DESAFIOS E CONTRIBUIÇÃO DA CPLP PARA O CUMPRIMENTO DOS ODM s
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- Ana Lívia Taveira Castanho
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1 DESAFIOS E CONTRIBUIÇÃO DA CPLP PARA O CUMPRIMENTO DOS ODM s Lisboa, 5 de Junho de 2008
2 Introdução A pobreza extrema em que vivem milhões de crianças, idosos, mulheres e homens na maior parte do mundo, constitui um custo social profundo e representa uma perda irreparável no potencial das respectivas sociedades, uma vez que impede a criação sustentada da riqueza e exige gastos sociais que os orçamentos de cada Estado nem sempre podem dar resposta. Num mundo cada vez mais globalizado e interdependente, a redução das assimetrias entre os países desenvolvidos e os mais pobres, torna-se assim, no verdadeiro desafio que enfrenta a modernidade, no quadro da cooperação para o desenvolvimento. A Declaração do Milénio, adoptada em 2000 pelos Chefes de Estado e de Governo, membros das Nações Unidas, veio lançar um processo decisivo da cooperação global do século XXl, dando um impulso enorme às questões do desenvolvimento, com a aprovação dos então denominados Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (OMD), pela comunidade internacional, a serem atingidos num prazo de 25 anos, isto é de 1990 a Outras Conferências internacionais se sucederam à da Declaração do Milénio e vieram reafirmar o empenho da comunidade doadora e dos países beneficiários da ajuda na procura de fontes de financiamento inovadoras e alternativas e, por outro lado, tornaram evidente a necessidade de um novo espírito de parceria e de conceito de cooperação para o desenvolvimento, que se assenta na inter-relação entre o comércio, o financiamento e o desenvolvimento. Compete aos governos fazer o seguimento dos progressos realizados através de vários mecanismos de monitorização que incluem entre outros, a elaboração e publicação de relatórios nacionais sobre os progressos alcançados relativamente ao cumprimento dos ODM s O Governo da República Democrática de São Tomé e Príncipe tem um firme compromisso com os ODM, tendo em 2005, feito a revisão da e Estratégia Nacional de Redução da Pobreza (ENRP). Em 2004, foi elaborado o 1º Relatório Nacional dos ODM s e está em curso a elaboração do segundo, que visa proceder a uma avaliação dos progressos realizados entre 2004 e 2007.
3 Desde o início da década de 90, que o país tem vindo a realizar profundas reformas estruturais e democráticas mas muito ainda resta a fazer para se atingir o estádio de Boa Governação, entendendo este como um sistema que, assegurando princípios tais como Direitos Humanos, legitimidade política, prestação de contas, liberdade de associação e de participação dos cidadãos, transparência, boa gestão do sector público e um sistema judicial justo, que concorra para o melhor funcionamento do Estado, melhor qualidade de vida dos cidadãos., melhor ambiente de negócios, em suma, maior desenvolvimento. Decorridos 5 anos, constata-se que a implementação dos ODM s tem sido lenta e irregular o que nos leva a ser um pouco pessimistas no que respeita ao cumprimento dos mesmos no período preconizado. O PAPEL DA COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA NA CONCRETIZAÇÃO DOS OBJECTIVOS DO MILÉNIO A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa CPLP, enquanto organização intergovernamental, vem acompanhando a implementação dos ODM S nos Estados Membros. Exemplo disso foi a última Conferência dos Chefes de Estado e de Governo realizada em Bissau em 2006 ter tido como tema central, a concretização dos ODM s. Apesar das realidades geopolíticas, económicas e socioculturais dos oito Estados membros da comunidade serem em certa medida muito diferenciados, existem vulnerabilidades a nível politico, económico e social que afectam a todos de uma maneira geral e poderão ser reduzidos se houver um esforço conjunto na busca de soluções para o alcance dos objectivos preconizados pelos ODM s. Em Bissau, esta questão foi largamente debatida e considerando que na realidade, os ODM s são vastos e ambiciosos, a solução a curto prazo seria priorizá-los, tendo em conta as maiores debilidades e carências dos Estados Membros. Assim, a Conferência de Bissau elegeu como ODM s prioritários, os seguintes: 1. Estender o ensino básico, com vista a sua universalização. 2. Promover a igualdade de género, nomeadamente, a redução da disparidade de género no ensino primário e secundário; 3. Reduzir a mortalidade infantil: 4. Melhorar o acesso à saúde reprodutiva e reduzir a mortalidade materna;
