PARECER JURÍDICO TERCEIRIZAÇÃO

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1 PARECER JURÍDICO TERCEIRIZAÇÃO CONSULENTE: SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DA GRANDE FLORIANÓPOLIS SINDUSCON A consulente demonstrou dúvidas quanto à legalidade e conveniência da terceirização das atividades desenvolvidas pelos seus associados, solicitando a análise dos argumentos contrários à terceirização, a fim de formar seu convencimento e definir sua estratégia de ação, cujo estudo segue abaixo. 1. INTRODUÇÃO A terceirização é um tema de muita controvérsia no Direito Brasileiro, tendo impacto direto nas relações empregatícias e empresariais, motivando o presente estudo, sendo, inclusive, debatido no Congresso Nacional, onde a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei nº I, de 2004, e que, atualmente, encontra-se em análise no Senado Federal. Terceirizar é a transferência feita pela contratante da execução de parcela de qualquer de suas atividades à contratada para que esta a realize na forma prevista nesta Lei [art. 2º, I, do projeto de lei nº I, de 2004], ou seja, é contratar alguém para fazer algo que o contratante poderia fazer. O tema terceirização é tão importante e controverso que, além da sua discussão e análise perante o Poder Legislativo, há em trâmite perante o Supremo Tribunal Federal o tema de repercussão geral 725, sob relatoria

2 do Min. Luiz Fux, com o título Terceirização de serviços para a consecução da atividade-fim da empresa. O setor da Construção Civil adota em larga escala a terceirização, por meio da contratação de empreiteiras de mão de obra para o fornecimento de pedreiros, serventes, carpinteiros, etc., sofrendo grande oposição especialmente por parte da fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego e do Poder Judiciário Trabalhista. Considerando a necessidade de estabelecer um relacionamento harmônico com o Poder Público, a fim de que a terceirização deixe de ser tida como uma prática negativa, passa-se à exposição dos motivos pelo qual a terceirização é POSITIVA, contrapondo os principais argumentos contrários. 2. CONTRAPONTO AOS ARGUMENTOS CONTRÁRIOS ÀS TERCEIRIZAÇÕES: Na região da Grande Florianópolis, área de atuação da consulente, a partir do mês de agosto/2015, o setor da Construção Civil passou a ser fiscalizado intensamente pela Delegacia Regional do Trabalho, culminando com diversas notificações por suposta terceirização ilícita. No Jornal Diário Catarinense do dia 04/07/2016, foi publicado um artigo, do Juiz do Trabalho Narbal Antônio de Mendonça Fileti, com o seguinte título: Terceirização irrestrita: um pesadelo. No mesmo dia, no período da tarde, na rede CBN Diário, foi dado o espaço de uma hora para se criticar as terceirizações. Os fatos acima indicados demonstram a importância do tema e a necessidade de se avaliar se realmente a terceirização deve ser considerada uma prática ilícita e um pesadelo.

3 No artigo do Juiz do Trabalho Narbal Antônio de Mendonça Fileti são listados os principais argumentos contrários às terceirizações, que se passa a contrapor. 2.1 Suposta perda de direitos trabalhistas: O principal item dos que advogam contra a terceirização é que não se poderia transferir ao terceirizado a realização da atividade fim do contratante, com a justificativa genérica de perda de direitos dos trabalhadores, o que não é verdade. O trabalhador nada perde. O que se tem, na verdade, é o aumento de empresas fornecedoras de serviços, o que levaria ao maior trabalho da fiscalização governamental, somente isso. Já se tem sindicatos, pisos salariais, regras de jornada de trabalho, enfim, diversas normas que devem ser aplicadas tanto ao contratante como ao contratado, em afetar um só direito do trabalhador. A regra que é aplicada ao tomador do serviço (construtora) é a mesma regra aplicada à empresa terceirizada e os empregados desta detém exatamente os mesmos direitos independentemente do empregador. Se todos os empregadores têm exatamente as mesmas regras a cumprir e as leis trabalhistas são as mesmas, porque a simples contratação de um empregado pela empresa A fará dele uma pessoa com menos direitos do empregado contratado pela empresa B? Qual a justificativa para essa conclusão? A resposta é: não há justificativa. A lei vale para todos. Portanto, terceirização não gera perda de direitos. 2.2 Terceirização tende a reduzir vagas :

