ADOLESCER COM SAÚDE NA ESCOLA : RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE PROJETO DE EXTENSÃO INTERDISCIPLINAR E INTERSETORIAL

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1 ADOLESCER COM SAÚDE NA ESCOLA : RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE PROJETO DE EXTENSÃO INTERDISCIPLINAR E INTERSETORIAL Ana Cláudia Ribeiro 1 Geise Cristine Espindola 2 Ana Paula Ferreira Maciel 3 Patrícia Helena Costa Mendes 4 Organizar a atenção integral à saúde do adolescente tem sido um desafio para a sociedade. Nos dias atuais, a necessidade de implantação de políticas públicas para a adolescência tornou-se obrigatória, considerando-se o crescente número de adolescentes e de jovens no Brasil, a importância do desenvolvimento integral de suas potencialidades e a prevenção às situações de risco nesta faixa etária (MINAS GERAIS, 2006). A adolescência é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a faixa compreendida entre 10 e 19 anos, enquanto o Estatuto da Criança e do Adolescente considera de 12 a 19 anos. Segundo BOUZAS (2011), a adolescência é uma etapa de desenvolvimento humano que sofre influências de fatores intrínsecos e extrínsecos. Os fatores intrínsecos estão relacionados com as transformações fisiológicas da puberdade e os extrínsecos são variáveis e mutáveis, estando relacionados ao meio ambiente, nível cultural e principalmente ao estilo de vida, sendo estudados e detectados apenas quando suas consequências já estão instaladas ou mediante situações de alta morbidade. Devido à adolescência ser um período marcado por intensas mudanças, dúvidas e indecisões, principalmente em relação à sexualidade, o adolescente encontra-se mais vulnerável à gravidez não planejada, às doenças sexualmente transmissíveis (DST), à experimentação de drogas, à exposição aos acidentes em decorrência do comportamento desafiador, além de diferentes formas de violência. Neste contexto, o Ministério da Saúde instituiu O Programa Saúde na Escola (PSE), uma política intersetorial entre os Ministérios da Saúde e da Educação, que visa promover o desenvolvimento pleno de escolares (crianças e adolescentes), aproveitando o espaço 1 Acadêmica do curso de graduação em Medicina pela Universidade Estadual de Montes Claros (MG). 2 Acadêmica do curso de graduação em Medicina pela Universidade Estadual de Montes Claros (MG) 3 Especialista em Saúde da Família. Enfermeira e Preceptora do PET-Saúde Independência III da Universidade Estadual de Montes Claros (MG) 4 Mestre em Ciências da Saúde. Cirurgiã Dentista e Preceptora da Residência Saúde da Família Universidade Estadual de Montes Claros (MG) 206