4 5. Combater o HIV/SIDA, a malária, a tuberculose e outras doenças infecciosas endémicas. O PROGRESSO DE S.TOMÉ E PRÍNCIPE RUMO AO CUMPRIMENTO DOS OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÉNIO São Tomé e Príncipe vem adoptando medidas parta o cumprimento dos ODM s, mas os desafios que se apresentam são enormes e os indicadores levamnos a fazer a seguinte avaliação: Um estudo sobre o perfil da pobreza em São Tomé e Príncipe conclui que a mesma incide sobre 53,8% da população; 37,8% vivendo abaixo do limiar da pobreza e 15,1% na pobreza extrema. Entretanto, considera-se que a pobreza no país é um fenómeno rural uma vez que são as populações do mundo rural que vivem tanto no limiar da pobreza como na fase de pobreza extrema. Apesar do crescimento do PIB desde os finais da década de 90 ter passado a ser superior ao crescimento da população, os indicadores económicos apontam para a degradação da qualidade de vida das populações, em particular, dos grupos mais vulneráveis (população rural, pescadores idosos e mulheres chefes de família) o aumento do número de pobres, o que reflecte a desigualdade na distribuição da riqueza nacional. Dos estudos feitos conclui-se que as áreas que tem obtido melhores resultados no cumprimento dos objectivos do milénio, são as da saúde e da educação, traduzindo-se assim para a área da saúde o combate ao HIV/SIIDA, malária, (com resultados bastante positivos), tuberculose e outras doenças e a educação, Educação Primária Universal. Considerando que a educação é a alavanca para o desenvolvimento de uma Nação, e tendo em conta o empenho das autoridades nacionais, vamos centralizar a nossa apresentação nessa área. O sistema educativo em São Tomé e Príncipe conheceu um desempenho positivo desde a apresentação do primeiro relatório em 2004, tendo as taxas de escolarização aumentado de forma assinalável assim como a performance do sistema educativo em geral. Todavia, ainda temos um longo caminho a percorrer, no que diz respeito à qualidade do ensino ministrado no País. A Lei de Bases do Sistema Educativo santomense, estabelece para o ensino básico, 6 anos de escolarização obrigatória gratuita.
5 A Escolaridade básica obrigatória encontra-se dividida em dois ciclos, sendo o primeiro da 1ª a 4ª classe. O acesso é praticamente universal, sendo que a taxa líquida de escolarização atinge os 100%. E a cobertura escolar, garantida por um total de 78 escolas, que se encontram bem distribuídas por todo o país. No primeiro ciclo,) 5ª e 6ª classes) a taxa de escolarização baixa para cerca de metade e a cobertura escolar é bem mais limitada. Ao nível de todo o País, existem apenas 9 escolas onde se lecciona o segundo ciclo, situadas geralmente nas capitais dos distritos, o que constitui em grande medida, um obstáculo para um grande número de alunos em prosseguir e concluir o ensino básico obrigatório. Por outro lado, a maior parte das escolas funciona em regime triplo, diminuindo desse modo o período normal de aprendizagem. Persistem ainda assimetrias regionais no que se refere a cobertura e consequentemente acessibilidade, sobretudo no segundo ciclo do ensino básico, afectando particularmente as crianças no meio rural. Existe um sério problema com a eficiência interna do sistema, ou seja, a capacidade para conduzir as crianças que entram no princípio de um ciclo ao termo do mesmo, num mínimo de anos. Cerca de 25% dos alunos da 1ª a 4ª classes reprovam, sendo que os alunos do sexo masculino, são os que mais reprovam. Relativamente à eficácia do sistema, podemos constatar que em cada 1000 alunos, entrados na 1ª classe, 82,7% permanecem no sistema até a 4ª classe e apenas 60,3% até a 6ª classe. Muito do fraco desempenho do