GLOBALIZAÇÃO: ORIGEM E EVOLUÇÃO
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- Moisés Fartaria Dias
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1 2 GLOBALIZAÇÃO: ORIGEM E EVOLUÇÃO GLOBALIZATION: ORIGINS AND EVOLUTION Andréia Nádia Lima de Sousa* Resumo Abstract O presente trabalho visa examinar as origens da globalização, seus reflexos no mundo, especialmente, no Brasil. Objetiva ainda, identificar seus aspectos históricos, evolução entre os países, principais acontecimentos e características. Palavras-Chaves: Globalização. Capitalismo. Neoliberalismo This study aims to examine the origins of globalization, their reflections in the world, especially in Brazil. Objective yet to identify its historical aspects, developments between the countries, major events and characteristics. Keywords: Globalization.Capitalism.Neoliberalismo Introdução A globalização remonta a origem do homem na terra, claro que, com outras características e com outros delineamentos. O certo é que, este sistema vem evoluindo de acordo com as necessidades humanas e com as exigências mundiais. O grande avanço deve-se a queda do muro de Berlim, ao fim do socialismo, a expansão do capitalismo e do neoliberalismo, após a Segunda Grande Guerra Mundial e com o avanço da Comunidade Comum Européia. Para Joana Stelzer 1 após o término da Segunda Guerra Mundial, houve uma reorganização do espaço mundial, fazendo nascer mudanças de ordem estrutural em diversas áreas. A autora está se referindo a explosão da globalização dentro de seus diversos aspectos, cultural, político, social, jurídico, e principalmente econômico. O termo globalização, de acordo com os autores contemporâneos, recebeu vários significados, que entre as suas mais variadas expressões, objetivam expressar um mundo sem fronteiras, que possibilite uma economia global para os mercados internos já saturados, visando * Mestre em Direito Internacional e Econômico pela Universidade Católica de Brasília - UCB. andreianadia@bol.com.br 1 Obra citada Introdução às Relações do Comércio Internacional, p. 25
2 3 sobremaneira aproximar as nações umas das outras, tudo isto, associado a expansão do capitalismo no mundo. Associado a este conceito, tem-se ainda como definição do termo globalização, segundo a doutrina majoritária, a explosão de valores de um povo, englobando alterações no seu modo de ser, agir e pensar. A globalização está intimamente associada ao surgimento do Estado Neoliberal, que teve a sua origem no início do século XX na Inglaterra, mas que se consolidou apenas no governo da Primeira Ministra Margareth Tacher. Para Perry Anderson 2 : (...) em 1979, surgiu a oportunidade. Na Inglaterra, foi eleito o governo Thatcher, o primeiro regime de um país de capitalismo avançado publicamente empenhado em pôr em prática o programa neoliberal. Um ano depois, em 1980, Reagan chegou à presidência dos Estados Unidos. Em 1982, Khol derrotou o regime social liberal de Helmut Schimidt, na Alemanha. Em 1983, a Dinamarca, Estado modelo do bem-estar escandinavo, caiu sob o controle de uma coalizão clara de direita(...) A globalização se expandiu entre as nações, também, através do sistema neoliberal. No Brasil, a implantação do Estado Neoliberal ocorreu em 1990, no governo de Fernando Collor de Mello que viabilizou as privatizações através da intervenção mínima do Estado na saúde, na educação e na economia o que implica em um Estado bom. Dentre os defensores deste modelo de administração pode-se citar o diplomata Roberto Campos. A partir deste período começou a ocorrer no Brasil uma grande liberalização comercial, através da diminuição de tarifas, e consequentemente o crescimento das exportações, especialmente de produtos básicos, e ainda, o aumento das importações, exceto para os setores de tecnologia de ponta, porque acreditava-se que era essencial o país investir neste setor. Neste contexto, o Brasil vem ganhando espaço entre as nações desde 2001, em relação a sua participação no cenário internacional, principalmente no aspecto econômico. Podese pontuar, que até o início do século XX somente as grandes potencias (EUA, Japão e Europa) participavam das rodadas de negociações e suas deliberações eram impostas ao resto das nações. Atualmente, as considerações são outras. O Brasil e a Índia também conseguem discutir suas idéias ao lado dos países mais desenvolvidos e poderosos do mundo, participando ativamente da OMC e do FMI. 2 Citado no livro do Prof. Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy Globalização, Neoliberalismo e Direito no Brasil, p. 35 sobre a obra Balanço do Neoliberalismo, in Emir Sader(org.), Pós-Neoliberalismo, As Políticas Sociais e o Estado Democrático.
