Panorama da comercialização de laranja na CEAGESP de São Paulo

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1 Panorama da comercialização de laranja na CEAGESP de São Paulo Gabriel Vicente Bitencourt de Almeida 1 Fabiane Mendes da Camara 2 Priscilla Rocha Silva Fagundes 3 O Brasil possui o maior parque citrícola do mundo, com grande parte da produção voltada ao processamento industrial voltado à fabricação de suco concentrado direcionado preponderantemente à exportação. Ainda assim, estima-se que 20% da nossa produção seja voltado ao mercado de frutas frescas ou ao processamento artesanal ou semi artesanal de pequenas indústrias (Tabela 1). O Estado de São Paulo é disparadamente o maior produtor, colheu 13 milhões de toneladas em 2013, aproximadamente 75% da produção nacional (Tabela 1). E toda a laranja brasileira comercializada no Entreposto Terminal de São Paulo (ETSP), ou CEASA São Paulo, da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) tem como origem o interior de São Paulo. A laranja é a segunda fruta mais consumida in natura pelos brasileiros, de acordo com a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que abrange os anos de 2008 e A fruta cítrica só tem consumo menor que o de banana (17 kg per capita), e, segundo o instituto, cada brasileiro consumia, naquele período, pouco mais de 7,5 kg de laranja por ano. Os brasileiros do Sudeste consomem um pouco mais, por volta de 8 kg, e os campeões são os sulistas, com 9 kg per capita. Importante ressaltar que a POF levanta apenas o consumo realizado no domicilio. Mas sabe-se que grande parte da laranja comercializada fresca é voltada para suco servido em inúmeros serviços de alimentação fora de lar, como lanchonetes, restaurantes, padarias, ambulantes, entre tantos outros, mercado possivelmente maior que o domiciliar. A CEASA de São Paulo tem uma enorme representatividade na comercialização brasileira de laranja, entre 2007 e 2014, a participação do entreposto paulistano sobre a comercialização nacional tem variado entre 10,5 e 8% de tudo o que é comercializado no Brasil (Tabela 1). Por esta representatividade, a CEAGESP se torna um ótimo laboratório de observação das novas tendências de mercado. As variedades para suco, principalmente Pera, Valência e Natal, representam 85% do volume total de laranja comercializada CEAGESP, as outras variedades para suco só chegam ao mercado em período de escassez extrema. A Pera, por sua alta qualidade do suco, é a preferida do mercado de frutas frescas e apresenta um preço de venda 20% superior a Valência ou Natal, de tamanho e qualidade de casca semelhantes. As Limas, ou laranjas de baixa acidez, respondem por 13,5% do volume e as laranjas de umbigo, mais adequadas para o consumo como sobremesa e não como suco, por volta de 1,5% (Figura 4). A maioria da área cultivada foi formada para atender ao processamento, e a sobrevivência de grande parte dos citricultores depende da absorção de suas colheitas pela 1 Engenheiro agrônomo, Dr.; Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP); gabriel.bitencourt@gmail.com. 2 Engenheira de alimentos, M.Sc.; Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP); fabianecamera@gmail.com. 3 Engenheira agrônoma, M.Sc.; Instituto de Economia Agrícola; priscilla@iea.sp.gov.br. 1

