O Desenvolvimento Regional como Dinamizador da Recuperação Económica
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- Lúcia Guterres de Abreu
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1 PSD da Cidade do Porto XXXV Congresso Nacional do PSD Proposta Temática O Desenvolvimento Regional como Dinamizador da Recuperação Económica O nosso país conhece significativos desequilíbrios territoriais nas oportunidades de crescimento e de desenvolvimento: Portugal 2020 garante o pleno aproveitamento das potencialidades e a tendencial correção das assimetrias territoriais. Portugal Acordo de Parceria Fevereiro de 2014
2 1. O Desenvolvimento Regional como dinamizador da Recuperação Económica Os profundos desequilíbrios da economia portuguesa, ignorados e, em muitos casos, profundamente agravados pela atuação de sucessivos Governos socialistas, culminaram, em 2011, num pedido de auxílio externo e na necessidade de cumprir um Programa de Assistência Económica e Financeira que, numa primeira fase, se centrou na necessária reposição de condições mínimas de financiamento à economia e ao Estado e na recuperação da imagem e da credibilidade externa de Portugal. É certo que o processo de ajustamento estrutural da economia e, sobretudo, do Estado, ainda se encontra em curso, estando longe de se poder considerar terminado. Porém, o País encontra-se, agora, em condições de delinear e prosseguir uma estratégia de recuperação sustentada do país, capaz de gerar crescimento e emprego, garantindo que esse crescimento e emprego assentam, não em dívida e défice, como aconteceu no passado, mas numa base sólida que é a atividade produtiva ligada aos setores exportadores. Ora uma política orientada para este conceito obriga a olhar para as regiões e para o seu potencial de criar riqueza segundo este conceito, e não mais pela capacidade de despesa mascarada de rendimento, sustentada em recurso a crédito. De facto não é normal que a região mais pobre de Portugal seja a que gera maior contributo positivo para a balança de transações correntes, com o balanço mais negativo a acontecer na região mais rica (o que realça a importância das commodities de serviços não transacionáveis e protegidos). Isto leva-nos aos conceitos da espacialização inteligente das regiões, que mais não é do que explorar da forma mais racional o potencial produtivo e exportador de cada região. O paradigma da especialização inteligente advoga que, para que as políticas de inovação tenham impactos visíveis na competitividade e, por conseguinte, no crescimento económico e no emprego, é fundamental o alinhamento com os recursos e ativos distintivos de cada região. A especialização Inteligente parte do princípio basilar de que o posicionamento competitivo das regiões se deve, inexoravelmente, fundar nas respetivas características e ativos existentes no território. Cabe às regiões definir uma estratégia de I&D e Inovação que concentre os seus recursos num número limitado de prioridades, relativamente às quais, seja possível reunir massa crítica, globalmente, competitiva. A especialização inteligente deve fundar-se no potencial das regiões e esse potencial advém da existência de recursos e ativos com características de inimitabilidade e de não transferência, sobre os quais possam ser criados bens e serviços transacionáveis e construídas vantagens competitivas. Estes recursos e ativos podem ser tecnológicos (conhecimento analítico e sintético) ou não tecnológicos (por exemplo, conhecimento e capital simbólicos). A base empresarial inclui as empresas e as infraestruturas de suporte à competitividade que promovem a integração do conhecimento com as necessidades do mercado. 2
3 2. A Inexistência de Políticas de Desenvolvimento Regional de base territorial: Breve diagnóstico São muitos os diagnósticos efetuados à economia portuguesa que apontam para a falta de uma efetiva política de desenvolvimento regional de base territorial como um dos principais responsáveis pela divergência económica do País face aos nossos principais parceiros europeus. Porém, é particularmente relevante destacar que é o próprio Acordo de Parceria Portugal 2020, proposto pelo Governo nacional à Comissão Europeia, que reconhece os significativos desequilíbrios territoriais nas oportunidades de crescimento e de desenvolvimento e assume, de forma estratégica, que o Portugal 2020 irá garantir o pleno aproveitamento das potencialidades e a tendencial correção das assimetrias territoriais. Em concreto, e analisando de forma particular a evolução recente da Região Norte, verifica-se que o fenómeno de dupla divergência da Região face ao País e à União Europeia, verificado essencialmente nos primeiros anos da década iniciada no ano 2000, deu lugar a um processo de ligeira convergência com a média nacional. NUTS I Continente Portugal NUTS II Total Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve R. A. dos Açores R. A. da Madeira Ano / Year Po Pe Fonte: Contas Nacionais Regionais, INE 3
