O PROFESSOR NA CONTEMPORANEIDADE: SUAS PRÁTICAS E DESAFIOS

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1 O PROFESSOR NA CONTEMPORANEIDADE: SUAS PRÁTICAS E DESAFIOS Resumo RAMOS, Patrícia Porto 1 - UFPEL AFONSO, Marcela da Silva 2 - IFSUL Grupo de Trabalho Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento O presente artigo aborda as práticas e desafios do professor na contemporaneidade, levando em conta seu papel e o cenário atual. O estudo iniciou-se através de indagações propostas por um grupo de estudos em Educação e foi objetivado através de entrevista narrativa semiestruturada realizada com uma professora que trabalha na rede de ensino público e leciona a mais de vinte anos em escolas públicas estaduais e municipais, para crianças de classes baixa e média-baixa. Na entrevista, professora relata suas condições de trabalho, modelo de ensino, intensificação de carga horária, planejamento, dificuldades sociais e estruturais enfrentadas em seu dia-a-dia na escola. Por meio de literaturas utilizadas ao longo do texto, em que os autores retratam o papel do professor profissional essencial para a construção da escola e abordam as principais inquietações que são a fonte desta investigação, fortalecendo a importância dessa temática para o âmbito educacional. Diante do exposto, busca-se identificar as dificuldades sociais e estruturais enfrentadas pelo professor em sala de aula a fim de contribuir para a compreensão do novo cenário educacional, cenário este composto de constantes transformações. Diante dessas abordagens, percebe-se que o professor é condicionado e limitado pelo contexto em que atua e os desafios propostos pelo ambiente escolar e pela sociedade que impõe, de certa maneira, que ele tenha a capacidade de ser flexível e criativo para adaptar-se as mudanças que estão ocorrendo nesse universo escolar. Isto fortalece a compreensão de que é necessário manter um trabalho reflexivo sobre as práticas que permeiam a profissão docente e que dão continuidade ao processo de ensino. Palavras-chave: Papel do professor. Práticas. Desafios. Contemporaneidade. 1 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Administração da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Participante no Grupo de Estudos Narrativos em Educação-GENE e no Grupo de Estudos sobre Universidades- GEU. patriciapr_adm@yahoo.com.br. 2 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Engenharia Elétrica do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSUL) Campus Pelotas. Participante no Grupo de Estudos Narrativos em Educação-GENE. marcelamafonso@yahoo.com.br..

2 13644 Introdução Diante das mudanças no papel do professor e no modelo de trabalho, advindos dos meios de comunicação, tecnologia e informação, são estabelecidos novos desafios aos docentes e a escola. A docência é norteada por desafios contemplando a própria profissão, o dia-a-dia da profissão docente, sua rotina com alunos e pais, enfim, a dimensão que ela ocupa é circundada pelo desenvolvimento educacional e social. O presente artigo aborda as práticas e desafios do professor na contemporaneidade. É através da análise investigativa qualitativa relatada em questões que tratam sobre o cotidiano docente no ambiente escolar em que atua que identificamos elementos os quais tratam dos objetivos da pesquisa em questão. O escopo da pesquisa estabelece dois objetivos, analisados com a finalidade de facilitar a compreensão das questões narradas na entrevista transcrita. Nesse estudo busca-se identificar as dificuldades sociais e estruturais enfrentadas pelo professor em sala de aula; além de analisar e compreender as vivências do dia-a-dia do professor e suas práticas na contemporaneidade. E ao longo do trabalho, compará-los com os estudos realizados na pesquisa com os autores nesta ocasião citados. Para que possamos salientar a importância do estudo em questão, bem como dos aspectos que conduzem a identificação e análise desses objetivos, cabe destacar como ponto de partida o papel do professor e cenário em que atua esse docente. O Papel do professor e o cenário em que atua Os professores são profissionais essenciais na construção dessa escola, os professores contribuem com seus saberes, seus valores e suas competências nessa complexa tarefa (PIMENTA, 2005, p.07). Sua contribuição é essencial para mobilizar a educação escolar de acordo com as exigências das demandas sociais adequadas ao contexto em que vivemos. Face ao cenário contemporâneo, marcado por transformações e desafios, a atuação do professor torna-se cada vez mais complexa. Pois segundo Gauthier (1996) apud Tardif (2011, p. 147) Em nossas organizações escolares, o professor não exerce influência direta sobre as finalidades da educação... Contudo, ele pode controlar os meios, isto é, o ensino.