3 4 2 Características do processo de globalização A globalização ou processo de mundialização, de acordo com o entendimento majoritário dos autores contemporâneos, caracteriza-se pela ampla integração econômica, política, cultural e outros entre as nações. Contudo, a integração nos seus mais variados aspectos se destaca pela economia, podendo ser de diversos tipos, mas nenhuma integração econômica é melhor do que a outra. A escolha do país pelo modelo de integração decorre de seus objetivos e do seu grau de dependência entre as grandes potências. Os Estados, quando da adoção de medidas ou adesões aos sistemas mundiais, deve se atentar para a questão da soberania nacional ou interna de cada país. A observância visa evitar conflitos entre a legislação interna e legislação estrangeira. O desenvolvimento da integração entre os países trouxe o surgimento de um terceiro mercado, denominado de mercado eletrônico ou virtual, decorrente do uso da internet. Neste mercado, a interferência estatal é praticamente nula ou mínima, porque não existem donos ou porque todos são donos. Característica que o diferencia, dos mercados até então existentes, quais sejam, o mercado nacional e o mercado internacional. Assim, a globalização em decorrência do avanço tecnológico trouxe várias conseqüências positivas e negativas. Dentre os efeitos positivos pode-se enumerar a diminuição de barreiras geográficas, políticas e econômicas, a criação de uma única moeda, maior fluxo de capitais, pessoas e mercadorias, aproximando sobremaneira as pessoas de diferentes regiões do mundo. Por outro lado, pode-se elencar, conseqüências negativas, como o crime organizado, paraísos fiscais, tráfico de pessoas, de mercadorias, de entorpecentes e órgãos, e de baixos salários. Referidas características tornam-se mais presentes entre os países emergentes, onde o grau de dependência com países desenvolvidos pode levar sobremaneira a amplo desemprego, formação de grandes bolsões de ignorância e miséria, de grandes desigualdades sociais, acarretando sociedades desequilibradas econômica e socialmente. Para o Prof. Arnaldo Godoy 3, a globalização dita um direito diferente, especialmente para países periféricos, como o nosso. O direito brasileiro vem sendo redesenhado como resultado de nossa inserção no mundo globalizado, o que isto significa que não basta fazer parte 3 Na obra Globalização, Neoliberalismo e Direito no Brasil, p. 11
4 5 da globalização é necessário a sua instrumentalização, mecanismos que viabilizem resultados positivos para o governo e para a sociedade. Para Eric Hobsbawm 4, os efeitos somente são negativos, por não acreditar que países desenvolvidos possam praticar atos que auxiliem países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, exemplificando, pode-se citar uma de suas assertivas, primeiro, a globalização acompanhada de mercados livres, atualmente tão em voga, trouxe consigo uma dramática acentuação das desigualdades econômicas e sociais no interior das nações e entre elas. Analisando o estágio atual do Brasil, pode-se observar que o país evolui muito nos setores da educação, saúde e moradia com programas populares e de incentivo as populações carentes. Outra característica é a emigração das pessoas dos países mais pobres para os países de economias mais ricas. Neste ínterim, para as nações desenvolvidas e ricas gera uma série de conseqüências positivas, que vão desde a contratação de mão de obra mais barata, sem assegurar aos imigrantes qualquer benefício previdenciário, auxílio saúde até mesmo a uma aposentadoria. Por outro lado, para as nações mais pobres, a maioria dos efeitos são negativos, são conseqüências opostas as impostas aos países ricos. 3 Aspectos Relevantes da Globalização O que se pode observar de um estudo mais aprofundado da globalização é que as grandes potências, restringem a entrada de países em desenvolvimento, na rodada de negociações. A barreira tem por finalidade de que estes permaneçam cada vez mais em situação de dependência econômica, social e cultural; pode-se citar como exemplo clássico os medicamentos onde os grandes laboratórios retém a cura de doenças, a fim de manter vínculo de supremacia e superioridade com os países em desenvolvimento (caso da AIDS). O autor Joseph Stiglitz 5, assim se manifestou: [...] o que separa o mundo desenvolvido do em desenvolvimento não é apenas a disparidade de recursos, mas uma disparidade de conhecimentos. O ritimo em que essa defasagem pode ser diminuída dependerá do acesso dos países em desenvolvimento ao conhecimento, e isso, por sua vez, dependerá de nosso avanço para um sistema mais livre ou mais restrito. 4 5 Obra Globalização, democracia e terrorismo, p. 11 Na obra Globalização: Como Dar Certo, p. 14
