Demonstração dos Fluxos de Caixa como instrumento da Governança
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- Dalila Avelar Alcântara
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1 Demonstração dos Fluxos de Caixa como instrumento da Governança ANTECEDENTES Na década de 80, no ambiente empresarial-societário dos Estados Unidos, uma das questões mais discutidas foi a da governança corporativa e o problema da motivação e controle dos gestores na busca pela maximização do valor para os acionistas. Do ponto de vista técnico e de métricas para medir os resultados do aumento de valor das organizações, o desempenho avaliado pelos lucros foi fortemente questionado. Danny DeVito, no filme Other People s Money, retrata muito bem esta questão quando, numa assembléia de acionistas, afirma: a menos que eu esteja enganado, a razão pela qual vocês se tornaram acionistas foi para ganhar dinheiro. Assim, uma pergunta fundamental foi levantada pelos acionistas aos gestores contratados: afinal de contas, o que vocês estão fazendo com o nosso dinheiro? A Demonstração dos Fluxos de Caixa passou a fazer parte do conjunto das demonstrações financeiras obrigatórias, para ser um instrumento de controle para os acionistas, podendo ser considerada, desta forma, uma das ferramentas da Governança Corporativa Em 1988, o Federal Accounting Standards Board, órgão máximo na determinação dos procedimentos contábeis naquele país, passou a exigir, a partir de , a emissão, junto com as demais demonstrações financeiras, da demonstração dos fluxos de caixa. Cabe lembrar, que a demonstração dos fluxos de caixa é uma ferramenta gerencial tradicional na área financeira. Ela é apresentada no texto Administração Financeira, de Robert W. Johnson, de Na época, a denominação era fluxo de fundos ao invés de fluxo de caixa. No Brasil, desde 1989, as entidades ligadas ao mercado de capitais a APIMEC Associação dos Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais é uma delas - são defensoras da substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos pela Demonstração dos Fluxos de Caixa. No entanto, somente com o advento da Lei /07, a referida peça contábil se tornou obrigatória para as empresas de grande porte. A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA - DFC A forma de apresentação foi disciplinada pelo Pronunciamento Técnico CPC 3, de 13 de junho de 2008, e integra o conjunto dos procedimentos contábeis que estão caminhando para O CPC Comitê de Pronunciamentos foi criado em 2005, com o objetivo de realizar a convergência da contabilidade brasileira às normas internacionais de contabilidade
2 convergência da contabilidade brasileira às normas internacionais de contabilidade. Para responder a pergunta chave - afinal de contas, o que vocês (gestores) estão fazendo com o nosso dinheiro? a DFC apresenta três fluxos que impactam o caixa: Das operações Dos investimentos Dos financiamentos O resultado dos três fluxos impacta o saldo de caixa e equivalentes da empresa. Vejamos o caso de uma grande empresa do setor de embutidos, a partir de suas demonstrações financeiras de , encaminhadas à CVM Comissão de Valores Mobiliários: Saldo de caixa e equivalentes em R$ mil Saldo de caixa e equivalentes em R$ mil Neste caso, a DFC vai demonstrar, por intermédio dos três fluxos acima mencionados, de onde vieram os recursos para que o saldo de caixa da empresa aumentasse em R$ mil. Fluxo de Caixa das Operações O fluxo de caixa das operações responde a uma das grandes perguntas levantadas pelos acionistas: se a empresa está apresentando lucros, qual a razão do nosso fluxo de caixa operacional estar negativo? Ou, se a empresa está gerando prejuízos, como nosso fluxo de caixa operacional pode ser positivo? Os equivalentes de caixa são mantidos com a finalidade de atender a compromissos de caixa de curto prazo e não para investimento ou outros fins. Para ser considerada equivalente de caixa, uma aplicação financeira deve ter conversibilidade imediata em um montante conhecido de caixa e estar sujeita a um insignificante risco de mudança de valor. Para demonstrar esta situação, o lucro ou prejuízo líquido apresentado na DRE - Demonstração do Resultado do Exercício é ajustado por dois fatores: Receitas, custos e despesas que foram registradas na DRE, mas não movimentam recursos de caixa; e, Variação de contas do ativo e passivo que expressam modificações nas políticas financeiras de curto prazo praticadas empresa, bem como alterações no nível de atividades. No caso da empresa que estamos acompanhando temos a seguinte situação:
3 Resultado Líquido do Exercício 2008 R$ mil Caixa Líquido das Atividades Operacionais R$ mil Neste caso a questão a ser respondida é: como a empresa apresentou um lucro líquido, na última linha, de R$ mil, e pode ter gerado um fluxo de caixa decorrente das atividades operacionais da ordem de R$ mil? Vejamos a resposta na Demonstração dos Fluxos de Caixa apresentada à CVM pela empresa, no que se refere ao Caixa Líquido das Atividades Operacionais: Quadro 1 Demonstração dos Fluxos de Caixa (2008 R$ mil) Caixa Líquido das Atividades Operacionais 4.01 Caixa Líquido Atividades Operacionais Resultado Líquido do Exercício Variações nos Ativos e Passivos ( ) Contas a Receber de Clientes ( ) Estoques ( ) Fornecedores Pagamento de Contingencias (26.993) Salarios/Obrigações Sociais/Outros ( ) Outros Participações de Acionistas não Control Depreciação/Amortização/Exaustão Amortização de Ágio Resultado na Alienação do Permanente Imposto sobre a Renda Diferidos ( ) Provisão/Reversão de Contingencias (34.071) Outras Provisões Juros e Variações Cambiais Reconhecimento do Efeito do Plano Verão Efeito da lei / Como pode ser observado, o Resultado Líquido do Exercício foi ajustado por dois valores: ---- Resultado Líquido do Exercício R$ mil Variação de Ativos e Passivos Outros (R$ ) mil R$ mil Caixa Líquido das Ativ.Operacionais R$ mil ----