3 13645 Os desafios propostos pelo ambiente escolar e pela sociedade instigam o professor a refletir sobre seu método de trabalho bem como sobre suas práticas em sala de aula. Segundo Pimentel (apud MELLO, 2002, p.42), o professor precisa saber levantar hipóteses na realidade escolar. Precisa estudar mais, em função disso e produzir hipóteses novas que podem dar certo num dia e não mais em outro, porque os alunos se movimentam, o contexto social se movimenta, o professor também se dá conta disso, num mundo único, como o nosso. De modo geral, as condições proporcionadas ao professor nem sempre satisfazem as demandas que surgem no contexto atual. Dentre os desafios enfrentados podemos identificar que o professor por tantas vezes necessita trabalhar como articulador em situações advindas das limitações e complexidades que surgem em seu dia-a-dia. O saber docente, considerando seu conhecimento no trabalho e seus saberes cotidianos, permite-nos obter uma concepção de renovação constante a respeito da formação de professores e suas práticas. Percebe-se, portanto, que [...] todo saber implica um processo de aprendizagem e de formação; e, quanto mais desenvolvido, formalizado e sistematizado é um saber, mais longo e complexo se torna o processo de aprendizagem [...] como afirma Tardif (2011, p.35). De fato, podemos analisar que o cenário contemporâneo em que o docente atua provocou modificações em seu papel. Para Tardif (2011, p. 47), a função dos professores não consistiria mais em formar indivíduos, mas em equipálos tendo em vista a concorrência implacável que rege o mercado de trabalho. Ao invés de formadores, eles seriam muito mais informadores ou transmissores de informações potencialmente utilizáveis pelos clientes escolares. Em suma, pode-se dizer que o campo de atuação de suas práticas estabelece hierarquia, normas e obrigações, além das condicionantes constituídas pela própria prática no cotidiano da função docente. As situações transitórias e variáveis exigem do professor a habilidade e a capacidade de interagir no meio social em que atua a escola com os alunos e outras pessoas, são essas algumas condicionantes de sua profissão. Metodologia Essa pesquisa foi realizada através da investigação qualitativa na qual se utilizou de pesquisa bibliográfica com autores renomados e do estudo das práticas de pesquisa obtidas

4 13646 pelo grupo de estudos, que realizou entrevistas semi-estruturadas, narradas e transcritas durante o ano de 2012, obtidas de professores que possuem mais de dez anos de experiência e que lecionam em escolas públicas aos níveis fundamental e médio. Os relatos apresentados nesse artigo foram inicialmente extraídos de entrevista narrativa semi-estruturada realizada com uma professora da rede de ensino público que leciona para o nível fundamental em duas escolas, uma estadual outra municipal, ambas na cidade de Pelotas, interior do estado do Rio Grande do Sul - RS. Situadas no centro da cidade, as escolas possuem alunos de classe média e baixa, muitas delas moradoras da periferia da cidade. Segundo Cunha (1989, p. 24) a escola é uma instituição contextualizada, isto é, sua realidade, seus valores, sua configuração variam segundo as condições histórico-sociais que a envolvem. Para a melhor compreensão das inquietações dispostas neste estudo, a entrevista realizada aborda questões relacionadas com o dia-a-dia do professor na sala de aula, seu método de ensino, a estrutura da escola, o perfil e família do aluno. A experiência de uma professora Através do relato da experiência de uma professora disposto a seguir, pretende-se analisar a narrativa da mesma. A entrevistada possui carreira no magistério há quase vinte anos, possui formação superior em pedagogia e especialização na área de educação. A docente divide a carga horária adotada entre duas escolas de rede pública onde leciona na cidade de Pelotas - RS. Ao longo do trabalho, descrevemos parte do contexto abordado na entrevista em questão. Ao reconhecer as condições de trabalho abarcadas no âmbito da profissão docente, a professora relata a precariedade das condições de trabalho destacadas pela falta de infraestrutura e de acesso totalmente adequados para desenvolvimento de seu trabalho com os alunos. Destarte, podemos destacar que, o pensar do professor é condicionado pelas possibilidades e limitações pessoais, profissionais e do contexto em que atua (PIMENTA et. al., 2005). Através da transcrição foi possível perceber que a falta de infraestrutura dificulta a realização do trabalho dos professores bem como o desenvolvimento de práticas com os alunos. A docente lamenta ter de adequar-se as condições proporcionadas pela escola.

