Gabinete do Desembargador CAMARGO NETO ApC(04) APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) CERES
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1 APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) CERES APELANTE: APELADO: RELATOR: CÂMARA: EXXXXXXXXXXX E OUTRO MXXXXXXXXXX E OUTROS DESEMBARGADOR CAMARGO NETO 6ª CÍVEL EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO JURÍDICO. PROCURAÇÃO EM CAUSA PRÓPRIA. INVALIDADE. 1. A procuração em causa própria é título equiparável ao contrato que se pretende convencionar, devendo conter todas as exigências legais acerca do negócio ou da convenção que ali si firma. 2. Se a transação diz respeito a compra e venda de imóvel é imprescindível que no seu conteúdo contenha a descrição de todos requisitos essenciais relativos a coisa, valor e forma de pagamento sob pena de invalidade. APELO CONHECIDO E DESPROVIDO. A C Ó R D Ã O partes as supra indicadas. Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são 1
2 ACORDAM os integrantes da Primeira Turma Julgadora da 6ª Câmara Cível, à unanimidade de votos, em conhecer do Apelo e negar-lhe provimento, nos termos do voto do Relator, que também presidiu a sessão. Votaram com o Relator o Desembargador Fausto Moreira Diniz e a Drª Avelirdes Almeida Pinheiro de Lemos, substituta do Desembargador Jeová Sardinha de Moraes. Torres Neto. Presente o ilustre Procurador de Justiça Doutor Benedito Goiânia, 20 de abril de Desembargador CAMARGO NETO Presidente e Relator 2
3 APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) CERES APELANTE: APELADO: RELATOR: CÂMARA: EXXXXXXX E OUTRO MXXXXXXXXX E OUTROS DESEMBARGADOR CAMARGO NETO 6ª CÍVEL R E L A T Ó R I O Trata-se de Apelação Cível interposta por EXXXX PXXXXX e JXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXA objetivando a reforma da sentença (fls. 167/175) proferida pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Ceres, Dr. Orloff Neves Rocha, nos autos da Ação Anulatória de Ato Jurídico c/c Pedido de Tutela Antecipada ajuizada em face de WXXXXXXXXXXA. termos: O ato judicial hostilizado foi proferido nos seguintes...isto posto, e constatando que não houve vício a ensejar a anulação do negócio realizado entre Wilton e Márcio, JULGO IMPROCEDENTE o PEDIDO dos autores, via de consequência, condeno-os ao pagamento das custas processuais e na verba honorária que arbitro em R$ 1.000,00 (hum mil reais), em favor do advogado dos requeridos, art. 20, 4º CPC... Extrai-se da leitura da exordial que a empresa EXXXX E JXXXXXXX LTDA ME, representada por seus sócios proprietários, ora Apelantes, vendeu a um dos Requeridos/Apelados, WXXX XXXXXXX, em , um lote nº 18, Qd. A, Setor Bela Vista, Ceres/GO, pela quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 3
4 Em contrapartida, na data seguinte ao negócio, , o Srº Wilton fez uma procuração em causa própria aos Autores/Recorrentes, conferindo-lhes poderes para em conjunto escriturar a quem quiser ou em benefício próprio, isento de prestação de contas,... podendo para tanto ditos procuradores assinar a escritura de venda ou de qualquer outra natureza, formalizada de todas cláusulas e solenidades de estilo, dar quitação, assinar recibos, transmitir posse, jus, domínio, direito e ação, responder pela evicção de direito, dar características e confrontações do imóvel, representar o outorgante junto as repartições públicas e autárquicas, bem como nos cartórios em geral, enfim praticar e assinar tudo mais que se fizer necessário ao bom e fiel cumprimento do presente mandato, inclusive substabelecer, dando a tudo por firme e valioso para todos os fins de direito, sendo a presente feita em caráter irrevogável e irretratável (f.03). Ocorre que o Recorrido (Sr. Wilton), em , vendeu o bem, sem conhecimento dos Recorrentes, aos demais Apelados, Márcio Glei Matias e sua esposa Simone Junqueira Matias. Destarte, sob alegação de que o demandado nunca esteve na posse e administração do imóvel, pugnam pelo cancelamento do registro do imóvel. Na contestação (fls. 30/35) o Requerido/Apelado (Wilton), diz que é sobrinho do Srº Edson, que lhe vendeu o imóvel por encontrar-se em dificuldades financeiras e que apenas tomou conhecimento da procuração retromencionada quando vendeu o imóvel a terceiros, pois a época que adquiriu o bem, alegando que compareceu ao tabelionato tão somente para assinar a escritura pública de compra e venda. Ouvido o Ministério Público, opinou pela citação de Márcio Glei Matias e sua esposa, terceiros adquirentes do imóvel objeto da 4
