APELANTE:SINDICATO DOS DESPACHANTES ADUANEIROS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Transcrição

1 TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIAO PELAÇÃO CÍVEL Nº /RS RELATORA:DES. FEDERAL MARIA DE FÁTIMA FREITAS LABARRÈRE APELANTE:SINDICATO DOS DESPACHANTES ADUANEIROS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ADVOGADO:ADELINO SOMAVILLA APELADO:UNIÃO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL) ADVOGADO:PROCURADORIA-REGIONAL DA FAZENDA NACIONAL EMENTA TRIBUTÁRIO. SINDICATO. IMPOSTO DE RENDA. PESSOA FÍSICA. DEDUÇÃO DO VALOR RELATIVO ÀS CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS AO SINDICATO DOS DESPACHANTES ADUANEIROS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. 1. O imposto de renda incide sobre o rendimento bruto auferido pelo contribuinte, nos termos do art. 3º da Lei n 7.713/ Não existe previsão legal autorizando a dedução do valor pago como contribuição para o sindicato dos despachantes aduaneiros da base de cálculo do imposto de renda incidente sobre os honorários percebidos por estes profissionais (TRF4, AC , Primeira Turma, Relator Marcelo de Nardi, D.E. 03/02/2009). ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 1ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Porto Alegre, 19 de maio de Des. Federal Maria de Fátima Freitas Labarrère Relatora APELAÇÃO CÍVEL Nº /RS RELATORA:Des. Federal MARIA DE FÁTIMA FREITAS LABARRÈRE APELANTE:SINDICATO DOS DESPACHANTES ADUANEIROS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

2 ADVOGADO:Adelino Somavilla APELADO :UNIÃO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL) ADVOGADO:Procuradoria-Regional da Fazenda Nacional RELATÓRIO Trata-se de ação ordinária ajuizada pelo SINDICATO DOS DESPACHANTES ADUANEIROS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, na defesa dos direitos e interesses de seus associados, contra a União Federal, objetivando o reconhecimento do direito de deduzir da base de cálculo do imposto de renda, o valor das contribuições devidas ao Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Estado do Rio Grande do Sul, incidente sobre honorários profissionais. Afirma que os 10% da contribuição estatuária não adentrou no bolso do Despachante, nem teve qualquer repercussão em seu patrimônio; já ficou retido no próprio Sindicato, numa garantia do interesse tributário, inclusive sobre a retenção do Imposto de Renda na Fonte, portanto não cabe a tributação pelos Despachantes de parcelas que sequer receberam (fls ). Devidamente instruído o feito, foi prolatada sentença, julgando improcedente o pedido do autor, sob o fundamento de que, "é legítima a incidência do imposto de renda sobre a contribuição paga pelos filiados ao sindicato". Em decorrência, condenou o autor ao pagamento dos honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da causa, corrigidos pela variação do INPC à época do ajuizamento da execução (fls ). Em suas razões de apelação, o autor afirmou que, para a legislação fiscal, o rendimento é o valor que ingressa definitivamente no patrimônio do contribuinte, em decorrência de uma operação ou de um serviço prestado. Afirma que os 10% retidos pelo sindicato, sequer são recebidos pelos Despachantes representados (fls ). Após a União Federal apresentar contrarrazões (fls ), vieram os autos conclusos a esta Corte. É o relatório VOTO O juízo "a quo" assim solucionou a controvérsia (fls ):

3 Trata-se de ação de rito ordinário na qual o autor pretende que se reconheça a inexistência de relação jurídico-tributária que determine a exigência do Imposto de Renda sobre a parcela de 10% (dez por cento) que retém do valor dos honorários que repassa a seus filiados a título de contribuição estatutária. Assim dispõe a norma de regência (CTN, artigo 43): "Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos;" Nesse passo, os honorários que os despachantes aduaneiros auferem dos tomadores de seus serviços por intermédio da entidade sindical implicam evidente acréscimo patrimonial, nos precisos termos da norma tributária antes referida. A retenção de parcela da remuneração pelo sindicato, em decorrência de disposição estatutária, em nada altera o vínculo que se estabelece entre o fisco e o contribuinte. Tampouco tem o condão de alterar a base de cálculo do tributo, prevista no artigo 3º da Lei nº 7.713, de 1998, verbis: "Art. 3º O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem qualquer dedução, ressalvado o disposto nos arts. 9º a 14 desta Lei. 1º Constituem rendimento bruto todo o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos, os alimentos e pensões percebidos em dinheiro, e ainda os proventos de qualquer natureza, assim também entendidos os acréscimos patrimoniais não correspondentes aos rendimentos declarados. (...) 4º A tributação independe da denominação dos rendimentos, títulos ou direitos, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem dos bens produtores da renda, e da forma de percepção das rendas ou proventos, bastando, para a incidência do imposto, o benefício do contribuinte por qualquer forma e a qualquer título." Ora, a hipótese dos autos não se enquadra nas situações aventadas nos artigos 9º a 14 da citada lei. A leitura do artigo 719 do Regulamento do Imposto de Renda, de outra banda, revela que a participação em sindicato não é necessária à percepção dos rendimentos pelo despachante, existindo a possibilidade de este receber o pagamento diretamente de outra pessoa jurídica. O que existe, sim, é a responsabilidade da fonte pagadora, seja sindicato ou não, pela retenção e pelo recolhimento do imposto: "Art Os honorários profissionais dos despachantes aduaneiros autônomos, relativos à execução dos serviços de desembaraço e despacho de mercadorias

