Janaina Senna Martins
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- João Vítor Azambuja Valverde
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1 ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DE PRECIPITAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL DURANTE A OCORRÊNCIA DO ULTIMO EVENTO EL/NIÑO 97-98, E A SUA INFLUÊNCIA SOBRE A AGRICULTURA DA SOJA, TRIGO E MILHO NO ESTADO. Janaina Senna Martins yasminrs@yahoo.com.br Jaci M. B. Saraiva Laboratorio de Meteorologia- FURG Av. Itália km 8, Campus Carreiros, Rio Grande- RS, dgejaci@super.furg.br ABSTRACT The precipitation variability associated to the phenomenon El Niño / ENOS that plows analyzed through monthly it dates of precipitation of 14 meteorological stations in Rio Grande do Sul, with thirty two years of dates ( ). To break of these it dates were obtained the distribution of space and temporary precipitation during this event, evidencing adult's periods and smaller precipitation during 1997 and These results were compared with dates of production of the soy agriculture, corn, and wheat, produced in Rio Grande do Sul during the crops of 1996/97 and 1997/98. INTRODUÇÃO A atmosfera tropical possui uma escala de movimento temporal e espacial muito variada, e uma das principais oscilações observada nos trópicos é o fenômeno El Niño/ Oscilação Sul - ENOS (RAPELLI,1998). O fenômeno El Niño ocorre em intervalos de 2 a 7 anos com duração de 1 a 2 anos, e é responsável, principalmente pela variação do regime pluviométrico sobre várias regiões do globo. No Brasil a região sul é bastante afetada pelo excesso de chuvas durante a ocorrência do fenômeno El Niño, em especial o Rio Grande do Sul, (GRIMM,1996). O sul do Brasil é uma das regiões onde as pesquisas mostram a influência do fenômeno El Niño nas variações do Clima (KIM, 1998). Em alguns casos, o efeito econômico associados a estes eventos climáticos extremos podem ter graves conseqüências especialmente nos países em desenvolvimento, os quais dependem fortemente da agricultura, como é o caso de Brasil, e em especial no Rio Grande do Sul. Embora o Rio Grande do Sul represente pouco mais de 3% do território brasileiro, a sua posição geográfica e latitudional o colocam como primeiro contato de frentes de origem polar bem como sob a ação de centros como o Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAS), o que o coloca em uma situação particular do ponto de vista climático. Este trabalho tem como objetivo analisar a distribuição da precipitação no Rio Grande do Sul, durante o ultimo evento do fenômeno El/Niño 97-98, a sua configuração espacial e temporal, segundo OLIVEIRA, MARENGO e KOUSKY (INPE E NOAA, 1998) o ultimo episódio do fenômeno El Niño/ oscilação sul, começou em abril- junho de 1997 e persistiu até o início de maio de A partir dos dados de configuração temporal e espacial, buscou-se relacionar estes dados com os resultados da produção agrícola das lavouras no Rio Grande do Sul de soja, trigo e milho, para o mesmo período de duração do fenômeno El Niño MATERIAL E MÉTODO Foram utilizados dados mensais de precipitação de 1967 a 1998, para 14 estações meteorológicas localizadas no Rio Grande do Sul, que estão localizadas no mapa-1. Os dados de precipitação foram ordenados em ordem crescente, e divididos em 3 partes: o primeiro terço corresponde ao período seco, o segundo terço ao período normal, e o terceiro ao período chuvoso, como forma de classificação mais exata de ocorrência de anomalias (DINIZ, 1998). Fez-se a distribuição espacial da precipitação nos meses em que os volumes pluviométricos se mostraram acima e abaixo da normal, em 1997 os meses dezembro e maio, e em 1998 fevereiro e maio. Os mapas com a distribuição espacial de precipitação foram executados utilizando-se SURFER- WIN 32 (Surface Mapping Sisten). Os dados de produção agrícola foram extraídos dos Indicadores Econômicos da Fundação de Economia e Estatística FEE (1999), das safras de 1996/1997 e 1997/