5 6 Para o autor, a globalização por quase uma década foi aceita como a melhor descoberta do homem. Mas, a partir de certo instante, este mesmo homem, começou a sentir seus reflexos negativos e ameaças, para o mundo. Desta forma, conclui-se que a globalização se apresenta como uma moeda, com dois lados, um positivo e um negativo. O primeiro traz benefícios para as grandes potências; enquanto que o segundo, são as regras impostas aos demais países que não como se fazer serem ouvidos, ficando cada vez mais excluídos de sua própria sociedade e país. Exemplificando, primeiro, têm-se o fato de que o único país no FMI que tem poder de veto são os EUA; segundo, todos os presidentes do Banco Mundial foram designados pelo presidente dos EUA, assim, resta claro, que a globalização é a forma maquiada dos EUA impor sua vontade soberana. Preceitua Joseph Stiglitz 6, in verbis: Cerca de 80% da população do mundo vive em países em desenvolvimento, marcados por renda baixa e alta pobreza, alto desemprego e baixa educação. Para esses países, a globalizaçào apresenta ao mesmo tempo riscos e oportunidades sem precedentes. Para fazer a globalização funcionar de um modo que enriqueça o mundo inteiro é preciso fazê-la funcionar para os habitantes desses países. É preciso esclarecer, que por mais que o país se insira no cenário internacional, e receba investimentos estrangeiros, estas ações signifiquem o seu crescimento e desenvolvimento. 4 Reflexos da Globalização no Brasil O Brasil foi marcado por diversas passagens na sua economia, mas duas se destacam por sua importância ímpar. Primeiro, a década de setenta foi caracterizada pela intervenção do Estado na economia, com a instituição de empresas públicas. Segundo, na década de noventa, o presidente da época Fernando Collor de Melo, resolve inserir-se no contexto internacional e edita uma série de medidas, como o início das privatizações, caracterizada pela interferência mínima do Estado na economia em suas principais áreas e que antes eram controladas em quase que exclusivamente pelo poder público, como educação, saúde, habitação e segurança. É importar ressaltar que o país apenas deixou de executar referidas atividades, descentralizando-as. Paralelo 6 Obra citada, p. 92
6 7 a estas atividades o Brasil começa a trabalhar e investir em exportações. Assim, dar-se início ao marco mundial do Brasil na economia estrangeira. Desta década até os dias atuais o Brasil enfrentou séries crises econômicas, mas que nos últimos anos vem experimentando o apogeu de seu crescimento econômico. Dentre os pontos negativos do Brasil, associados a globalização, pode-se citar, os baixos índices de escolaridade, a precariedade na prestação dos serviços de saúde pública, com denúncias veiculadas diariamente na imprensa local, nacional e internacional a respeito do tema, e ainda, tem-se epidemias que só se manifestam em países paupérrimos. Associado a todos estes males, o país vem enfrentando ainda, a indignação de todos os dias ter um de seus representantes ou de seus assessores diretos vinculados a corrupção, desvio de dinheiro e fraude, fatos que o inserem entre as piores nações do mundo. 