimento de água para as populações de pequenos aglomerados urbanos. O estudo analítico foi efectuado em cinco concelhos do Distrito do Porto com Índices de Atendimento entre 8,2% (Paredes) e 71,8% (Vila do Conde), onde são frequentes captações do tipo poço, furo e galeria, para abastecimento a escolas do ensino básico. ENQUADRAMENTO DA ÁREA EM ESTUDO Os cinco concelhos, representados na Fig.1, repartem-se por unidades morfológicas que correspondem às bacias hidrográficas dos rios: Ave (Vila do Conde), Ave e Leça (Stº Tirso), Sousa (Paredes e Penafiel) e Tâmega (Amarante). Geologicamente predominam formações de natureza granítica e/ou magmatítica com baixo rendimento hidrogeológico. As formações aquíferas distribuem-se por vários níveis e é devido à grande densidade de fracturação dos maciços eruptivos, que os aquíferos conseguem repor as suas reservas, o que permite a sua utilização para abastecimento de pequenas comunidades. É uma zona caracterizada por elevada pluviosidade, verões frescos e invernos suaves. A chuva aumenta do litoral para o interior. À excepção dos meses de Julho e Agosto, a precipitação é em média de 1000 mm. De acordo com os dados da estação meteorológica de Stº Tirso, a temperatura média anual é de 15ºC. Os valores mínimos ocorrem em Janeiro (8,8º) e os máximos em Agosto (21,2º). As influências climáticas atlânticas e as características mediterrânicas ao conjugarem-se com os factores geográficos, conferem um cunho peculiar a esta região. 1. Amarante 2. Penafiel 3. Paredes Santo Tirso 5. Vila do Conde 3 2 Fig. 1 Localização da área em estudo
3 METODOLOGIA Com o objectivo de caracterizar as águas de abastecimento a escolas do ensino básico e infantários, os Técnicos dos Centros de Saúde locais procederam ao inventário de todas as origens e à colheita de 265 amostras. No laboratório de Química de Águas do INSA Porto, foram determinados os parâmetros: por Fluxo Contínuo Segmentado cloretos, sulfatos, nitratos, nitritos, amónio, ferro, sílica e flúor; por Espectrometria de Absorção Atómica cálcio, magnésio, cobre, cádmio, níquel e chumbo; por Electrometria ph e condutividade; por Volumetria alcalinidade; por Espectrometria de Absorção Molecular fósforo e ainda a oxidabilidade ao permanganato em meio ácido. RESULTADOS No Quadro I apresentam-se os valores mínimos e máximos correspondentes às características físico-químicas obtidas para as amostras colhidas nos 5 concelhos. Parâmetros Unid V. Conde Stº Tirso Paredes Penafiel Amarante 47 amost. 72 amost. 56 amost. 53 amost. 37 amost. ph -- 4,89-7,33 4,57-7,58 4,67-7,32 4,89-7,26 5,93-8,94 Condutividade µs/cm 103, , , , ,9-329 Cl ppm 19,4-179,4 5,5-82,1 5,8-105,4 7,2-143,4 5,0-42,0 SO 4 ppm <5,0-85,6 <5,0-72,7 <5,0-64,1 <5,0-70,2 <5,0-16,9 HCO 3 ppm 2,4-181,8 2,4-115,9 1,2-129,3 2,4-72,0 2,4-69,5 Na ppm 14,9-124,6 4,4-66,3 5,1-87,1 4,6-100,6 3,9-23,5 K ppm 1,0-76,0 <0,5-32,5 <0,5-51,3 <0,5-15,5 <0,5-6,2 Ca ppm 3,0-75,6 1,3-48,1 1,3-37,9 0,8-40,3 2,1-23,0 Mg ppm 2,3-36,5 <0,5-16,5 <0,5-14,3 <0,5-16,9 <0,5-8,0 NO 3 ppm 4,1-207 <1,0-151 <1,0-155 <1,0-227 <1,0-66,3 NO 2 ppm <0,01-0,24 <0,01-1,00 <0,01-0,12 <0,01-0,25 <0,01-0,15 NH 4 ppm <0,01-0,72 <0,05-3,56 <0,05-0,49 <0,05-0,78 <0,05-0,05 SIO 2 ppm 6,7-29,5 4,0-20,2 5, ,1-26,4 5,6-23,8 Fe ppb < < < Cu ppb < < < <50-50 < Cd ppb n.d. n.d. n.d. <0,5-10 n.d. Ni ppb <10-30 < <10-60 <10-20 <10-10 Pb ppb n.d. n.d. <50-60 < n.d. P 2 O 5 ppb < < < F ppb < < < < <50-250
4 Oxidabilidade mg/l O 2 0,40-2,24 0,36-2,48 0,28-1,76 0,32-2,88 0,32-2,20 n.d. Não detectado Quadro I Valores mínimos e máximos obtidos em 265 amostras dos 5 concelhos. Face ao DL 236/98 que regulamenta a qualidade da água para consumo humano, constatou-se que pontualmente foram ultrapassados os VMR no que respeita aos elementos Cl, SO 4, Na e Mg os VMA para os elementos K, NO 2 e NH 4. Não foram detectadas concentrações significativas de metais pesados. A poluição devida aos nitratos e os valores elevados de ferro foram determinantes para a classificação das amostras analisadas por concelho (Quadros II, II, IV, V e VI). AMARANTE % 24% Quadro II PENAFIEL ,4% 11,5% Quadro III PAREDES ,9% 17,9% Quadro IV SANTO TIRSO ,3% 6,9% Quadro V VILA DO CONDE ,6% 17,0%
