Em Conferencia no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução

Tamanho: px

Começar a partir da página:

Download "Em Conferencia no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução"

Bruna Mirandela Canejo
7 Há anos
Visualizações:

1 PN ; Ag.: TC Macedo de Cavaleiros (195/00) Ag.o 1 : Eurico Joaquim de Sousa,, Benlhevai, Vila Flor; Ag.os: A. Alberto Praça Jerónimo, Lda. 2,, Via Sul, Macedo de Cavaleiros; Mercedes Benz Portugal, Comércio de Automóveis, S.A. 3,, Abralheira, ap. 1, 2726 Mem Martins Em Conferencia no Tribunal da Relação do Porto I. Introdução (a) O Ag.e não se conforma com a decisão do tribunal de 1ª instância pela qual foi julgada a incompetência do Tribunal da Comarca de Macedo de Cavaleiros, por ser competente o Tribunal Judicial de Sintra. (b) Do despacho: (1) O documento... certificado de entrega do veículo ao cliente e as condições gerais de garantia Mercedes Benz... estipulam: os tribunais competentes para todas as questões derivadas desta garantia são os da Comarca de Sintra; (2) Ora, estes documentos não foram impugnados... e do certificado de entrega do veículo [assinado pelo recorrente, ] consta que no acto de entrega da viatura ao cliente lhe foram transmitidas... as condições gerais de garantia; (3) Assim, e uma vez que está em causa também a garantia de bom funcionamento, a cláusula de reserva territorial de jurisdição é clara, não sendo nula, já que determinada ao âmbito que a mesma refere: foi convencionada entre A. e R. a competência territorial, art. 100º CPC; logo, procedente a excepção... 1 Adv.ª: Dr.ª Maria Henriqueta Bracons, Rua Almirante Reis, 6 1º sl 3, Bragança. 2 Adv.: Dr. David Rodrigues, Rua Dr. Justino Cruz, 90 7º, 4700 Braga. 1

2 II. Cls/alegações (a) O recorrente não celebrou com a recorrida Mercedes Benz qualquer contrato de compra e venda de veículo LU, nem com esta negociou... mas apenas com Alberto Praça Jerónimo, Lda.. (b) Por outro lado, o certificado de entrega do veículo também não se mostra assinado por Mercedes Benz. (c) Portanto, o recorrente não negociou nem estipulou com a recorrida Mercedes Benz qualquer acordo sobre a competência territorial do Tribunal Judicial de Sintra para dirimir quaisquer conflitos sobre a garantia ou outros. (d) E as condições gerais de garantia derivam, sim, da existência do negócio jurídico subjacente, qual seja, a compra e venda do veículo que Mercedes Benz forneceu a Alberto Praça Jerónimo, Lda. e não ao recorrente; pelo que eventual acordo sobre a estipulação convencional da competência do Tribunal de Sintra apenas é válida entre as partes envolvidas nesse negócio jurídico subjacente, e não quanto ao recorrente, já que nenhum contrato de compra e venda foi celebrado entre este e Mercedes Benz. (e) Enfim, não se afigura até, quanto ao recorrente, que o acordo entre Mercedes Benz e Alberto Praça Jerónimo reuna as condições e requisitos exigidos pelo art. 100º/2.4 CPC, erradamente aplicado na decisão recorrida. (f) Por fim, inexistindo qualquer contrato de compra e venda entre recorrente e recorrida Mercedes Benz não é aplicável e obrigatória para o A. a estipulação unilateral aposta nas condições gerais de garantia quanto à reserva de competência jurisdicional. (g) Ainda assim, nos termos do disposto no art. 111º/3 2ª parte CPC, se a incompetência radicar na violação do pacto privativo de jurisdição, é o R. absolvido da instância, não tendo lugar a remessa dos autos ao Tribunal de Sintra, como foi decidido; pelo que foi desrespeitado também este preceito legal. (h) Deve ser considerado competente o Tribunal de Macedo de Cavaleiros para dirimir o pleito, e revogada a decisão recorrida, arts. 99º, 100º/2.4 CPC; 3 Adv.: Dr. Rui Pinto da Silva, Av. Duque de Ávila, 175 7º, Lisboa 2

3 quando assim se não entenda, não deve haver lugar à remessa dos autos para Sintra, art. 111º/3 do mesmo diploma legal. III. Contra-alegações (1) As condições gerais de garantia Mercedes Benz encontram-se descritas no verso do certificado de entrega do veículo ao cliente, assinado pelo A.. (2) E por se encontrarem inseridas no referido certificado de entrega do veículo ao cliente não é lícito, por parte do recorrente, alegar desconhecê-las ou não as ter aceite. (3) Entretanto, a cláusula específica das condições gerais de garantia determina: os tribunais competentes para todas as questões derivadas desta garantia são os da Comarca de Sintra. (4) Ora, quaisquer eventuais obrigações da recorrida perante o recorrente só poderiam decorrer da garantia de bom funcionamento do veículo. (5) E por força do contrato de garantia, qualquer pedido contra a recorrente pode apenas ser conhecido e apreciado pelo tribunal competente ao abrigo da cláusula compromissória: o tribunal competente é o Tribunal da Comarca de Sintra, como decidiu o tribunal a quo. (6) Deve ser negado provimento ao recurso. IV. Matéria assente: (1) O recorrente fez citar como R. Mercedes Benz Portugal, Comércio de Automóveis, S.A., nesta acção que intentou o Tribunal da Comarca de Macedo de Cavaleiros. (2) Alegou: (a) A R. é membro do grupo Daimler-Benz: distribui e comercializa em Portugal veículos produzidos por aquele conglomerado industrial, entre os quais os veículos de marca Mercedes Benz, sendo Alberto Praça Jerónimo, Lda. 3