5 Nova Ordem Econômica Ratifica-se que a sociedade moderna encontra-se inserida no cenário internacional de globalização da economia, com a mundialização e massificação dos meios de comunicação e das relações contratuais. O Brasil, como qualquer outro país, não pode ficar a mercê deste cenário, isso posto, tratou de disciplinar situações não previstas em lei as quais são ações rotineiras dos cidadãos brasileiros. Nesse sentido, quando se fala em globalização como um processo de integração, deve-se estar atento para o fato de que hoje o mundo se transformou numa verdadeira aldeia global, o que envolve a troca e transferência de mercadorias, pessoas, informações, comunicação, tudo facilitado pela eletrônica. Assim, segundo entendimento dominante, não existe mais fatos ou situações isoladas, já que o que acontece em um dado local pode repercutir em todo o mundo, em algumas nações de forma mais ou menos direta tudo através dos mais diversos meios de comunicação. Trata-se do empacotamento e da alienação do combustível que move o mundo: idéias, informações, cultura e outras notícias que circulam sem fronteiras nos mais longínquos e diversos lugares. Assim, relações de cunho internacional requerem regulamentação em caráter urgente, pois a conseqüência imediata desse cenário é uma sociedade mundial.
7 8 Atualmente, a maior parte dos atos praticados pelos países repercute de forma mundial, não se restringindo apenas aos seus territórios. Os reflexos são imensuráveis e incalculáveis. Assim, decretar a falência de uma empresa atualmente tem reflexos em quase todo o mundo, e não apenas no lugar onde ela teve sua falência decretada, incluindo os pontos negativos e positivos que se originam dessa decisão ou sentença estrangeira, através dos contratos que deixarão de ser firmados, de acordos que não mais serão celebrados, entre tantos outros atos que não foram realizados ante a quebra e a fragilidade dessa empresa. Desse modo, a economia local é apenas uma fração da economia mundial. As relações na contemporaneidade se massificaram e parte do seu fundamento é o capital, tudo com base no aparelho do Estado, na administração do dinheiro, de empresas, de interesses cada vez mais pessoais, ficando as pessoas cada vez mais preocupadas com status. Todo esse processo, com características tão selvagens, decorre unicamente do fenômeno da globalização. O mundo está numa fase de transição entre o velho e o novo, entre o passado e o futuro, com modificações no tempo e no espaço, vivenciando-se momentos de questionamentos, indagações e metáforas tudo decorrente do fenômeno da globalização. Para se compreender esse fato, muitos estudiosos procedem primeiro ao estudo da estrutura, organização, ascensão, organização e declínio do Estado-nação, como objeto do entendimento das relações internacionais. Para Octávio Ianni 7, esse momento pode assim ser definido: Cada vez mais, no entanto, o que preocupa muitos pesquisadores no século XX, em particular depois da Segunda Guerra Mundial, é o conhecimento das realidades internacionais emergentes, ou realidades propriamente mundiais. Sem deixar de continuar a contemplar a sociedade nacional, em suas mais diversas configurações, muitos empenham-se em desvendar as relações, os processos e as estruturas que transcendem o Estado-nação, desde os subalternos aos dominantes. Empenham-se em desvendar os nexos políticos, econômicos, geoeconômicos, geopolíticos, culturais, religiosos, lingüísticos, étnicos, raciais e todos os que articulam e tensionam as sociedades nacionais, em âmbito internacional, regional, multinacional, transnacional ou mundial. 7 IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 30
8 9 Assim, se observa que, para entender as transformações econômicas de um determinado território, é necessário inicialmente o conhecimento e o domínio da história e da geografia de um país, posição defendida com bastante propriedade por Braudel e Wallersteirn citados na obra Ianni 8, que denominaram tais domínios respectivamente, de economia-mundo e sistema-mundo. Compreender a história e geografia de uma nação é ir muito além de suas fronteiras territoriais; é apreciar os aspectos sociais, culturais, os mercados, a tecnologia e a ciência dessa nação, é vislumbrá-la com seus contratos internacionais, com seus acordos e ajustes extranacionais; é conhecer seus mercados, suas fronteiras, e logo perceber o cenário mundial. Braudel 9 citado por Ianni definiu a economia-mundo: Por economia mundial entende-se a economia do mundo globalmente considerado, o mercado de todo o universo, como já dizia Sismondi. Por economia-mundo, termo