CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA REGIÃO FRONTEIRIÇA BRASIL-BOLÍVIA
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- Gabriel Henrique Back Laranjeira
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1 CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA REGIÃO FRONTEIRIÇA BRASIL-BOLÍVIA Ana Alexandrina Gama da Silva Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -EMBRAPA- CPATC Av. Beira Mar, Cx Postal Aracaju-SE e Marcelo José Gama da Silva Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental - SEDAM Núcleo de Sensoriamento Remoto e Climatologia - NUSEC Estrada do Santo Antônio, Parque Cujubim Porto Velho - RO mgama@canal-1.com.br Hildeu Ferreira da Assunção Campus Avançado de Jataí UFG Rua Riachuelo, Jataí, GO hassunc@jatai.ufg.br ABSTRACT This article had as objective to describe and to characterize the climate of the frontier area Brazil-Bolivia, with base in the statistical analysis of the pluviometric, hygrometric and thermal data. In the area in study, the annual medium precipitation varies of 1400 to 2000 mm, where 90% of this occurs between October and April. The annual medium temperature varies from 25 to 27 C, the maximum temperature oscillates between 31a 34 C and the minimum between 18 and 23 C. The annual medium variation of the relative humidity is from 80 to 90% in the summer and 75% in the autumn-winter. The area presents, according to the classification of Thornthwaite, two different climatic types: Megathermic humid and Megathermic sub-humid. INTRODUÇÃO A bacia amazônica possui uma área estimada de 6,3 milhões de quilômetros quadrados, onde aproximadamente 5 milhões destes encontram-se em território brasileiro e o restante distribuídos entre os países: Bolívia, Colômbia, Equador e Peru (Fisch, 1990). Nas últimas décadas, alguns trabalhos têm sido desenvolvidos com a finalidade de caracterizar os recursos naturais dos diferentes ecossistemas do Estado de Rondônia. Informações recentes são apresentadas na segunda aproximação do Zoneamento Sócio Econômico e Ecológico do Estado de Rondônia (1998); que apresenta o levantamento e análise dos elementos físico-naturais dessa região. Este trabalho tem como objetivo caracterizar o clima da fronteira Brasil-Bolívia, de modo a dar subsídio ao projeto de zoneamento sócio econômico e ecológico dessa eco-região. MATERIAL E MÉTODOS Esse estudo foi desenvolvido para a região de fronteira Brasil-Bolívia (Figura 1), que está compreendida entre as latitudes de 09 20'S a 14 35'S e as longitudes de 61 30' W a 67 00' W. Para a caracterização climática tomou-se como base os dados de temperatura e precipitação de 18 localidades, fornecidos pelo Departamento de Sensoriamento Remoto e Climatologia - DESEC da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental - SEDAM e pelo Departamento Del BENI da Bolívia (Tabela 1). A homogeneidade das séries pluviométricas foi verificada através da análise das duplas massas, conforme Ometto (1981), que compara a precipitação anual ou sazonal acumulada de uma estação com os valores igualmente acumulados da média obtida de um conjunto de estações vizinhas. Apenas as séries de dados classificadas como homogêneas e consistentes foram selecionadas para o estudo. 1204
2 Figura 1- Localização geográfica da região fronteiriça Brasil-Bolívia. Tabela 1- Estações pluviométricas selecionadas para o estudo. Estação Local Fonte Latitude (S) Longitude (W) Altitude (m) Período Palmeiral P. Velho DNAEE 09 o 32' 64 o 48' Abuna P. Velho DNAEE 09 o 42' 65 o 21' Fazenda São Luís P. Velho DNAEE 09 o 47' 66 o 30' Pedreiras P. Velho DNAEE 09 o 43' 66 o 04' Guajará-Mirim Guajará-Mirim DNAEE 10 o 47' 65 o 20' Seringal Guajará-Mirim DNAEE 11 o 04' 64 o 05' Boa.V.dos Pacaas Guajará-Mirim DNAEE 11 o 11' 64 o 53' Pedras Negras Costa Marques DNAEE 12 o 50' 62 o 56' Príncipe da Beira Costa Marques DNAEE 12 o 25' 64 o 25' Trinidad Bolívia BENI 14 o 49' 64 o 55' Rurrenabaque Bolívia BENI 14 o 29' 67 o 33' San Borja Bolívia BENI 14 o 52' 66 o 52' Magdalena Bolívia BENI 13 o 20' 64 o 07' , San Joaquín Bolívia BENI 13 o 04' 64 o 49' , San Ignacio Bolívia BENI 14 o 55' 66 o 36' Riberalta Bolívia BENI 11 o 00' 66 o 07' , Guayaramerin Bolívia BENI 10 o 49' 65 o 21' Santa Ana Bolívia BENI 13 o 46' 65 o 26' A caracterização climática, segundo o método de Thornthwaite, foi feita a partir da estimativa da evapotranspiração potencial, do balanço hídrico climatológico e dos índices hídricos, para cada localidade da região de fronteira Brasil-Bolívia. Após o cálculo do balanço hídrico, estabeleceu-se o grupo climático em função do índice de eficiência térmica, que é a própria evapotranspiração potencial. Para classificação dos tipos climáticos calculou-se o índice efetivo de umidade (Im). 1205