4 concessionário desta marca para a zona de residência do A., e que assegura a assistência a tais veículos em oficina própria; (b) Comprou a Alberto Praça o veículo Mercedes Benz de matrícula LU, , pelo preço integral de Pte.: $00; (c)...desde o início da utilização deste, sofreu o veículo avarias sucessivas, e esteve na oficina do concessionário, para resolvê-las, entre /11.23, pelo menos três vezes uma das quais por uma semana: sem resultado, mais uma e outra vez; (d) Solicitou então a substituição do veículo e nem Alberto Jerónimo nem Mercedes Benz anuíram, seguindo outras tentativas de reparação; (e) Por fim, , saltou-lhe uma roda em Espanha, quando estava adstrito a uma entrega de cogumelos frescos, em Espanha; avariou em Lisboa, 07.99; em Vila Real, 11.99, tudo durante o período de garantia: os defeitos de funcionamento apresentados pelo veículo desde a entrega ao A. eram defeitos e problemas de origem; (f) Pede, pois [entre outras quantias], a título de indemnização pelo tempo em que esteve privado do seu veículo, para reparações: Pte.: $00; e o ressarcimento do lucro cessante numa partida de cogumelos frescos para França que não pôde transportar senão pela metade em veículo de substituição: Pte.: $00; ainda, e da mesma sorte Pte.: $00 pela diminuição de rendimento provocada pela necessidade de fornecimento à indústria dos cogumelos frescos transportados pelo Mercedes para entrega frustrada ao cliente espanhol. (3) Na contestação, Mercedes Benz deduziu excepção de incompetência, porquanto do certificado de entrega do veículo ao cliente, assinado pelo A., consta no verso (onde estão impressas as condições de garantia Mercedes Benz) a cláusula: os tribunais competentes para todas as questões derivadas desta garantia são os as Comarca de Sintra. (4) Na resposta o recorrente aduziu: o alegado pacto de jurisdição não obedece aos requisitos estipulados nos arts. 99º e 100º CPC, nem resultou de qualquer negociação entre o A. e a R. Mercedes Benz; a estipulação nomeadamente não especifica o critério de determinação do tribunal designado... 4

5 V. Recurso: pronto para julgamento, art. 705º CPC. VI. Sequência: (a) O recorrente não tem razão no principal. Na verdade, pede com fundamento na garantia de bom funcionamento do veículo prestada pelo fabricante, isto é, pela empresa do grupo industrial que concessiona em Portugal a comercialização dos automóveis de marca Mercedes Benz. E se assim o faz, aceita sem dúvida o contrato de garantia, no qual foi inserida a cláusula de reserva de jurisdição a Sintra, justamente a propósito dos conflitos derivados de avarias no período da garantia e, como é natural, por razão de a multinacional ter sede no país em Mem Martins, daquela comarca. (b) Por outro lado, o escrito donde a cláusula consta cumpre as especificações do art. 99º/4 CPC: é válido por todos os ângulos sobre que se observe a partir do quadro normativo que o autoriza, mas a que o recorrente dá leitura diversa, dizendo entretanto que o pacto não especifica o critério de determinação do tribunal designado...: parece claro, como acima se disse, poder ser deduzida tal como a deduziria um declaratário normal nas condições gerais e sabidas do comércio de automóveis de marca consagrada. (c) Contudo, tem razão o recorrente quando invoca em favor seu o art. 111º/3 CPC: no caso de incompetência radicada em contrariada ao pacto privativo de jurisdição o R. é absolvido da instância e não remetido o processo à comarca competente. Ora, para além do mais, esta solução permite ao recorrente continuar o deleito no Tribunal da Comarca de Macedo de Cavaleiros contra a R. Alberto Praça Jerónimo, Lda.. (d) Tudo visto, e os arts. 99º e 100º CPC, vai a decisão de 1ª instância confirmada na parte em que julgou incompetente o tribunal para conhecer do pedido formulado contra Mercedes Benz, Portugal, mas absolvida esta R., e apenas esta R. da instância. VII. Custas: na proporção que se fixa em 4/5, desfavorável ao recorrente. 5

Documentos relacionados

(b) Do desp acho: (1) O documento... certificado de entrega do veículo ao cliente e as

(b) Do desp acho: (1) O documento... certificado de entrega do veículo ao cliente e as PN 3228.02-5; Ag.: TC Macedo de Cavaleiros (195/00) Ag.o1:; Ag.os: A. Em Conferencia no Tribunal da Relação do Porto I. Introdução (a) O Ag.e não se conforma com a decisão do tribunal de 1ª instância pela