que já forjei a partir do alemão Welwirtschaft, entendo a economia de uma porção do nosso planeta somente, desde que forme um todo econômico. Escrevi, já há muito tempo, que o Mediterrâneo no século XVI era, por si só, uma [...] economia-mundo, ou como também poderia dizer, em alemão [...] um mundo em si e para si. Uma economiamundo pode definir-se como tripla realidade: *Ocupa um determinado espaço geográfico; tem, portanto limites, que a explicam, e que variam, embora bastante devagar. De tempos a tempos, com longos intervalos, há mesmo inevitavelmente rupturas... *Uma economia-mundo submete-se a um pólo, a um centro, representado por uma cidade dominante, outrora um Estado-cidade, hoje uma grande capital, uma grande capital econômica... * Todas as economias-mundo se dividem em zonas sucessivas. Há o coração, isto é, a zona que se estende em torno do centro: as Províncias Unidas nem todas, porém, quando, no século XVII... Wallerstein 10, citado por Ianni, também definiu sistema-mundo: Um sistema mundial é um sistema social, um sistema que possui limites, estrutura, grupos, membros, regras de legitimação e coerência. Sua vida resulta das forças conflitantes que o mantêm unido por tensão e o desagregam, na medida em que cada um dos grupos busca sempre reorganizá-lo em seu benefício. Tem as características de um organismo, na medida em que tem um tempo de vida durante o qual suas características mudam em algum dos seus aspectos, e permanecem estáveis em outros. Suas estruturas podem definir-se como fortes ou débeis em momentos diferentes, em termos da lógica interna de seu funcionamento. [...] Até o momento só tem existido duas variedades de tais sistemas mundiais: impérios-mundo, nos quais existe um único sistema político sobre a maior parte da área, por mais atenuado que possa estar o seu controle efetivo; e aqueles sistemas nos quais tal sistema político único não existe sobre toda ou virtualmente toda a sua extensão. Por conveniência, e à falta de melhor termo, utilizamos o termo economias-mundo para definir estes últimos. [...] A peculiaridade do sistema mundial moderno é que uma economia mundo tenha sobrevivido por quinhentos anos e 8 IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, Ibidem, p Ibidem, p. 33
9 10 que ainda não tenha chegado a transforma-se em um império-mundo, peculiaridade que é o segredo da sua fortaleza. Esta peculiaridade é o aspecto político da forma de organização econômica chamada capitalismo. O capitalismo tem sido capaz de florescer precisamente porque a economia-mundo continha dentro dos seus limites não um, mas múltiplos sistemas políticos. Observa-se então, que ambos os autores abordam a economia, o desenvolvimento da sociedade, as relações sociais, o mercado, a ciência, a tecnologia com base na história e na geografia dos países. Braudel apronfunda mais as relações e contextualiza com base nos aspectos internos e locais de uma nação, fundamentado no espaço e no tempo enquanto Wallerstein, trabalha a questão mais voltada para o aspecto internacional, o capitalismo, que se expandiu e continua se expandindo pelas mais diversas nações, e a modernidade, ambos os autores foram citados por Ianni 11. O que se observa é que hoje existem diversas economias-mundo, ou seja, a economia de cada país ou a economia regionalizada que aglomera alguns países, sendo que todas se limitam por uma economia globalizada, que dita regras e normas a serem cumpridas. Não existe uma potência nação central que se perpetuou ou se perpetua em relação a poder e economia mundial, mas potências que se alternam devido a sua ascensão e declínio e que exercem influência por pólos ou regiões. Destaca-se, ainda, que essas economias-mundo regionalizadas acabam se interpenetrando uma na região da outra de acordo com seus interesses, por todas trabalharem e profetizarem por um mercado aberto, baseado na economia mundo capitalista global. Assim, têm-se várias economias-mundo capitalista regional que se aglomeram e formam economias-mundo capitalista global, com todas observando sua territorialidade e soberania, ainda que reconheçam a existência do poder de outra nação. Para Wallerstein 12, a economia-mundo é agora universal, no sentido de que todos os Estados nacionais estão, em diferentes graus, integrados em sua estrutura central.