^ WÜWJÊ PODER JUDICIÁRIO \j TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

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1 ^ WÜWJÊ PODER JUDICIÁRIO \j TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO QI ' ACÓRDÂO/DECISÂO MONOCRÁTICA *3 ACÓRDÃO REGISTRADO(A)SOBN i l * * S2 Vistos, relatados e discutidos estes autos de S APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n /6-00, da Comarca de SÃO PAULO, em que é apelante AMIL ASSISTÊNCIA MEDICA INTERNACIONAL LTDA sendo apelado MINISTÉRIO PUBLICO: ACORDAM, em Sexta Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, V.U. SUSTENTARAM ORALMENTE O DR. ANTÔNIO CARLOS MONTEIRO DA SILVA FILHO E A D. REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO, A DRA. DORA BUSSAB CASTELO.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores SEBASTIÃO CARLOS GARCIA e JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS. São Paulo, 24 de setembro de STfl PERCIVAL NOGUEIRA Presidente e Relator 06

2 Voto n Apelação Cível n /6-00 Comarca: São Paulo Apelante: AMIL ASSISTÊNCIA MÉDICA INTERNACIONAL LTDA. Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO NUUDADES PROCESSUAIS - Cerceamento de defesa - Inocorrência - Ausência de necessidade de produção de outras provas - Inteligência do art 330, inciso I, do CPC - Falta de fundamentação jurídica - Inocorrência - O Juiz não está obrigado a responder todas as alegações trazidas aos autos - Ilegitimidade ativa - Inocorrência - Ação que visa a tutela de interesses transindividuais (difusos e coletivo) e individuais homogêneos - Prescrição - Inadmissibilidade - Direitos tutelados pela Lei n" 7.347/85 são indisponíveis e não se sujeitam a ocorrência da prescrição e da decadência - Preliminares afastadas. AÇÃO CIVIL PÚBLICA - Plano de Saúde - Reajuste em função da mudança de faixa etária Inadmissibilidade Contrato de trato sucessivo - Aplicabilidade das Leis n"s 9656/98 e /03 - Contrato de adesão - Cláusulas contratuais que devem ser interpretadas a favor do consumidor - Abusividade da cláusula que prevê reajuste de 165% ao beneficiário que completar 60 anos de idade - Sentença mantida - Recurso improvido. Trata-se de recurso de apelação (fls. 1157/1190) interposto pela Amil Assistência Médica Internacional Ltda, contra a r. sentença de fls. 1135/1143, cujo relatório se adota, que julgou procedente a ação civil pública que lhe foi ajuizada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, para: 1) condenar a ré em obrigação de não fazer consistente em abster-se de reajustar os plano de saúde em razão da mudança de faixa etária do segurado, a partir de sessenta anos, para todos os seus contratos, sob pena de multa diárii

3 2 R$50.000,00, que incidirá a cada cobrança em que houver descumprimento do comando judicial, sujeita à atualização monetária, a ser recolhida ao Fundo do Idoso ou, não havendo, ao Fundo Municipal de Assistência Social ou, também, não havendo, ao Fundo Especial de Despesas de Reparação de Interesses Difusos Lesados; 2) declarar a nulidade da cláusula 19, itens 19.2 e 19.3, alínea "e", do Contrato "Plano de Rede Credenciada - RC100", condenando a ré em obrigação de fazer consistente em retirá-la de tais contratos, para aqueles contratos que já estão em andamento, por aditamento, devendo apresentar, no prazo de sessenta dias, contados do trânsito em julgado da r. sentença, cópia de novo modelo de contrato nesse sentido, sob pena de multa diária de R$50.000,00, que incidirá a cada cobrança em que houver descumprimento do comando judicial, sujeita à atualização monetária, a ser recolhida ao Fundo do Idoso ou, não havendo, ao Fundo Municipal de Assistência Social ou, também, não havendo, ao Fundo Especial de Despesas de Reparação de Interesses Difusos Lesados; 3) condenar a ré, genericamente, à reparação dos danos causados aos usuários idosos, dos quais foram reajustados os planos de saúde indevidamente em razão da mudança da faixa etária, conforme apurado em liquidação. despesas processuais. Também condenou a seguradora no pagamento das custas e Opostos embargos de declaração (fls. 1145/1152), foi o recurso rejeitado (fls. 1154/1155). sm Apelação Cível n / Comarca de São Paulo - Voto n 8.1\79

