ADUBAÇÃO ORGÂNICA COM TORTA DE FILTRO DE CANA-DE-AÇÚCAR NO ALGODOEIRO SEMIPERENE BRS 200 NO CARIRI CEARENSE.
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1 ADUBAÇÃO ORGÂNICA COM TORTA DE FILTRO DE CANA-DE-AÇÚCAR NO ALGODOEIRO SEMIPERENE BRS 200 NO CARIRI CEARENSE. José Rodrigues Pereira (Embrapa Algodão / rodrigue@cnpa.embrapa.br), Gilvan Barbosa Ferreira (Embrapa Algodão), Tarcísio Marcos de Souza Gondim (Embrapa Algodão), José Wellington dos Santos (Embrapa Algodão), Dalfran Gonçalves Vale (Embrapa Algodão). RESUMO - O experimento foi conduzido no Campo Experimental da Embrapa Algodão, em Barbalha, CE, objetivando determinar a melhor dose de torta de filtro, resíduo de usina de cana local, no crescimento e produção do algodoeiro semiperene colorido BRS 200. O delineamento experimental utilizado foi blocos casualizados com cinco repetições, usando-se as doses de 0, 20, 40, 60 e 80 t ha -. Concluiu-se que o uso de 62 t ha - de torta de filtro de cana-de-açúcar permitiu o alcance das maiores produtividades e crescimento em altura do algodoeiro no primeiro ano de plantio. Palavras-chave: rendimento, altura, diâmetro ORGANIC FERTILIZATION WITH SOLID SUGAR CANE RESIDUE IN SEMIPERENNIAL COTTON BRS 200 IN CARIRI OF CEARÁ, BRAZIL ABSTRACT - Experiment was carried out in Embrapa Cotton, Barbalha, CE, aiming at to evaluate the best dose of solid sugar cane residue in the growth and production of semiperennial cotton BRS 200. It was used a randomized blocks design with five replications, using the doses of 0, 20, 40, 60 e 80 t ha -. It was concluded that the best production and growth of the semiperennial cotton BRS 200 crop were obtained using 62 t ha - of solid sugar cane residue in the first year of planting. Key words: yield, height, diameter. INTRODUÇÃO O algodoeiro semiperene responde bem à adubação orgânica, tendo Medeiros e Pereira (2000) mostrado que seu efeito residual é significativo por até 4 anos. Os materiais orgânicos fornecem nutrientes e, principalmente, condicionam o solo, melhorando sua retenção de água e suas características estruturais, inclusive favorecendo a absorção dos nutrientes minerais aplicados (RAIJ et al., 996). Sua viabilidade, no entanto, é restrita aos locais onde haja em abundância e a baixo custo. Na usina de açúcar e álcool Manoel Costa Filho, Barbalha-CE, há um excedente de torta de filtro que a indústria doa para quem quiser aplicar em sua propriedade. A torta de cana, mais conhecida como torta de filtro Oliver, é um resíduo obtido na fabricação do açúcar, depois que as borras resultantes da clarificação têm a sua sacarose residual extraída. Para cana-de-açúcar, pode ser empregada de dois modos: distribuída a lanço e incorporada, como o esterco de curral, na dose de 40 a 50 t/ha; e misturada aos demais adubos no sulco de plantio. A sua composição é muito variável, apresentando teores razoáveis de nitrogênio e fósforo (Tab. ) e é relativamente pobre em potássio (vai parar na vinhaça ou restilo outro resíduo das usinas de açúcar e de álcool), por essa razão é conveniente, no caso de se pretender adubar só com esse material, corrigir a sua composição acrescentando uma quantidade de cloreto de potássio (MALAVOLTA et al., 2002). O uso desse produto é interessante por sua capacidade de melhorar estruturalmente o solo e beneficiar sua fertilidade e capacidade produtiva, além de evitar a poluição das áreas circunvizinhas ao
2 pátio da indústria, por acúmulo no local. Adicionalmente, seu uso no algodão semiperene colorido BRS 200 pode proporcionar ganho adicional na venda da produção pela viabilização de seu manejo orgânico entre os pequenos agricultores de Barbalha, CE, sobre extensas áreas de solos arenosos. Desse modo, este trabalho teve por objetivo determinar a melhor dose de torta de filtro, resíduo de usina de cana local, no crescimento e produção do algodoeiro semiperene colorido BRS 200 em condições de sequeiro no Cariri Cearense. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no ano de 2003 no Campo Experimental da Embrapa Algodão, Barbalha, CE, localizado na microrregião Cariri Cearense, com coordenadas de 7 o 9 S, de 39 o 8 W e 409,03 m de altitude (BRASIL, 992). O solo de textura arenosa (AREIA FRANCA) e baixo teor de matéria orgânica, do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo, antes da instalação do experimento, apresentava as seguintes características químicas: ph (em água) igual a 6,0, teores de Ca +2, Mg +2, Na + e K + iguais a 9,0, 7,0, 0,6 e 2, mmol c /dm 3, respectivamente, teor de fósforo igual a 5,06 mg/dm 3 de P e 5,27 g/kg de matéria orgânica. A caracterização físicoquímica da torta de filtro de usina de cana de açúcar, utilizada no experimento, encontra-se na Tabela. O experimento foi delineado em blocos casualizados com cinco repetições, sendo que os tratamentos foram cinco doses de torta de filtro (0, 20, 40, 60 e 80 t/ha). A unidade experimental teve área útil de 2,0m x 5,0m (0,0 m 2 ). Não houve adubação mineral. O preparo do solo foi efetuado através de duas passagens com grade niveladora. Utilizou-se a cultivar de algodoeiro semiperene colorido BRS 200. O plantio foi realizado manualmente (28/02/2003) no espaçamento de,00m x 0,50m, mantendo-se uma densidade de 2 plantas/cova após desbaste (02/04/2003 _ 29 dias após a germinação). Os sulcos (com 0-5cm de profundidade), onde colocouse a torta de filtro, inicialmente foram cobertos ao nível do solo. Em seguida, foram reabertos (com 5cm de profundidade) para plantio de 5 a 6 sementes de algodão a cada 0,50m. O controle de pragas e de ervas daninhas foi feito a contento conforme recomendações de manejo da Embrapa Algodão. Por ocasião da primeira colheita (6/06/2003), foram tomados dados de altura, de diâmetro do caule e do número de capulhos em 0 plantas por parcela. O rendimento foi calculado com base nas duas colheitas efetuadas. Tabela. Caracterização físicoquímica da torta de filtro de usina de cana de açúcar utilizada no experimento. Barbalha, CE Umidade PB 2 N P 2 O 5 K 2 O CaO MgO Cinza kg/t 87,2 40,5 6,5 3,8 4,7 2,6 0,5 844,2 Resultados expressos em relação percentagem de matéria seca a 05ºC por 24h. 2 PB - Proteína Bruta ( %N x 6,25 ) RESULTADOS E DISCUSSÃO O algodoeiro BRS 200 respondeu fortemente em crescimento (altura e diâmetro) e em produção (produtividade e número de capulhos por planta) às doses de torta de filtro aplicadas (Tabs. e 2). A dose de máxima eficiência produtiva foi 62, 53, 62 e 54 t/ha, respectivamente, para produtividade, número de capulhos/planta, altura e diâmetro do caule, conforme pode ser visto na
3 Figura. Os valores dessas variáveis alcançados com as doses citadas foram 726,5 kg/ha, 7,3 capulhos/planta, 64,5 cm e 8,0 mm, respectivamente. Os resultados confirmam tanto o efeito positivo da torta sobre a nutrição do algodoeiro como seu efeito melhorador das propriedades físicas do solo, dada a maior retenção de água provocada pela adição da matéria orgânica no solo usado, que tem textura areia franca. As doses de torta aplicadas tinham potencial para fornecer algo próximo a até 520, 304, 376,.008 e 840 kg/ha de N, P 2 O 5, K 2 O, CaO e MgO, respectivamente, com a aplicação da dose de 80 t/ha, baseado nos teores constantes na Tabela. Como o solo utilizado era pobre em nutrientes, provavelmente a resposta observada foi predominantemente devido ao efeito nutricional do adubo orgânico utilizado. Como a maior parte dos nutrientes aplicados via torta tende a ficar no solo para mineralização completa nos anos seguintes é possível que haja um efeito residual considerável com o uso desse adubo. Estudos adicionais estão sendo efetivados para estimar esse efeito , y = -0,0043x 3 + 0,4662x 2-8,x + 46,4 R 2 = 0,50 2,9 y = -0,0002x 2 + 0,07x + 2,3383 R 2 = 0,5985 2,8 700 Rendimento (kg/ha) N capulhos 2,7 2,6 2, ,4 400 Doses de torta de filtro (t/ha) 2,3 75 8,5 70 y = -0,006x 2 + 0,7563x + 4,07 R 2 = 0,6949 8,0 y = -0,0006x 2 + 0,068x + 6,2877 R 2 = 0, Altura (cm) Diâmetro(mm) 7,5 7,0 50 6, ,0 Figura. Produtividade de algodão em caroço, número de capulhos por planta, altura e diâmetro do caule do algodoeiro semiperene BRS 200 em função de doses de torta de filtro. Barbalha, CE, Apesar dessa variedade ter condição de produzir.300 kg/ha, em condições de sequeiro, a máxima produtividade alcançada foi de 726,5 kg/ha de algodão em caroço. Possivelmente, a relação C:N larga do material usado (27:, segundo Raij et al., 996) tenha diminuído a efetividade do nitrogênio fornecido pela torta, além de reduzir as quantidades fornecidas dos demais nutrientes por