[...]. Dessa forma, o autor enfatiza uma economia mundial dividida em várias áreas centrais e periféricas, ou seja, uma grande economia que está dividida em várias outras menores vinculadas à primeira. O certo é que tanto Braudel quanto Wallerstein priorizam o Estado-nação como fonte de todo o estudo da globalização, abordam ainda os sistemas coloniais e imperialistas, tratam do subdesenvolvimento e desenvolvimento dos Estados, suas relações sociais, econômicas, políticas, os contrastes dentro 11 Ibid 12 Ibidem, p. 43
10 11 das nações, como cidade-campo, norte-sul, agricultura-indústria, entre outros, tudo associado à história e geografia dos países que geram o movimento da sociedade global. Todos esses fenômenos da economia-mundo e sistema-mundo anteriormente definidos e defendidos pelos autores supracitados estão associados à globalização, que é a internacionalização do capital, da abertura de capitais, da força produtiva, da divisão internacional do trabalho, etc. É necessário, pois, compreender a evolução histórica da internacionalização do capital como principal elemento da globalização e da nova ordem econômica mundial. Após a Segunda Guerra Mundial, de acordo com Ianni 13, a sociedade passou a vivenciar um período de radical e violenta transformação. O capitalismo começou a se expandir por todas as nações, e aquilo que era local passou a ser observado sob âmbito internacional, em todos os lugares e por todos os países, desde os subdesenvolvidos até os Estados dominantes. Todavia a internacionalização do capital se estabilizou mesmo com o fim da Guerra Fria e se perpetuou com a nova ordem econômica mundial. Desse modo, o capitalismo e a globalização se caracterizam e se firmam pela desagregação do bloco soviético e pela adoção da economia de mercado, ocorrendo uma verdadeira expansão quantitativa e qualitativa do capitalismo por todas as nações. Ianni 14 define esse momento: [...] nessa época ocorre uma transformação quantitativa e qualitativa do capitalismo, como modo de produção e processo civilizatório. Uma transformação quantitativa e qualitativa no sentido de que o capitalismo se torna concretamente global, influenciando, recobrindo, recriando ou revolucionando todas as outras formas de organização social do trabalho, da produção e da vida. Isto não significa que tudo o mais se apaga ou desaparece, mas que tudo o mais passa a ser influenciado, ou a deixar-se influenciar, pelas instituições, padrões e valores sócio-culturais característicos do capitalismo. Aos poucos, ou de maneira repentina, os princípios de mercado, produtividade, lucratividade e consumismo passam a influenciar as mentes e os corações de indivíduos, as coletividades e os povos. A explanação do autor só demonstra a expansão acelerada e evasiva do capitalismo sobre todos os indivíduos, povos e nações, influenciando sociedade, comportamento e cultura de todos os lugares, o que ocasiona a concentração do poder econômico e as desigualdades sociais, culturais e políticas. Desse modo, o capitalismo define o Estado nacional e a interdependência 13 Ibidem 14 Ibidem, p. 184
11 12 entre as nações. O certo é que o capitalismo está em constante movimento para alcançar interesses dos países signatários. Toda essa transição livre do capitalismo nos dias atuais conduz a um mundo praticamente sem fronteiras, onde países e pessoas vivem numa verdadeira fábrica global, com trânsito livre mercadorias, capital, tecnologia, informações, força de trabalho, privatização, abertura de mercados e forças produtivas. A eletrônica e outros fatores que facilitam a internacionalização do capital e, consequentemente, a internacionalização do processo produtivo e das questões sociais. Ianni 15 define essas transformações: É claro que a internacionalização do capital, compreendida como internacionalização do processo produtivo ou da reprodução ampliada do capital, envolve a internacionalização das classes sociais, em suas relações, reciprocidades e antagonismos. Como ocorre em toda formação social