2 indústria. Uma área muito menor de cultivo, com características diferentes em relação à produção de laranja para a indústria, conseguiria suprir o mercado de laranja in natura. A indústria é insubstituível na absorção da safra nos atuais patamares de área cultivada e produção. No início de cada ano, quando os pomares estão em entressafra, o volume de entrada e os preços nas CEASAs crescem, já que o calor do verão estimula o consumo de suco. A produção de laranjas de boa qualidade para o mercado durante os meses quentes do início do ano costuma ser um bom negócio (Figura 1). Ao contrário das variedades para suco, as laranjas de baixa acidez e as de umbigo são quase que totalmente voltadas para o mercado de frutas frescas. As diversas variedades de laranja Lima atendem os apreciadores do sabor sem acidez e de crianças e idosos. As laranjas de umbigo, principalmente a Baia e a Baianinha, são especiais para o consumo da polpa, ou seja, são frutas para serem consumidas principalmente como sobremesa ou lanche, um hábito que hoje diminuiu muito frente ao consumo de suco, já que é menos prático, exige uma faca, certo tempo para se descascar, e gera resíduos para serem descartados. Comer laranjas, no lugar de apenas tomar suco, é um hábito delicioso e muito saudável e deveria ser mais estimulado, já que fornece muito mais fibras, e a disponibilização do açúcar do suco para o organismo acontece de maneira mais lenta. As laranjas de umbigo são perfeitas para este fim, o sabor é ótimo, o bagaço macio e não possuem sementes. As limas têm o pico de oferta na CEAGESP no mês de agosto, todavia os preços mais baixos ocorrem normalmente em junho e julho, já que o frio e as férias escolares desestimulam o consumo (Figura 2). A Baia e a Baianinha possuem o ápice de oferta e produção em julho, justamente o mês de férias e temperaturas mais baixas, a junção da alta oferta com temperaturas baixas e férias escolares derrubam os preços. Estas características do mercado talvez possam indicar novas ideias de negócios. Uma seria o de laranjas semi processadas para facilitar o consumo in natura, já existem empresas vendendo frutas descascadas. Outra é o investimento em técnicas de pós-colheita ou de armazenagem, ou da manutenção de frutas por mais tempo na árvore para escapar dos períodos de alta oferta e preços mais baixos. Regiões mais quentes ou mais frias que as médias de São Paulo também poderiam pensar, respectivamente, em frutas precoces ou tardias para o mercado paulista. A formação de preços no mercado de frutas frescas não é explicada simplesmente por oferta e demanda, pois ocorrem grandes diferenças determinadas pelas características qualitativas. Na CEAGESP, como em outros locais de comercialização, isto ocorre em um mesmo dia de comercialização, sob a mesma condição de oferta e demanda. Para as laranjas, os fatores mais importantes para a obtenção de melhores preços são a variedade, o calibre (no geral, o mercado prefere frutas médias para grandes), a qualidade e a homogeneidade do trabalho de classificação (por tamanho e coloração de casca), a ausência de podridões e de defeitos de casca e, principalmente, a quantidade e a qualidade do suco. O projeto HortiEscolha apoio à tomada de decisão do serviço de alimentação escolar na escolha, aquisição, controle de qualidade e utilização de frutas e hortaliças frescas, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), é uma parceria entre a ESALQ/USP e a CEAGESP. O projeto possui o objetivo de ser uma ferramenta que simplifique a escolha e a aquisição, aumente a diversidade e garanta a qualidade das frutas e hortaliças frescas para os serviços de alimentação escolar. O HortiEscolha oferece informações da melhor época de compra da laranja, das variedades disponíveis, das classificações utilizadas (com a equivalência entre as diferentes denominações e uma característica mensurável), do custo-benefício de cada classificação (resultado dos índices de aproveitamento e valoração) e do padrão mínimo de qualidade 2

3 que deve ser exigido. A sua correta utilização garante que o produto comprado seja exatamente o recebido. Hoje, é muito comum na compra institucional o pagamento por um lote da classificação mais valorizada e o recebimento de um lote da classificação menos valorizada, uma diferença que pode chegar a mais de 100% do valor. Estas informações sobre a laranja estão compiladas na Ficha da Laranja do HortiEscolha e podem ser acessadas no seguinte link: Infelizmente, ainda boa parte da comercialização de laranjas é feita em embalagens do tipo M de madeira, retornáveis. Elas não obedecem às exigências das leis federal e do município de São Paulo. As embalagens de madeira não podem ser retornáveis porque não permitem a higienização. Elas não obedecem às regras legais de identificação e garantias do fabricante e de medidas paletizáveis. Mas, felizmente, embalagens de laranja estão mudando rapidamente. Observa--se, nos últimos tempos, a adoção por algumas empresas modernas embalagens de papelão ondulado ou plástico, os quais permitem uma logística mais eficiente, com carga e descarga palatizada e são preferidas pelos melhores compradores os, mais exigentes, mas também os que pagam um preço melhor pelo produto. 3

4 Figura 1 Sazonalidade versus preço das laranjas de suco na CEAGESP de São Paulo (média ponderada de 2007 a 2014; preços atualizados pelo IGP-DI da FGV para junho de 2015). Figura 2 - Sazonalidade versus preço das laranjas Lima na CEAGESP de São Paulo (média ponderada de 2007 a 2014; preços atualizados pelo IGP-DI da FGV para junho de 2015). 4

5 Figura 3 - Sazonalidade versus preço das laranjas de umbigo (Baia) na CEAGESP de São Paulo (média ponderada de 2007 a 2014; preços atualizados pelo IGP-DI da FGV para junho de 2015). Figura 4 Participação dos grupos varietais na comercialização de laranja na CEAGESP de São Paulo em