2 Mapa-1 localização das 14 Estações Meteorológicas, no Rio Grande do Sul. RESULTADOS E DISCUSSÕES Precipitação: Através da análise da configuração temporal de cada estação meteorológica, durante o último evento El Niño97-98, as anomalias positivas de precipitações no estado, ocorreram no final de 1997, de agosto a dezembro, e inicio de 1998, de janeiro a abril para a maioria das estações. Verificou-se assim que, no período de abril- dezembro de 1997, o mês com maior volume pluviométricos foi Setembro, Figura - 1 em quase todas as regiões do estado, principalmente a Região Noroeste do estado. A maior variação ocorreu em São Luiz Gonzaga com uma precipitação para o mês de setembro de 688,3 mm, precipitação acima da normal e que se enquadra no terço chuvoso (de 210,0 mm - 688,3 mm).para este mesmo período. Precipitação do mês de setembro de 1997e a Normal Climatológica para as 14 estações meteorológicas Precipitaçào em mm Estações Meteorológicas Figura Normal 401
3 O mês em que a precipitação teve os menores taxas, abaixo da normal climatológica, em quase todas as regiões do estado, foi em Maio,(Figura- 2) principalmente nas Região Oeste e Noroeste do estado. A maior variação ocorreu em Pelotas com uma precipitação para o mês de Maio de 7,6 mm, e que se enquadra no terço seco (7,6 mm - 61,9 mm). Precipitação do mês de maio de 1997e a Normal Climatológica para as 14 estações Precipitaçào em mm Estações Meteorológicas Figura normal Para o período de janeiro- julho de 1998, o mês em que a precipitação se mostrou muito acima da normal foi em Fevereiro em quase todas as regiões do estado. Durante o mês de fevereiro (Figura- 3)observou-se que as precipitações variaram entre, 100 a 300mm, em todas as regiões, sendo que região com maior anomalia foi a Região Norte, Nordeste e Noroeste do estado. A maior variação ocorreu em Bom Jesus com uma precipitação para o mês de fevereiro de 365,2mm, este volume de precipitação se enquadra no terço chuvoso (176,4 mm - 409,6 mm). Precipitação do mês de Fevereiro de 1998 e a Normal Climatológicapara as 14 estações Precipitaçào em mm Estações Meteorológicas Figura Normal 402
4 E o mês em que a precipitação se mostrou abaixo da normal em 1998, em quase todas as regiões do estado, foi durante o mês de maio, (Figura- 4). Os menores volumes de precipitação durante este período ocorreram no litoral do estado. A variação mais significativa ocorreu em Santa Vitória do Palmar com uma precipitação para o mês de maio de 1998 de 26,8mm, Volume de precipitação que se enquadra no terço seco (16,1 mm - 60,8 mm). Precipitação do mês de maio de 1998 e a Normal Climatológica para as 14 Estações Meteorológicas Precipitação em mm Estações Meteorológicas Figura Normal Legenda: Estações Meteorológicas; 1- Alegrete, 2- Bagé, 3- Bom Jesus, 4- Encruzilhada do Sul, 5- Cruz Alta, 6- Caxias do Sul, 7- Pelotas, 8- Porto Alegre, 9- São Luiz Gonzaga, 10- Santana do Livramento, 11- Santa Maria, 12- Santa Vitória do Palmar, 13- Torres, 14- Uruguaiana 403
5 Distribuição Espacial das Anomalias Positivas e Negativas de Precipitação no Rio Grande do Sul, no Ano de Setembro Maio
6 Distribuição Espacial das Anomalias Positivas e Negativas de Precipitação no Rio Grande do Sul, no ano de Fevereiro Maio
7 Comportamento da Agricultura : Para esta fase do trabalho, foram selecionadas as culturas de soja, trigo e milho, segundo FEE ( Fundação de Economia e Estatística) as três mais importantes do Rio Grande do Sul, em termos de produção e rendimentos. O ultimo episódio do fenômeno El Niño em 1997/98, ocasionou grandes prejuízos as lavouras gaúchas, devido ao grande volume de chuvas neste período. Em 1997 a perda foi de 330 mil toneladas, em 1998 a produção de grãos atingiu um volume de 15,3 milhões de toneladas, 11,0% superior ao da safra de 1996/1997. Esse crescimento decorreu de ganhos na produtividade em algumas lavouras, especialmente a soja (Sampaio, 1999). O comportamento da produção, produtividade e área plantada, como também o período de plantio e colheita das culturas de soja, trigo e milho, foram analisados dentro do