AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA EM FUNCIONÁRIOS DE UMA PENITENCIÁRIA NO MUNICÍPIO DE ITIRAPINA-SP

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1 ISSN ISSN on line Alim. Nutr., Araraquara v. 22, n. 4, p , out./dez AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA EM FUNCIONÁRIOS DE UMA PENITENCIÁRIA NO MUNICÍPIO DE ITIRAPINA-SP Valéria Cristina SCHNEIDER* Samanta Alves Torres de CARVALHO * Cíntia Alessandra Matiucci PEREIRA ** Paula MAGALHÃES ** RESUMO: O objetivo deste estudo foi realizar a avaliação antropométrica, utilizando o índice de massa corporal (IMC), relação cintura quadril (RCQ) e circunferência da cintura (CC) dos funcionários da Penitenciária João Batista de Arruda Sampaio (Penitenciária II) do Município de Itirapina SP. Participaram do estudo 103 funcionários (64 homens e 39 mulheres). Em relação ao estado nutricional, verificou-se que 78,12% dos homens e 56,41% das mulheres apresentavam-se acima do peso. Também foi detectado sedentarismo e tabagismo entre os participantes. Utilizouse o teste de correlação de Pearson para avaliar a correlação entre o índice de massa corporal e os indicadores antropométricos de distribuição de gordura. Foi encontrada correlação moderada entre IMC e RCQ para o sexo masculino (r=0,5847, p<0,05) e para o sexo feminino (r=0,5904, p<0,05). A correlação entre IMC e CC foi forte para o sexo masculino (r=0,8827, p<0,05) e para o sexo feminino (r=0,9675, p<0,05). Foi observada obesidade abdominal em indivíduos que não foram diagnosticados como obesos pelo IMC, o que reforça a importância da combinação de medidas antropométricas na avaliação do estado nutricional. Os dados encontrados ressaltam a transição nutricional e epidemiológica que o país atravessa e evidencia a importância de intervenção nutricional no grupo em estudo. PALAVRAS CHAVE: Antropometria; avaliação nutricional; índice de massa corporal. INTRODUÇÃO Uma das principais características da sociedade moderna, nas últimas décadas, tem sido um dinâmico e complexo processo de mudanças nos padrões alimentares e nutricionais da população, além de alterações nos perfis demográfico, epidemiológico e socioeconômico. Essas alterações modificam a maneira como os sujeitos e coletividades organizam suas vidas e alteram o modo de viver. 4,7 Essas mudanças levam à chamada transição nutricional e são complexas. De modo geral ocorre o predomínio da ocidentalização dos hábitos alimentares, com maior ênfase no aumento do aporte energético dos alimentos, aliada à diminuição progressiva da atividade física, convergindo para um aumento da obesidade mundial. 3, 16, 28 Obesidade é uma doença na qual existe excesso de gordura corporal. Um indivíduo é considerado obeso quando a quantidade de tecido adiposo aumenta em uma extensão tal que a saúde física e psicológica são afetadas. 15 Segundo dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, 27 52% dos adultos brasileiros estão acima do peso, sendo 11% obesos. A influência de diversos fatores, como os genéticos, ambientais, socioculturais e comportamentais classificam a obesidade como uma doença e há poucas evidências de que algumas populações são geneticamente mais suscetíveis à obesidade. Estima-se que os fatores genéticos podem influenciar de 24 a 40% as alterações no Índice de Massa Corporal (IMC). O comportamento alimentar inadequado e o sedentarismo devem, portanto, ser os principais fatores que influenciam o crescimento da obesidade nos grupos populacionais geneticamente suscetíveis. 