VITAMINA C NO DESENVOLVIMENTO INICIAL DO TRAIRÃO Hoplias lacerdae

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1 VITAMINA C NO DESENVOLVIMENTO INICIAL DO TRAIRÃO Hoplias lacerdae Rodrigo Yutaka Dichoff Kasai*, Ana Lúcia Salaro, Jener Alexandre Sampaio Zuanon, Antonio Policarpo Souza Carneiro, William Chaves, Mateus Moraes Tavares e Cíntia Delgado da Silva * Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. kasairodrigo@gmail.com Resumo O presente estudo foi realizado com o objetivo de avaliar o desenvolvimento inicial de trairão com dietas suplementadas com diferentes níveis de vitamina C (0; 50; 150; 250; 350; 500 e 1000 mg/kg de ração). Peixes previamente condicionados ao aceite de dietas secas foram distribuídos em aquários (35x30x14cm) contendo filtro biológico e aeração constante, na densidade de estocagem de 2,5 peixes/l. Os alevinos foram alimentados nos horários de 7h30, 11h30 e 16h30 horas. Ao final do experimento (60 dias), os peixes foram pesados e medidos para calculo dos ganhos de peso e comprimento e avaliadas as taxas de sobrevivência e canibalismo. Os dados obtidos foram analisados por meio de regressão em função dos diferentes níveis de vitamina C suplementados nas dietas. Não foi observada diferença significativa no desempenho inicial de trairão para os diferentes níveis de inclusão de vitamina C nas dietas. Assim, a suplementação com vitamina C no desenvolvimento inicial do trairão não se mostrou necessária quanto aos parâmetros zootécnicos estudados. Entretanto, foi constato crescimento heterogêneo em comprimento após 45 dias experimentais, o que indica a necessidade de classificações periódicas durante a criação desses animais em cativeiro. Introdução Os peixes carnívoros vêm conquistando espaço na piscicultura nacional, principalmente pelo seu potencial produtivo. A maioria das pesquisas relacionadas a peixes carnívoros está direcionada aos níveis de proteína da dieta, considerando as exigências em aminoácidos de origem animal (Lovell, 1991). Aspectos relacionados às exigências nutricionais por vitaminas ainda são incipientes. A vitamina C destaca-se no grupo das vitaminas hidrossolúveis por participar de processos antioxidantes e de diminuição do estresse (Mazik et al., 1987; Gaspasin et al., 1998; Sakakura et al. 1998). Funções como reparo de tecidos, síntese de colágeno e produção de cartilagem são atribuídas a essa vitamina (Jobling, 1994; NRC, 1993; Weatherley & Gill, 1987). Dentre as espécies carnívoras, o trairão (Hoplias lacerdae) se destaca pelo ótimo crescimento em cativeiro com rações comerciais. Portanto, o objetivo dessa pesquisa foi avaliar o desempenho inicial do trairão com dietas suplementadas com diferentes níveis de vitamina C.

2 Material e Métodos O presente estudo foi realizado no Laboratório de Nutrição de Peixes do Setor de Piscicultura do Departamento de Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa, MG, por um período de 60 dias. Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições para avaliar o efeito de sete níveis de inclusão de vitamina C (0; 50; 150; 250; 350; 500 e mg de vitamina C/kg da dieta) na ração sobre o ganho de peso e de comprimento, sobrevivência e canibalismo. As unidades experimentais foram aquários contendo 15 peixes. Foi confeccionada uma ração basal (45% PB) contendo farinha de peixe, farelo de soja e de trigo, milho, óleo de soja, mistura vitamínica e mineral (sem suplementação de vitamina C). Antes da peletização foram adicionados os diferentes níveis de vitamina C. Utilizou-se o ascorbil polifostato como fonte de vitamina C. Alevinos de trairão foram previamente condicionados ao aceite de dietas secas, segundo metodologia de Kubtiza & Lovshin (1997), com os mesmos ingredientes e níveis de vitamina C utilizados no experimento. Após esse período, os alevinos foram pesados, medidos e distribuídos em aquários (35x30x14cm) contendo 6L de água, filtro biológico e aeração constante, na densidade de estocagem de 2,5 peixes/litro. Para evitar a fuga dos animais, os aquários foram cobertos com tela plástica de 2,0 mm de diâmetro. Os peixes foram alimentados à vontade, às 7h, 11h30 e 16h30 h e, a cada três dias, os aquários foram sifonados para retirada de fezes. Ao final do experimento, os peixes foram pesados, medidos e, com os dados obtidos, foram calculados os ganhos de peso e comprimento. Também foram avaliadas as taxas de sobrevivência e canibalismo. Os dados obtidos para o desempenho zootécnico dos peixes foram analisados por meio de regressão em função dos diferentes níveis de vitamina C suplementados nas rações, utilizando-se o programa SAEG 9.1 (2007). Resultados e Discussão Não houve diferença estatística (P > 0,05) para o ganho de peso, de comprimento, sobrevivência e canibalismo para os peixes alimentados com dietas contendo diferentes suplementações de vitamina C, por um período de 60 dias (Tabela 1). Provavelmente, o tempo de administração das dietas não foi suficiente para manifestações decorrentes da falta ou do excesso de vitamina C. Possíveis reservas orgânicas podem ter sido suficientes para suprir a exigência desta vitamina (Dairiki et al., 2002). Outro fator importante a ser discutido relaciona-se aos ingredientes utilizados no preparo das dietas testes, os quais provavelmente já continham quantidades adequadas para suprir as exigências metabólicas em vitamina C para esta espécie, na fase inicial de desenvolvimento.