capitalista, também na global desenvolve-se a questão social. Nesse emaranhado de acontecimentos, o mundo precisa se organizar, se reestruturar, regulamentar suas relações com outras nações, com indivíduos e empresas situadas em outros territórios a fim de facilitar todo o processo de internacionalização do capital e, consequentemente, da globalização, vez que, atualmente, não existem mais fronteiras que separem os países quando o tema é acordos e contratos internacionais. Os contratantes não vêem na distância um obstáculo para firmar ajustes. Atualmente vive-se a era do mercado mundial do capital, com uma movimentação, em segundos, de transações financeiras pelos mais diversos países, ultrapassando fronteiras, regimes políticos e questões sociais, que acarreta a diminuição das distancias entre as nações. A internacionalização, como abordado, dá-se em vários setores, tais como a força produtiva, a tecnologia, divisão internacional do trabalho etc, apresentando-se estes como pontos positivos do mundo contemporâneo, enquanto como pontos negativos, têm-se as atividades ilegais e ilícitas, a lavagem de dinheiro, o narcotráfico, a miséria, a corrupção, o terrorismo, problemas ambientais e outros. Portanto, o fenômeno da globalização ostenta características ambíguas e contraditórias que norteiam o mundo moderno, onde todas as coisas estão concatenadas e articuladas. O instrumento dessa articulação é a comunicação e a tecnologia que 15 Ibidem, p. 64
12 13 não são mais de efeitos locais, mas sim mundiais, ou seja, esses elementos têm repercussão universal. O capitalismo corresponde a um processo de racionalização da cultura, da sociedade, da educação, da religião e de outros setores se expandindo por todo o mundo, como bem assevera Ianni 16 : Assim, a mundialização em curso no século XX, em especial depois da Segunda Guerra Mundial e mais ainda em seguida ao término da Guerra Fria, pode ser vista como um novo surto de mundialização da racionalidade própria da civilização capitalista ocidental. Dessa feita, falar em capitalismo é se reportar também à mundialização. O capitalismo se espalhou e tomou forma em todas as atividades, tais como, trabalho, força de trabalho, tecnologia, empresa e mercado. Ratifica-se, que a partir do século XX, gera um modo de produção global, presente em todos os lugares e nas mais diversas formas, influenciando cidades, sistemas de governos, regiões, países, economias, culturas, etc, com base no salário e no lucro, estando todos os países interligados pelo comércio e pelos investimentos que desenvolvem entre si. Assim, hoje, tudo o que é local e nacional tem conotação global, incluindo-se aí todos os conflitos de âmbito local, regional e nacional. Reitera-se, que no Brasil, o cenário não podia ser diferente. A partir da década de 1990, no país ocorreram várias transformações de cunho social, econômico e mundial, podendose citar, entre elas a reforma no sistema tributário e administrativo, modificações nas políticas públicas, privatizações das empresas estatais, tudo em decorrência do ingresso do Brasil na mundialização da economia. A partir dessa década, houve uma crescente revolução no sistema interno do país, caracterizada pelo aumento de empresas e a interferência mínima do Estado através da deslegalização e de programas de privatizações. Isoldi Filho, citando Faria, diz que [...]a década de 90 do século passado representa um período de intercruzamento entre duas eras econômicas: a primeira é a da pós-guerra, marcada pelo planejamento estatal, pela intervenção governamental, pelas inovações conceituais e pragmática da regulação dos mercados, pela utilização do direito como instrumento de controle, gestão e direção, pela participação direta do setor público como agente financiador, produtor e distribuidor, bem como por políticas sociais formuladas com o objetivo de assegurar patamares mínimos de igualdade, a partir dos quais haveria espaço para uma livre competição. Outra era é a da globalização, que se afirma a partir da retomada dos fluxos privados de acumulação de capital e é progressivamente caracterizada pela 16 Ibidem, p. 151/152