2 privilegiado da escola para práticas de promoção e prevenção da saúde. Uma de suas estratégias é a articulação entre Escola e Rede Básica de Saúde, em que profissionais de saúde lotados nas unidades de atenção básica à saúde desenvolvem atividades no ambiente escolar que priorizam a prevenção à gravidez não planejada, o uso e abuso de substâncias lícitas e ilícitas, às DST/Aids e à violência em todos os seus aspectos. Preferencialmente, estas atividades devem ser interdisciplinares, ou seja, envolverem o trabalho conjunto de profissionais de diferentes áreas, como odontólogos, enfermeiros e médicos. Em conformidade com a atual política pública citada, preceptores (representados por profissionais de saúde odontólogos, médicos e enfermeiros de unidades básicas de saúde da Estratégia Saúde da Família) do município de Montes Claros e acadêmicos do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (Pet-Saúde da Família) da Universidade Estadual de Montes Claros desenvolveram o Projeto Adolescer com Saúde na Escola uma atividade de extensão de cunho interdisciplinar e intersetorial. O Programa Pet-Saúde foi instituído na Universidade Estadual de Montes Claros em 2008, tendo como fio condutor a integração ensino-serviço-comunidade, estimulando a formação de profissionais de saúde com perfil adequado às necessidades e às políticas públicas de saúde do país (Portal Saúde, 2013). Este trabalho consiste em um relato de uma experiência exitosa com vistas a apresentar o Projeto Adolescer com Saúde na Escola desenvolvido por acadêmicos dos cursos de Medicina, Enfermagem, Odontologia, Biologia e Educação Física do PET-Saúde da Família da Universidade Estadual de Montes Claros, atuantes nas Estratégias Saúde da Família Independência I e III, do município de Montes Claros, Minas Gerais. Trabalhou-se com um grupo de adolescentes de uma escola municipal selecionada devido ao relevante número de alunos e ao alto índice de criminalidade na região. Tal projeto foi executado por meio de oficinas cujos temas englobaram vários aspectos sobre a saúde dos adolescentes e instigaram discussões para a formação do conhecimento e para a troca de experiências. Cada oficina teve duração aproximada de duas horas, com participação média de quinze adolescentes, todos alunos matriculados na Escola Municipal Maria de Lourdes Pinheiro, cenário do desenvolvimento do projeto. Os alunos adolescentes participantes do projeto foram selecionados por professores da escola, sendo definidos como aqueles com características de protagonistas juvenis. O projeto foi desenvolvido aos sábados, no período de 23/03/2011 a 04/06/2011. Foram realizadas sete oficinas, com temas diversos pertinentes ao ciclo de vida da adolescência. Para condução das oficinas foram utilizadas metodologias ativas e problematizadoras que possibilitam a inserção crítica do homem em seu processo de aprendizagem no contexto ao qual está inserido. 207

3 Dessa forma, a primeira oficina Adolescer com Saúde teve como objetivo principal promover o conhecimento dos alunos sobre os assuntos que seriam discutidos nas oficinas posteriores e identificar outros temas propostos pelos próprios alunos. Os temas propostos para as oficinas foram: Sexualidade e Namoro, Auto-Estima, Saúde Bucal, Cidadania (Direitos e Deveres) e Drogas. As outras oficinas seguiram uma ordem dinâmica, sempre objetivando levar os jovens a identificar os fatores de risco aos quais estão expostos, priorizando, assim, a promoção da saúde e prevenção de doenças. No final de cada oficina era oferecido um lanche aos estudantes presentes e integrantes do Projeto Adolescer com Saúde na Escola. Foram realizadas as seguintes oficinas: Sexualidade e Namoro: realizou-se uma gincana, em que adolescentes competiam em dois grupos, respondendo se as assertivas lidas pelos acadêmicos eram verdadeiras ou falsas. Auto-Estima: debateu-se sobre o impacto da auto-valorização na vida do adolescente. Saúde Bucal: foram expostas as principais afecções bucais e as técnicas de higiene bucal para prevenção das mesmas. Cidadania: os adolescentes foram estimulados a conceituar cidadania e dar exemplos de direitos e deveres, além de se ressaltar a importância do voto e do Estatuto da Criança e do Adolescente. Drogas: Nesta última, desenvolveu-se uma dinâmica de descontração Dinâmica do balão em que cada participante possuía um balão amarrado na perna. O objetivo era estourar o balão da equipe adversária. Foi um momento de bastante descontração que serviu para deixar os estudantes um pouco menos tímidos e ao mesmo tempo demonstrar que cada pessoa é responsável pela sua própria vida, representada metaforicamente pelo balão. Quando ele é protegido do inimigo externo (Droga) a pessoa é capaz de continuar vitoriosa no jogo da vida. Após esse momento, iniciou-se a discussão sobre drogas: o significado, os tipos, os efeitos no organismo, os motivos que levariam ao uso dessas substâncias e as consequências do uso das mesmas para a vida das pessoas. Para finalizar, foram mostrados vídeos que possuíam imagens impactantes de pessoas que fizeram uso de drogas. Oficina de avaliação: os adolescentes expuseram se suas expectativas em relação ao projeto foram alcançadas. Além disso, foram entregues certificados de participação e realizada uma confraternização. De acordo com a avaliação final das atividades feita pelos próprios adolescentes, pode-se inferir que as expectativas deles e os objetivos propostos pelos facilitadores foram alcançados. 208

