NERINT. Chesneaux, Jean. A Asia Oriental nos Séculos XIX e XX; São Paulo. Ed. Pioneira, Resenhado por Matheus Ranzan 1
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- Fábio Nunes Soares
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1 Chesneaux, Jean. A Asia Oriental nos Séculos XIX e XX; São Paulo. Ed. Pioneira, Resenhado por Matheus Ranzan 1 Jean Chesneaux ( ), historiador e militante político, foi professor da Universidade de Paris VII e da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais. Dedicou-se a atividades políticas, sendo membro do partido comunista francês e presidente do Greenpeace da França entre 1997 e Especializado em estudos asiáticos (principalmente Vietnam e China) escreveu este clássico da historiografia ocidental sobre a Ásia em 1966, tornando-se uma referência para quem vai iniciar estudos sobre a região por causa de sua abrangência, da quantidade e qualidade das fontes utilizadas, contribuindo e orientando para o avanço de pesquisas a respeito do continente. Dividido em três partes o livro procura expor as questões que envolveram a evolução política, social e econômica dos países localizados na Ásia oriental e meridional Índia, Paquistão, Ceilão, Sudeste Asiático, China, Mongólia, Coréia e Japão entre os anos de 1820 e A análise inicial do livro versa a respeito da expansão ocidental sobre a Ásia, com a constituição de Impérios Coloniais na medida em que crescia a necessidade de um mercado mais integrado e termina com a realização da Conferência de Bandung, marco para a criação de uma força autônoma em relação ao ocidente que durante muito tempo se impôs na região e controlou o desenvolvimento de suas respectivas colônias. Ainda na introdução o autor destaca a dificuldade de se estudar a história do continente asiático por causa da falta de um diálogo profundo entre a historiografia ocidental e oriental, fato que prejudica uma melhor elucidação das hipóteses trabalhadas pelos historiadores. Na primeira parte do livro, em uma perspectiva cronológica, Chesneaux explora a construção e a consolidação dos Impérios Coloniais na região, abordando as sociedades tradicionais e as transformações pelas quais foram obrigadas a passar para se adequar as novas exigências do ocidente e como foram estabelecidos os tratados que iriam determinar as vantagens para os capitais metropolitanos. Sempre levando em consideração a conjuntura internacional, é analisado o impacto que representaram para os países orientais as novas ideologias liberais que surgiam nos países imperialistas (em 1 Graduando de História na UFRGS, Bolsista voluntário no NERINT/CESUL. 1
2 especial França, Inglaterra e Holanda). Também são expostas as formas de inserção dos produtos asiáticos no mercado internacional através das Cias das Índias e a forma gradual com que o capital financeiro se estabeleceu nos países orientais e forçou o abandono por parte do Estado da exploração monopolista. Segundo o autor, em uma primeira fase de dominação os países imperialistas conseguem conservar o essencial da sociedade tradicional mantendo a elite, que não se rebelou, em uma posição privilegiada conseguindo apoio para a implantação de seus projetos. Além disso, os ocidentais reformaram o sistema de ensino rompendo com o passado nacional e oficializando o idioma da metrópole para ser ensinado nas escolas. Em uma segunda fase de dominação, as metrópoles passam a ter uma maior preocupação em garantir o retorno dos investimentos feitos em suas colônias, deixando para trás ideologias como a do laisser-faire e buscando manter o comercio exterior como peça principal da economia colonial. Chesneaux aborda as rivalidades existentes entre os países asiáticos, mostrando como essas questões direcionaram os rumos do continente durante o seculos XIX e XX. As indústrias nacionais são raras nesse momento, cresce a necessidade de serviços especializados e o capital metropolitano realiza maiores investimentos privados nas colônias, fato que incita as metrópoles a exigirem dos Estados um maior controle administrativo, o que leva a uma participação maior de uma nova classe de inteligência moderna. Em seguida o autor explora os principais fatos históricos dos países orientais, começando pelo Japão por ser considerado um modelo que os outros países asiáticos vão tentar imitar, por causa do elevado grau de desenvolvimento técnico que o país alcançou ainda no começo do século XX, conseguindo se tornar uma potencia oriental. Ao mesmo tempo em que Chesneaux confirma a Revolução Meiji como essencial para o crescimento Japonês, a considera uma revolução superficial, uma vez que não substituiu a base social do Estado Japonês, somente a tornou mais ampla. O autor demonstra como a guerra do ópio causou grandes modificações no cenário político e social chinês, levando a diversas insurreições por parte do campesinato que se opunham aos governos imperialistas e como alguns revoltosos tentaram estabelecer uma espécie de comunismo agrário, forçando uma ajuda militar por parte do ocidente para conseguir conter as revoltas. Para o autor a modernização na China ocorre por alto, levando importantes camadas da sociedade a reivindicarem mudanças, como a instalação da república, fato que vai ocorrer em Contudo mudanças mais significativas na sociedade são impedidas por parte dos militares que apoiaram o movimento, o que vai agradar a gentry rural, sustentáculo do novo governo. Para ele a questão agrária é essencial para entender as revoluções chinesas no século XX, uma vez que este é o principal fator de insatisfação da população. 2
