Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Federal Geraldo Apoliano RELATÓRIO

Transcrição

1 RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Apelações interpostas pela União e pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS em face de sentença que, nos autos de Ação Ordinária, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela, julgou procedente a ação para determinar ao INSS e à União Federal a manutenção do pagamento da gratificação de férias no valor de um salário mensal, a ser efetuado no mês de outubro de cada ano, bem como a pagar as parcelas atrasadas, a partir do mês de outubro de 1996, atualizadas monetariamente nos termos da Lei nº 6.899/81, com o acréscimo de juros moratórios de 0,5% (meio por cento) ao mês a partir da citação. As Rés, ora Recorrentes, foram condenadas ao pagamento de honorários advocatícios de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação. Sustentam os Autores-Apelados, que trabalharam para a Petróleo Brasileiro S/A Petrobrás, e que foram demitidos por motivos políticos, em virtude do golpe de estado de 1964, tendo sido posteriormente anistiados. Afirmam que foram aposentados excepcionalmente pelo INSS, e que percebem o pagamento dos proventos, que é feito pela Autarquia, por intermédio da Fundação Petrobrás de Seguridade Social PETROS, que repassa para os Autores, ora Recorrentes, os valores percebidos pelo Instituto. Aduzem que o INSS sempre lhes pagou, como parte integrante do salário, a gratificação de férias, que corresponde ao valor de um salário mensal pago anualmente por ocasião das férias do empregado, e que tal gratificação foi cancelada desde o mês de outubro de Foi indeferida a pretensão de antecipação dos efeitos da tutela fl. Afirma a União, no recurso, que o artigo 8º do ADCT da Carta Magna impõe que seja pago aos aposentados anistiados uma remuneração nos moldes do salário que percebiam quando estavam trabalhando, e que isso não quer dizer que se deva incluir a gratificação de férias, haja vista que esta é um acréscimo 1

2 transitório no estipêndio do empregado, e que à vantagem só farão jus os que estejam em pleno exercício. Na apelação do INSS, se diz que o fato gerador do pagamento da gratificação de férias era o período aquisitivo vencido e as férias a serem gozadas pelo empregado, consoante as Normas da Petrobrás nº e e os acordos coletivos trazidos à colação. Aduz, ainda, que aos aposentados não são devidas férias, visto que estes já não estão trabalhando, estando impossibilitados de preencherem o requisito do período aquisitivo vencido, não tendo direito às férias ou a parcela acessória a esta. Nas contra-razões, alegam os Autores que a aposentadoria excepcional do anistiado é anômala e não se cinge aos pressupostos da legislação ordinária, garantindo aos seus destinatários uma renda mensal vitalícia igual ao vencimento dos seus pares em atividade. Também por força da Remessa Necessária os autos vieram para o Tribunal, e me foram redistribuídos, em razão da aposentadoria do Desembargador Federal Nereu Santos. É o relatório. 2

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4 princípio constitucional que assegura o duplo grau de jurisdição e à estabilização subjetiva da demanda. 4 - O Provimento nº 86/96, da Corregedoria Geral da Justiça Federal da 2ª Região, ao determinar que, a partir de 02 de setembro de 1996, todas as causas de natureza previdenciária fossem distribuídas, exclusivamente, às Varas 31ª a 40ª (inciso XI), especializou estas Varas em razão da matéria, prevendo hipótese funcional de concretização da competência no âmbito da Subseção da Capital do Estado do Rio de Janeiro, de caráter absoluto, 4

5 Art. 8º - É concedida anistia aos que, no período de 18 de setembro de 1946 até a data da promulgação da Constituição, foram atingidos, em decorrência de motivação exclusivamente política, por atos de exceção, institucionais ou complementares, aos que foram abrangidos pelo Decreto Legislativo nº 18, de 15 de dezembro de 1961, e aos atingidos pelo Decreto Lei nº 864, de doze de setembro de 1969, asseguradas as promoções, na inatividade, ao cargo, emprego, posto ou graduação a que teriam direito se estivessem em serviço ativo, obedecidos os prazos de permanência em atividade previstos nas leis e regulamentos vigentes, respeitadas as características e peculiaridades das carreiras dos servidores públicos civis e militares e observados os respectivos regimes jurídicos. (...) Art A aposentadoria excepcional será reajustada sempre que ocorrer alteração para maior no salário que o segurado estaria recebendo se permanecesse em atividade, observados os percentuais de cálculo previstos para cada caso. 1º Nos casos do 2º do art. 133, quando inexistir empresa ou sindicato para informar os valores que deveriam ser pagos, os reajustamentos far-se-ão pelos mesmos índices e bases dos demais benefícios de prestação continuada da Previdência Social. 2º A pensão por morte de segurado anistiado será reajustada, observando-se a aposentadoria-base calculada na forma dos arts. 133 e 134." Para mim, a legislação acima reproduzida não agasalha a pretensão dos Recorridos de perceberem a gratificação de férias. O pagamento de tal vantagem aos anistiados não pode ocorrer, ante a inexistência de lei específica (lei no sentido material e formal), sob pena de afronta ao princípio da legalidade, ao qual deve submeter-se, sem ressalvas, a Administração Pública. 5