período de duração do fenômeno El Niño , que foi de maio- 97 a maio- 98, e comparados ao desempenho da safra de 1996/1997. Para assim identificarmos qual a lavoura que realmente teve sua safra prejudicada pelo excesso de chuvas. Os quadros abaixo mostram os resultados do comportamento da Produção, produtividade e área plantada da soja, trigo e milho no Rio Grande do Sul, durante as safras 1996/1997 e 1997/1998; SOJA MILHO TRIGO Produção(t) Safra-1996/ Safra-1997/ Variação % 5,9 38,5-7,1 Produtividade (kg/ha) Safra-1996/ , , ,07 Safra-1997/ , , ,28 Variação % 16,6 29,0 15,4 Área Plantada (ha) Safra-1996/ Safra-1997/ Variação % -9,1 7,4-19,5 **Fonte: Indicadores Econômicos, Fundação Economia e Estatística (FEE),
8 A produção de soja em 1998 no RS foi de 6,6 milhões de toneladas superior ao da safra de 1996/1997 em 38,5%. Segundo especialistas este desempenho favorável na produção de soja se deve, principalmente, ao El Niño, que teve efeitos positivos para esta cultura, a produtividade, que normalmente se situa, no RS, em um patamar de 1,5 mil quilos por hectare, em anos em que ocorre El Niño eleva-se para aproximadamente 210 mil quilos por hectare. A área de cultivo de soja se localiza no planalto gaúcho, região que registrou altos índices de precipitação, durante todo o ciclo do El Niño em O plantio da soja ocorre entre novembro e dezembro, este período em 1997 a precipitação alcançou os maiores índices durante o evento El Niño em 1997, e a colheita é feita em maio. De janeiro a maio de 1998 a precipitação ainda se mostrava acima da normal, mas em um declínio gradativo. Sendo que no momento da colheita em maio de 1998 a precipitação se mostrava normal. O mapa abaixo mostra a localização das áreas onde é produzida a soja no Rio Grande do Sul O milho gaúcho apresentou volumes de produção de 4,5 milhões de toneladas, decorrentes de um salto na produtividade em torno de 16,6%, o que compensou a redução de 9,1% na área. Da mesma forma que a soja o milho é produzido em grande parte na região do planalto gaúcho, o plantio do milho ocorre em agosto, e a colheita em janeiro. A produção do milho apresentou um pequeno aumento de 1997 para 1998, uma variação de 5,9%. Mas deve-se levar em consideração que o ano de 1997 registrou índices pluviométricos muito elevados em todo o estado, principalmente de agosto a dezembro, consequentemente a cultura do milho em 1997 foi prejudicada desde o momento do plantio ate o momento da colheita. Já a safra de milho em 1998, ocorreu fora do ciclo do evento El Niño O mapa abaixo mostra a localização das áreas onde é produzida a soja no Rio Grande do Sul 407
9 A área colhida do trigo em 1997/1998 registrou um queda significativa de aproximadamente 19,5%, com uma produção de 549 milhões de toneladas, 7,1% inferior á safra anterior, 1996/1997. O trigo e produzido no centro e norte do estado regiões bastante afetadas pela excesso de chuvas durante Mas cabe ressaltar que durante o período observou-se um aumento de 15,4% na produtividade de trigo no Rio Grande do Sul. Deve-se considerar que essa é uma situação atípica, pois ao longo dos últimos anos, esse produto foi afetado não só por problemas climáticos, mas, principalmente, pelas dificuldades financeiras. O plantio do trigo ocorre em fim de maio, momento em que a precipitação ainda não se mostrava acima da normal em 1997, e a colheita é feita em setembro 1997, momento em que a precipitação mostrava-se acima da normal. Em 1998 no momento do plantio em maio a precipitação já se mostrava normalizada, período final do evento, e a colheita em 1998, ocorreu fora do ciclo de duração do El Niño Mesmo assim, se observou uma pequena queda na safra de 1998 para 1997, que pode ser explicada pela redução da área plantada em 1998 O mapa abaixo mostra a localização das áreas onde é produzido o trigo no Rio Grande do Sul CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos, chegou-se as seguintes conclusões: Durante o último evento El Niño 97-98, a precipitação no Rio Grande do Sul mostrou-se da seguinte