5 procuração, os quais, integrando a lide na qualidade de litisdenunciados, apresentaram contestação às fls. 88/97. O Magistrado singular entendendo que não houve vício na venda do imóvel do Srº Wilton para os demais Requeridos e que, em contrapartida, a procuração em questão é inválida, face a ausência dos requisitos a ela inerentes (preço, forma de pagamento, registro no Registro de Imóvel), julgou improcedente o pedido. Em suas razões recursais (fls.182/192), aduzem os Apelantes que a procuração em causa própria implica transferência do domínio e do direito da coisa, em caráter irrevogável, prestando-se a cessão de direitos ou promessa de transferência de bens do mandante ao mandatário. Salientam que restou comprovado nos autos que o imóvel situado na Quadra A sob o nº 18, setor Bela Vista, Ceres/GO, deixou de pertencer ao acervo patrimonial do requerido, em razão da procuração pública outorgada aos autores em caráter irrevogável, irretratável e isenta de prestação de contas para alienar, doar e escriturar o imóvel em data anterior a Escritura de Compra e Venda realizada ao cunhado do outorgante/vendedor, sendo imperativa a conclusão da anulação da aludida Escritura e registro, pois não integrava mais o patrimônio do vendedor (f.186). Asseveram que a ausência de registro no instrumento procuratório não impede que tomem o bem para si, devendo ser declarada a ilegalidade da venda efetuada, tendo em vista que lesados seus direitos. Argumentam que o Srº Wilton, em audiência, depôs confirmando que o imóvel não era inteiramente seu, mas apenas 50%, na medida em que um dos Apelantes, Sr. JXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXA, teria vendido sua parte ao Sr. JXXXXXXXXXXXXXE. 5
6 Expõem que, na realidade, a primeira alienação do imóvel em tela, entre os Apelantes e o Apelado supracitado, nunca existiu, uma vez que o negócio fora realizado apenas para evitar eventual partilha, em uma possível separação dos Recorrentes. Ao final, assinalam que houve má-fé dos Apelados e, conluio entre WXXXXX e MXXXX, cunhados, ante a venda integral do imóvel que não lhe pertencia. Pugnam pela reforma da sentença hostilizada, para declarar a nulidade da compra e venda ocorrida entre os requeridos, ou alternativamente, seja determinada a retificação da Escritura de Compra e Venda e consequente registro, para fazer constar apenas 50% do imóvel aos denunciados. Preparo regular à f.193. Em contrarrazões (fls.197/209), alegam os Apelados que a procuração em causa própria foi outorgada em 06 de janeiro de 1996, enquanto que, a escritura pública de Wilton para Márcio Glei foi lavrada em 01 de setembro de 2003, portanto, 06 (seis) anos e 08 (oito) meses da outorga da referida procuração (f.203). Desta forma, não devem os adquirentes, terceiros de boa-fé, serem prejudicados pela inércia dos Recorrentes que não providenciaram o registro da procuração no CRI a fim de dar publicidade ao ato. 6
7 Ademais, refutam todos os argumentos expendidos na peça recursal, requerendo a manutenção da sentença na íntegra. O Promotor de Justiça manifestou-se pela manutenção do decisum em todos os seus termos (fls. 211/214). Com vistas dos autos, a douta Procuradoria de Justiça, através de seu representante, Dr. Rodolfo Pereira Lima Júnior, opinou pelo conhecimento e desprovimento do apelo (fls.219/230). É o relatório. Ao douto Revisor. Goiânia, 23 de março de Desembargador CAMARGO NETO Relator 7
