O Ajuste Fiscal e o Orçamento da Educação Federal em 2016
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- Thomas Beltrão Estrela
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1 O Ajuste Fiscal e o Orçamento da Educação Federal em 2016 Claudio Antonio Tonegutti 1 O Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2016 (PLOA 2016) encaminhado ao Congresso Nacional pelo poder executivo no dia 31 de agosto de 2015 (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2015) possui a característica inusitada de ser deficitário em cerca de R$ 30,5 bilhões de reais. O Governo prevê arrecadar, em 2016, 1,180 trilhão de reais líquidos, com despesas de 1,210 trilhão de reais. O déficit será de 0,5% do produto interno bruto PIB (Alegretti & Passarinho, 2015). A peça orçamentária de 2016 já reflete o ajuste fiscal aplicado no orçamento federal de 2015, atingindo, mais uma vez, as áreas sociais. As reduções mais relevantes ocorrerão nas pastas da Saúde: em 2015, representa 37% dos gastos e em 2016 representará 35%, na Educação, queda de 14,4% para 13,3%, e Desenvolvimento Social, queda de 13,5% para 12,9% (Alegretti & Passarinho, 2015). Forças econômicas poderosas e importantes pressionam o governo federal a aprofundar o caminho da contenção dos gastos públicos nos investimentos e nas políticas sociais, enquanto outros gastos como, por exemplo, os pagamentos financeiros decorrentes da dívida pública, têm aumentando significativamente, sobretudo por efeito da elevação da taxa de juros e do uso generalizado dos swaps cambiais. Para o ano de 2015, somente o pagamento dos juros da dívida atingirá 8% do produto interno bruto (PIB), que é uma das mais altas do mundo. A dívida bruta representou, em julho, 64,5% do PIB. A atenção dada aos credores, que na última década conseguiram ganhos reais de 6,5% ao ano nas aplicações financeiras baseadas na dívida, se manterá na proposta orçamentária para 2016 (Pochmann, 2015). Passando a analisar os reflexos dessa política de ajuste fiscal no orçamento de 2016 do Ministério da Educação (MEC), usaremos como referencia o orçamento do ano de 2014 (que não sofreu os efeitos do ajuste fiscal). Para a comparação com o orçamento proposto para 2016, o orçamento de 2014 foi atualizado utilizando-se o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do período de 01/07/2014 a 01/08/2015 (fator multiplicativo de 1,0957). O valor do orçamento autorizado de 2014 do MEC corrigido pelo IPCA foi de R$ Esse valor, comparado com o proposto para 2016 (R$ ) indica uma diminuição real de 12,89%. Isso incide, principalmente, em Outras Despesas Correntes (-12,65%) e Investimentos (- 68,63%). Há também a previsão de um aumento de 6,36% nas despesas com Pessoal e Encargos Sociais. 1 Professor da Universidade Federal do Paraná e Tesoureiro Geral da APUFPR-SSind, gestão
2 Os orçamentos por sub-função estão apresentados na tabela 1. Nota-se que os impactos são variados, dependendo da modalidade ou nível de ensino. A maior perda está na educação infantil (85,48%), havendo um pequeno ganho na educação básica (3,82%). Tabela 1: Orçamentos do MEC por Sub-Função Sub-Função LOA 2014 atualizada pelo IPCA PLOA 2016 Diferença % Administração geral ,67 Formação de Recursos ,31 Humanos Comunicação Social ,96 Previdência do Regime ,02 Estatutário Previdência Especial ,70 Atenção Básica ,29 Assistência Hospitalar e ,22 Ambulatorial Suporte Profilático e Terapêutico ,90 Alimentação e Nutrição ,00 Proteção e Benefícios ao ,68 Trabalhador Ensino Profissional ,95 Ensino Superior ,90 Educação Infantil ,48 Educação de Jovens e Adultos ,55 Educação Básica ,82 Desenvolvimento Científico ,58 Difusão do Conhecimento ,55 Científico e Tecnológico Serviço da Dívida Interna ,07 Serviço da Dívida Externa ,00 Outros Encargos Especiais ,05 Transferências para a Educação ,65 Básica Total ,89 Na tabela 2 está representada a variação entre o orçamento ajustado de 2014 e o de 2016 para uma seleção de unidades vinculadas ao MEC. Como pode ser observado, o impacto é bastante diferenciado também por unidades.