3 Tabela 1. Valores médios de ganho de peso (g) e de comprimento (cm), sobrevivência (%) e canibalismo (%), de alevinos de trairão (Hoplias lacerdae) nos diferentes níveis de suplementação de vitamina C na dieta, por um período de 60 dias. Níveis de inclusão de vitamina C (mg de vitamina C/kg dieta) Ganho em peso (g) Ganho em comprimento (cm) Sobrevivência (%) Canibalismo (%) não significativo (P > 0,05). Resultados semelhantes foram observados para o ganho de peso do black bass (Micropterus salmoides) alimentados com dietas contendo 0; 250; 500; 750; e mg/kg de suplementação com vitamina C (Dairiki et al., 2002) e para alevinos de pintado (Pseudoplatystoma corruscans) arraçoados com dietas suplementadas com níveis de 0; 500; 1000; 1500; 2000 e 2500 mg de ascorbil polifosfato/kg de dieta (Fugimoto & Carneiro, 2001). As altas taxas de sobrevivência e baixas taxas de canibalismo (Tabela 1) podem ser atribuídas à padronização dos alevinos em classes de tamanho no início do experimento e às boas praticas de manejo adotadas. Segundo Luz et al. (2001) a padronização em comprimento de alevinos de trairão favorece a obtenção de altas taxas de sobrevivência dos peixes. Após 45 dias de experimento foi observada grande variação para comprimento e, principalmente, para peso entre peixes do mesmo aquário, como indicam os coeficientes de variação apresentados na Tabela 2. Esta variação de peso e tamanho entre os peixes pode ter influenciado os resultados obtidos para os índices zootécnicos avaliados. Portanto, tais resultados mostram a necessidade de classificações periódicas dos peixes nas fases iniciais de crescimento de espécies carnívoras. Tabela 2. Coeficiente de variação médio do peso e comprimento final de alevinos de trairão (Hoplias lacerdae) para peixes de um mesmo aquário dos diferentes níveis de suplementação de vitamina C na dieta por um período de 60 dias. Níveis de inclusão de vitamina C (mg de vitamina C/kg dieta) Coeficiente de Variação do peso final Coeficiente de Variação do comprimento final ,82 41,01 39,72 33,71 39,74 37,64 36,18 9,42 13,57 13,35 11,95 13,85 12,37 12,57

4 Conclusão O crescimento inicial do trairão (H. lacerdae) não foi influenciado pela utilização de diferentes níveis de suplementação de vitamina C na dieta. Agradecimentos Ao Departamento de Biologia Animal, Setor de Piscicultura; à Universidade Federal de Viçosa e à GUABI, Mogiana Alimentos S.A. Referências DAIRIKI, J. K. ; CYRINO, J. E. P. ; PORTZ, L. ; SAMPAIO, A. M. B. M. Suplementação da dieta do carnívoro Black bass (Micropterus salmoides) com vitamina C (ácido ascórbico). Anais do XII Simpósio Brasileiro de Aquicultura - SIMBRAQ, Jaboticabal - SP, v. 2, p , FUJIMOTO, R.Y.; CARNEIRO, D. J. Adição de ascorbil polifosfato, como fonte de vitamina C, em dietas para alevinos de pintado, Pseudoplatystoma corruscans (Agassiz, 1829). Acta Scientiarum, Maringá, v. 23, n. 4, p , GASPASIN, R.S.J., BOMBEO, R., LAVENS, P., SORGELOOS, P., NELIS, H. Enrichment of live food with essential fatty acids and vitamin C: effects on milkfish (Chanos chanos) larval performance. Aquaculture, v. 162, p , JOBLING, M. Fish Bionergetcs. Fish and Fisheries Series nº 13. Chapman & Hall. 308p LOVELL, R.T. Nutrition of aquaculture species. Journal of Animal Science, v.69, n.5, p , LUZ, R. K.; SALARO, A.L.; SOUTO, E. F.; REIS, A.; SAKABE, R. Desenvolvimento de alevinos de trairão alimentados com dietas artificiais em tanques de cultivo. Rev. bras. zootec., v.30, n. 4, p , MAZIK,P.M., BRANDT, T.M., TOMASSO, J.R. Effects of dietary vitamin C on growth, caudal fin development, and tolerance of aquaculture-related stressors in Channel catfish. The Progressive Fish Culturist, v.49, p.13-16, MELLO, R. F.; MOURA, M. A. M.; VIEIRA, I.; CYRINO, J. E. P. Suplementação da dieta de alevinos de piauçu (Leporinus obtusidens) com vitamina C. Scientia Agricola, v.56, n.4, p , MERCHIE, G. et al. Influence of dietary vitamin C dosage on turbot (Scophthalmus maximus) and European Seabass (Dicentrarchus labrax) nursery stages. Comp. Biochem. Physiol., Philadelphia, v.114a, p , NRC (National Research Council). Nutrient requirements of fish. National Academy Press. Washington, D.C., USA

5 SAEG 9.1: Sistema de Análises Estatística. Fundação Arthur Bernardes, UFV, Viçosa, MG, SAKAKURA, Y. et al. Dietary vitamin C improves the quality of yellowtail (Seriola quinqueradiata) seedlings. Aquaculture, Amsterdam, v.161, p , TACON, A.G.J. Vitamin nutrition in shrimp and fish. Proceedings of the Aquaculture Feed Processing and Nutrition Workshop. ASA, Singapore: American Soybean Association, p , WEATHERLEY, A.H.; GILL, H.S. The Biology of Fish Growth. London: Academic Press INC. LTD. 443p, 1987.