4 Fonte: Contas Nacionais Regionais, INE A Região Norte é a região com maior orientação exportadora, representando, em 2011, cerca de 39% das exportações de bens e contribuindo para a respetiva balança comercial com um excedente de cerca de 3,5 mil milhões de euros e é, também, a região com maior intensidade exportadora (27%do peso das exportações no respetivo PIB). A resiliência da economia da Região Norte e a clara evidência de um processo de profunda transformação da sua estrutura socioeconómica, que se traduz, entre outros aspetos, no facto de estarmos perante a economia regional que gera o maior excedente da sua Balança de Transações Correntes, não consegue escamotear o profundo fosso que a separa da Região mais rica de Portugal. Fonte: Contas Nacionais Regionais, INE A inexistência, no passado, de um efetiva política de desenvolvimento de base regional, aplicada e gerida localmente, é um fator que explica a divergência entre aquela que é a objetiva disparidade entre os níveis de riqueza das regiões e a sua estrutura produtiva. A esta omissão estratégica somou-se, ao longo dos anos, e 4
5 com especial incidência no último programa quadro, um contínuo desvio de fundos europeus destinados às regiões de convergência, para a Região de Lisboa. Para tal, recorreu-se ao que se designa por efeito difusor ( spillover effect ), que permite entregar à Região de Lisboa fundos destinados a outras regiões, desde que essas verbas sejam aplicadas em projetos de alegado interesse nacional. Alguns exemplos destes projetos foram a aplicação de um sistema de gestão documental, o portal do Ministério do Trabalho e Segurança Social, a excelência e sistema de qualidade certificado na norma ISSO 9001, entre outros. 3. Enquadramento europeu das políticas de desenvolvimento regional e a importância da definição de Estratégias de Especialização Inteligente O enquadramento estratégico suprarregional encontra-se definido na Estratégia Europa Aliás, o desenvolvimento de estratégias de especialização inteligente é uma condição ex-ante para o próximo período de programação estratégica europeu. Deste modo, os Estados-Membros e as regio es da UE esta o obrigados a ter estrate gias em vigor antes de os seus Programas Operacionais de apoio a estes investimentos poderem ser aprovados. As Estratégias Regionais de Especialização Inteligente tem por base o princípio de que a inovação e a competitividade das regiões residem nos seus recursos e ativos endógenos, e advogam a necessidade de concentrar recursos nos domínios e atividades económicas em que exista ou possa reunir-se massa crítica relevante, capaz de reforçar o posicionamento competitivo regional no mercado global. A Comissão estabelece ainda uma orientação clara, no que diz respeito ao processo de elaboração das estrate gias de especialização inteligente. Este tem de ser interativo, orientado para as regio es e baseado no consenso, considerando-se extremamente importante que todos os parceiros estejam plenamente envolvidos no desenvolvimento, na implementaça o e no acompanhamento destas estrate gias. Por outro lado, é especificamente identificada a necessidade de assegurar que os instrumentos polı ticos disponı veis num determinado ambiente regional se revelem e icazes para atingir as metas polı ticas globais, ajudem as empresas e alavanquem o investimento privado. Importa ainda fazer uma referência ao novo programa quadro Horizonte 2020, o qual foi elaborado tendo por base o conceito de especialização inteligente regional e vem, por isso, definir uma estratégia em que cada região desenvolva um plano estratégico, em conjunto com as empresas, as universidades, etc., de modo a apostar nos setores com um potencial mais elevado. 5
6 4. Enquadramento nacional das políticas de desenvolvimento regional - Portugal 2020 Em especial, o Portugal 2020 assume-se como o instrumento essencial de apoio ao desenvolvimento do País e à correção das assimetrias regionais que ainda persistem. Este Acordo adota os princípios de programação da Estratégia Europa 2020 e consagra a política de desenvolvimento económico, social, ambiental e territorial que estimulará o crescimento e a criação de emprego nos próximos anos em Portugal. A Proposta do Governo prevê, entre outros aspetos, um reforço dos PO Regionais (25% para o PO Norte) e, ainda, 40% de todo o pacote para a Competitividade e Internacionalização. A proposta de Acordo de Parceria, não só reconhece a necessidade de desenvolver políticas de desenvolvimento regional de base regional, assente no tecido empresarial, na competitividade e na capacidade de internacionalização das Regiões, como prevê uma alocação financeira que reflete essas prioridades estratégicas. Fonte: Portugal
7 4. A missão do Porto e da Região Norte é clara: Liderar o processo de convergência económica e social O Norte está a desenvolver uma estratégia de especialização inteligente que resulta de um processo de diagnóstico e de auscultação dos stakeholders regionais e está preparado para cumprir a sua incontornável missão, liderando o processo de convergência e económica e social que terá de marcar o novo ciclo de programação estratégica até No Acordo de Parceria proposto à Comissão Europeia, o Governo de Portugal não só reconhece essa realidade como estabelece um envelope financeiro que ascende, no caso do PO Regional, que supera os 3,3 mil milhões de euros e representa um importante instrumento de alavancagem de todo um potencial regional essencial para o regresso do País a um caminho de crescimento, de geração de emprego e de convergência real. Porém, importa reconhecer que os riscos são elevados e, a exemplo do passado, a desvirtuação de instrumentos orientados para o reforço da competitividade