forma; - de abril a agosto de 1997, as precipitações mostraram um aumento gradativo até o mês o dezembro, sendo que durante o mês de setembro foi registrado o maior índice pluviométrico e o menor em maio em todas as regiões; - em 1998 os maiores índices pluviométricos ocorreram durante os meses de janeiro e fevereiro, diminuindo gradativamente de março a maio, com o mínimo ocorrido em maio, sendo que durante o mês de fevereiro foi registrado o maior índice pluviométrico e o menor índice em maio em todas as regiões. Sobre a distribuição espacial da precipitação no estado, as regiões que registraram os maiores índices pluviométricos foram as seguintes: Norte, Nordeste mas principalmente as regiões Oeste e Noroeste do estado, com precipitações acima da normal. E as regiões que registraram os menores índices de precipitação foram: o litoral como um todo, e o sul do estado. Estes resultados concordam com estudos anteriores, Kham Os resultados mostram que a região norte do estado foi a mais afetada pelo alto índice de chuvas durante , e nela também se localizam a maior parte das lavouras de soja, trigo e milho. Com relação as lavouras de soja, pode-se dizer que o efeito do fenômeno El Niño foi positivo, onde observou-se um aumento na produção(samapio,1999). E nas lavouras de trigo e milho apesar da pequena redução na área plantada, houve um aumento na produtividade, tendo sido a lavoura do trigo a que realmente mostrou diminuição da produção. Isto se deve ao período de plantio e colheita, tanto do trigo quanto do milho, que coincidiram com os períodos de maiores taxas de precipitação, que ocorreram em Através dos resultados obtidos da distribuição temporal e espacial da precipitação durante o fenômeno El Niño 97-98, fica claro que as maiores perdas na agricultura gaúcha ocorreram em 1997, período em a precipitação mostrou-se acima da normal (agosto a dezembro de 97). Em 1998 (de janeiro a maio) a precipitação se mostrou em um decréscimo gradativo, e em menores índices, isto devido ao final do fenômeno El Niño 97-98, tendo sido a produção do trigo a mais afetada neste período, devido a redução da área plantada. 408
10 AGRADECIMENTOS: A FAPERGS, pelo suporte à pesquisa. Ao prof. Flávio Varoni pela gentileza em ceder os dados. E ao prof. Gilberto Diniz pelos esclarecimentos quanto ao uso da metodologia. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: DINIZ, G. B.; SALDANHA, R.L.; SANSIGOLO, C.A.; Influência do Evento El Niño no Regime de Precipitação em Pelotas- RS. In: X Congresso Brasileiro de Meteorologia, VIII Congresso FLISMET, Anais...Brasília- DF, 10, 1998 (cd rom). GRIMM, A. M. ; GOMES, J. ; Análise de Sensibilidade do Método para Identificação de Anomalias Precipitação Relacionadas ao Fenômeno in: El Niño/Oscilação Sul. do VIII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Anais Campos do Jordão- SP, 9,1996. KHAM,V., KIM,I.,; Análise de Agrupamento Pluviométrico nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. In: X Congresso Brasileiro de Meteorologia,VIII Congresso FLISMET, Brasília- DF, 10,1998. (cd rom) KIM, I.S.; Análise da Variabilidade e Variação dos Índices de El Niño/Oscilação Sul, e as Chuvas do Estado do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. In: X Congresso Brasileiro VIII Congresso FLISMET, Brasília- DF, 10,1998. (cd rom) OLIVEIRA, G.S.; MARENGO, J.A.; KOUSKY,V.; O Final do Episódio El Niño e o Desenvolvimento e a Intensificação do Episódio La Niña 1998/1999. In: X Congresso Brasileiro de Meteorologia, VIII Congresso FLISMET, Brasília- DF, 10, (cd rom) REPELLI, C. A. ; ALVES, J. M. B. ; Uso de Análise de Correlação Canônica para Prognosticar a Variabilidade Espacial da Precipitação Sazonal sobre o Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Meteorologia, V.11, SAMPAIO, M. H. A.; 1998: El Niño Beneficia a Agricultura Gaúcha. Indicadores Econômicos FEE, V.28, Porto Alegre, RS 1999 TRENBERTH, K. E. ; The Definition of El Niño. Bull. Amer. Met. Soc., 178,
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