Superior Tribunal de Justiça

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1 HABEAS CORPUS Nº SP (2006/ ) RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER IMPETRANTE : RUY FREIRE RIBEIRO NETO - DEFENSOR PÚBLICO IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : CLÁUDIA MOREIRA BARBOSA EMENTA PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 171, CAPUT, DO CP. REPARAÇÃO DO DANO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. SÚMULA 554 DO PRETÓRIO EXCELSO. APLICAÇÃO DO ART. 34 DA LEI Nº 9.249/95. IMPOSSIBILIDADE. I - A reparação integral do dano, antes do recebimento da denúncia, no crime de estelionato (art. 171, caput, do CP), autoriza, tão somente, o reconhecimento da causa de redução da pena prevista no art. 16 do Código Penal. II - Na linha dos precedentes desta Corte, a reparação do dano, anteriormente ao recebimento da denúncia, não exclui o crime de estelionato em sua forma básica, uma vez que o disposto na Súmula nº 554 do STF só tem aplicação para o crime de estelionato na modalidade emissão de cheques sem fundos, prevista no art. 171, 2º, inciso VI, do Código Penal. III - Inviável a aplicação do disposto no art. 34 da Lei nº 9.249/95 ao crime de estelionato. Ordem denegada. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, denegar a ordem. Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Arnaldo Esteves Lima, Napoleão Nunes Maia Filho e Jane Silva (Desembargadora convocada do TJ/MG) votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 04 de setembro de (Data do Julgamento). MINISTRO FELIX FISCHER Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/11/2007 Página 1 de 8

2 HABEAS CORPUS Nº SP (2006/ ) RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Trata-se de habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública em favor de CLÁUDIA MOREIRA BARBOSA, condenada como incursa nas sanções do art. 171, caput, do Código Penal, à pena de 1(um) ano de reclusão, substituída por restritivas de direitos, contra v. acórdão prolatado pelo e. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Depreende-se dos autos que a paciente restou denunciada pelo seguinte fato: "Subtraiu a indiciada, do interior da moradia do genitor de seu amásio, que então a abrigava sob seu teto, um talonário de cheques do banco do Estado do Rio de janeiro-banerj, agência da cidade de São José dos campos, pertencente a Tadeu Lima da Costa,irmão de seu companheiro, da conta corrente personalizada nº De posse dos cheques,a indiciada, nas datas suso epigrafadas, compareceu ao estabelecimento da vítima, onde adquiriu mercadorias, entregando como forma de pagamento os malsinados e apócrifos cheques de nº , na data de 25 de março, no valor de R$120,00, nº , na data de 5 de abril, no valor de R$200,00 e nº , na data de 7 de abril, no valor de R$63,00 que de próprio punho preencheu e havia assinado como se fosse a correntista, aduzindo que deste recebera as cártulas a título de adimplemento de contraprestação de serviços, obtendo assim vantagem ílicita por meio de cheques não sacáveis, porque pertencentes a terceiro, de quem foram subtraídos" (fls. 07/08). Ao final da instrução restou condenada. Irresignada, apelou a defesa. O e. Tribunal de origem manteve a r. sentença condenatória. Daí o presente writ no qual a impetrante postula seja declarada a extinção da punibilidade em relação à paciente. Alega para tanto que não houve prejuízo decorrente da conduta da paciente eis que restituído à vitima os valores obtidos ilicitamente. Além disso, ressalta que deve ser aqui aplicado, mutatis mutandis, o mesmo entendimento consagrado na Súmula 554 do Pretório Excelso que dispõe:" O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal". Por fim, pugna a aplicação do disposto no art. 34 da Lei nº9.249/95 que determina a extinção da punibilidade quando há o pagamento, antes do recebimento da denúncia, dos tributos devidos. Informações às fls.41/42. A d. Subprocuradoria-Geral da República se manifestou pela denegação da ordem. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/11/2007 Página 2 de 8