29 A avaliação antropométrica representa uma das etapas mais importantes do processo de avaliação nutricional dos indivíduos. A Organização Mundial de Saúde indica o uso da antropometria para a vigilância dos fatores de risco das doenças crônicas. Além do peso e da altura, recomenda a medida da cintura e do quadril como forma de avaliar a deposição da gordura abdominal e o diagnóstico de obesidade. 26, 34 Esses parâmetros antropométricos têm a vantagem de apresentar fácil mensuração e obtenção a baixo custo, podendo ser utilizados tanto na saúde pública quanto na clínica. 6 Nos últimos anos há uma crescente especulação sobre qual a melhor medida antropométrica para determinação do sobrepeso e obesidade no sentido de discriminar indivíduos que estão em risco cardiovascular. Lee et al. 13 afirmam que as medidas de circunferência da cintura (CC) e a razão cintura quadril (RCQ) estão sendo utilizadas como preditores precisos da obesidade relacionado ao risco cardiovascular e do diagnóstico clínico da obesidade e da síndrome metabólica. Para Mancini 15 o IMC tem excelente correlação com a quantidade de gordura corporal e é largamente usado em estudos epidemiológicos e clínicos. * Curso de Graduação em Nutrição Centro Universitário Central Paulista (UNICEP) São Carlos SP Brasil. ** Curso de Nutrição - Centro Universitário Central Paulista (UNICEP) São Carlos SP Brasil. cmatiucci@gmail.com. 593

2 O diagnóstico, tratamento e prevenção da obesidade e de suas doenças intercorrentes têm sido considerados uma enorme batalha para os profissionais da área da saúde. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo analisar os índices de distribuição anatômica da gordura - como o índice de massa corporal, relação cintura quadril e circunferência da cintura - suas classificações e possíveis correlações nos funcionários de uma Penitenciária no município de Itirapina, São Paulo, Brasil. CASUÍSTICA E MÉTODOS O presente estudo foi realizado de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sendo aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário Central Paulista (Protocolo n. 026/2007). A população em estudo foi constituída por Funcionários Ativos da Penitenciária João Batista de Arruda Sampaio (Penitenciária II), no Município de Itirapina SP, Tratou-se de um estudo transversal. A coleta de dados foi efetuada no período de março a outubro de O quadro de funcionários ativos era de 293 pessoas, sendo 235 masculinos e 58 femininos, com idade entre 22 e 62 anos. Foram utilizados como critérios de exclusão funcionários com idade superior a 60 anos (idosos) e gestantes. Concordaram em participar do estudo 103 funcionários adultos (64 homens e 39 mulheres), com idade entre 23 e 58 anos. A participação dos funcionários foi condicionada à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram coletados pelos pesquisadores utilizando um questionário, validado para população adulta, que abordava questões sociodemográficas (sexo do participante, idade, estado civil, função profissional, turno de trabalho), fumantes (considerado como indivíduos fumantes o consumo positivo ou negativo de cigarros, charutos ou cachimbos), práticas de atividades físicas (considerado como indivíduo praticante de atividades físicas, freqüência igual ou maior que 3 vezes na semana, com duração de no mínimo 40 minutos) e as medidas e indicadores antropométricos (peso, altura, IMC, circunferência do quadril, circunferência da cintura, RCQ). O peso foi verificado utilizando-se balança digital (marca Toledo, com capacidade de 150kg e escala de 100g), com o indivíduo descalço e usando roupas leves. A estatura foi verificada utilizando-se um estadiômetro vertical de haste móvel, colocado junto a uma parede sem rodapé e com piso nivelado. Para obtenção das circunferências da cintura e quadril foi utilizada uma fita métrica inelástica com capacidade de até 150cm e precisão de 0,1cm. A circunferência da cintura foi obtida no ponto médio entre a crista ilíaca e a última costela, que é a técnica recomendada pela World Health Organization 33 e a leitura feita no momento da expiração no milímetro mais próximo. A circunferência do quadril foi verificada na altura das cristas ilíacas, local considerado como cintura, na maior área acima do grande trocanter, e do grande trocanter, que é a técnica recomendada pela World Health Organization. 