13 14 desregulação dos mercados, pela financeirização do capital, pela extinção de monopólios estatais, pela privatização das empresas públicas, pela desterritorialização da produção e por uma nova divisão social do trabalho. Cria-se então um mundo antagônico no qual os ricos estão cada vez mais ricos e a justiça funciona de forma célere e eficiente, em contraponto a uma desigualdade social, já que os pobres estão cada dia mais marginalizados e o desemprego só aumenta gerado pela informatização. Considerações Finais Após uma série de pontos abordados e estudos realizados, urge salientar uma recente pesquisa realizada pelo Grupo Goldman Sachs com base nas últimas projeções demográficas e modelos de acumulação de capital e crescimento da produtividade, onde aborda os países mais favorecidos pela globalização atualmente e onde de forma taxativa aponta os países emergentes, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, como os países formadores do BRICS, concluindo que referidos países do Brasil e da China a partir de 2050 integrarão a lista dos mais desenvolvidos sob ponto de vista econômico; referido crescimento se deve a grande economia de exportação, ao largo mercado interno e cada vez mais a presença mundial. Por fim, aludida pesquisa enfoca que os países mais desenvolvidos economicamente hoje são EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Canadá e Rússia, esta última pela sua importância geopolítica, atualmente conhecidos pelo nome de Grupo G8. Complementa ainda, que dentre os países que compõe o G8 atualmente apenas o Japão e EUA permanecerão no grupo após Deste modo, verifica-se que o processo da globalização decorre do avanço tecnológico, bem como, em decorrência do Estado Neoliberal adotado em alguns países e da intervenção internacional do FMI, de Organismos Internacionais e, do Banco Mundial, que ditam regras sobre o funcionamento interno dos países. Conclui-se que, os cenários mundial e brasileiro, a partir da década de 1990, se modificaram, com intervenção mínima do Estado, privatização do setor estatal, participação mais ativa do setor privado, através da ampliação das redes empresarias, como a justiça privada especializada no caso da arbitragem. Pode-se dizer então que, hoje, o mundo está caracterizado
14 15 pela especialização dos serviços, pela celeridade dos fatos, da sociedade e, sobretudo, da economia. Investidores e empresários ricos procuram países onde as leis lhes sejam mais favoráveis ou optam pela solução privada de conflitos, a fim de que seus litígios sejam solucionados de forma mais eficiente e eficaz, afastando de vez a justiça comum, lenta e burocrática. E ainda, finaliza, observando que o mundo precisa se organizar, se reestruturar, regulamentar suas relações com outras nações, com indivíduos e empresas situadas em outros territórios a fim de facilitar todo o processo de internacionalização do capital e, consequentemente, da globalização, vez que, atualmente, não existem mais fronteiras que separem os países quando o tema é acordos e contratos internacionais. Por fim, resta salientar, que é muito cedo para afirmar se o processo de globalização é ou não bom, vez que, os estados ricos e poderosos impõem seus interesses e vontades aos países pobres, sem observar e questionar se aquela decisão será ou não favorável aquele país. Simplesmente impõe sua vontade e esta deve ser cumprida e observada incondicionalmente Referências BENECKE, Dieter. Renata Nascimento. Roberto Fendt. Brasil na Arquitetura Comercial Global. Rio de Janeiro: Konrad Adenauer, CHOMSKY, Noam. A Minoria Próspera e a Multidão Inquieta. Brasília: UNB, FREITAS, Antonio Rodrigues de Júnior. Globalização, Mercosul e Crise do Estado-Nação. São Paulo: LTR, GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. Globalização, Neoliberalismo e Direito no Brasil. Londrina: Humanidades, HOBSBAWM, Eric. Globalização, Democracia e Terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, MELLO, Celso de Albuquerque. Anuário Direito e Globalização, 1: A Soberania. Rio de Janeiro; Renovar, 1999 STIGLITZ, Joseph E. Globalização: Como Dar Certo. São Paulo: Compahia das Letras, 2007.
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