4 A variação nos ativos e passivos representa o impacto no fluxo de caixa decorrente das modificações nas políticas financeiras de curto prazo, dentre elas, as políticas de crédito, as políticas de manutenção de níveis de estoques e as políticas pagamento das compras. No caso acima, representou um impacto negativo no fluxo de caixa da empresa, sendo os principais o aumento nos investimentos em estoques e a redução substancial provocada na linha de salários/obrigações sociais e outros. As perguntas relevantes seriam: Quais as alterações na política de estoques? Quais as causas da redução da linha salários/obrigações? Além disso, em proporção menor, a empresa obteve um aumento do financiamento de fornecedores (negociação ou prorrogações?) e um aumento no investimento em contas a receber de clientes (alteração de prazos, inadimplência ou aumento nas vendas?). Note-se que este impacto de R$ mil negativos é relevante para uma empresa que faturou, no ano, R$ 13,1 bilhões: representa aproximadamente 6% do faturamento. O segundo ajuste outros (que expressam valores que foram lançados como despesa e receita na DRE e não movimentam caixa) foi positivo. Ou seja, foram registradas despesas de caráter econômico e contábil, mas que não saíram do caixa. Como pode ser observado, duas delas representam a maior parte do valor: Depreciação/amortização/exaustão R$ mil Juros e variações cambiais R$ mil A depreciação representa a recuperação dos investimentos no ativo permanente que a empresa está realizando na precificação dos produtos e os juros e variações cambiais foram capitalizados nos saldos dos empréstimos e financiamentos. Fluxo de Caixa dos Investimentos Na DFC da empresa que estamos acompanhando, o Caixa Líquido das Atividades de Investimentos foi um investimento de R$ mil. O quadro 2 abaixo apresenta este segundo grupo da DFC da referida empresa:
5 Quadro 2 Demonstração dos Fluxos de Caixa (2008 R$ mil) Caixa Líquido das Atividades de Investimentos 4.02 Caixa Líquido Atividades de Investimento ( ) Aplicações Financeiras ( ) Resgate de Aplicações Financeiras Aplicações no Imobilizado ( ) Aquisições /Formação de Matrizes ( ) Alienação do Imobilizado Aquisição de empresas, Liquido do Caixa ( ) Aplicações no Diferido (98.493) Outros Investimentos Liquidos (7) Pelo quadro podem ser identificados os principais investimentos (ou desinvestimentos). O valor de R$ mil, investido pela empresa, foi principalmente em: No imobilizado R$ mil Aquisição e formação de matrizes R$ mil Aquisição de empresas R$ mil São valores expressivos (estamos sempre pensando no faturamento da empresa, no valor de R$ 13,1 bilhões no referido ano) e que refletem a política de investimentos da empresa. Fluxo de Caixa dos Financiamentos Na DFC da empresa que estamos acompanhando, o Caixa Líquido das Atividades de Financiamentos indica um fluxo positivo de R$ mil. O quadro 3 abaixo apresenta este terceiro grupo da DFC encaminhada à CVM pela referida empresa: Quadro 3 Demonstração dos Fluxos de Caixa (2008 R$ mil) Caixa Líquido das Atividades de Financiamentos 4.03 Caixa Líquido Atividades Financiamento Tomada de Financiamento Pagamento de Financiamento ( ) Aumento de Capital Dividendos/Juros do Capital Próprio pgto ( )
6 Pelo quadro acima, podemos observar que o impacto positivo no fluxo de caixa da empresa, decorrente das atividades de financiamentos, foi causado da tomada líquida de financiamentos no valor de R$ mil. Infelizmente, a DFC, neste grupo, não indica se os financiamentos tomados são de longo ou de curto prazos. Se quisermos identificar o prazo, precisamos recorrer aos dados do Balanço. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta breve apresentação, o objetivo foi levantar os principais fatores de gestão expressos na Demonstração dos Fluxos de Caixa das empresas. Todas as considerações feitas, partiram da leitura da referida demonstração, sem a preocupação de análise. Seja como membro do conselho de administração, seja como participante do conselho fiscal, o exame das demonstrações financeiras deve ser feito sempre em conjunto, levando em conta o Relatório da Administração, o Balanço, a Demonstração de Resultados do Exercício, a Demonstração dos Fluxos de Caixa, a Demonstração das Mutações Patrimoniais, as Notas Explicativas e o Parecer dos Auditores. AUTOR: Armando de Santi Filho, membro suplente do Conselho Fiscal da JEREISSATI PARTICIPAÇÕES S.A. Foi Superintende Adjunto do Banco do Brasil no estado de São Paulo e Diretor Executivo da Trevisan Escola de Negócios. É consultor financeiro e coordenador de cursos de pós-graduação.
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