regional, resultante na inadequada aplicação prática dos fundos disponíveis e, pior, no desvio efetivo de verbas para outras regiões mais ricas. É necessário garantir condições políticas para que a gestão destes instrumentos seja efetivamente conduzida pela região, o que passará, em grande medida, pela capacidade de afirmação regional, pela necessária congregação de esforços de todos os atores regionais e, sobretudo, por um esforço político sem precedentes, no sentido de garantir a união do Norte em torno deste domínio estratégico essencial para a Região e, sobretudo, para o País. 5. O Porto e o Norte de Portugal como Plataformas Colaborativas de uma Rede Europeia de Inovação e Competitividade Na sequência do ponto anterior, de afirmação de uma dinâmica de liderança por parte do Porto e do Norte de Portugal, devem-se criar as condições para reforçar a perspectiva de uma Plataforma Colaborativa de uma Rede Europeia de Inovação e Competitividade, centrada no papel interventivo das Empresas, Universidades e Centros de Inovação e na função reguladora de Entidades Públicas centrais da Região. Este é um aspeto central para o novo período de programação estratégico , e que não só se encontra totalmente alinhado com os princípios mais fundamentais da Estratégia Europa 2020, como pode representar um instrumento capaz de alavancar todo um processo de reforço da inovação e competitividade nacionais, o qual é imprescindível para o próprio posicionamento do País à escala global. 7
8 6. Conclusão Tendo em conta os elementos expostos, é inequívoca a conclusão de que existe um diagnóstico consensual, acompanhado por uma clara orientação estratégica europeia e nacional em torno da importância da política de desenvolvimento regional para o processo de recuperação económica. Por sua vez, o Acordo de Parceria assumido pelo Governo e proposto a Bruxelas, não só reconhece estes princípios, como estabelece um envelope financeiro relevante e capaz de alavancar um processo de concretização do potencial endógeno da Região Norte, que advém da existência de recursos e ativos com características de inimitabilidade e de não transferência, sobre os quais possam ser criados bens e serviços transacionáveis e construídas vantagens competitivas. Os indicadores económicos do passado recente demonstram que a Região Norte, não só soube resistir e adaptar-se, como está devidamente preparada para enfrentar com sucesso os desafios de um mercado global crescentemente competitivo. A base produtiva, o capital humano e os ativos distintivos regionais do Norte são elementos que marcarão um novo ciclo de crescimento que não será baseado em dívidas e défices, mas sim na criação de valor acrescentado, na atração de investimento e na geração de emprego sustentável. Mais do que nunca, estão reunidas as condições para que o Porto e o Norte possam assumir este desiderato. Nesse contexto, é inegável o papel fundamental do Porto cidade enquanto motor intelectual, anímico e catalisador de toda uma região. Mais do que o puro exercício de uma liderança resultante de uma herança histórica e cultural, os agentes da cidade do Porto deverão assumir as suas responsabilidades de agentes indutores de equilíbrio de todo um Norte, que não pode ficar refém de uma evidente falta de capacidade de afirmação a nível nacional. O poder político do Norte deve estar à altura do reconhecido poder económico, social e cultural da Região. Demonstrando que, ao invés do que tem sido a discussão recente, marcada pelo aproveitamento político e pelas estratégias de maximização da exposição mediática, em detrimento de uma discussão séria e fundamentada, o PSD deverá assumir uma atitude responsável e proactiva, reafirmando a sua defesa intransigente de uma verdadeira política de desenvolvimento regional. Como a realidade veio rapidamente comprovar, críticas efetuadas a destempo, a um documento estratégico positivo, que envolveu o maior partido da oposição e deu voz às legítimas aspirações regionais, não só constituem um erro, como desviam as atenções dos aspetos críticos e dos desafios políticos que as regiões como o Norte enfrentam. 8
9 Nesse sentido, o Presidente do PSD e a Comissão Política Nacional, na sua ação e objectivos políticos, deverão assumir o Desenvolvimento Regional como principal instrumento dinamizador do crescimento económico e assegurar um modelo de gestão não centralista do Portugal De igual modo, o PSD deverá orientar a sua estratégia política no sentido de demonstrar a sua defesa intransigente de um modelo de desenvolvimento assente no reforço da competitividade regional e de estratégias de especialização inteligente regionais resultantes de um processo de verdadeira auscultação dos atores locais. O PSD deverá defender e suportar politicamente um modelo de gestão que garanta a autonomia da gestão dos PO regionais e exigir, ao Governo, garantias públicas relativamente a uma gestão transparente, isenta e capaz de envolver as instituições e entidades que operam nas regiões. O PSD considera que, no Portugal 2020, o Governo deverá afastar a figura do spilover effect, a qual apenas poderá ser utilizada em circunstâncias devidamente justificadas e tendo-se obtido um parecer prévio e vinculativo por parte das entidades gestoras regionais relativamente a cada projeto em causa. Fevereiro de
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