Coordenação-Geral de Tributação

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1 Cosi Fls. 1 0 Coordenação-Geral de Tributação Solução de Consulta nº 90 - Data 25 de janeiro de 2017 Processo Interessado CNPJ/CPF ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A IMPORTAÇÃO - II IMPORTAÇÃO POR CONTA E ORDEM DE TERCEIROS. IMPORTAÇÃO POR ENCOMENDA. USO DE MARCA. IDENTIFICAÇÃO DO CLIENTE NAS MERCADORIAS. Não se considera por conta e ordem de terceiros, a operação de importação em que o importador utiliza recursos próprios, realiza a negociação com o fornecedor estrangeiro e arca com todo custo e risco da operação. A importação de mercadorias com a marca de determinada montadora de veículos, observando-se que o importador deve ter a autorização de uso de marca, não caracteriza, por si só, uma importação por encomenda, pois as mercadorias podem ser revendidas a diferentes clientes no Brasil. No entanto, se nessa operação as mercadorias vêm identificadas com o nome empresarial ou o CNPJ específico do cliente a quem serão revendidas, pode-se inferir que se trata de importação por encomenda, pois a utilização regular dos dados de terceiro, só é possível se a importação for realizada para atender a fornecimento previamente acordado entre o importador e a empresa adquirente, ainda que não haja contrato formal e escrito entre as partes. Dispositivos Legais: Lei nº , de 2006, art. 11; Medida Provisória nº , de 2001, art. 80; Instrução Normativa SRF nº 225, de 2002; Instrução Normativa SRF nº 247, de 2002, art. 12; Instrução Normativa SRF nº 634, de Relatório 1. O interessado, pessoa jurídica de direito privado, formula consulta, na forma da Instrução Normativa RFB nº 1.396, de 16 de setembro de 2013, protocolizada em , para questionar se as operações de importação que pretende realizar, condizentes com o seu objeto social, são enquadradas como sendo por conta própria e não por conta e ordem, ou, por encomenda (fls. 2 a 5). 1

2 Fls Descreve as suas operações da seguinte forma: [...], a Consulente pretende distribuir no Brasil produtos fabricados na XXX e em XXX, destinados ao mercado automotivo em geral. Todos os produtos são descartáveis e, portanto materiais de consumo cotidiano de alta rotatividade, destinados a concessionárias e oficinas em geral, inclusive àquelas de funilaria e pintura. Alguns produtos serão importados com a marca da montadora do veículo ou com os nomes das Concessionárias, enquanto que outros serão importados sem marcas. A importação poderá ocorrer com produtos de diversas marcas juntas, exemplo: XXX, XXX, XXX, XXX, ou apenas uma marca ex: XXX, e com diversos CNPJs diferentes que são das Concessionárias (Autorizadas). A Consulente terá uma autorização de uso de marca de cada montadora. A Consulente irá importar os produtos por conta própria, nacionalizá-los e estocá-los após o desembaraço aduaneiro. A revenda ocorrerá somente após entrada das mercadorias no estoque da Consulente. Cabe frisar que não haverá qualquer encomenda antecipada por parte dos possíveis clientes, tão pouco irão realizar qualquer pagamento antecipado. O processo será integralmente financiado pela Consulente. A Consulente, por importar por conta própria, será responsável pela garantia, qualidade do produto, reposição, troca, agindo com independência financeira, lucro e prejuízo etc, arcando com todos os riscos de mercado. A Consulente será responsável pela fase comercial, financeira, logística de transporte, desembaraço e pagamento de tributos. 3. Confronta essas operações com os dispositivos das Instruções Normativas SRF nº 225, de 18 de outubro de 2002, que trata da importação por conta e ordem de terceiros, e nº 634, de 24 de março de 2006, que trata da importação por encomenda, concluindo que no seu caso não haverá terceirização da atividade e a Consulente realizará por sua conta própria a operação. Por essa razão, constará como única responsável em todos os documentos inerentes ao comércio internacional e assumirá todos os riscos da operação. 4. Apresenta, ao final, o seguinte questionamento: por todo o exposto, indaga a Consulente se está correto seu entendimento no sentido de ser por conta própria e não por conta e ordem, ou por encomenda, a operação descrita. Fundamentos 5. Como a dúvida do consulente é se suas operações podem ser consideradas como importação por conta e ordem de terceiros ou por encomenda, é importante estabelecer em que contexto essas passaram a ter um tratamento mais específico pela legislação. 6. Cada vez mais e por diversos motivos, as organizações vêm optando por focar-se no objeto principal do seu próprio negócio (atividades-fim) e por terceirizar as atividades-meio do seu empreendimento. Essa tendência ocorre também no comércio exterior, 2

