Opinião ABC Brasil /05/2017
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- Stella Salazar Flores
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1 19/05/2017 Há muito vínhamos ressaltando a importância das questões políticas nas projeções econômicas para o Brasil nos próximos anos. Entretanto, nessa semana, essa importância chegou a níveis tão dramáticos, que podemos adjetiva-la como determinante. Se antes, a grande questão era se a Reforma da Previdência iria passar ou não, com uma maior probabilidade para a primeira alternativa, agora, temos um leque tão grande de possibilidades, que fica difícil precificar qualquer cenário. Como o que não se sabe precificar, por definição, não tem preço, os mercados deverão passar por dias de muita volatilidade, como vimos na queda de ontem e na relativa recuperação de hoje. Portanto, vamos usar este Opinião para tentar identificar os possíveis cenários daqui para frente, principalmente o de juros, que consideramos fundamental para termos alguma esperança de recuperação da economia brasileira em um horizonte razoável. Como não temos pretensões de fazer uma análise política da situação, não vamos entrar no mérito do teor das gravações, até porque, enquanto escrevemos esse texto, ainda não temos o conjunto completo da delação, que havia acabado de ser liberado pelo STF. Dessa forma, vamos começar nossa análise, vendo quais as opções que se postam perante Michel Temer. Uma vez que Temer não renunciou e afirmou que não vai fazê-lo, a melhor solução para esse imbróglio seria que o Presidente conseguisse reorganizar a sua base política e as Reformas voltassem a andar. Nesse caso, teríamos algum atraso na aprovação com relação ao cronograma original, mas, nesse momento, isso seria o de menos. Esse cenário não nos parece o mais provável agora, mas, na sua ocorrência, voltaríamos a vislumbrar números bastante favoráveis para a economia brasileira, com a inflação sob controle e o câmbio podendo fechar o ano entre R$ 3,00 e R$ 3,10. Com isso, o BCB conseguiria prosseguir a redução agressiva dos juros, que poderiam fechar o ano ao redor de 6,25% a.a., sem que a meta de 2018 ficasse
2 comprometida 1, mantendo a nossa projeção para o PIB do ano que vem ainda entre 2,5% e 3,0%. No caso de Temer não ter sucesso em recompor a base, teríamos duas saídas: Uma pelo judiciário e outra pelo Congresso, sendo que, no primeiro caso, também teríamos duas opções: STF ou TSE. A mais rápida das duas seria a do TSE. A cassação da chapa Dilma/Temer, é vista, inclusive, como uma saída honrosa para o Presidente. Essa rapidez, vai depender da vontade de Temer para recorrer ao STF, na tentativa de manter o seu mandato. Se voltarmos um pouco no tempo, essa questão do TSE sempre foi vista como uma válvula de escape para o caso de uma crise institucional, que foi sendo abandonada na medida em que o Governo ia dando certo. Portanto, talvez esse seja o cenário mais provável caso Temer não consiga reorganizar o seu governo e mantenha-se firme na decisão de não renunciar. A saída via STF seria, na verdade, uma opção híbrida, uma vez que, seria resolvida através de uma questão jurídica em cima do inquérito já aberto contra Temer, mas seria necessária a aprovação do Congresso para ter curso. Só após a Câmara dar o seu aval com 342 votos favoráveis é que o processo no STF poderia começar. Nesse caso, Temer se tornaria réu e seria afastado do cargo. No caso do impeachment, a questão seria resolvida toda pelo Congresso em um processo que já conhecemos de cor e salteado. 1 No final do texto, teremos uma tabela com as projeções de inflação para 2018 com várias combinações câmbio/juros; 2