33 O Índice de Massa Corporal (IMC) considerou o quociente entre o peso em quilogramas e a estatura (em metros) elevada ao quadrado. Os pontos de corte propostos pela Organização Mundial de Saúde 31 foram utilizados como critério de diagnóstico do estado nutricional. As medidas antropométricas foram duplicadas, segundo Lohamn et al. 14 utilizando-se a média aritmética, e uma terceira medida foi verificada, quando os dois primeiros valores apresentaram diferenças não aceitáveis. O acúmulo de gordura abdominal foi estimado segundo a Relação Cintura Quadril (RCQ) e a Circunferência da Cintura (CC). Para identificação do tipo de distribuição de gordura, segundo a RCQ, utilizou-se os limites de corte segundo Pereira et al. 17 que estabelece RCQ<0,80 para mulheres e RCQ<0,95 para homens. Para a CC utilizou-se os pontos de corte segundo a OMS 31 que sugerem CC<94cm para homens e CC<80cm para mulheres. Para a análise estatística foi utilizado o software Statistica versão 5.1. A significância estatística considerada em todas as análises foi constituída de um erro de 5% e 95% de intervalo de confiança (IC). O teste de correlação de Pearson foi utilizado para análise das variáveis. Consideraram-se como estatisticamente significantes os valores de p<0,05. RESULTADOS Dentre todos os funcionários considerados ativos e que faziam parte do quadro total, apenas 35,15% aceitaram participar da pesquisa perfazendo um total de 103 pessoas. A amostra final foi composta por 64 indivíduos masculinos (62%) e 39 femininos (38%). A idade média dos participantes foi de 37 ± 8 anos com mínimo de 23 e máximo de 58 anos. Não houve, na amostra, indivíduos com idade superior a 60 anos e nem gestantes, por isso não foi necessário a aplicação de quaisquer critérios de exclusão. As características antropométricas dos grupos foram analisadas segundo o sexo. A classificação geral do IMC está descrita na Tabela 1. Observou-se que 17,94% (n=7) das mulheres eram fumantes e 46,15% (n=18) praticavam atividades físicas em quantidade igual ou maior que 3 vezes na semana, com duração de, no mínimo, 40 minutos. Entre os homens, 21,87% (n=14) eram fumantes e 35,94% (n=23) praticavam atividades físicas. No que diz respeito à relação cintura quadril, podese observar que a população em estudo apresentou índice de 61,80% (n=60) para risco de complicações metabólicas e desenvolvimento de DCNT, e que 41,74% (n=43) não apresentaram risco, pois a RCQ apresentou-se dentro da normalidade. Quando divididos por sexo, os indivíduos apresentaram índices diferentes, como pode ser visualizado na Tabela 2. A RCQ foi maior para o grupo feminino, sendo 56,41% (n=22) e apresentaram índices de RCQ>0,80 demonstrando risco de complicações metabólicas e aparecimento de 594