6 De outra sorte, existem disposições legais que só beneficiam os trabalhadores da ativa, ou seja, há vantagens criadas por lei com o fim de contemplarem circunstâncias específicas e próprias dos que se encontrem no efetivo exercício de atividade laboral - é bom exemplo disso, a gratificação de férias. Quadra transcrever, a propósito, os seguintes arestos: PREVIDENCIÁRIO E ADMINISTRATIVO. ANISTIA. APOSENTADORIA EXCEPCIONAL. REVISÃO DO BENEFÍCIO. DECRETO 611/92. DECRETO 2172/97. GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS. IMPOSSIBILIDADE. - Hipótese em que servidor anistiado nos termos da lei 6.683/79, pugna pela manutenção das regras vigentes à época da concessão de sua aposentadoria excepcional, sem que ocorra a alteração prevista pelo Decreto 2172/97, pela Ordem de Serviço 561/97 ou por quaisquer atos administrativos posteriores, além do pagamento de férias referentes ao exercício de 1996 em diante. - Antes do Decreto 2172/97, outro, o de nº 611/92, já consagrava a correção da aposentadoria requerida pelo autor, passando o direito perseguido a fazer parte do patrimônio jurídico do segurado. - "A verba pertinente a 1/3 de férias não é devida aos inativos, porquanto se trata de vantagem destinada a quem, efetivamente, usufrui dessas férias, sendo, pois, devida exclusivamente ao servidor da ativa." (STJ, ROMS 11547/DF, J , DJ de ) - redução do percentual da verba honorária devida pelo INSS para 5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação, em face da sucumbência parcial. - Apelação do autor improvida. - Apelação do INSS e remessa oficial providas em parte - (Tribunal - Quinta Região, AC /SE, Primeira Turma, Decisão: 23/05/2002, DJ - Data: 19/12/ Página: 564, Desembargador Federal Castro Meira ). PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. APOSENTADORIA EXCEPCIONAL DE ANISTIADO. GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS. 14º 6

7 SALÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS MANTIDOS. 1. "A gratificação de férias tem por escopo beneficiar o trabalhador no gozo de seu período de repouso anual, não havendo justificativa para concedê-la ao aposentado, que não mais desfruta de férias anuais remuneradas." (TRF1, AC /BA, 2ª Turma Suplementar, Relator Juiz Federal MOACIR FERREIRA RAMOS, DJ de 11/03/2004, p. 67.) 2. Honorários advocatícios mantidos no mesmo patamar por se mostraram razoáveis (R$ 136,00). 3. Apelação não provida - (TRF - Primeira Região, AC /BA, Segunda Turma Suplementar, Decisão: 16/2/2005, DJ Data: 10/3/2005 Página: 97, Juiz Federal Flávio Dino de Castro e Costa (CONV.) ). PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. APOSENTADORIA EXCEPCIONAL DE ANISTIADO. GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS. 14º SALÁRIO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. IMPOSSIBILIDADE. REMESSA PROVIDA. APELAÇÃO PREJUDICADA. 1. A gratificação de férias tem por escopo beneficiar o trabalhador no gozo de seu período de repouso anual, não havendo justificativa para concedê-la ao aposentado, que não mais desfruta de férias anuais remuneradas. 2. Apelação prejudicada eis que versa acerca da antecipação dos efeitos da tutela e pelo imediato cumprimento do comando da sentença que com a sua total reforma, perde o sentido sua análise. 3. Remessa provida. Apelação prejudicada - (TRF - Primeira Região, AC /BA, Segunda Turma Suplementar, Decisão: 6/10/2004, DJ data: 11/11/2004 Página: 94, Relator Juíza Federal Gilda Sigmaringa Seixas (CONV.)). Isto posto, dou provimento à Apelação da União e à Remessa Oficial, e provimento, em parte, à Apelação do INSS. É como voto. 7

8 APTE : UNIÃO APTE : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL ADV/PROC : AUTA FRANÇA DE OLIVEIRA NEMÉZIO E OUTROS APDO : JOSE GONÇALVES LIMA E OUTROS ADV/PROC : BRENO MEDEIROS LINS REMTE : JUÍZO DA 4ª VARA FEDERAL DE ALAGOAS (MACEIÓ) - COMPETENTE P/ EXEC. PENAIS RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO EMENTA ADMINISTRATIVO. APOSENTADORIA EXCEPCIONAL. DOS ANISTIADOS. DIREITO À PERCEPÇÃO DA GRATIFICAÇÃO DE FÉRIAS. INEXISTÊNCIA. 1. Litisconsórcio passivo necessário entre o INSS e a União, eis que esta última custeia os valores devidos aos anistiados, a título de aposentadoria excepcional. 2. Impossibilidade do pagamento da gratificação de férias aos anistiados em face da inexistência de lei específica que autorize tal pagamento. 3. A percepção da gratificação de férias é uma vantagem própria dos que se encontram no exercício efetivo de atividade laboral, o que não é o caso dos aposentados anistiados. Precedentes. Apelação da União e Remessa Oficial, providas. Apelação do INSS provida, em parte. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, dar provimento à Apelação da União e à Remessa Oficial, e 8

9 provimento em parte à Apelação do INSS, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Custas, como de lei. Recife (PE), 26 de janeiro de 2006 (data do julgamento). Desembargador Federal Geraldo Apoliano Relator. 9