3 Fls. 3 quando, por exemplo, uma ou mais atividades relacionadas à execução e gerenciamento dos aspectos operacionais, logísticos, burocráticos, financeiros, tributários, entre outros, da importação de mercadorias são transferidas a um especialista. 7. Atualmente, duas formas de terceirização das operações de comércio exterior são reconhecidas e regulamentadas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB): a importação por conta e ordem de terceiros e a importação por encomenda. 8. Tanto a prestação de serviços de importação realizada por uma empresa por conta e ordem de uma outra chamada adquirente, quanto a importação promovida por pessoa jurídica importadora para revenda a uma outra dita encomendante predeterminada devem atender a determinadas condições previstas na legislação. 9. A escolha entre importar mercadoria estrangeira por conta própria ou de forma tercerizada é livre e perfeitamente legal. Entretanto, tanto o importador quanto o adquirente ou encomendante, conforme o caso, devem observar o tratamento tributário específico dessas operações. 10. A Instrução Normativa SRF nº 225, de 18 de outubro de 2002, conforme autorizado pelo art. 80 da Medida Provisória nº , de 24 de agosto de 2001, estabelece requisitos e condições para a importação por conta e ordem de terceiros. 11. Referida operação trata-se de um serviço prestado por uma empresa a importadora, a qual promove, em seu nome, o despacho aduaneiro de importação de mercadorias adquiridas por outra empresa a adquirente, em razão de contrato previamente firmado, que pode compreender ainda a prestação de outros serviços relacionados com a transação comercial, como a realização de cotação de preços e a intermediação comercial (art. 1º da Instrução Normativa SRF nº 225, de 2002, e art. 12, 1, inciso I, da Instrução Normativa SRF nº 247, de 21 de novembro de 2002). 12. Assim, na importação por conta e ordem de terceiros, embora a atuação da empresa importadora possa abranger desde a simples execução do despacho de importação até a intermediação da negociação no exterior, contratação do transporte, seguro, entre outros, o importador de fato é a adquirente, a mandante da importação, aquela que efetivamente faz vir a mercadoria de outro país, em razão da compra internacional; embora, nesse caso, o faça por via de interposta pessoa a importadora por conta e ordem, que é uma mera mandatária da adquirente. 13. A importação por encomenda, por sua vez, tem seus requisitos e condições estabelecidos pela Instrução Normativa SRF nº 634, de 24 de março de 2006, conforme previsão do art. 11 da Lei nº , de 20 de fevereiro de A importação por encomenda é aquela em que uma empresa adquire mercadorias no exterior com recursos próprios e promove o seu despacho aduaneiro de importação, a fim de revendê-las, posteriormente, a uma empresa encomendante previamente determinada, em razão de contrato firmado entre a importadora e a encomendante, cujo objeto deve compreender, pelo menos, o prazo ou as operações pactuadas (art. 2º, 1º, II, da Instrução Normativa SRF nº 634, de 2006). 15. Assim, como na importação por encomenda é o importador quem adquire a mercadoria junto ao exportador no exterior, providencia a sua nacionalização e a revende ao 3

4 Fls. 4 encomendante, tal operação tem, para o importador contratado, os mesmos efeitos fiscais de uma importação por conta própria. 16. Em última análise, em que pese a obrigação do importador de revender as mercadorias importadas ao encomendante predeterminado, é aquele e não este que pactua a compra internacional e deve dispor de capacidade econômica para o pagamento da importação. Da mesma forma, o encomendante também deve ter capacidade econômica para adquirir, no mercado interno, as mercadorias revendidas pelo importador contratado. 17. Assim, o que diferencia a importação por conta própria da importação por encomenda é a existência de um adquirente predeterminado, através de um contrato anterior entre a importadora e a encomendante. 18. A consulente relata que as operações de importação que pretende realizar serão feitas da seguinte forma: utilizará recursos próprios, realizará a negociação com o fornecedor estrangeiro e arcará com todo custo e risco das operações. Caracterizada essa situação, as operações não se enquadram como importação por conta e ordem de terceiros, pois não se tratam de simples prestações de serviços. 19. Quanto ao enquadramento ou não das operações como importação por encomenda há que se fazer uma análise mais acurada, tendo em vista que, embora o consulente afirme que as mercadorias só serão revendidas após elas estarem em seu estoque, não tendo encomendante predeterminado, também relata que alguns produtos serão importados com a marca da montadora do veículo ou com os nomes das Concessionárias, enquanto que outros serão importados sem marcas. 20. A importação de mercadoria com a marca de uma montadora, observandose que a consulente terá uma autorização de uso de marca de cada montadora, não caracteriza, por si só, uma importação por encomenda, pois a mercadoria pode ser revendida a diferentes clientes no Brasil (concessionárias e oficinas em geral). 21. Caso distinto, no entanto, ocorre quando a mercadoria importada vem identificada com os dados de uma determinada concessionária (nome empresarial ou com o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica CNPJ). Nessa situação, ainda que os recursos sejam do importador, pode-se inferir que a mercadoria tem um destino certo: a empresa identificada nas mercadorias objeto da importação. Caracteriza-se, portanto, uma importação por encomenda ou, caso contrário, restaria configurado um caso de uso indevido de nome empresarial de terceiro. 22. Observe-se que a Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996, que regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, tipifica como crime a utilização indevida de nome empresarial: Art Comete crime de concorrência desleal quem: [...] V - usa, indevidamente, nome comercial, título de estabelecimento ou insígnia alheios ou vende, expõe ou oferece à venda ou tem em estoque produto com essas referências; [...] 4

