O PROCESSO DE MORTE E MORRER NA PRÁTICA DE ENFERMAGEM: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA 1
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- Milena Dinis Farias
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1 O PROCESSO DE MORTE E MORRER NA PRÁTICA DE ENFERMAGEM: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA 1 DIAS, Matheus Viero 2 ; BACKES, Dirce Stein 3 ; ILHA, Silomar 4 ; NICOLA, Glaucia Dal Omo 5 ; VIDAL, Danielle Adriane Silveira 6 ; MENDES, Daniel 7 ; PIEXAK, Diéssica Rogia 8 ; GAUTÉRIO, Daiane Porto 9 RESUMO Pretende-se com este relato de experiência refletir acerca da temática que envolve o processo de morte e morrer, a partir de um pensamento complexo e multidimensional, servindo como um alerta para as instituições de ensino superior quanto à importância de tratar de forma mais aprofundada este assunto nas salas de aula, principalmente na enfermagem, pois a mesma encontra-se diretamente com o paciente em todas as suas fases da vida, incluindo este processo. O caso exposto é de um jovem paciente com câncer que encontra-se na fase terminal da doença e as suas relações com a equipe de enfermagem. A partir disso percebe-se a lacuna no conhecimento da enfermagem enquanto ciência frente a temática aqui abordada, promovendo o despreparo dos profissionais desqualificando o cuidado oferecido. Descritores: Enfermagem; Morte; Cuidados de enfermagem; Cuidado paliativo. 1 Relato de experiência. 2 Enfermeiro. Mestrando do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande (PPGEnf/FURG), Rio Grande, RS, Brasil. enf.matheusviero@gmail.com 3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Cataria (UFSC). Docente do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. 4 Enfermeiro. Mestrando do PPGEnf/FURG. 5 Enfermeira. Mestranda do PPGEnf/FURG. 6 Enfermeira. Mestranda do PPGEnf/FURG. 7 Enfermeiro. Mestrando do PPGEnf/FURG. 8 Enfermeira. Doutoranda do PPGEnf/FURG. 9 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo PPGEnf/FURG. 1
2 ABSTRACT It is intended to reflect whit this experience report on the subject that involves the process of death and dying, from a complex and multidimensional thinking, serving as a warning to institutions of higher education regarding the importance of addressing whit this in more depth subject in the classroom, especially in nursing, because it is directly with the patient in all stages of life, including this process. The case described is of a young cancer patient who is in the terminal phase of the disease and its relationship with the nursing staff. From this we can see the gap in knowledge of nursing as a science compared to themes addressed here, promoting unprepared professionals disqualifying the care provided. Keywords: Nursing; Death; Nursing care; Palliative care. 1. INTRODUÇÃO Abordar as questões de morte e morrer, para a enfermagem, sem dúvida, é uma das mais duras realidades, pois apesar de seus melhores esforços, alguns de seus pacientes falecem. Frente a isso, vivenciar a proximidade da morte é uma experiência única e imbuída de enorme carga emocional 1. Embora essa realidade seja imutável, podemos desempenhar um efeito significativo sobre a maneira pela qual os pacientes evoluem neste processo, sobre a maneira como este ocorre e sobre as memórias da morte projetadas para as famílias. A morte é um fenômeno antigo na natureza, entretanto ela permanece sem definição até os dias atuais. Exceto as bactérias e alguns protistas elementares, todos os seres vivos, tanto animais como vegetais, estão destinados a morrer. A morte é, portanto, um fenômeno constante e biologicamente necessário 2. Assim, falar sobre a morte e o morrer não é uma tarefa fácil, pois essas palavras acionam mecanismos cerebrais que afloram nossas referências de vida. Aceitar o fato de que nossa existência, bem como a das pessoas que amamos, tem um "prazo de validade" desconhecido, é árduo. Esse medo do desconhecido torna a morte uma questão difícil de ser discutida, enfrentada e pesquisada 3. Por outro lado, este processo é dificultado devido muitas vezes os profissionais, ainda como acadêmicos, não foram estimulados a refletir sobre a morte e o processo de morrer 4. 2
3 Neste contexto, a enfermagem mostra-se inteiramente responsável pela educação dos pacientes no que diz respeito às possibilidades e probabilidades do convívio com a doença, bem como fornecer o apoio necessário quando realizam a tomada de decisão dos possíveis tratamentos e o término da vida. Assim, fornecer o cuidado para pacientes que estão próximos à morte e estar presente no momento do óbito pode ser uma das experiências mais recompensadoras que os profissionais da enfermagem vivenciam 5. Nesse sentido, o enfermeiro que atua em cuidados paliativos, deve buscar por meio do seu conhecimento, amenizar ou sanar qualquer tipo de desconforto que o paciente e/ou família apresente 6. Porém, não há uma preparação exata para a hora da morte, e são nos momentos antes deste processo que devemos ter subsídios como enfermeiro. No Brasil, poucas faculdades de enfermagem têm a temática da morte no seu currículo ou como disciplina optativa 7. Assim, uma grande parcela dos profissionais de saúde que trabalham com pacientes nestas condições, não estão recebendo a adequada capacitação e isso irá repercutir negativamente nos cuidados prestados aos pacientes que encontram-se em estado terminal. Ou seja, o ensino sobre a morte e o morrer encontra-se fragmentado, pouco consistente e superficial 1. Dito de outra forma, as dificuldades da enfermagem ao enfrentar as necessidades dos pacientes terminais devem-se à falta de formação adequada 7. Frente a isto, pretende-se com este relato de experiência refletir acerca da temática que envolve o processo de morte e morrer, a partir de um pensamento complexo e multidimensional, servindo como um alerta para as instituições de ensino superior quanto à importância de tratar de forma mais aprofundada este assunto nas salas de aula, principalmente na enfermagem, pois a mesma encontra-se diretamente com o paciente em todas as suas fases da vida, incluindo este processo. 2. METODOLOGIA Estudo do tipo relato de experiência desenvolvido a partir das indagações dos autores no desenvolver do curso de graduação em enfermagem. Estas percepções foram obtidas a partir das aulas teórico-práticas e dos estágios curriculares vivenciados no decorrer da academia. 3. RELATO DE EXPERIÊNCIA Durante a vivência acadêmica dos autores, pôde-se perceber que diversos alunos da graduação em enfermagem já possuem o curso técnico profissionalizante em enfermagem. 3
4 Porém, como todos os demais alunos, mostravam-se inteiramente despreparados para atuar frente ao processo de morte e morrer que alguns pacientes apresentavam. Deste modo, nota-se a carência de conhecimento sobre a temática e a lacuna que o ensino proporciona aos futuros enfermeiros. Como forma de exemplificar a afirmação, iremos relatar um caso específico que os autores presenciaram em sua prática acadêmica CASO VIVENCIADO Paciente oncológico do sexo masculino, 40 anos, divorciado e sem filhos internado na clínica médica de um hospital de grande porte para cuidados paliativos. O mesmo encontrava-se calmo, comunicativo com limitações e ciente de sua condição de saúde. Nestas condições, percebeu-se que a equipe de enfermagem se mostrava bastante distante do paciente, uma vez que aproximava-se do leito somente para realizar os procedimentos necessários. Porém, estes eram executados de maneira rápida a fim de não proporcionar abertura para um diálogo entre enfermagem e o cliente devido ao medo das possíveis perguntas que poderiam ser realizadas. Com isso, percebemos o total descaso para com o paciente em processo de morte devido o total despreparo dos funcionários. Por outro lado, os acadêmicos também sentiam insegurança para atuar junto do mesmo, uma vez que não receberam qualquer preparo para determinado cuidado prestado. Assim, fomos estimulados pelo professor supervisor do estágio a desempenhar nossas funções para com este paciente, uma vez que seria de extrema importância tanto para a nossa vivência pessoal e profissional, quanto para o bemestar do paciente que encontrava-se naquela situação. Deste modo, um pequeno grupo formado pelos acadêmicos dirigiu-se ao leito do paciente para uma inicial entrevista a fim de desenvolver uma possível anamnese, dentro das limitações do paciente. A partir desta, foi possível compreender a singularidade e a complexidade que um ser humano fora de possibilidade de cura apresenta. Com isso, os acadêmicos conseguiram proporcionar ao paciente um momento de descontração e esquecimento do estado geral em que o mesmo se encontrava e desenvolver um cuidado de enfermagem qualificado, rompendo as barreiras e os pré-conceitos estabelecidos entre enfermagem-usuário do serviço. No dia seguinte, os acadêmicos retornaram à referida unidade e o paciente havia ido à óbito, causando uma ambiguidade de sensações que permeavam o sentimento de tristeza devido à pessoa que tinha partido e o reconhecimento de um trabalho de qualidade realizado e a certeza de que a diferença havia sido feita. 4
5 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir desta vivência, percebe-se a lacuna que se forma no que diz respeito ao conhecimento sobre o processo de morte e morrer. Isto se deve à precária preparação dos acadêmicos na graduação, repercutindo em uma deficiência no cuidado prestado na sua futura prática profissional. Neste aspecto, ressalta-se a importância do preparo do acadêmico para situações de conflitos gerados perante a morte. Desta forma, acredita-se que a adequada atenção à esta temática proporcionará uma assistência qualificada, sendo assim, a enfermagem enquanto ciência obterá uma maior visibilidade profissional, promovendo uma assistência de excelência. REFERÊNCIAS 1. Araujo M M T, Silva M J P. O conhecimento de estratégias de comunicação no atendimento à dimensão emocional em cuidados paliativos. Texto contexto-enferm. 2012; 21 (1): Santos F S. Conceituando morte. In:. Cuidados Paliativos: Discutindo a vida, a morte e o morrer. São Paulo. Editora Atheneu, Cap 21, p Silva K S, Ribeiro R G, Kruse M H L. Discursos de enfermeiras sobre morte e morrer: vontade ou verdade?. Rev. bras. enferm. 2009; 62 (3): Carvalho L S, Oliveira M A S, Portela S C, Silva, C A, Oliveira, A C P, Camargo C L. A morte e o morrer no cotidiano de estudantes de enfermagem. R Enferm. UERJ, Rio de Janeiro. 2006; 14(4): Brunner & Suddarth. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, Waterkemper R, Reibnitz, K S. Cuidados paliativos: a avaliação da dor na percepção de enfermeiras. Rev. Gaúcha Enferm. 2010; 31(1): SANTOS, F. S. Tanatologia: A ciência da educação para a vida. In:. Cuidados Paliativos: Discutindo a vida, a morte e o morrer. São Paulo. Editora Atheneu, Cap 1, p
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