8 APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) CERES APELANTE: APELADO: RELATOR: CÂMARA: EXXXXXXX E OUTRO MXXXXXX E OUTROS DESEMBARGADOR CAMARGO NETO 6ª CÍVEL V O T O Presentes os requisitos de admissibilidade do recurso, dele conheço. Trata-se de Apelação interposta por EXXXX XXXXXA DXXX e JXXXX XXXXXX DE XXXXXXXXXXX, face a sentença (fls. 167/175) proferida nos autos da Ação Anulatória de Ato Jurídico, que julgou improcedente o pleito exordial, por entender que os Requerentes não lograram êxito em demonstrar vício capaz de propiciar a anulação do ato jurídico realizado entre o Sr. Wilton Pereira e os demais Requeridos. Alegam os Apelantes que o negócio ocorreu de forma irregular, não respeitando a procuração em causa própria outorgada em seu favor. Pois bem. A chamada procuração em causa própria (in rem propriam ou in rem suam), faz-se outorgada em exclusivo interesse do mandatário, que passa a atuar em seu nome e por sua conta, estando prevista no art. 685 do Código Civil 1. 1 Art Conferido o mandado com a cláusula em causa própria, a sua revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário dispensado de prestar contas, e podendo transferir para si os bens móveis e imóveis objeto do mandato, obedecidas as formalidades legais. 8
9 Por ela, o mandante transfere direitos ao mandatário, para que este possa, legitimamente, alienar bens do primeiro, sem a necessidade, inclusive, de prestação de contas sobre o ocorrido, acarretando, em última análise, uma espécie de cessão indireta de direitos. Nesses termos, a referida procuração estabelece uma relação jurídica entre o mandante e o mandatário diferente daquela que se forma no contrato de mandato tradicional, pois o primeiro transfere para o segundo todos os seus direitos sobre o bem, móvel ou imóvel. Caio Mário da Silva Pereira, apreciando o tema, leciona: Originária do Direito Romano, servia de escape para a proibição de ceder o crédito. Um terceiro à relação jurídica era constituído procurador in rem suam, facultando-se-lhe proceder no seu próprio interesse. O direito moderno, não obstante admitir livremente a cessão de crédito (v nº179, supra, vol II), ainda guarda a figura da procuração em causa própria, que dispensa o mandatário de prestar contas, e implica numa cessão indireta de direitos, pela sua natureza e pelos seus efeitos, a procuração em causa própria é irrevogável, e sobrevive à morte do mandante ou do mandatário, porque traduz obrigação transmissível aos herdeiros. 2 Desta forma, configurando a procuratio in rem suam verdadeiro instrumento de transferência de domínio, é necessário a observância de determinados requisitos para sua realização. Sobre o assunto pertinente a lição de Plácido e Silva: 2 Instituições de Direito Civil, v. III, 10ª ed., Forense, n. 255, p
10 A procuração em causa própria, em princípio, consubstancia, além do mandato, o contrato pelo qual se convenciona o negócio ou a operação, que vão ser tratados ou executados como próprios pelo mandante. Nessas circunstâncias, no instrumento, em que se materializa o mandato propriamente, devem ser atendidas todas as exigências legais acerca do negócio ou da convenção que ale si firma. 3 Assim, no caso dos bens imóveis, desde que com a procuração em causa própria se pretenda efetivar a transferência do domínio, deve esta ser formulada em teor semelhante à escritura de compra e venda, contendo os requisitos essenciais relativos a coisa, ao preço e ao consentimento. Na espécie, apesar do Sr. Wilton ter outorgado poderes aos Apelantes para, em conjunto, escriturarem a quem quisessem ou em benefício próprio, isentos de prestação de contas, o bem imóvel em questão, constata-se a ausência do preço e da forma de pagamento do negócio, dados essenciais em qualquer modalidade de compra e venda, motivo pelo qual a procuração em evidência (f.11) é desprovida de aptidão para disponibilizar o domínio do imóvel em favor dos Autores/Recorrentes. Ademais, sendo a procuração in rem propriam equiparável à escritura de compra e venda, deveriam os demandantes terem providenciado seu registro no Cartório de Registro de Imóveis, pois consoante bem salientou o Ilustre representante da Procuradoria de Justiça esse documento não deixa de ser um contrato intermediário que pode levar o bem objeto do mandato a qualquer destino, integrar definitivamente o patrimônio do 3 Tratado de Mandato e Prática das Procurações, Vol. I, forense, 4ª Edição, págs
11 mandatário, inclusive, desde que ocorra a transcrição do título no liro próprio do Registro de Imóveis, conforme determina o artigo 1245 do Código Civil (f.227). de Justiça: Em igual sentido o entendimento deste Egrégio Tribunal AÇÃO REIVINDICATