QUALIDADE DE ILUMINAÇÃO EM AMBIENTE DE TRABALHO
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- Carlos Eduardo Cabral Anjos
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1 QUALIDADE DE ILUMINAÇÃO EM AMBIENTE DE TRABALHO Maíra Vieira Dias (1) ; Ellen Priscila Nunes de Souza (2) (1) UNICAMP, mairavd@yahoo.com.br (2) UNICAMP, ellensouza.arq@gmail.com Resumo O ambiente de trabalho vem sendo modificado ao longo dos anos e apesar de ser dado maior enfoque ao desempenho e eficiência do trabalhador, esquece-se por vezes suas necessidades humanas. Este espaço deve ser alvo de uma arquitetura que preze tanto estas necessidades quanto o sistema produtivo. Neste sentido, a iluminação é um dos aspectos a ser considerado quando se visa a melhoria da qualidade ambiental. Este estudo analisou a qualidade e a ergonomia das condições de iluminação da Secretaria da Pós-Graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP/SP. Para tal, foram realizadas: i. avaliação preliminar do sistema luminoso e do ambiente com aplicação de fichas de campo; ii. avaliação qualitativa através do levantamento da distribuição de luminâncias no ambiente de trabalho com tomadas de Imagens de Grande Alcance Dinâmico - High Dynamic Range (HDR); e iii. avaliação quantitativa com aferição das iluminâncias do ambiente. Tais métodos permitiram concluir que o ambiente em questão apresenta como uma de suas maiores falhas a falta de integração entre o sistema luminoso natural, o artificial e o espaço físico, comprometendo a forma como o próprio ambiente de trabalho é sentido e percebido visualmente pelos seus funcionários. O presente artigo visa contribuir para a divulgação da necessidade de estudos que avaliem a qualidade da iluminação nesses espaços, tendo em vista não somente a produtividade, mas a segurança e o conforto visual. Palavras-chave: Qualidade da iluminação, Ergonomia da iluminação, Ambiente de trabalho, Imagens HDR. Abstract The work environment has been modified along the years and in spite of the focus on human performance and efficiency, the human's necessities are always forgotten. This space must be a target of architecture that esteem those needs and the productive system. In this way, lighting is one of the aspects to be considered when angle for a better environmental quality. This paper investigated both the quality and ergonomic lighting quality of the Post Graduation's Administrative Office of Architecture and Urbanism Department from UNICAMP/SP. Methods were: i. walkthrough of the luminous system and environment with specific application of lighting' sheets; ii. qualitative evaluation through the measure for luminance's mapping with High Dynamic Range (HDR) images; and iii. quantitative evaluation with the environment illuminance's gauging. Those methods helped to conclude that the bigger deficiency is integration between daylight system, artificial system and physical space. This endanger how the work environment is visually perceived and experienced by the users. The present paper intended to divulge a need for more researches that evaluate lighting quality at work spaces, looking for more then performance, but security and visual comfort. Keywords: Lighting quality, Lighting ergonomic, Work environment, HDR images. 1. INTRODUÇÃO O ambiente de trabalho vem sendo modificado ao longo dos anos, entretanto as mudanças 0828
2 mais significativas vieram a ocorrer nas últimas décadas com o surgimento e incorporação da informatização. Junto a esta, passou a ser dado maior enfoque ao desempenho e eficiência do trabalhador no seu posto de trabalho esquecendo-se por vezes de suas necessidades humanas. Assim, o espaço de trabalho deve ser alvo de uma arquitetura que preze tanto estas necessidades quanto o sistema produtivo. Neste sentido, a iluminação é um dos aspectos que devem ser considerados quando se visa a melhoria da qualidade ambiental, visto que sua ausência aliada a outros estímulos tem o poder de produzir um efeito positivo ou não ao provocar alterações no estado emocional e no humor daqueles que ali trabalham (BOUBEKRI, 1998, LYONS, 1992). Adentra-se, assim, no conceito de qualidade da iluminação. Muitos são os pesquisadores que tentam discorrê-la, tornando-a na maioria das vezes um simples check-list a ser seguido. No entanto, há aqueles que a definem de maneira mais plausível como Veitch e Newsham (1996). De acordo com estes autores a qualidade da iluminação vai existir quando as condições luminosas forem adequadas ao desenvolvimento das atividades a serem desenvolvidas no espaço. Portanto, quando se tem em mente este tipo de abordagem deve-se considerar também uma outra linha de estudo, a ergonomia, a qual visa a adaptação do homem ao trabalho desde o planejamento das atividades até a realização das mesmas, com avaliação de controle de riscos (IIDA, 2005). De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2011), a iluminação é caracterizada como um risco ambiental em potencial. Desta forma, segundo Piccoli, Carneiro e Brasil (2000), deve-se fazer uso do projeto ergonômico do trabalho considerando as dimensões do ambiente, a integração com os sistemas de iluminação, a percepção e cognição desses espaços a fim de obter maior motivação pessoal, conforto visual e segurança. 2. OBJETIVO Realizar uma análise no tocante à qualidade e ergonomia da iluminação em um ambiente de trabalho dentro do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP/SP. 3. METODOLOGIA 3.1. Estudo de caso Foi escolhida a Secretaria da Pós-Graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo localizada no segundo pavimento do edifício. O ambiente possui uma área de 14,15m² com: 2 estações de trabalho, mesas de apoio, armários e estantes diversas. Dois funcionários fazem uso do espaço no período das 9 às 17h, cinco dias na semana Avaliação preliminar do sistema luminoso Foi usada ficha de avaliação desenvolvida por Souza (2010) que descreve os componentes internos (piso, teto, paredes), o espaço e a distribuição da luz. Os dados foram sistematizados, delineando-se os aspectos positivos e negativos da distribuição da luz no ambiente analisado Avaliação qualitativa A avaliação qualitativa das luminâncias foi realizada através de imagens de Grande Alcance Dinâmico - High Dynamic Image (HDR). Para as tomadas de imagens HDR no ambiente foi utilizada a câmera fotográfica Sony Cyber-Shot DSC-S730 acoplada ao tripé Greika WT Em cada ponto analisado foram fotografadas 5 imagens com diferentes tempos de exposição variando de -2,0 a +2,0 com intervalos de 1,0. As imagens foram sobrepostas com 0829
3 o auxilio do software Picturenaut (2010) que forneceu a imagem HDR sendo processada no software RadDisplay (2010) para a geração de sua correspondente em Cores Falsas (CF) Avaliação quantitativa A aferição dos níveis de iluminância fez uso da norma brasileira NBR 5382: Verificação de Iluminância de Interiores (ABNT, 1985) para demarcação de oito pontos conforme a distribuição de luminárias do ambiente (ver Figura 1). O instrumento usado para a aferição foi o luxímetro modelo MLM-1010 da Minipa na altura do plano de trabalho, 0,75m. Figura 1 - Pontos de aferição e distribuição de luminárias. 4. RESULTADOS 4.1. Avaliação qualitativa As tomadas de imagens HDR ocorreram no dia 26 de abril do corrente ano, das 9:55h às 10:30h, tanto para a condição real de uso, com luzes acesas, como para luzes apagadas de forma a verificar a necessidade de acionamento do sistema de iluminação artificial. Nestas foram sobrepostas a máscara do campo visual binocular normal (WEBB, 1964), onde a porção central representa a região de visão de ambos os olhos, a área cinza corresponde à visão periférica e a preta à parte não visualizada pelo indivíduo. A análise qualitativa foi realizada mediante a percepção visual das pesquisadoras. As Figuras 2 e 3 mostram o primeiro posto de trabalho, onde foi verificada a não integração entre o layout e os sistemas de iluminação. Independente das luzes estarem acesas ou não, há ofuscamento direto no campo visual da funcionária. A parede que contém a janela está pintada em vermelho contribuindo para uma sensação visual desagradável e comprometendo as atividades realizadas. Os usuários também são prejudicados porque o balcão de atendimento fica de frente para a janela e para a parede vermelha. Já nas Figuras 4 e 5, o ofuscamento indireto é caracterizado por um brilho na tela do computador do segundo posto de trabalho. De acordo com a OSRAM [200-] e a Ganslandt e Hofmann (1992), o valor de luminância que causa incômodo e consequente ofuscamento se dá a partir de 200 cd/m². A lâmpada fluorescente atinge cd/m² (GANSLANDT e HOFMANN, 1992), o que a torna a principal causadora do ofuscamento, muitas vezes por estar no campo de visão do usuário: máximo de 45º para cima e para baixo quando está em pé; 30º para cima e 60º para baixo quando está sentado. Além disto, a recorrente parede vermelha contribui para uma reflexão da mesma cor na parede lateral a esta estação de trabalho, gerando cansaço visual. Quando a luz está acesa (ver Figura 4) a iluminação é mais uniforme e esta reflexão é minimizada. Figura 2 - Primeiro posto de trabalho: luzes acesas. Figura 3 - Primeiro posto de trabalho: luzes apagadas. 0830
4 Figura 4 - Segundo posto de trabalho: luzes acesas. Figura 5 - Segundo posto de trabalho: luzes apagadas. Legenda: Níveis de luminância em cd/m² 4.2. Avaliação quantitativa Através das curvas isolux geradas a partir da aferição de iluminâncias in loco, foi observado que durante o dia não há necessidade das lâmpadas estarem acionadas, tendo em vista que existe uma predominância de faixa de luz correspondente a 400~600 lx (ver Figura 6). A faixa compreendida acima de 600 lx dispensa o acionamento de lâmpadas próximas a ela. Mesmo com a luz apagada (ver Figura 7), há iluminação suficiente (200~400 lx) para o desenvolvimento das atividades e quando necessário deve-se utilizar iluminação de tarefa. Reforça-se, assim, que as medições foram realizadas no período entre-estações verão/inverno, o que indica o início da queda dos valores naturais de luz aferidos. Figura 6 - Curva isolux: luzes acesas. Figura 7 - Curva isolux: luzes apagadas. Legenda: CONCLUSÕES O estudo realizado na Secretaria de Pós-Graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP/SP mostrou que o sistema de iluminação existente não é bem 0831
5 integrado ao layout do ambiente de trabalho e suas respectivas superficies internas. O que traz complicações não somente quanto à qualidade da iluminação e sua funcionalidade, mas também quanto aos gastos energéticos dispendidos de forma não racional. O acionamento das luminárias não ocorre de modo isolado, de forma que não é possível acender apenas as lâmpadas mais distantes da janela onde são encontrados níveis menores tanto de iluminância quanto de luminância. A parede vermelha não contribui para uma maior uniformidade na distribuição da luz por sua alta taxa de absortância. Se as susperfícies internas fossem mais claras haveria uma maior reflexão da luz, criando assim um ambiente mais agradável e menos cansativovisualmente. No entando, cuidados com o ofuscamento e brilhos excessivos devem ser tomados independente do layout adotado e das cores empregadas no ambiente de trabalho. Falhas na concepção dos projetos arquitetônico e luminotécnico comprometem a percepção e cognição visuais do próprio ambiente de trabalho por parte de seus usuários. Demonstra-se então a importância da realização de pesquisas deste porte, tendo em vista o ser humano como instrumento de medida visando sempre um ambiente de qualidade. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 5382: Verificação de iluminância de interiores. Rio de Janeiro, BOUBEKRI, M. Daylighting, architecture and health. EUA: Elsevier, GANSLANDT, R., HOFFMANN, H. Handbook of Lighting Design. ERCO Edition. Alemanha: Vieweg, IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher, LYONS, S. Lighting for industry and security. A Handbook for Providers and Users of Lighting. Grã- Betanha: Butterworth Heinemann, BRASIL (Ministério da Saúde). Doenças relacionadas ao Trabalho: Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde do Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, OSRAM. Manual Luminotécnico Prático. São Paulo: OSRAM, [200-]. PICCOLI, G. S.; CARNEIRO, J. C. D.; BRASIL, P. C. G. A importância da integração do layout ao espaço. Revista Virtual de Ergonomia - Ensaios de Ergonomia. Santa Catarina: Revista Virtual de Ergonomia/UFSC, Disponível em < Acesso em abril, PICTURENAUT. Versão 3.0. [S.I.]: HDRLab, RADDISPLAY. Versão França: DeLuminae Lab, SOUZA, E. P. N. Iluminação nas áreas de hall e circulação de shopping center: Maceió shopping, um estudo de caso. Mestrado (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas do Espaço Habitado (DEHA/UFAL). Maceió: DEHA, p.148p. VEITCH, J. A.; NEWSHAM, G. R. Determinants of Lighting Quality II: Research and Recommendations. Lighting Research & Recommendations. Canadá: National Research Council of Canada, WEBB, M. D. Bioastronautics Data Book/ NASA SP Washington: NASA, Disponível em < Acesso em ago,
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