3 Exmo Sr. Min. Paulo Medina. Os autos foram a mim distribuídos em 19/06/2007 em razão do afastamento do É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/11/2007 Página 3 de 8

4 HABEAS CORPUS Nº SP (2006/ ) EMENTA PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 171, CAPUT, DO CP. REPARAÇÃO DO DANO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. SÚMULA 554 DO PRETÓRIO EXCELSO. APLICAÇÃO DO ART. 34 DA LEI Nº 9.249/95. IMPOSSIBILIDADE. I - A reparação integral do dano, antes do recebimento da denúncia, no crime de estelionato (art. 171, caput, do CP), autoriza, tão somente, o reconhecimento da causa de redução da pena prevista no art. 16 do Código Penal. II - Na linha dos precedentes desta Corte, a reparação do dano, anteriormente ao recebimento da denúncia, não exclui o crime de estelionato em sua forma básica, uma vez que o disposto na Súmula nº 554 do STF só tem aplicação para o crime de estelionato na modalidade emissão de cheques sem fundos, prevista no art. 171, 2º, inciso VI, do Código Penal. III - Inviável a aplicação do disposto no art. 34 da Lei nº 9.249/95 ao crime de estelionato. Ordem denegada. VOTO O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Postula a impetrante, no presente writ, seja declarada a extinção da punibilidade em relação à paciente. Alega para tanto que não houve prejuízo decorrente da conduta da paciente eis que restituído à vitima os valores obtidos ilicitamente. Além disso, ressalta que deve ser aqui aplicado, mutatis mutandis, o mesmo entendimento consagrado na Súmula 554 do Pretório Excelso que dispõe:" O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal". Por fim, pugna a aplicação do disposto no art. 34 da Lei nº9.249/95 que determina a extinção da punibilidade quando há o pagamento, antes do recebimento da denúncia, dos tributos devidos. A ordem não merece concessão. É fato incontroverso- tanto que consignado na r. sentença condenatória -, que houve o pagamento à vitima do prejuízo por ela experimentado em razão da conduta perpretrada pela paciente. Dessa forma, restou reparado o dano, por sinal, antes do recebimento da denúncia. Entretanto, essa circunstância não autoriza seja atendido o pleito da impetrante. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/11/2007 Página 4 de 8

5 Ou seja, a reparação do dano não implica, neste caso, o reconhecimento de causa de extinção da punibilidade. A propósito, bem consignou, sobre a matéria, o MM. Juiz sentenciante, verbis: O delito de estelionato consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita almejada pelo agente. o ressarcimento do prejuízo,no caso, mesmo anterior ao recebimento da denúncia,não elide o delito por se tratar de estelionato em sua forma fundamental,bem capitulado na exordial. penal" (fl. 12). " No estelionato, o ressarcimento das vítimas pelo acusado não descaracteriza a inflação,pois o prejuízo é aquele aferido em função do momento consumativo da inflação e não posteriormente"(jotacrim 85/384). A hipótese é de arrependimento posterior, contemplado no art.16 do código Portanto, na linha de entendimento do e. Magistrado, a hipótese seria unicamente de aplicação da causa de redução de pena prevista no art. 16 do Código Penal: "Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços). " Dessa forma, não procede o argumento segundo qual evidenciado não restar prejuízo à vítima não haveria interesse em se punir o autor do crime. Se assim o fosse, nunca seria possível a punição destes crimes quando cometidos na forma tentada. Proposição, insta consignar, inimaginável. Ademais, o estelionato se consumou no momento em que a paciente obteve a vantagem ilícita e a vítima experimentou o prejuízo. Assim, a reparação do dano foi posterior à sua consumação. E, para esta hipótese, o Código prevê a figura supramencionada do arrependimento posterior. De outro lado, não há que se aplicar o entendimento decorrente da interpretação da Súmula 554 do Pretório Excelso que dispõe:" O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal". Nesse caso, para parte da doutrina a da jurisprudência o pagamento antes do recebimento da denúncia, seria óbice à persecução criminal, pois ausente o elemento fraude. Mas, impende ressaltar, com aplicação somente no caso da figura típica prevista no art. 171, 2º, VI, que trata da emissão de cheques sem provisão de fundos. O feito em análise trata de Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/11/2007 Página 5 de 8