4 Terceirização tende a reduzir vagas : incorreto. Se uma empresa necessita de dois empregados, a terceirização não vai fazer ela necessitar de um, pois o trabalho continua o mesmo. Se o mercado tem necessidade de um determinado número de trabalhadores, não importa quem será o empregador, o mercado continuará com a mesma demanda. Portanto, terceirização não reduz vagas, pois as vagas de trabalho dependem da necessidade do mercado. Havendo um posto de trabalho em uma empresa, não importa se ela contratará o empregado diretamente ou por meio de uma outra empresa terceirizada, o posto de trabalho continuará sendo um. Portanto, terceirização não reduz nem aumenta as vagas de emprego. 2.3 Terceirização tende [...] aumentar a rotatividade : Terceirização tende [...] aumentar a rotatividade : incorreto. Em verdade a terceirização diminui a rotatividade dos empregados, pois muitos dos trabalhos terceirizados, mesmo que inerentes à atividade fim do contratante, são temporários nas empresas e se o trabalhador pode migrar de forma descomplicada de uma empresa para outra (contratantes), conforme a necessidade momentânea de postos de trabalho do mercado, a sua vaga estará garantida e ele não vai precisar ficar passando por novas contratações. Ao ver deste parecerista, o item chave da discussão sobre o tema terceirização é a continuidade do trabalho, sendo que para isso se deve mirar o trabalho do empregado e não quem é o seu empregador. Conforme já se afirmou, as vagas de trabalho dependem da necessidade do mercado, sendo que a necessidade momentânea de uma empregadora é diferente da de outra. Cada empregador possui linhas de produção dos seus produtos, havendo necessidades diferentes para

5 cada momento da produção e os empregadores têm suas linhas de produção diferentes, com tempos diferentes e com necessidades diferentes. Se um empregado pertence ao quadro de uma empresa cuja necessidade do seu serviço cessou, ele será demitido, sacando seu FGTS e recebendo seguro desemprego, gerando custos para o Estado. Contudo, se um empregado pertence ao quadro de uma empresa de terceirização, que possui diversos clientes, e está alocado em uma empresa (contratante) cuja necessidade do seu serviço cessou, ele será remanejado para outra empresa que necessite do seu serviço, garantindo-se, assim, que ele continue empregado, gerando riquezas e não gerando custos aos cofres públicos. A terceirização possibilita a continuidade do emprego, sem rescisões de contratos de trabalho, o que nos parece bom. 2.4 Suposta desvalorização dos empregados: Terceirização tende [...] gerar, nos terceirizados, a percepção de que são trabalhadores de segunda linha e os desmotiva: argumento incorreto. Não se localizou qualquer pesquisa legítima para se poder chegar a essa conclusão. Ser contratado pela empresa A ou B gera no empregado uma sensação de desprezo? Se os direitos trabalhistas são respeitados, qual a diferença? Não há. Esse argumento é totalmente genérico, sem fundamento e desprovido de lógica.

6 O empregado contratado pela empresa A tem suas expectativas relacionadas ao seu empregador e não ao tomador do serviço. A terceirização decorre da necessidade momentânea de uma empresa ou da necessidade de desburocratização da sua atividade. Se o empregado está devidamente registrado e com seu salário e benefícios regulares, qual expectativa seria frustrada para gerar o sentimento de desvalorização? Nenhuma. Em verdade, a terceirização valoriza o empregado contratado, tendo em a terceirização se dá pela especialidade no serviço. O profissional alocado para desempenhar uma determinada função terceirizada demonstra que ele é um especialista no que faz. Portanto, a percepção não é de menosprezo, mas sim de valorização do profissional e de reconhecimento da sua especialidade. Assim, não há sustentação para o argumento contraposto. 2.5 Salários reduzidos: Terceirizados recebem salários mais baixos e têm menos benefícios: incorreto. Todo empregador deve respeitar o piso salarial da categoria a que o trabalhador se enquadra, bem como respeitar os benefícios negociados com o respectivo sindicato, o que não depende de quem é o empregador, ou seja, o trabalhador vai ter os mesmos benefícios e salários sendo contratado pela empresa A ou pela B. A regra básica de salário continua sendo a mesma: o melhor ganha mais. 2.6 Aumento dos acidentes de trabalho: Terceirizados sofrem mais acidentes de trabalho: incorreto. Os acidentes são relacionados ao risco da atividade e não com o fato de ser terceirizado.