5 Fls Para efetuar a importação de mercadoria identificada com o nome empresarial de terceiro é necessário que haja a autorização deste para a operação, e esta autorização, por sua vez, só é possível se a importação for realizada para atender a fornecimento previamente acordado entre o importador e a empresa adquirente, ainda que não haja contrato formal e escrito entre as partes. 24. Observe-se ainda que a importação de produto estrangeiro deve observar o art. 283 do Decreto nº 7.212, de 15 de junho de 2010 Regulamento do Imposto sobre Produtos Industrializados (Ripi/2010): Art.283. É proibido: I - importar, fabricar, possuir, aplicar, vender ou expor à venda rótulos, etiquetas, cápsulas ou invólucros que se prestem a indicar, como estrangeiro, produto nacional, ou vice-versa (Lei nº 4.502, de 1964, art. 45, inciso I); II - importar produto estrangeiro com rótulo escrito, no todo ou em parte, na língua portuguesa, sem indicação do país de origem (Lei nº 4.502, de 1964, art. 45, inciso II); III - empregar rótulo que declare falsa procedência ou falsa qualidade do produto (Lei nº 4.502, de 1964, art. 45, inciso III); IV - adquirir, possuir, vender ou expor à venda produto rotulado, marcado, etiquetado ou embalado nas condições dos incisos I a III (Lei nº 4.502, de 1964, art. 45, inciso IV); e V - mudar ou alterar os nomes dos produtos importados, constantes dos documentos de importação, ressalvadas as hipóteses em que eles tenham sido submetidos a processo de industrialização no País. Conclusão 25. Diante do todo exposto, conclui-se que: a) não se considera por conta e ordem de terceiros, a operação de importação em que o importador utiliza recursos próprios, realiza a negociação com o fornecedor estrangeiro e arca com todo custo e risco da operação; b) a importação de mercadorias com a marca de determinada montadora de veículos, observando-se que o importador deve ter a autorização de uso de marca, não caracteriza, por si só, uma importação por encomenda, pois as mercadorias podem ser revendidas a diferentes clientes no Brasil; c) no entanto, se nessa importação as mercadorias vêm identificadas com o nome empresarial ou o CNPJ específico do cliente a quem serão revendidas, pode-se inferir que se trata de importação por encomenda, pois a utilização regular dos dados de terceiro, só é possível se a importação for realizada para atender a fornecimento previamente acordado entre o importador e a empresa adquirente, ainda que não haja contrato formal e escrito entre as partes. 5

6 Fls. 6 À consideração da revisora. CELSO TOYODA Auditor-Fiscal da RFB De acordo. À consideração superior. CASSIA TREVIZAN Auditora-Fiscal da RFB De acordo. Encaminhe-se ao Coordenador da Cotex LOURDES TERESINHA ROSSONI LUVISON Auditora-Fiscal da RFB - Chefe da SRRF10/Disit -Substituta De acordo. Ao Coordenador-Geral da para aprovação. FAUSTO VIEIRA COUTINHO Auditor-Fiscal da RFB - Coordenador da Cotex -Substituto Ordem de Intimação Aprovo a Solução de Consulta. Publique-se e divulgue-se nos termos do art. 27 da Instrução Normativa RFB nº 1.396, de 16 de setembro de Dê-se ciência ao interessado. [assinado digitalmente] CLAUDIA LUCIA PIMENTEL MARTINS SILVA Auditora-Fiscal da RFB - Coordenadora-Geral da - Substituta 6