6 estelionato na forma simples e, para esta modalidade, não se aplica referido entendimento. Nesse sentido: "PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ART. 171, CAPUT, DO CP. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. JUSTA CAUSA. REPARAÇÃO DO DANO ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA Nº 554/STF. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. PROPOSTA. I - (...) II - Na linha dos precedentes desta Corte, a reparação do dano, anteriormente ao recebimento da denúncia, não exclui o crime de estelionato em sua forma básica, uma vez que o disposto na Súmula nº 554 do STF só tem aplicação para o crime de estelionato na modalidade emissão de cheques sem fundos, prevista no art. 171, 2º, inciso VI, do Código Penal. III - (...) Recurso ordinário desprovido. (RHC 20387/BA, 5ª Turma, de minha relatoria, DJ de 30/04/2007) Por fim, insta dizer ser inaplicável o disposto no art. 34 da Lei nº 9.249/95, pois, como bem enfatizou o e. Tribunal a quo, o instituto previsto no referida lei não tem aplicação aos crimes de estelionato. Quanto a estes aplicam-se as disposições gerais previstas no Código Penal, como, por exemplo, o arrependimento posterior. Se admitida aplicação nos moldes propostos pela impetrante, a regra prevista no art. 34 da Lei nº 9.249/95 seria de observância obrigatória para todo e qualquer delito contra o patrimônio. Sobre o tema, trago o seguinte precedentes desta Corte: "CRIMINAL. RHC. ESTELIONATO. INSS. REPARAÇÃO DO DANO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. REVOGAÇÃO DO ART. 95 DA LEI 8.212/91 PELA LEI 9.983/2000. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. NÃO-CONHECIMENTO. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 34 DA LEI 9.249/95. IMPOSSIBILIDADE. APURAÇÃO DE POSSÍVEL FRAUDE NA OBTENÇÃO DE APOSENTADORIA. INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA DO DELITO INVESTIGADO. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO. (...) Magistrado singular que determinou o trancamento de inquérito policial instaurado contra a paciente, para apurar possível prática do crime do art. 95, alínea j, da Lei n.º 8.212/91, por aplicação analógica do art. 34 da Lei 9.249/95. Hipótese em que não se trata de omissão no recolhimento de Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/11/2007 Página 6 de 8

7 tributos ou contribuições previdenciária, mas, sim, do eventual emprego de meios fraudulentos, ardil, para o recebimento indevido de proventos de aposentadoria. Não cabe, no caso dos autos, a aplicação do art. 34 da Lei n.º 9.249/95, por analogia in bonam partem, tornando-se irrelevante, para a caracterização do delito investigado, o ressarcimento do dano antes do oferecimento da denúncia. (...) Recurso parcialmente conhecido e desprovido. (RHC 13554/RN, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, DJ de 03/11/2003) Ante o exposto, denego a ordem. É o voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/11/2007 Página 7 de 8

8 CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA Número Registro: 2006/ HC / SP MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: EM MESA JULGADO: 04/09/2007 Relator Exmo. Sr. Ministro FELIX FISCHER Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. ALCIDES MARTINS Secretário Bel. LAURO ROCHA REIS AUTUAÇÃO IMPETRANTE : RUY FREIRE RIBEIRO NETO - DEFENSOR PÚBLICO IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : CLÁUDIA MOREIRA BARBOSA ASSUNTO: Penal - Crimes contra o Patrimônio (art. 155 a 183) - Estelionato e outras Fraudes (art. 171 a 179) CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, denegou a ordem." Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Arnaldo Esteves Lima, Napoleão Nunes Maia Filho e Jane Silva (Desembargadora convocada do TJ/MG) votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 04 de setembro de 2007 LAURO ROCHA REIS Secretário Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/11/2007 Página 8 de 8