5 13647 A professora relata que atualmente existem projetos voltados para a escola que conseguem determinada verba, mas que durante anos ela retirava de seu próprio salário para suprir a demanda de materiais para alguns alunos carentes. Apesar das dificuldades enfrentadas, ela ainda se dispõe, quando necessário, a proporcionar aos alunos o material necessário para executar a atividade por ela programada. Em virtude de a escola seguir um modelo tradicional, a professora percebe certa rigidez entre os colegas, pois quando tenta implantar algum novo projeto para trabalhar com os alunos dificilmente eles se dispõe a aderir. Esse posicionamento demonstra uma das dificuldades enfrentadas pelo professor no modelo já seguido. Ela retrata ainda sua frustração quanto ao modelo de escola que sonha, demonstra sua indignação quanto à forma de abordagem bastante teórica, pois em seu pensamento deveria ser mais prático. Menciona ainda, que acredita ser difícil vê-lo, pois está próximo de encerrar sua carreira docente. Segundo Mello (p. 72, 2002), no seu ambiente de trabalho e no seu fazer diário, o professor está intensamente em contato com elementos que interferem na produção de sua prática. Com isso, podemos inferir que essa interferência pode afetar de sua prática escolar e dificultar sua forma de abordagem. Quanto ao processo de planejamento, realizado com os professores, a professora questiona que os alunos deveriam ter participação e aponta que isso não ocorre inclusive no nível superior. Para Pimenta (2005) a aula, embora aconteça em um espaço e tempo determinados, é antecedida e sucedida por outros espaços e ações a que pertence como: a formação docente, o trabalho de planejamento, a avaliação, a cultura do professor, seus valores. E como os alunos estão inseridos nesse contexto, podem trazer contribuições relevantes. Ela relata ainda, que sua categoria não possui autonomia suficiente e que muitas vezes os princípios e os projetos são realizados por pessoas que não possuem o mínimo de contato prático com o ambiente, o que em sua visão dificulta ainda mais a implantação dos mesmos. Dentre outras falas, a entrevistada ainda observa que alguns colegas mesmo após realizar a formação superior retornam a sala de aula sem qualquer mudança perceptível, lamenta o fato e complementa a fala dizendo que o governo não proporciona condições de estudo adequadas diante a carga horária de trabalho elevada que o docente necessita cumprir. Diz ainda, que vários professores também não procuram realizar um curso noturno diante