4 importadas e exportadas e em toda e qualquer outra operação do comércio exterior, realizada por qualquer via, inclusive no desembaraço de bagagem de passageiros, serão recolhidos, ressalvado o direito de livre sindicalização, por intermédio da entidade de classe com jurisdição em sua região de trabalho, a qual efetuará a correspondente retenção e o recolhimento do imposto na fonte (Decreto- Lei nº 2.472, de 1º de setembro de 1988, art. 5º, 2º). Parágrafo único. No caso de despachante aduaneiro que não seja sindicalizado, compete à pessoa jurídica que efetuar o pagamento dos honorários, a retenção e o recolhimento do imposto devido." Aliás, nem poderia ser diferente, pois a associação sindical é livre, de tal modo que ninguém pode ser forçado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato (CF, art. 8º, inciso V). É dizer, nem mesmo a lei poderia exigir a filiação para que o profissional auferisse seus rendimentos. Por conseguinte, a contribuição estatutária em comento não é dedutível da base de cálculo, nos termos do artigo 75 do Decreto nº 3.000, de 1999, verbis: "Art. 75. O contribuinte que perceber rendimentos do trabalho não-assalariado, inclusive os titulares dos serviços notariais e de registro, a que se refere o art. 236 da Constituição, e os leiloeiros, poderão deduzir, da receita decorrente do exercício da respectiva atividade (Lei nº 8.134, de 1990, art. 6º, e Lei nº 9.250, de 1995, art. 4º, inciso I): I - a remuneração paga a terceiros, desde que com vínculo empregatício, e os encargos trabalhistas e previdenciários; II - os emolumentos pagos a terceiros; III - as despesas de custeio pagas, necessárias à percepção da receita e à manutenção da fonte produtora." Isso porque decorre da opção do despachante pela filiação ao sindicato e de sua consequente adesão aos termos do estatuto da entidade. Do mesmo modo, a dedução da contribuição diretamente dos honorários decorre de ajuste entre o sindicato e o associado, assim como poderia ser acordado o pagamento mediante pagamento em dinheiro, por boleto bancário ou outra forma de quitação. Ou seja, pode-se concluir que o rendimento ingressa no patrimônio do contribuinte e é por ele utilizado pra arcar com obrigações assumidas. Ao analisar a questão, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu que a verba discutida é tributável. Acompanhe-se (AC , Marcelo De Nardi, 2009): "TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. DESPACHANTE ADUADEIRO. DEDUÇÃO DO VALOR RELATIVO ÀS CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS AO SINDICATO DOS DESPACHANTES ADUANEIROS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. 1. O imposto de renda incide sobre o rendimento bruto auferido pelo contribuinte, nos termos do art. 3º da L 7.713/1988.

5 2. Não existe previsão legal autorizando a dedução do valor pago como contribuição para o sindicato dos despachantes aduaneiros da base de cálculo do imposto de renda incidente sobre os honorários percebidos por estes profissionais. 3. Somente é possível a dedução das contribuições quando a participação nas entidades sindicais seja necessária à percepção do rendimento. 4. A associação ao sindicato de classe não é requisito indispensável ao recebimento dos honorários pelos despachantes aduaneiros." Dessa forma, é legítima a incidência do imposto sobre a contribuição paga pelos filiados ao sindicato autor. Mantenho a bem lançada sentença acolhendos seus fundamentos. Percebe-se que, nos termos do art. 3 da Lei n 7.713/88, o imposto de renda incidirá sobre o rendimento bruto auferido pelo contribuinte. Em que pese a alegação de ilegalidade da incidência de imposto de renda sobre o valor de 10% referente à contribuição retida pelo sindicato, inexiste previsão legal que autorize a dedução do valor pago a título de contribuição/mensalidade para o sindicato dos despachantes aduaneiros da base de cálculo do imposto de renda. Portanto, o imposto de renda incidirá sobre o total de rendimento bruto recebido pelo contribuinte, independentemente da retenção feita pelo sindicato no valor de 10% sobre os honorários pagos aos filiados. Ante o exposto, voto por negar provimento à apelação. Des. Federal Maria de Fátima Freitas Labarrère Relatora EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 19/05/2010 APELAÇÃO CÍVEL Nº /RS ORIGEM: RS RELATOR :Des. Federal MARIA DE FÁTIMA FREITAS LABARRÈRE PRESIDENTE:JOEL ILAN PACIORNIK PROCURADOR:Dra Andrea Falcão de Moreas APELANTE:SINDICATO DOS DESPACHANTES ADUANEIROS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ADVOGADO:Adelino Somavilla

6 APELADO :UNIÃO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL) ADVOGADO:Procuradoria-Regional da Fazenda Nacional Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 19/05/2010, na seqüência 73, disponibilizada no DE de 05/05/2010, da qual foi intimado(a) UNIÃO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL), o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL e as demais PROCURADORIAS FEDERAIS. Certifico que o(a) 1ª TURMA, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A TURMA, POR UNANIMIDADE, DECIDIU NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO. RELATOR ACÓRDÃO : Des. Federal MARIA DE FÁTIMA FREITAS LABARRÈRE VOTANTE(S) : Des. Federal MARIA DE FÁTIMA FREITAS LABARRÈRE : Des. Federal OTÁVIO ROBERTO PAMPLONA : Des. Federal JOEL ILAN PACIORNIK LEANDRO BRATKOWSKI ALVES Diretor de Secretaria Documento eletrônico assinado digitalmente por LEANDRO BRATKOWSKI ALVES, Diretor de Secretaria, conforme MP nº /2001 de 24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, e a Resolução nº 61/2007, publicada no Diário Eletrônico da 4a Região nº 295 de 24/12/2007. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico mediante o preenchimento do código verificador v1 e, se solicitado, do código CRC FD1132AB. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): LEANDRO BRATKOWSKI ALVES:11368 Nº de Série do Certificado: 4435E97E Data e Hora: 21/05/ :30:04