4 3 Preliminarmente, pretende: 1) a anulação do r. julgado por entender estar caracterizado o cerceamento ao direito de defesa, na medida em que houve o julgamento antecipado da lide, sem a designação de audiência e o deferimento de produção de prova oral e pericial; 2) a declaração de nulidade da sentença por carência de fundamentação; 3) a ilegitimidade de parte ativa, porque os interesses que se pretende tutelar são heterogêneos e disponíveis; 4) a ocorrência da prescrição qüinqüenal. No mérito, requer a improcedência da ação, aduzindo, em suma, que a Lei n /03 somente veta a discriminação do idoso em razão da idade, não havendo qualquer menção a proibição de reajuste de plano de saúde após o beneficiário completar sessenta anos. Diz que não foi comprovada nos autos qualquer forma de discriminação ao idoso e que os reajustes foram fixados considerando toda a cadeia de beneficiários, a fim de conferir equilíbrio ao sistema e respeitando as diretrizes da agência reguladora e legislação em vigor. Sustenta que os contratos por ela comercializados estão dentro dos parâmetros disciplinados pela Resolução CONSU n 06/98, que permite o limite de sete faixas etárias, sendo a última após o consumidor completar setenta anos de idade. Também informa que os valores das mensalidades cobradas para os beneficiários com mais de sessenta anos não ultrapassa o limite de seis vezes aquele referente a primeira faixa etária, em respeito ao art. 2 o da resolução supramencionada. Assevera que o contrato RC-100 foi devidamente aprovado pela Agência Nacional de Saúde que sucedeu ao CONSU. sm Apelação Cível n / Comarca de São Paulo - Voto n ;3

5 4 Alega, ademais, que as cláusulas contratuais, inclusive as referentes aos reajustes em razão da mudança de faixa etária, foram redigidas de forma clara, de modo a não induzir o consumidor a erro. Aponta a inaplicabilidade da Lei do Idoso aos contratos celebrado antes de sua vigência, sob pena de violação ao ato jurídico perfeito e ao direito adquirido. Informa que desde de I o de janeiro de 2004 não comercializa contratos com previsão de reajuste em faixa etária de sessenta anos ou mais, em respeito à Resolução Normativa ANS n 63/2003. Aduz, ainda, que a proibição dos reajustes terá como conseqüência o desequilíbrio contratual e a falência de todo o sistema de saúde suplementar. O apelo foi recebido somente no efeito devolutivo (fls. 1195) e contra tal decisão houve a interposição de Agravo de Instrumento (fls. 1210/1233), que foi provido, determinando o recebimento do recurso em ambos os efeitos. Após, foram apresentadas contrarrazões (fls. 1248/1260). A d. Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se pelo improvimento do recurso interposto (fls. 1294/1317). Grau (fls. 1331). A seguir, houve tentativa infrutífera de conciliação em Segundo E o relatório. As matérias arguidas em sede preliminar merecem rejeição., A Apelação Cível n / Comarca de São Paulo - Voto n C \ \