3 DCNT. Entre os homens, 32,82% (n=21) apresentaram RCQ>0,95 indicando risco de aparecimento de doenças. Correlacionando-se as variáveis IMC e RCQ observou-se resultados que evidenciaram uma associação estatisticamente significativa e positiva (Figura 1). Observouse correlação moderada para o sexo masculino (r=0,5847, p<0,05) e feminino (r=0,5904, p<0,05). Ao considerar toda a população em estudo, a correlação também foi moderada (r=0,5973, p<0,05). Como apresentado na Tabela 3, 46,88% (n=30) dos participantes do sexo masculino possuíam CC compatível com o baixo risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares conferido por CC<94cm, 26,56% (n=17) apresentavam risco elevado (CC>94cm e <102cm) e 26,56% (n=17) risco muito elevado (CC>102cm) para o desenvolvimento de complicações relacionadas à obesidade. Entre os participantes do sexo feminino, observouse que 33,33% (n=13) possuíam CC compatível com o baixo risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares conferido por CC<80cm, 35,90% (n=14) apresentavam risco elevado (CC>80cm e <88cm) e 30,77% (n=12) Tabela 1 Freqüência do estado nutricional segundo sexo e IMC dos Funcionários da Penitenciária. Itirapina, Estado Nutricional Homens Mulheres Total n % n % n % Magreza grau I* 1 1,56 0 0,0 1 0,97 Eutrofia** 13 20, , ,13 Pré-obeso *** 28 43, , ,75 Obesidade grau I **** 15 23, , ,45 Obesidade grau II***** 4 6,26 1 2,57 5 4,85 Obesidade grau III****** 3 4,69 2 5,13 5 4,85 TOTAL *IMC>17 a 18,4kg/m 2 ; ** IMC 18,5 a 24,9kg/m 2 ; *** IMC 25 a 29,9kg/m 2 ; **** IMC 30 a 34,9kg/m 2 ; ***** IMC 35 a 39,9kg/m 2 ; ****** IMC>40kg/m 2. Tabela 2 Razão Cintura-Quadril (RCQ) de acordo com o sexo dos Funcionários da Penitenciária. Itirapina, Masculino Feminino RCQ>0,95* RCQ<0,95* RCQ>0,80* RCQ<0,80* n % n % n % n % 21 32, , , ,59 * Pontos de corte, segundo Pereira et al. 15 1,15 IMC vs. RCQ (Casewise MD deletion) RCQ =, ,00965 * IMC Correlation: r =, ,10 1,05 1,00 RCQ 0,95 0,90 0,85 0,80 0,75 0, IMC Regression 95% confid. FIGURA 1 Correlação entre o índice de massa corporal (IMC) e razão cintura quadril (RCQ) em ambos os sexos dos Funcionários da Penitenciária. Itirapina, 595

4 risco muito elevado (CC>88cm) para o desenvolvimento de complicações relacionadas à obesidade. Quanto à correlação entre IMC e CC (Figura 2), os resultados evidenciaram uma forte associação e estatisticamente significante nos gêneros estudados. Para o sexo masculino r=0,8827, p<0,05 e para o sexo feminino r=0,9675, p<0,05. Para toda a população em estudo, r=0,8997, p<0,05. No sentido de compreender as diferenças de correlação entre IMC e os indicadores de acúmulo de gordura abdominal (RCQ e CC), calculou-se o percentual de indivíduos que apresentaram valores de CC normais e superiores ao recomendado segundo o estado nutricional determinado pelo IMC. Observou-se que 17,95% (n=7) das mulheres consideradas eutróficas apresentaram acúmulo de gordura abdominal e mulheres com sobrepeso e obesidade, a CC atingiu 48,71% (n=19). Em contrapartida, 1,56% (n=1) dos homens eutróficos apresentaram acúmulo de gordura abdominal de acordo com a CC e 51,56% (n=33) dos homens possuíam índices superiores ao recomendado (Tabela 3). DISCUSSÃO De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 32 a prevalência de sobrepeso e obesidade está aumentando de forma preocupante em todo o mundo. Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/ relatam que o excesso de peso e a Tabela 3 Índice de Massa Corporal (IMC) vs Circunferência Cintura (CC) dos Funcionários da Penitenciária. Itirapina, Masculino Feminino Normal (a) Elevado (b) Muito Muito Normal Elevado (d) Elevado (e) (c) Elevado (f) n % n % n % n % n % n % Magreza (1 ) 1 1,56 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Eutrófico (2) 12 18,75 1 1,56 0 0, , ,95 0 0,00 Pré-Obeso (3) 16 25, ,63 2 3,13 3 7, , ,82 Obesidade grau I (4) 1 1,56 6 9, ,50 0 0,00 0 0, ,26 Obesidade grau II (5) 0 0,00 0 0,00 4 6,25 0 0,00 0 0,00 1 2,65 Obesidade grau III (6) 0 0,00 0 0,00 3 4,69 0 0,00 0 0,00 2 5,13 Total 30 46, , , , , ,77 * Fonte: Organização Mundial da Saúde 28 (1) IMC>17 a 18,4kg/m 2 ; (2) IMC 18,5 a 24,9kg/m 2 ; (3) IMC 25 a 29,9kg/m 2 ; (4) IMC 30 a 34,9kg/m 2 ; (5) IMC 35 a 39,9kg/m 2 ; (6) IMC > 40kg/m 2. (a) <94cm; (b) >94cm e <102cm; (c) >102cm; (d) <80cm; (e) > 80cm e <88cm; (f) >88cm. FIGURA 2 Correlação entre o índice de massa corporal (IMC) e circunferência da cintura (CC) em ambos os sexos de Funcionários da Penitenciária. Itirapina, 596