3 ( Exc 0, 6Def ) 100 Im = (1) EP Em que, EP, Exc e Def são respectivamente, evapotranspiração potencial, excedente e deficiência hídrica anual, obtidos a partir do balanço hídrico. Os mapas gerados das distribuições espaciais de chuva e clima foram interpolados a cada 5 km, no software SURFER, utilizando-se o método de interpolação Kriging, e finalizados no software Coreldraw. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização climática da região fronteiriça Brasil-Bolívia De acordo a classificação de Thornthwaite, a região apresenta dois tipos de climas: Clima megatérmico do tipo C 2 - Sub-úmido e megatérmico do tipo B 1 - Úmido. As microrregiões com os diferentes tipos de climas são mostrados na Figura 2. Figura 2- Classificação climática da região de fronteira Brasil -Bolívia. O clima da área em estudo caracteriza-se, ainda, por apresentar uma pequena variação espacial e temporal da temperatura média do ar no decorrer do ano. O mesmo não ocorre em relação a pluviosidade, que apresenta variações consideráveis durante o ano. Os principais fenômenos atmosféricos que provocam a chuva na região são as altas convecções diurnas associadas aos seguintes fenômenos atmosféricos de grande escala: a Alta da Bolívia (AB) - anticiclone que se forma em alto nível da atmosfera (200 hpa) durante os meses de verão e situa-se sobre o altiplano boliviano; a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), e as Linhas de Instabilidade (LIs) - conglomerados de nuvens 1206
4 cumulonimbos que se formam na costa N-NE do Oceano Atlântico devido à circulação de brisa marítima (Cavalcante 1982; Oliveira, 1986; Carvalho 1989; Fisch,1990; Santos, 1996; Fisch,1996; Kousky e Kagano, 1998). As LIs apresentam-se com maior ou menor intensidade dependendo do comportamento sazonal e a intensidade da ZCIT(Fisch,1996). Nos meses de inverno a brisa fluvial da Bacia Amazônica - circulação local que ocorre nos baixos níveis da atmosfera - e os aglomerados convectivos de meso e grande escala, associados com a penetração de sistemas frontais, advindos da região Sul e Sudeste do Brasil, são os principais mecanismos responsáveis pelas chuvas de baixas intensidades. Em alguns anos, durante os meses de junho e julho, a região encontra-se sob a influência de anticiclones que se formam nas altas latitudes e atravessam a Cordilheira dos Andes em direção ao sul do Chile. Estes se deslocam em direção a região amazônica causando o fenômeno denominado de "Friagem" (Fisch,1996; Marengo et al., 1996). As temperaturas mínimas absolutas do ar, nesses meses, podem atingir valores inferiores a 12 o C, com registros na área da Bolívia de 2 a 5 o C. Devido a curta duração do fenômeno este não influencia, sobremaneira, as médias climatológicas da temperatura mínima do ar, que variam entre 18 e 22 C. A média climatológica da precipitação anual varia em torno de 1400 a 2000mm. De acordo com o mapa de isoietas (Figura 3), verifica-se que a precipitação média anual aumenta do sudeste em direção ao extremo norte, com valores inferiores a 1500 mm e superiores a 1800 mm. As temperaturas médias do mês mais frio e mais quente apresentam a mesma tendência com um aumento também em direção ao norte em torno de 2 e 1 o C, respectivamente. Figura 3- Variação espacial da precipitação média anual na região de fronteira Brasil- Bolívia. Na área correspondente à Bolívia a temperatura média anual é em torno de 25,0 o C. A precipitação média anual é de 1834 mm e a evapotranspiração média anual de 1454 mm. A média anual da umidade relativa do ar é em torno de 80 a 90% no verão e de 70% no inverno. A amplitude anual da umidade do ar é mais acentuada que a da temperatura do ar, dado à característica do regime pluvial. 1207
5 CONCLUSÕES De acordo a classificação de Thornthwaite, a região apresenta dois tipos de climas: Clima megatérmico do tipo C 2 - Sub-úmido e megatérmico do tipo B 1 - úmido. Os principais fenômenos atmosféricos que provocam a chuva na região são as Altas Convecções diurnas, a Alta da Bolívia (AB), a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), e as Linhas de Instabilidade (LIs). O período chuvoso ocorre entre os meses de outubro a abril, e o período mais seco durante os meses de junho, julho e agosto. A precipitação média anual é em torno de a 2000 mm, onde cerca de 90% desta ocorre na estação chuvosa. A média anual da temperatura do ar varia de 25 a 27 o C, com temperaturas máxima entre 30 e 34 C e mínima entre 17 e 23 C. A média anual da umidade relativa do ar é de 80% a 90% no verão e, em torno de 70% no outono-inverno. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, A. M. G. Conecções entre a circulação em altitude e a convecção sobre a América do Sul. Dissertação de Mestrado (PI INPE 4923, TDL 283). INPE. São José dos Campos, 121p.,1989. CAVALCANTE, I. F. A. Um estudo sobre interações entre sistemas de circulação de escala sinótica e circulações locais. Dissertação de Mestrado (PI INPE 2492, TDL 097). INPE. São José dos Campos, 113p.,1982. FISCH, G. Climatic Aspects of de Amazoniam Tropical Forest. Acta Amazônica, 20 p. Gash, 39-48, FISCH, G.MARENGO, J. A., NOBRE, A. C. Clima na amazônia. CLIMANALISE - Ed. Especial GALVÃO, M. V. Atlas Nacional do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, GASH, J. H. C.; Nobre, C. A.; ROBERTS, J. M.; VICTORIA, R.L. Amazonia Desforestation and Climate. John iley & Sons, Reino Unido, 661p., GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA. Segunda aproximação do zoneamento sócio-econômico-ecológico do Estado de Rondônia. Climatologia KOUSKY, V. E. & KAGANO, M. T. A Climatological study of the tropospheric circulation over the Amazoon region. Acta Amazônica, 11(4): , OMETTO, J.C. Bioclimatologia Vegetal. São Paulo, Ceres, 440p., 1981, 1208
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