6 5 O julgamento antecipado da lide era mesmo medida de rigor. A questão não demanda ampla dilação probatória, posto que meramente de direito. Logo, correta a aplicação do artigo 330, inciso I, do Código de Processo Civil. Igualmente, é de ser rejeitada a preliminar de nulidade da r. sentença, bem como a alegação de afronta aos artigos 165 e 458, inciso II, do Código de Processo Civil, e o art. 93, inciso IX, da Constituição Federal. Consoante entendimento desta E. Corte, "o Juiz não está obrigado a responder todas as alegações das parles, quando já tenha encontrado motivo suficiente para fundar a decisão, nem se obriga a ater-se aos fundamentos indicados por elas e tampouco a responder um a um todos os argumentos" (RJTJESP 115/201/ Importa sim, a explicitação dos motivos norteadores do convencimento em ordem ao deslinde do feito e que aqueles estejam pautados em lei, e isso cristalinamente ocorreu na espécie. Também sem razão quanto à alegação de ilegitimidade do Ministério Público, porque diversamente do quer fazer crer a apelante, a declaração de nulidade das cláusulas de reajuste em razão da faixa etária após os sessenta anos, visa a proteção de interesse coletivo estrito senso, pois beneficia todos os usuários que contrataram planos de saúde com a recorrente e a condenação na obrigação de não fazer, consistente em se abster de reajustar as mensalidades com relação aos usuários com idade superior a sessenta anos, constitui hipótese de interesses difusos, já que beneficiará, também aqueles que vierem a contratar com a seguradora. E, também, a condenação genérica à reparação de danos causados aos usuários em virtude dos reajustes decorrentes da mudança de faixa etária, caracteriza a tutela de interesses individuais homogêneos. / /\ 0\ Apelação Cível n / Comarca de São Paulo - Voto n & 179Í \ sm \ \ I I

7 6 No que tange à ocorrência da prescrição qüinqüenal, observo que os interesses e direitos transindividuais tutelados pela Lei n 7.347/85, que disciplina a ação civil pública, são indisponíveis e não se sujeitam a ocorrência da prescrição e da decadência, em razão de sua natureza indivisível e da intederminação de sua titularidade. No mérito, melhor sorte não assiste à apelante Isto porque a Lei n 9.656/98, que regula os planos e seguro saúde, em seu art. 15, prevê a adaptação dos contratos e o reajuste da contraprestação em razão da mudança de faixa etária, sendo um dos fatores determinantes dos preços das mensalidades. Contudo, a exigência dos valores cobrados pelas seguradoras, em razão da idade, merece algumas considerações. Inicialmente, insta observar que o Estatuto do Idoso, norma de ordem pública, aplica-se ao caso, e trouxe disposições importantíssimas que interferem na aplicação da Lei dos Planos de Saúde, especialmente quanto ao veto de discriminação em razão da idade. Dispõe o 3 o do art. 15, da Lei /03 que "E vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade". Apelação Cível n / Comarca de São Paulo - Voto n 8.

8 7 Contrapõe-se, assim, à Resolução n 6 do CONSU - Conselho de Saúde Suplementar que, originariamente, estabeleceu 7 faixas etárias para reajuste das contraprestações, a qual foi modificada posteriormente pelas Resoluções RN 63 e RN 64, que instituíram 10 faixas etárias para as adaptações em razão da idade, a última delas para aqueles que atingiram 59 anos, ficando isentos do reajuste por faixa etária os que completaram 60 anos, estes submetidos apenas aos reajustes decorrentes da inflação ou do aumento de custos dos serviços de cobertura. Assim, não se há falar que o dispositivo supra não se aplica ao caso em exame, por ofensa ao direito adquirido e ato jurídico perfeito. Cumpre salientar que os contratos de saúde caracterizam-se como contratos diferidos ou de execução continuada, razão pela qual eles devem se adequar à legislação vigente no momento da aplicação de suas condições gerais, tais como reajustes de preço, coberturas, faixas etárias, etc. A cláusula 20.1 do contrato padrão - RC100 (fls. 44) prevê vigência do plano pelo prazo determinado de um ano, a ser renovado automaticamente a partir do vencimento de cada período de 12 meses. Logo, por se tratar de contrato de trato sucessivo, aplicável o 3, do art. 15, do Estatuto do Idoso, para impedir o reajuste por faixa etária. Ademais, o contrato em análise é tipicamente de adesão e tem natureza consumeirista, sendo beneficiários os destinatários finais dos serviços prestados de forma onerosa pela seguradora. Apelação Cível n / Comarca de São Paulo - Voto n 8. ^