5 Imprópria - Nitratos > VMA Quadro VI As águas subterrâneas, com valor baixo de ph e fracamente mineralizadas na origem, apresentam índices de poluição crescente do interior para o litoral, em virtude dos aquíferos se inserirem em áreas densamente povoadas, sem infraestruturas de saneamento capazes de susterem a poluição ou corresponderem a zonas agrícolas sujeitas a um grande parcelamento (55% de Superfície Agrícola Útil na RN é ocupada por explorações com menos de 5 ha, sendo o efectivo pecuário entre 2 e 10c/ha). Os dados em análise revelam que a maior percentagem de águas impróprias para consumo se localizou no aquífero livre entre Esposende e Vila do Conde, que foi a única zona vulnerável identificada no Norte de Portugal, ao abrigo do DL 235/97, relativo à protecção das águas contra a poluição causada por nitratos de origem agrícola (Fig. 2). 76,6% 33,3% 26,4% 17,9% 8,0% 1 - AMARANTE 2 - PENAFIEL 3 - PAREDES 4 - SANTO TIRSO 5 - VILA DO CONDE Fig. 2 - % amostras >50 mg/l NO 3 A importância que os recursos hídricos subterrâneos sempre desempenharam nos diversos usos, justifica que sejam incrementadas redes de monitorização adaptadas a programas que tenham em vista as necessidades, meios disponíveis e finalidades pretendidas. Na região Entre Douro e Minho existem milhares de captações que abastecem aglomerados com menos de 500 habitantes. A Directiva 98/83/CE, relativa à qualidade de água destinada ao consumo humano, a implementar até 2003, introduz modificações que permitem a todos os Estados Membros obter uma melhoria na qualidade dos serviços prestados. A colaboração entre as autarquias e os serviços de saúde locais na definição de programas adequados às exigências da Directiva, poderá associar o controlo de indicadores de poluição à organização de cartas de risco, permitindo assim evitar a exposição humana a factores nocivos para a saúde e optimizar os serviços de abastecimento da origem ao utilizador.
6 AGRADECIMENTOS: Agradeço a todos os que directa ou indirectamente contribuíram para a realização deste trabalho particularmente às equipas dos Centro de Saúde locais e do Laboratório de Química de Águas do INSA Porto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CUSTODIO, E. E LLAMAS, M. R. (1983). Hidrologia Subterrânea, Omega, Barcelona. D.L. 236/98 Portugal. Qualidade da Agua para Consumo Humano. DIRECTIVA 80/778/CEE. Qualidade da Agua para Consumo Humano. DIRECTIVA 98/83/CE. Qualidade da Agua para Consumo Humano. FERREIRA, J. P. CÁRCOMO E OUTROS (1995). Desenvolvimento de um Inventário das Águas Subterrâneas de Portugal, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Volume I, Lisboa HEITOR, A. M. (1993).Caracterização Físico- Química e Bacteriológica de Águas de Origem Subterrânea da Bacia do Cávado, Recursos Hídricos, vol.14 nº2e3 APRH., Lisboa HEITOR, A. M. (1996). Caracterização Físico- Química das Águas de Abastecimento a escolas do Concelho de Vila do Conde, INSA Porto. HEITOR, A. M. (1996). Estudo das características Físico- Químicas das Águas de Abastecimento a escolas do Concelho de Penafiel, INSA Porto. HEITOR, A. M. (1995.)Importância do Controlo de Qualidade na Exploração de Sistemas de Abastecimento Público de Pequena Dimensão(Lisboa, Portugal). Jornadas de Estudo e Reflexão. INAG. Lisboa. MARN, INAG-Direcção de Serviços de Planeamento (1994). Inventário Nacional de Saneamento Básico. Portugal.
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