3 Em qualquer dos casos supracitados, Rodrigo Maia assumiria a presidência e, no prazo de 30 dias convocaria novas eleições. Tanto na solução via STF, quanto na do impeachment, não há dúvidas que estas seriam indiretas, uma vez que, em ambos os casos a figura jurídica que se apresenta é da vacância do cargo e a constituição, no seu Artigo 81 é clara a respeito disso: ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. Entretanto, na solução via TSE, podemos ter uma interpretação diferente, uma vez que, não haveria vacância do cargo, mas a anulação da eleição, e, segundo a minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso em 2015, novas eleições seriam convocadas em um prazo entre 20 a 40 dias. Uma eleição indireta, nesse caso, só ocorreria se faltassem apenas 6 meses para o final do mandato, o que não seria o caso. Entretanto, essa interpretação não é definitiva, uma vez que a minirreforma se refere ao Código Eleitoral e existe a dúvida se, nesse caso, a Constituição se sobrepõem a ele. Certamente o caso acabaria no STF. Pelo que vimos acima, mesmo na solução mais rápida, via TSE, esta não seria tão rápida assim e dependeria, em muito, da disposição de Temer em permanecer no cargo. A consequência para os nossos cenários seria, no mínimo, um atraso ou mesmo a inviabilização das Reformas antes da próxima eleição. Certamente isso teria um impacto importante, não apenas no câmbio e, consequentemente, na política monetária, mas também nas decisões de investimento e consumo dos agentes econômicos. Com isso, dificilmente escaparíamos de uma nova retração, se bem que pequena, esse ano e um crescimento de, no máximo, 1,0% em Consideramos que a redução dos juros é essencial para as expectativas de crescimento, assim como o comportamento do Dólar na sensação de crise. A partir do modelo utilizado pelo 3
4 BCB, fizemos simulações para os níveis de inflação em 2017 e 2018, considerando diferentes combinações de câmbio e juros. Com os resultados determinamos, até onde a redução dos juros poderia ir, sob a perspectiva de manter a inflação na meta em Câmbio(2017/2018)/Juros 7.50% 8.00% 8.50% / / / / Na primeira linha, colocamos o cenário que poderia prevalecer no caso da aprovação das Reformas, nas demais, mostramos gradações dos cenários mais pessimistas, nos quais Temer não conseguiria reorganizar a sua base, acabando por ser apeado do poder. Só para relembrar, o Dólar à R$ 4,00 como mostrado na última linha, era o patamar que prevalecia em fevereiro de 2016, antes do mercado começar a precificar a saída de Dilma Rousseff da presidência. Da observação da tabela acima, podemos inferir que, com o câmbio acima de R$ 3,40 em 2017, apenas com os juros em 8,50% a.a. (projeção atual do boletim Focus) a inflação ficaria próxima da meta e, com o Dólar chegando a R$ 4,00, mesmo com esse nível de juros, nem em 2017 a meta estaria garantida. Fazendo uma conta de chegada, concluímos que o espaço para a queda dos juros, que era muito grande no cenário com o Dólar a R$ 3,00, como vimos anteriormente, se reduziria fortemente nas hipóteses mais pessimistas, tornando mais difícil ser otimista com a recuperação do PIB brasileiro em Quantificando isso, caso o Dólar feche 2017 em R$ 3,40 (valor que chegou ao longo do dia de ontem), os juros poderiam ser reduzidos dos atuais 11,25% a.a., para 9,00% a.a., não muito distante da projeção atual do Focus. Se o valor for para R$ 3,60, não haveria grande prejuízo, com a Selic podendo chegar 4
5 a 9,25% a.a.. Já no cenário Dilma, o espaço ficaria muito reduzido, com os juros podendo chegar apenas a 10,75% a.a., valor que pode ser ultrapassado já na próxima reunião, caso o BCB reduza os juros em 0,75 p.p. ou 1,00 p.p.. A conclusão com relação ao tsunami que atingiu o Brasil nessa semana, se é que podemos tirar alguma, é que, um cenário que já era incerto, ficou exponencialmente mais difícil de determinar, após a delação premiada de Joesley Batista. Onde tínhamos apenas duas opções, aprovar ou não a Reforma da Previdência, temos agora uma miríade de alternativas que vão, desde a questão sobre se Temer fica ou não, até a discussão sobre em que situação ele ficaria ou sairia. A única certeza que podemos ter nesse momento, é que o foco do mercado continua a ser o mesmo, ou seja, a aprovação da Reforma da Previdência, e vai apoiar a solução que mais se aproxime desse objetivo, independente do nome do presidente que irá conduzir o processo. Como diria Deng Xiaoping: Não importa a cor do gato, o que importa é que ele cace os ratos. 5
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