9 8 Nesse sentido: "Contrato - Prestação de serviços - Plano de saúde - Ação de revisão dos reajustes e restituição de cobrança indevida - Reajuste em razão da idade da contratante - Consumidora com mais de sessenta anos - Contrato de trato sucessivo Aplicação do 3 do art. 15 do Estatuto do Idoso, para impedir o reajuste por faixa etária - Procedência da ação - Recurso Provido" (Recurso Inominado São Paulo -3" Turma Cível do Colégio Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais - Rei: Des. João Batista Silvério da Silva - j v.u. - voto 253); "Plano de saúde. Reajuste das contrapreslações em razão da mudança de faixa etária. Abusividade da cláusula. É nula, de pleno direito, porque abusiva e por não redigida deforma clara e destacada, a cláusula que, em contrato de Plano de Saúde, estabelece o reajuste das contrapreslações pecuniárias em função da idade do segurado, elevando a contribuição para montante excessivamente oneroso. Violação ao Código de Defesa do Consumidor. Sentença confirmada. Recurso improvido" (TJRS - Recurso Cível n Porto Alegre - 1" Turma Recursal Cível - Rei. Des. Ricardo Torres Hermann-j ); "Contrato. Prestação de Serviços - Plano de Saúde - Beneficiário com mais de 60 anos - Mudança de faixa etária - Majoração do prêmio - Previsão contratual - Não comprovação Onerosidade excessiva - Caracterização - Aplicação do CDC - Precedente do STJ - Recurso provido " (ApCiv /6 - Americana - 8"Cam. Dir Priv. - Rei. Des. Caetano Lagrasta-j v.u. - voto ); CONTRATO - Prestação de serviços - Plano de saúde - Anterior à Lei n 9.658/98 - Mudança de faixa etária - Reajuste unilateral - Aplicação de percentual em desacordo com o divulgado pela SUSEP e ANS - Abusividade - Restituição dos valores pagos determinada - Sentença mantida - Recurso improvido (Apelação n / São Paulo - 8a Câmara de Direito Privado - Rei. Des. Salles Rossi - j v.u. -Voto n 2375); PLANO DE SAÚDE - Majoração em virtude de alterada a faixa etária da beneficiária - Vigência da Lei , de 03 de janeiro de (artigo 15, parágrafo 3o) - Fundamentação relevante, em princípio, da decisão recorrida, para antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional - caráter social Incidência admitida, de plano, aos Apelação Cível n / Comarca de São Paulo - Voto n

10 curso - Tutela preferencial ao idoso - Finalidade de preservá-lo de mutações financeiras, em razão de sua idade, e que lhe tragam risco de prejuízo irreparável ou de complexa reparação - Aumento significativo da prestação do plano de saúde (aproximadamente 60%, a acarretar natural desestabilização à economia da agravante aposentada) - Requisitos à concessão da liminar presentes (parágrafo 3o, do artigo 461, do Código de Processo Civil) - Recurso improvido. (Agravo de Instrumento n /4 - Santos - 5a Câmara de Direito Privado - Relator Marcus Andrade v.u.); SEGURO SAÚDE - Lei 9.656/98, artigo 15 - Proibição de aumento no valor do prêmio em decorrência de variação da faixa etária - Discussão sobre sua incidência ou não em relação a contrato anterior - Sentença de procedência mantida, não obstante a anterioridade do contrato - Recurso provido em parte apenas para redução dos honorários advocatícios (Apelação Cível n São Paulo - 4a Câmara de Direito Privado - Rei: Des. Jacobina Rabello - j v. u.). Com relação à cláusula 19.3, alínea "e" (fls. 44), que prevê a aplicação do reajuste de 165%, para o beneficiário que completar sessenta anos de idade, anoto ser totalmente nula, porque viola o princípio da boa-fé objetiva, do equilíbrio contratual e da vedação da onerosidade excessiva, em afronta ao art. 51, do Código de Defesa do Consumidor, além de estar em desacordo com o art. 15, da Lei n 9656/98 e as Resoluções CONSU n s 06/98 e 63/03, a desvirtuar e da própria função social do contrato. Logo, nada a reparar na r. sentença atacada, que merece subsistir, com a rejeição do reclamo recursal. Portanto, pelo exposto, pelo meu voto nego provimento ao J0 E PERCIVAL ALBANO NOOTEIRA JÚN] OR Relator ' \ ' sm XJ ao Cível n / Comarca de\&o Padlo - Vot«i n tf.179