5 obesidade vem aumentando entre os brasileiros. O sobrepeso atinge 49% da população (sendo 50,1% masculinos e 48% femininos) e a obesidade 14,8% (12,5% masculinos e 16,9% femininos). Em relação ao estado nutricional dos indivíduos participantes deste estudo, verificou-se que 0,97% dos participantes apresentavam baixo peso, 29,13% eutrofia, 41,75% sobrepeso e 28,15% obesidade, apontando que 69,90% dos participantes estavam com excesso de peso (Tabela 1), sendo que 78,12% dos homens e 56,41% das mulheres apresentam-se acima do peso. Dados semelhantes são descritos na literatura. Ell et al. 7 relataram a existência de 27,8% dos indivíduos em sobrepeso e 6,4% em obesidade em uma população de 647 bancários. Mariath et al. 16 observaram uma população constituída de funcionários da fábrica e do escritório, de ambos os sexos, de uma indústria localizada no Município de Jaraguá do Sul/SC; o sobrepeso atingia 45% do total da população e 10% estavam obesos. Castanheira et al. 5 avaliaram adultos de ambos os sexos com idade entre 20 a 69 anos, em Pelotas/RS e verificaram que mais da metade da população masculina apresentava excesso de peso (16% obesos). Peixoto et al. 18 investigaram a prevalência de obesidade em indivíduos adultos de 20 a 64 anos na cidade de Goiânia, Goiás, Brasil. Os autores detectaram obesidade em 10,7% dos homens e em 13,9% das mulheres, em contraposição aos dados do presente estudo, no qual o excesso de peso prevaleceu em maior porcentagem entre os homens. A prática de atividade física, como parte de um estilo de vida saudável, tem papel fundamental no controle e tratamento da obesidade. A World Health Organization 30, recomenda que os indivíduos adotem níveis adequados de atividade física durante toda a vida como prevenção e controle da obesidade e das DCNT. Os resultados observados (54% de mulheres sedentárias e 64% de homens sedentários) demonstram que a proporção de sedentarismo assemelha-se a mesma encontrada em estudos com população. 9, 22 Salles-Costa 22 encontraram 48% de homens inativos entre os funcionários de uma universidade do Rio de Janeiro. Gomes et al. 9 detectaram 59,8% de homens inativos na população geral do Rio de Janeiro. Kielyl & Hodgson 11 já haviam relatado os benefícios do exercício físico na saúde dos funcionários de penitenciárias, por prevenir os efeitos maléficos do estresse. Entretanto, o sedentarismo encontrado nos funcionários que participaram deste estudo confirma a relação entre inatividade física e aumento do sobrepeso e obesidade. Sabe-se que alguns dos principais fatores de risco para as DCNT não podem ser eliminados, mas determinados fatores podem ser modificados. Há necessidade de intervenções de programas que abordem principalmente fatores relacionados às mudanças no estilo de vida. O tabagismo e a inatividade física são alguns dos fatores de risco para as DCNT que podem ser modificados. Estes, aliados ao sobrepeso e a obesidade, podem agravar o quadro de morbi-mortalidade de uma população. Assim como a obesidade e o sedentarismo, o tabaco amplia os riscos das maiores causas de morte no país. 2 O tabagismo foi detectado em 22% dos funcionários da penitenciária. Ramos et al. 20 avaliaram o estado nutricional de detentos de um estabelecimento penal no Piauí e detectaram que 40% apresentaram sobrepeso e 6% obesidade. O sedentarismo e o hábito de fumar foram referidos por 