6 13648 dessa situação. Portanto, isso nos conduz a perceber que eles acabam muitas vezes seguindo o método tradicional, devido a não ter oportunidade de vivenciar o meio acadêmico. A intensificação do trabalho quotidiano nas escolas, com os professores a serem chamados ao desempenho de um conjunto cada vez mais alargado de funções e de missões, que lhe retiram a calma e o tempo necessários a um exercício refletido da profissão. Estou a pensar na proliferação de tarefas ligadas à gestão das escolas, à coordenação de projetos vários ou à articulação com atividades de iniciativa das comunidades locais (NÓVOA, 2007, p.08). Sobre a situação de trabalho dos professores, ela retoma ao fato da carga horária exercida, e afirma que a categoria não dispõe de tempo suficiente para reunir-se freqüentemente. Interroga sobre quantos professores conhecem o projeto pedagógico da escola, e como pode trabalhar de forma multidisciplinar nesse contexto, que em sua visão trabalha para que a conjuntura de ensino seja fragmentada. Ainda questiona sobre as discussões que deveriam ocorrer e quantas escolas mantêm uma unidade de processo educacional. A professora volta a abordar a situação da estrutura escolar e comenta que a escola consegue estruturar-se, porém, o processo não tem continuidade. Para a melhor compreensão de sua abordagem, utilizou-se do exemplo do laboratório de informática instalado na escola, que não possui profissional habilitado na área. E salienta que as condições proporcionadas vão deixando os docentes desmotivados. No tocante à profissão docente, a relação cognitiva com o trabalho é acompanhada de uma relação social: os professores não usam o saber em si, mas sim saberes produzidos por esse ou aquele grupo, oriundos dessa ou daquela instituição, incorporados ao trabalho por meio desse ou daquele mecanismo social (formação, currículos, instrumentos de trabalho, etc. Por isso, ao se falar dos saberes dos professores, é necessário levar em consideração o que eles dizem a respeito de suas relações sociais com esses grupos, instâncias, organizações, etc. (TARDIF, 2011, p. 19) Em que concerne os desafios e práticas docentes, percebe-se que o professor atualmente confronta-se com inúmeras dificuldades em sua rotina escolar. Essas abrangem desde a situação social da escola e dos alunos aos condicionantes do processo educacional. Diante disso, percebe-se que o professor ainda tenta interagir com as condições propostas para assim dar continuidade ao processo de ensino.

7 13649 Considerações Finais O estudo realizado permitiu refletir sobre as modificações no papel do professor e o cenário em que ele atua, marcado por constantes transformações e sobre suas relações estabelecidas entre o saber e o fazer, no que tange a prática e planejamento, respectivamente. Deste modo, a compreensão dos desafios enfrentados pelo professor demonstra que esse profissional necessita ser flexível e criativo para que possa adaptar-se ao cenário atual e consiga lidar com as alterações tecnológicas, transitórias e adversas proporcionadas por essa contemporaneidade. Outro aspecto determinante é a importância do estudo de suas práticas pedagógicas, para que esse profissional possa desenvolver um trabalho adequado aos interesses da entrevistada e aos propósitos da demanda existente. Segundo Nóvoa (2007) a formação não se constrói simplesmente por acumulação de conhecimentos ou de técnicas, mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas. Percebemos na investigação, que a professora tenta constantemente fugir do método tradicional, mas é condicionada a retomá-lo devido ao fato da escola o segui-lo. Observamos, ainda, que ela relata sobre sua preocupação em agregar o conhecimento obtido pelos docentes no nível superior as práticas pedagógicas e ao planejamento da escola. Portanto, o estudo nos faz perceber que são muitos os desafios que o professor enfrenta em seu dia-a-dia, e que as condições propostas muitas vezes não contemplam suas necessidades, mas, suas práticas são fundamentais para a construção da educação e ao processo de ensino. REFERÊNCIAS CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. Campinas, SP: Papirus, p. NÓVOA, António. Vidas de Professores. 2. ed. Porto, Portugal: Porto, p. MELLO, Reynaldo Irapuã Camargo (organização). Pesquisa e Formação de Professores. Cruz Alta: Unicruz, p. PIMENTA, Selma Garrido (organização). Saberes Pedagógicos e Atividade Docente. 4. ed. São Paulo, SP: Cortez, p.

8 TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. 12. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, p