7 Independentemente do empregador, as regras de segurança do trabalho são as mesmas. O risco da atividade laboral não será diferente se um empregado é contratado pela empresa A ou pela empresa B, valendo para ambas as mesmas regras de segurança. Assim, o argumento se mostra falho. 2.7 Suposto enfraquecimento dos sindicatos: Terceirização enfraquece sindicatos, tanto patronais como dos empregados: incorreto. Cada sindicato representa uma coletividade de uma determinada região geográfica, o que não muda se é terceirizado ou não, se tem mais empregadores ou não. Na verdade, quanto mais empregadores e mais trabalhadores, maior será a arrecadação do sindicato e mais forte ele será. Portanto, se um empregado é contratado pela empresa A ou pela empresa B ele ainda será vinculado ao mesmo sindicato. Considerando que os postos de trabalho são os mesmos, havendo ou não terceirização, a força dos sindicatos será exatamente a mesma. Assim, o argumento se mostra falho. 2.8 Terceirização supostamente gerará custo social enorme: Terceirização gerará custo social enorme: falso. Terceirização não gera custo social, pois tende a reduzir a rotatividade. A rotatividade é que gera alto custo social, pois a cada demissão: mais se paga seguro desemprego; há mais saques do FGTS, diminuindo-se o capital disponível para investimentos públicos; menor é a arrecadação de contribuição previdenciária e do FGTS;

8 maior é o sentimento de desgosto do empregado com a sua situação de desempregado, gerando depressão, mesmo que temporária; maior o custo com saúde, pois uma pessoa desempregada, desestimulada e ociosa tende a adoecer facilmente; etc. Ademais, a cada demissão os empregadores têm custos altíssimos em decorrência da indenização compensatória do FGTS e do aviso-prévio, que retira a capacidade de investimentos, de geração de outros empregos e de renda, diminuindo a arrecadação tributária. É curioso que no momento de ajuste fiscal que vive o Brasil, em que os governantes almejam gastar menos e arrecadar mais, priorize-se o combate ao que aumenta a arrecadação e diminui o gasto. Lembrando: pessoa empregada paga tributos e não utiliza benefícios previdenciários. Portanto, ao diminuir a rotatividade por meio da terceirização, está se reduzindo o custo social e não aumentando. 3. CONCLUSÃO Muito se critica, mas nada se prova: essa é a realidade no que tange ao debate sobre a terceirização. Não há argumentos contrários à terceirização que sejam plausíveis e defensáveis, a não ser ideologias que levam ao atraso social e econômico do povo brasileiro. O Estado deve parar de ser inimigo dos brasileiros. O Estado é temido ao invés de ser respeitado. A terceirização, em diversos segmentos, tende a reduzir a rotatividade de empregados, gerando estabilidade, reduzindo o pagamento de segurodesemprego, saques do FGTS, etc.

9 Diversas empresas terceirizam atividades que não são contínuas, mesmo que estejam relacionadas com a sua atividade-fim, a exemplo das construtoras. Uma construtora precisa de pedreiro, carpinteiro, servente, etc., para produzir o seu produto, mas o profissional não está presente em toda a cadeia produtiva e poucas construtoras têm continuidade de obras que justifiquem manter uma pessoa contratada, pois é difícil se manter obras diferentes em estágios diferentes continuamente. Mas, se o empregado é terceirizado, ele pode estar em um período em uma obra de uma construtora, outro período em outra obra da mesma ou de outra construtora e assim sucessivamente, não correndo o risco de ser demitido pelo fato de uma determinada obra estar em um estágio em que seu trabalho é desnecessário. Analisando-se pelo enfoque da continuidade, as terceirizações devem ser defendidas. Ademais, a livre iniciativa e a busca do pleno emprego, princípios protegidos pela Carta Constitucional de 1988 (artt. 1º, IV, e art. 170, caput, VIII), bem como o direito à propriedade privada e que tal propriedade exerça a sua função social (art. 170, II e III, da Constituição da República de 1988), demonstram que a vedação da terceirização é inconstitucional. Ao empregado deve ser assegurado o seu direito de ter seu contrato de trabalho registrado em sua CTPS, tem seu FGTS e contribuição previdenciária regularmente pagos, bem como que seus direitos trabalhistas sejam plenamente respeitados. Ocorre que não importa quem é seu empregador, os direitos e deveres são os mesmos, motivo pelo qual a terceirização não é um pesadelo, muito menos ilícita, devendo ser respeitada.

10 Cabe ao empresário escolher qual a melhor forma de desenvolver a sua atividade, sendo vedado ao Estado ditar a forma como o seu empreendimento será conduzido. Ao Estado cabe o dever de fiscalizar o cumprimento das regras e a punir os transgressores. Este é o parecer que encaminho à vossa apreciação, dispondome a sanar quaisquer dúvidas acerca da matéria. Florianópolis, 08 de agosto de LEANDRO SCHAPPO OAB/SC