66% e 38%, respectivamente. Os autores observaram que todos os aprisionados obesos, segundo o IMC, possuíam CC>102 cm indicando risco aumentado para doenças cardiovasculares. No que diz respeito ao uso do IMC para avaliar o excesso de gordura corporal, assim como neste estudo, resultados da literatura confirmam a necessidade de utilizar outras medidas antropométricas juntamente com o IMC na 12, 19, 21, 23 avaliação do estado nutricional. Pouliot et al. 19 e Klein et al. 12 alegaram que o excesso de gordura abdominal está associado ao aumento do risco cardiometabólico da obesidade e que a CC é freqüentemente utilizada como marcador da gordura abdominal, pois correlaciona-se com o risco cardiometabólico da obesidade. Os resultados do presente estudo evidenciaram uma forte correlação estatística entre indicadores antropométricos de acúmulo de gordura abdominal no caso a RCQ e a CC. Encontrou-se correlação forte entre o IMC e a CC em ambos os sexos. Segundo Ford et al. 8 e Klein et al. 12, o IMC e a CC estão altamente correlacionados, normalmente na faixa de r = 0,80-0,95. Rezende et al. 21 também encontraram forte associação entre IMC e CC (r=0,884, p<0,01). Klein et al. 12 salientam que a avaliação da CC fornece uma medida de distribuição de gordura abdominal que não pode ser obtida através do IMC, o que a torna um melhor preditor de gordura abdominal do que o IMC. A correlação entre IMC e RCQ foi moderada, e os dados encontrados neste trabalho corroboram àqueles encontrados por Shimokata et al. 25, Seidell et al. 24, Zamboni et al. 35 e Armellini et al. 1 Shimokata et al. 25 avaliaram indivíduos de 17 a 96 anos de idade, detectaram uma correlação de r=0,56 entre o IMC e a RCQ em homens, e de r=0,41 em mulheres. Seidell et al. 24 em estudo com adultos e idosos identificaram uma correlação de r=0,68 (p<0,001) em homens, de r=0,47 (p<0,05), em mulheres. Zamboni et al. 35 e Armellini et al. 1 encontraram correlações de r=0,17 (p<0,05) e r=0,37, respectivamente, em mulheres adultas. Sampaio & Figueiredo 23 observaram correlação significante entre IMC e RCQ em dois grupos etários e em ambos os sexos; entretanto, não foi tão forte como a correlação identificada com a circunferência da cintura. Desta forma, considerando-se que a obesidade abdominal foi detectada mesmo nos indivíduos que não foram diagnosticados como obesos pelo IMC, reforça-se a importância da combinação de medidas antropométricas na avaliação do estado nutricional. CONCLUSÃO Estudos sobre indicadores de sobrepeso e obesidade em funcionários de penitenciária ainda são escassos. Foram 597

6 detectados índices elevados de pré-obesidade e obesidade, levando em consideração o IMC, tanto no sexo masculino quanto no feminino, mas em maior porcentagem no masculino. A RCQ e a CC analisadas obtiveram índices consideráveis para o risco de aparecimento de doenças ligadas à obesidade em ambos os sexos. Houve uma correlação moderada do IMC com a RCQ e uma correlação forte do IMC com a CC. Este quadro ressalta a transição nutricional e epidemiológica que o país atravessa e evidencia a importância de intervenção nutricional no grupo em estudo. AGRADECIMENTOS À Penitenciária João Batista de Arruda Sampaio e a todos os seus funcionários, ao diretor da Unidade Prisional Sr. Péricles Fiori de Souza. SCHNEIDER, V. C.; CARVALHO, S. A. T.; PEREIRA, C. A. M.; MAGALHÃES, P. Anthropometric evaluation of employees of a prison located in Itirapina SP. