Universidade de São Paulo. Faculdade de Direito. DEF0313 Direito Ambiental II. Professora Associada Ana Maria de Oliveira Nusdeo
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1 Universidade de São Paulo Faculdade de Direito DEF0313 Direito Ambiental II Professora Associada Ana Maria de Oliveira Nusdeo Seminário: Política Nacional de Resíduos Sólidos e seus desafios. Primeiras respostas do Poder Judiciários à Responsabilidade pósconsumo do fabricante. Túlio Venturini de Souza Luiz Gabriel Verçoza Sérgio Montandon Juliana Coelho Duarte Rafael Gomes da Costa Riccomi Ingred de Souza Rocha da Silva Valter Piva Junior São Paulo Agosto de 2016
2 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL DE SÃO PAULO Processo... Refrigerantes Imperial S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o número / , com sede à Rua Jose da Silva, s/n, na cidade e estado de São Paulo, por seu advogado que essa subscreve, nos autos da Ação Civil Pública Ambiental que lhe move o Ministério Público do Estado de São Paulo vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência apresentar contestação pelos motivos abaixo expostos; I. Dos Fatos A Refrigerantes Imperial S/A é uma pequena produtora de bebidas não alcóolicas e para o desenvolvimento de sua atividade principal utiliza-se de consagrado produto nacional e internacionalmente, o polímero de tereftalato de polietileno, comumente conhecido como garrafa PET.
3 Na data de XX/YY/ZZZZ a empresa foi citada para apresentação de contestação em face da ação civil pública movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, sob a alegação de que atentaria contra os princípios e determinações da Política Nacional de Resíduos Sólidos, por: (i) Não disponibilizar pontos de entrega voluntária (PEV), nem estabelecer qualquer mecanismo de logística reversa para os resíduos gerados por seus produtos; e (ii) Não desenvolver qualquer campanha ou tipo de iniciativa voltadas à educação e conscientização ambiental. II Do Direito A. DOS SUPOSTOS DANOS CAUSADOS PELO DESCARTE IRREGULAR E DA IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE CIVIL COMPARTILHADA Não há dúvidas de que a responsabilidade civil no caso de dano ambiental é objetiva, conforme instituído pela Política Nacional do Meio Ambiente (Lei No 6.938/81). Isto significa que a imputação de responsabilidade independe de elemento volitivo, ou seja, culpa ou dolo do agente. Todavia recorde-se de que, mesmo na responsabilidade objetiva, é imprescindível a comprovação do dano ambiental causado e do nexo de causalidade existente entre a conduta do agente e o referido prejuízo ao meio ambiente. No caso concreto a autora não foi capaz de produzir a prova do modo que lhe incumbia, sendo, portanto, incapaz de demonstrar o devido dano e seus efeitos. Não foram apresentadas em juízo quaisquer documentos ou laudos técnicos que embasem a tese do parquet de que a ação deliberada da Ré teria
4 levado a prejuízos a direitos difusos da população. Evidencia-se, assim, a fragilidade da argumentação apresentada pelo Egrégio Ministério Público. Nessa esteira, resta comprovado, ao contrário do que alega o autor, que o princípio da responsabilidade civil compartilhada, instituída pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Arts. 30 e seguintes e Art. 6, VII) não se aplica ao caso em testilha. Isso porque, mesmo que estejamos diante de uma hipótese de responsabilidade civil compartilhada, esta ainda se trata de responsabilidade civil e, portanto, necessariamente deve se fundar na comprovação do dano e do nexo causal, o que, conforme já dito, não restou devidamente provado pelo Ministério Público. Apesar da alegação do Ministério Público e dos nobres objetivos que, por certo, motivaram a propositura da presente Ação, também não se pode olvidar que embalagens como as utilizadas pela Ré não se enquadram no rol taxativo de produtos elencados no Art. 33 da Lei /10, que devem ser objeto de Sistema de Logística Reversa, como se observa mediante análise do texto legal: Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de: I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas; II - pilhas e baterias;
5 III - pneus; IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Os produtos produzidos e distribuídos pela Ré, cabe lembrar, são refrigerantes artificiais gaseificados não alcóolicos, envasados em garrafas PET. Seria irresponsabilidade deste juízo equiparar o risco causado pelo envase dos produtos distribuídos pela Ré a outros compostos extremamente nocivos ao meio ambiente como agrotóxicos, baterias, e óleos lubrificantes. Ante o já analisado rol taxativo trazido pelo Art. 33, fica claro que a Refrigerantes Imperial não tem a responsabilidade de instituir e coordenar um Sistema de Logística Reversa. Notório, portanto, que produtos como os elencados nos incisos do Art. 33 apresentam uma danosidade intrínseca à sua manipulação, o que não se verifica em relação a garrafa PET. A periculosidade do produto é, nesse caso, essencial para configuração e delimitação da responsabilidade civil. É por esse motivo que se torna imperiosa uma específica demonstração dos danos em que teria incorrido a ré em decorrência da fabricação e utilização da garrafa PET, visto que esse não é um produto, per se, considerado danoso ao meio ambiente. Afinal, se a garrafa PET fosse considerada um produto de elevada periculosidade ao meio ambiente, indubitavelmente teria sido incluída no rol do Art. 33, para se exigir a estruturação e implementação de um sistema de logística reversa em relação a esse produto.
6 Vale ressaltar também, que ainda que tal dano tivesse sido devidamente comprovado, estaríamos diante de uma hipótese de responsabilidade civil compartilhada e, assim sendo, esta não poderia ser exclusivamente e integralmente imputada à empresa ré. B. DO ACORDO SETORIAL DAS EMBALAGENS EM GERAL A contrário do que alega a parte autora, a Ré REFRIGERANTES IMPERIAL LTDA. não é, até o presente momento, signatária do ACORDO SETORIAL PARA IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE LOGÍSTICA REVERSA DE EMBALAGENS EM GERAL. Note-se que qualquer obrigação assumida pelo supracitado acordo limitase, por certo, à esfera particular das partes signatárias, não podendo, portanto, obrigar a Empresa Ré. Inclusive, nesse sentido, o parágrafo primeiro da Décima Quarta Cláusula do referido acordo explicita que Nenhuma das Associações ou Empresas tem poderes para representar ou obrigar a outra a incorrer em qualquer obrigação, contratual ou não.. III Do Pedido Isso posto, requer que: a) Seja julgado improcedente o pedido do autor de suspender o envasamento em garrafas plásticas de politereftalato de etileno (PET), até que a empresaré estabeleça mecanismos de logística reversa, ante a absoluta inexistência de previsão legal a esse respeito;
7 b) Seja julgado improcedente o pedido do autor de condenar a Ré a realizar operação de limpeza das vias públicas, cursos d água e qualquer outro local que contenha garrafas PET descartadas de forma indevida, dada a ausência de provas que sejam suficientes para comprovar a responsabilidade civil da Ré no caso; c) Seja julgado improcedente o pedido do autor de que a ré seja condenada a realizar campanha publicitária e de educação ambiental. Termos em que pede deferimento. São Paulo, 26 de Agosto de 2016.
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