4 restrição na mineralização. Pois, neste caso, durante a sua mineralização, grande parte do N aplicado é imobilizado pelos microorganismos do solo. Ocorreu veranico durante o cultivo e isto pode, também, explicar as baixas produtividades medidas. Tabela 2. Análise da variância (Quadrado Médio) das variáveis produtividade de algodão em caroço (kg/ha), número de capulhos por planta, altura de planta (cm) e diâmetro caulinar (mm) do algodoeiro semiperene BRS 200, em função de doses crescentes de torta de filtro. Barbalha, CE Fonte de Variação G.L. Produtividade Capulhos () Altura Diâmetro Tratamentos Regressão Linear Reg. Quadrática Regressão Cúbica Desvio Blocos Erro ,00 ** 38864,50** 2947,50 ns 85698,00* ,00** 494,00 ns 5309,62 0,27 ** 0,38* 0,27* 0,03 ns 0,40* 0,03 ns 0,06 658,52 ** 408,74** 42,65** 33,82 ns 669,86** 8,88 ns 34,70 3,6 ** 5,35** 3,6** 0,20 ns 5,29** 0,9 * 0,30 C.V (%) - 2,85 9,52 0,40 7,35 () Dados transformados (X+0,5) 0,5 ; (ns), * e ( ** ) Não significativo, significativo a 5 e a % de probabilidade (Teste F), respectivamente. Tabela 3. Valores médios das variáveis rendimento de algodão em caroço, número de capulhos, altura de planta e diâmetro caulinar do algodoeiro semiperene colorido BRS 200 sob doses de adubação orgânica. Barbalha, CE Torta de Filtro (t/ha) Rendimento Capulhos Altura Diâmetro (kg/ha) (unidade/planta) (cm) (mm) ,92 4,36 6, ,79 56,04 7, ,05 53,24 7, ,38 73,20 8, ,42 59,32 7,54 MÉDIA 566,40 5,67 56,63 7,40 Observando a Figura, pode-se perceber que a adubação com torta de filtro permitiu a planta do algodoeiro crescer em altura e diâmetro do caule e reter maior número de capulhos, o que resultou no aumento da produtividade de algodão em caroço. Essa resposta é interessante porque o BRS 200 tem a tendência de forte crescimento vegetativo quando as condições nutricionais são muito favoráveis. Assim, provavelmente, a baixa disponibilidade do N aplicado permitiu conter o crescimento da planta e a expressão do seu potencial produtivo. Espera-se que a adubação nitrogenada possa permitir alcançar maior produtividade, porém com doses pequenas (igual ou ligeiramente menor do que o recomendado para condições de sequeiro no Nordeste, cerca de 60 kg/ha de N), para não estimular o crescimento vegetativo excessivo da planta. Nesse caso, sua aplicação parcelada ½ no plantio e o restante aos dias da germinação é recomendável, pois evita a redução da disponibilidade de N induzida na planta pela mineralização. O uso de 62 t/ha de torta de cana no algodoeiro é inviável pelo custo do transporte do material e de sua distribuição na área, especialmente se a cultura for anual e tiver baixa produtividade. Entretanto, considerando que o efeito da adubação orgânica se estende por, no mínimo, quatro anos, que o BRS Marrom tem ciclo produtivo de 3 anos e que o uso de adubação nitrogenada (30-60 kg/ha) pode aumentar a produtividade da cultura para níveis superiores a.300 kg/ha, complementando o
5 fornecimento de nutrientes da torta, além da possibilidade do agricultor dispor de caminhão próprio para o transporte do material ou a indústria faça esse investimento no intuito de se livrar do resíduo, é provável que essa se torne uma medida eficiente de incorporação de áreas arenosas, marginais, ao processo produtivo do algodoeiro de forma rentável. CONCLUSÃO O uso de 62 t/ha de torta de filtro de cana-de-açúcar permitiu o alcance das melhores produtividades e crescimento em altura do algodoeiro BRS Marrom no primeiro ano de plantio. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Departamento Nacional de Meteorologia. Normais climatológicas: Brasília: DNMET, p. MALAVOLTA, E.; GOMES, F. P.; ALCARDE, J. C. Adubos e adubações. São Paulo: Nobel, p , MEDEIROS, J. da C; PEREIRA, J. R. Adubação e manejo da resteva de algodoeiro arbóreo precoce. Revista de Oleaginosas e Fibrosas, v. 4, n. 2, p , RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M. C. (Ed.) Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo, 2.ed. Campinas: IAC, p. (Boletim Técnico, 00).
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