ensino básico em São Tomé e Príncipe tem a ver com o funcionamento do ensino pré-escolar. Esta, no seu aspecto formativo, é complementar e/ou supletiva da acção educativa da família, sendo hoje universalmente reconhecida, a importância fundamental desse nível de ensino no desenvolvimento da 1ª infância e na preparação para a educação escolar. Porém, em STP a educação pré-escolar é facultativa. Em STP, as realidades e oportunidades dos mundos rural e urbano são totalmente diferentes. Assim, a entrada para a 1ª classe do ensino básico, é enorme a diferença que apresentam as crianças oriundas de cada um desses meios. A educação pré-primária poderia nivelar as crianças, colocandoas em condições de menor diferença na meta de partida para o percurso do ensino básico condições de menor diferença na meta de partida para o percurso no ensino básico. A não ser obrigatório o ensino pré-escolar e tendo em conta que as crianças do meio rural tem efectivamente muito menor
6 acesso, o que se verifica é que na grelha de partida, essas encontram-se em grande desvantagem que um ensino pré-escolar poderia reduzir. Daí que, um dos desafios que enfrenta o sistema educativo em STP, é de repensar o lugar do pré-escolar. Apesar de todas as dificuldades, pode-se dizer que STP está a evoluir favoravelmente e que, ao manter-se este ritmo de crescimento, muito provavelmente o país poderá passar de uma Taxa líquida de escolarização de 84.3% para 100% em 2015 e dizer assim que todas as crianças santomenses, rapazes e raparigas, terminam um ciclo completo do ensino básico. Haverá todavia, que ser prestada uma grande atenção à eficiência e eficácia do sistema de modo a que essa progressão em termos de quantidade, corresponda uma qualidade adequada. O Governo, conjuntamente com os parceiros nacionais e internacionais, têm vindo ao longo desses anos a desencadear um conjunto de medidas/políticas para a melhoria do sistema educativo em STP. Neste âmbito, aprovou o Plano de Desenvolvimento de Sector Educativo; aprovou em 2002, o Plano de Acção da Educação para todos 2002/2015; adoptou medidas em favor das crianças mais desfavorecidas como sendo um programa de cantinas escolares que fornece apoio alimentar; há um maior envolvimento e participação das ONG; está em curso o processo de descentralização do sistema educativo. Tendo em conta os indicadores acima mencionados e os desafios que tem pela frente para o cabal cumprimento desse objectivo do milénio, torna-se necessária a adopção de algumas medidas: Melhoria dos conteúdos e dos programas e sua adaptação às necessidades de desenvolvimento do país, mediante actualização dos curricula; Reforço do financiamento do sistema educativo com melhoria da rede escolar e da acessibilidade às escolas; Formação adequada dos professores Reforço das parcerias, com maior envolvimento dos parceiros de desenvolvimento, da sociedade civil e das comunidades na gestão do sistema e em particular das escolas;
7 Criação de condições, conducentes à redução das disparidades sociais e geográficas, sobretudo ao nível do 2º ciclo do ensino básico; Integração, quer do ponto de vista da organização curricular, quer da estrutura física e organizativa do ensino básico obrigatório e reforço da capacidade de acolhimento do sistema, de modo a generalizar o acesso a escolarização primária completa de 6 anos; Construção de mais infra-estruturas e melhoria das já existentes; Este é o panorama actual do ensino em São Tomé e Príncipe temos esperanças de que se as medidas acima apontadas forem cumpridas, o país provavelmente estará em condições de em 2015 atingir o Objectivo/Meta EDUCAÇÃO PRIMÁRIA UNIVERSAL, não descurando a implementação dos outros objectivos. Cumprindo as decisões de Bissau, através da cooperação para o Desenvolvimento, um dos objectivos estatutários da CPLP, o País deverá mobilizar recursos para a elaboração e financiamento de projectos que estejam directamente ligados ao cumprimento dos ODM s, estabelecendo prioridades sobretudo para projectos que possam abranger os demais membros da Comunidade. LISBOA, 5 de Junho de 2008
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