3 Tabela 2: Dados orçamentários de unidades selecionadas do MEC Unidades LOA 2014 atualizada pelo IPCA PLO 2016 Variação % Universidades Federais ,84 Institutos Federais e CEFET (MG e RJ) ,40 Hospitais Universitários e EBSERH ,55 Capes ,36 Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE ,51 Demais unidades ,34 É oportuno destacar o aumento no orçamento dos hospitais universitários e Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH): ele se refere, principalmente, ao aumento no orçamento desta última, de 187%, localizado de forma bastante exacerbada em Pessoal e Encargos Sociais (427%). Isso decorre do avanço, nos anos recentes, da adesão de hospitais universitários à EBSERH e, em decorrência, a necessidade da contratação de pessoal pela empresa, em substituição ao pessoal terceirizado (contratado, por exemplo, por fundações de apoio). As universidades perdem 4,84% de orçamento enquanto os institutos federais perdem 7,40%. O FNDE (-30,51%) e a Capes (-20,36%) são os mais penalizados. No caso da Capes, os programas da educação básica (-31,32%) perdem mais do que os programas do ensino superior (-21,33%) e a queda nos investimentos é de 75,89%. A situação de cada unidade é bastante variável. Como ilustração, trazemos na tabela 3 os orçamentos da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
4 Tabela 3: Orçamentos por grupo de despesa da Universidade Federal do Paraná Grupo de Despesa Lei + créditos 2014 LOA 2014 atualizada pelo IPCA PLOA 2016 Diferenç a % Pessoal e Encargos Sociais ,62 Outras Despesas Correntes ,22 Investimentos ,76 Inversões Financeiras Total ,92 A perda que a UFPR terá no orçamento de 2016 está estimada em 7,92% acima, portanto, da média do conjunto das universidades federais, que será de 4,84% (ver tabela 2). A queda no orçamento é mais incisiva nos investimentos (54,76%), mas também bastante relevante em outras despesas correntes (17,22%). Numa situação em que muitas das universidades e dos institutos federais se encontram em expansão de cursos e matrículas, ou em consolidação da expansão recente, os cortes orçamentários parecem bastante graves, até porque, nesse contexto, seria de se esperar um aumento do orçamento para essas instituições. Fica no ar como cada instituição vai se virar com essas restrições orçamentárias. Mas, este é só o começo do trâmite do projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) de Muita discussão vai ocorrer no Congresso Nacional, este ano municiada pelo inédito déficit, que, não sabemos no momento, como vai ser resolvido. Passará a solução por mais cortes nas áreas sociais? Além disso, com o orçamento aprovado virá a execução orçamentária, que pode ser contingenciada ao longo do ano. Do orçamento de 2014, por exemplo, o MEC executou (empenhou) 91,53% dos recursos autorizados. Portanto, o ano de 2016 promete ser muito difícil, no que tange ao financiamento das Instituições Federais de Ensino. Referências Alegretti, L., & Passarinho, N. (31 de agosto de 2015). Governo prevê déficit de R$ 30,5 bilhões no Orçamento de Acesso em 8 de setembro de 2015, disponível em Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. (31 de agosto de 2015). Orçamento Anual de Acesso em 8 de setembro de 2015, disponível em Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão:
5 Pochmann, M. (7 de setembro de 2015). Os ricos, o ajuste fiscal e monetário. Acesso em 8 de setembro de 2015, disponível em RBA - Rede Brasil Atual: Publicado originalmente no site em setembro de 2015 Licenciado com uma licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.
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