4 Imagem 1: Algumas oficinas realizadas durante a realização do Projeto Adolescer com Saúde na Escola. Fonte: Acervo do Projeto PET-Saúde Independência I e III. De acordo com Brasil (1990), Lei 8069 de 13 de julho de 1990 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 7o, toda criança e adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, por meio de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, propiciando condições dignas de existência. Logo, percebe-se que é imprescindível o esclarecimento e sensibilização de jovens quanto a questões inerentes a esta fase da vida tão importante para o ser humano o adolescer. O projeto desenvolvido pelos acadêmicos do PET-Saúde permitiu a formação de sujeitos criativos, críticos e propiciou aos adolescentes a capacidade de refletir sobre a sua vivência, pois as diversas transformações físicas, mentais e sociais sofridas pelos adolescentes, que os conduzirão à fase adulta, os tornam vulneráveis a muitas situações e agravos (MINAS GERAIS, 2006). Verifica-se a relevância da participação de acadêmicos de diversas áreas em projetos que favoreçam o desenvolvimento de atividades que contribuam para a promoção da saúde e qualidade de vida da sociedade. O desenvolvimento de atividades intersetorias e 209

5 interdisciplinares são fundamentais para promoção em saúde e a prevenção de doenças, umas vez que abordam diversos temas por meio de diversos pontos de vista, levando os jovens à reflexão. Segundo Mendes (2008), a interdisciplinaridade vai além de uma justaposição ou adição de diferentes ângulos sobre determinados objetos de análise. As disciplinas se comunicam umas com as outras, confrontam e discutem as suas perspectivas, estabelecendo entre si uma interação mais forte. Já a estratégia de promoção da saúde e seu alcance intersetorial efetivo são compreendidos como motores de formulação de políticas públicas capazes de gerar qualidade de vida (PAIM, 2002). Dessa forma, a execução deste projeto pôde contribuir para a veiculação de informações pertinentes à faixa etária dos adolescentes participantes, no sentido de promoção à saúde e prevenção de agravos, além de proporcionar aos acadêmicos a vivência de atividades de educação em saúde voltadas para o público adolescente. O trabalho intersetorial desenvolvido permitiu a associação entre saúde e educação, duas ciências distintas, mas intimamente interligadas, umas vez que, segundo a Organização Mundial da Saúde (1948) Saúde é um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. Com isso, a educação é a ciência do conhecimento que permite ao indivíduo alcançar um bem-estar geral quando é incentivado a desenvolver o auto-cuidado em saúde. Em suma, o projeto Adolescer com Saúde na Escola representou uma experiência singular para os acadêmicos do PET-Saúde da Família da Universidade Estadual de Montes Claros ao promover um aprendizado crítico por meio da valorização do trabalho interdisciplinar e intersetorial. REFERÊNCIAS BRASIL. Presidência da República Casa Civil: Subchefia para Assuntos Jurídicos. Estatuto da Criança e do adolescente. Lei Nº 8.069, DE 13 DE julho de BOUZAS, Isabel. Síndrome metabólica na adolescência. Adolesc. Saúde. Rio de janeiro, v.8, n3, p , jul/set Estatuto da criança e do adolescente. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo; MENDES, Jussara Maria Rosa; LEWGOY, Alzira Maria Baptista; SILVEIRA, Esalba Carvalho. Saúde e interdisciplinaridade: mundo vasto mundo. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre. Junho,

6 MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Saúde. Atenção à Saúde do adolescente. Belo Horizonte: SAS/MG, p. OMS/WHO. Constituição da Organização Mundial da Saúde. New York, 22 de Junho de Disponível em: < Acesso em: 23 de Junho de Organização Mundial da Saúde. El embarazo y el aborto em la adolescência. Genebra; 1975 PAIM, J. S. Modelos assistenciais: reformulando o pensamento e incorporando a proteção e a promoção da saúde. pp In JS Paim. Saúde política e reforma sanitária. Ed. Cooptec/ISC. Salvador Portal Saúde [homepage]. Brasília, DF: Ministério da Saúde [acessado em 12 jun. 2013]. [2 telas]. Disponível em: < www. saude.gov.br/sgtes/petsaude> 211