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 4, p , out./dez ABSTRACT: The aim of this study was to carry out anthropometric measurement analysis, using the Body Mass Index (BMI), waist-hip ratio (WHR) and waist circumference (WC) of public employees from Penitentiary João Batista de Arruda Sampaio (Penitentiary II) located in the Itirapina - SP. A total of 103 employees (64 men and 39 women) were investigated. Regarding nutritional status, it was found that 78.12% of men and 56.41% of women were overweight. It was also identified physical inactivity and smoking among participants. It was used the Pearson correlation test to assess the correlation between body mass index and anthropometric indices of fat distribution. Moderate correlation was found between BMI and WHR for males (r=0.5847, p<0.05) and females (r=0.5904, p<0.05). The correlation between BMI and WC was stronger for males (r=0.8827, p<0.05) and females (r=0.9675, p<0.05). Abdominal obesity was observed in individuals who were not diagnosed as obese by BMI, what reinforces the importance of combining anthropometry in evaluating nutritional status. The data obtained point out the nutritional and epidemiological transition that the country faces and highlights the importance of nutritional intervention in the study group. KEYWORDS: Anthropometry; nutrition assessment; body mass index. REFERÊNCIAS 1. ARMELLINI, F. et al. Measured and predicted total and visceral adipose tissue in women. Correlations with metabolic parameters. Int. J. Obes. Relat. Metab. Disord., v. 18, n. 9, p , BONI, R.; PECHANSKY, F. Prevalência de tabagismo em uma unidade de internação psiquiatria em Porto Alegre. Rev. Psiquiatr. Rio Gd. Sul, v. 25, n. 3, p , BOOTH, K. M.; PINKSTON, M. M.; POSTON. W. S. Obesity and the built environment. J. Am. Diet. Assoc., v. 105, n. 5, supl. 5, p , BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância à Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes e recomendações para o cuidado integral de doenças crônicas não-transmissíveis: promoção da saúde, vigilância, prevenção e assistência. Brasília, DF, f. (Série B. Textos Básicos de Atenção à Saúde; Série Pactos pela Saúde, v. 8, 2006). 5. CASTANHEIRA, M.; OLINTO, M.T.A.; GIGANTE, D.P. Associação de variáveis sócio-demográficas e comportamentais com a gordura abdominal em adultos: estudo de base populacional no Sul do Brasil. Cad. Saúde Pública, v. 19, supl. 1, S55-S65, CASTRO, L. C. V. et al. Nutrição e doenças cardiovasculares: os marcadores de risco em adultos. Rev. Nutr., v. 17, n. 3, p , ELL, E. et al. Perfil antropométrico de funcionários de banco estatal no estado do Rio de Janeiro/Brasil: I Índice de massa corporal e fatores sócios demográficos. Cad. Saúde Pública, v. 15, n. 1, p , FORD, E. S.; MOKDAD, A. H.; GILES, W. H. Trends in waist circumference among U.S. adults. Obes. Res., v. 11, n. 10, p , GOMES, V. B.; SIQUEIRA, K. S.; SIATIERI, R. Atividade física em uma amostra probabilística da população do município do Rio de Janeiro. Cad. Saúde Pública, v. 17, n. 4, p , INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de orçamentos familiares : antropometria e estado nutricional de crianças, adolescente e adultos no Brasil. Rio de Janeiro, dados. 11. KIELYL, J.; HODGSON, G. Stress in the prison service: the benefits of exercise programs. Human Relations, v. 43, n. 6, p , KLEIN, S. et al. Waist circumference and cardiometabolic risk. Diabetes Care, v. 30, n. 6, p , 13. LEE, C. M. Y. et al. Indices of abdominal obesity are better discriminators of cardiovascular risk factors than BMI: a meta-analysis. J. Clin. Epidemiol., v. 61, n.7, p , LOHMAN, T. G.; ROCHE, T. F.; MARTORELL, R. Anthropometric standardisation reference manual. Champaign, IL: Human Kinetics, p. 15. MANCINI, R. C. Obstáculos Diagnósticos e Desafios Terapêuticos no Paciente Obeso. Arq. Bras. Endocrinol. Metab., v. 45, n. 6, p ,

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