3 A situação do campesinato indiano não é muito diferente, pois a miséria, a exploração por parte dos landlords e o elevado número de impostos acabam por impulsionar diversas agitações de cunho popular e agrário. Enquanto isso o incipiente proletariado industrial, formado a partir de setores em crescimento da economia colonial começam as suas reivindicações, responsáveis por introduzir importantes reformas sociais no país. Personalidades como Rammohun Roy o Pai da Índia Moderna são importantes para entender esses processos de mudanças, porque é parte da nova classe de indianos esclarecidos. Os países do sudeste asiático, como o Sião, Birmânia, Indonésia e Indochina Francesa (Vietnam) também foram alvos de invasões imperialistas que resultaram em diversos movimentos oposicionistas, primeiramente por parte da elite e depois dos movimentos de caráter popular e regional que não se expandiam para outras províncias e conseqüentemente não conseguiam expandir a luta - alguns desses movimentos tinham tendência religiosa nacionalista. O surgimento de novas classes, fruto da adaptação ao sistema colonial, que buscam a modernização e o progresso do tipo ocidental para seus países de forma independente, gerou uma violenta reação imperialista que prende e elimina as lideranças ao mesmo tempo em que faz algumas concessões para agradar aos moderados. A segunda guerra mundial começou a dar seus primeiros sinais na região ainda em 1937, oriundas das divergências sino-japonesas e se completa com o ataque japonês a Pearl Harbor, inserindo a Ásia no conflito internacional. Porém em 1939 as potências ocidentais já obrigaram suas colônias a aderirem a uma economia de guerra, levando a uma maior concentração de riquezas nas mãos de poucas famílias em países como a Índia, Japão e China. As repercussões políticas da guerra na região são o aumento dos movimentos nacionais de libertação, fortalecendo iniciativas nacionalistas como o Partido do Congresso na Índia, ou os comunistas chineses, que saíram da guerra considerados os grandes vencedores contra o Japão. Após 1945 os EUA intensificam suas ações na região com o objetivo de impedir o avanço do comunismo, cedendo ajuda política e econômica. Criou um bloco militar para a região, a OTASE, no qual poucos países aderiram. Quando achava necessário, o governo americano intervinha militarmente como foram os casos da Coréia e do Vietnam. Contudo isso não foi suficiente para impedir que o maior país asiático de tornar-se comunista em 1949, fazendo os EUA avançar em sua política para a região. Com a ascendência da guerra fria, alguns países se ligaram ao bloco comunista e outros aos ocidentais, mas alguns líderes como Nehru e Sukarno tiveram a iniciativa de criar um bloco de não-alinhados defensores de uma política de não engajamento e de coexistência pacifica, que resultou na Conferência de Bandung em Até este 3
4 evento muitos territórios coloniais haviam alcançado suas independências perante as potencias ocidentais, ainda que existissem laços econômicos entre colônia e metrópole. Na segunda parte do livro, com uma orientação mais temática, Chesneaux aborda novas perspectivas para a história da Ásia, pois a partir dos movimentos de libertação nacionais existe uma maior politização da população que vai resultar em um maior engajamento na busca de mudanças. Através de uma análise que aborda os modos de produção dos paises asiáticos, desde o período de dominação ocidental até Bandung, o autor tenta definir características para um Estado que teve que passar de uma economia tradicional, focada na propriedade rural e no pequeno artesanato para uma economia do tipo moderna, com um Estado forte e capaz de intervir quando necessário. A indústria pesada não foi incentivada para se desenvolver na região, enquanto a indústria leve estava sujeita a diversas flutuações por causa de seu capital misto. Pequenas atividades agrícolas asseguravam a alimentação dos mais pobres, contudo essa economia informal não vivia isolada de seu contexto nacional e por isso não resistiu em muitos lugares. A monetarização dessas economias ampliou as diferenças entre pobres e ricos, enquanto o endividamento dos Estados era muito grande, por causa de empréstimos feitos para investimentos em setores não produtivos, mas que favoreceram as Cias metropolitanas. Também existiu uma grande desigualdade entre o crescimento econômico de zonas industriais e do restante do país. Procurando estabelecer para onde foi à elite que ocupava postos de comando antes da chegada dos ocidentais, o autor mostra as transformações sociais pelas quais passaram os países asiáticos, marcados pela quebra da hierarquia tradicional e a ascensão de novas classes ligadas à nova ordem que se estabelecia. Segundo o autor a antiga aristocracia havia educado seus filhos para serem à nova inteligência moderna e militantes políticos, capazes de interferir no rumo nacional. Diante dessas mudanças, os movimentos sociais ligados ao campo passaram a realizar revoltas de caráter espontâneo e anárquico, visando atacar ao Estado e grandes proprietários. É importante salientar que as estruturas sociais não definharam de modo homogêneo por toda a Ásia, pois no século XX a estrutura de castas ainda encontrava-se forte na Índia, enquanto no Japão os samurais já se encontravam em número bastante reduzido. Apesar das antigas estruturas remanescerem em alguns pontos, o sistema econômico ao qual representavam não existia mais. Por fim, na terceira parte do livro o autor traz uma variada, embora já antiquada, bibliografia com fontes para pesquisa sobre a Ásia, desde livros, periódicos, documentos oficiais, textos de dirigentes políticos entre outros, para cada um dos países trabalhados, enriquecendo ainda mais o livro e ressaltando seu caráter introdutório sobre estudos da região. Antes de citar as fontes, Chesneaux justifica seus usos e quando 4
5 convém realiza uma crítica sobre o material, como no caso de uso dos documentos oficiais. Apesar de ser um livro genérico por tratar de muitos países em um amplo período histórico, o autor consegue compactar as informações, deixando uma idéia geral dos acontecimentos. Ainda que tenha sido escrito há mais de 40 anos o livro é uma boa referência para aqueles, acadêmicos ou não, que tenha interesse em ampliar seus conhecimentos sobre a história da Ásia oriental. 5
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