6 Tabela 2 Volume comercializado (em toneladas) de laranja de suco na CEAGESP de São Paulo. Ano/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total A cor laranja mais escura indica o mês de maior oferta em cada ano. Tabela 3 Volume comercializado (em toneladas) de laranja Lima na CEAGESP de São Paulo. Ano/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total A cor laranja mais escura indica o mês de maior oferta em cada ano. 6

7 Tabela 4 Volume comercializado (em toneladas) de laranja de umbigo (Baia) na CEAGESP de São Paulo. Ano/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total A cor laranja mais escura indica o mês de maior oferta em cada ano. Tabela 5 Preço médio (R$/kg) para as laranjas de suco na CEAGESP de São Paulo. Ano/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez ,33 1,55 1,69 1,51 1,27 0,97 0,94 1,02 1,02 1,15 1,44 1, ,36 1,43 1,55 1,45 1,09 0,96 0,94 0,89 0,92 1,01 0,97 1, ,99 1,00 1,09 0,98 0,94 0,90 0,83 0,95 0,89 0,89 1,04 0, ,96 1,52 1,83 1,52 1,25 1,17 1,16 1,19 1,38 1,40 1,35 1, ,36 1,61 1,69 1,55 1,19 1,06 1,11 1,10 1,06 1,10 1,18 1, ,94 0,96 1,08 1,10 0,95 0,84 0,88 0,96 1,14 1,08 1,19 1, ,07 1,19 1,20 1,10 1,16 0,97 0,99 1,06 1,10 1,10 1,12 1, ,28 1,56 1,66 1,46 1,22 1,07 1,32 1,58 1,55 1,35 1,43 1, ,31 1,31 1,35 1,22 1,16 1,18 1,06 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 A cor laranja mais escura indica o mês de maior preço em cada ano Preços atualizados para junho de 2015 pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas 7

8 Tabela 6 Preço médio (R$/kg) para as laranjas Lima na CEAGESP de São Paulo. Ano/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez ,15 2,32 1,84 1,23 0,91 0,84 0,92 1,01 1,24 1,49 2,00 1, ,06 1,78 1,51 1,09 0,87 0,78 0,83 0,81 0,88 0,97 1,04 1, ,65 1,54 1,34 0,95 0,73 0,71 0,66 0,85 0,92 1,02 1,26 1, ,21 2,88 1,74 1,16 1,02 0,97 1,19 1,30 1,76 2,02 1,76 2, ,99 2,70 2,21 1,36 0,97 0,83 0,93 0,98 1,03 1,24 1,38 1, ,28 1,31 1,24 1,04 0,93 0,81 0,77 0,88 1,24 1,32 1,39 1, ,11 2,35 2,44 1,56 1,22 1,01 0,99 1,20 1,65 1,98 2,16 2, ,96 3,15 2,38 1,72 1,53 1,22 1,38 1,82 1,93 2,06 2,62 2, ,76 2,72 2,40 2,13 1,45 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 A cor laranja mais escura indica o mês de maior preço em cada ano Preços atualizados para junho de 2015 pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas Tabela 7 Preço médio (R$/kg) para as laranjas de umbigo (Baia) na CEAGESP de São Paulo. Ano/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez ,43 2,07 1,65 1,18 0,90 0,81 0,89 1,02 1,60 1,93 2,34 0, ,23 1,90 1,71 1,31 0,97 0,88 0,89 0,91 1,00 1,37 1,54 1, ,66 1,65 1,41 1,00 0,75 0,77 0,74 1,22 1,56 1,82 2,23 3, ,55 2,20 1,78 1,21 1,05 1,12 1,31 1,56 2,26 3,58 3,48 3, ,35 2,85 2,92 1,63 0,95 0,91 0,96 1,09 1,35 1,98 2,81 3, ,84 2,51 1,63 1,23 1,09 0,89 0,86 1,06 1,64 1,71 2,93 2, ,34 2,66 2,63 1,45 1,14 0,97 0,98 1,30 1,87 2,89 3,56 3, ,70 2,69 2,22 1,65 1,43 1,11 1,44 1,65 2,07 2,69 3,27 3, ,51 0,00 2,17 1,98 1,52 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 A cor laranja mais escura indica o mês de maior preço em cada ano Preços atualizados para junho de 2015 pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas 8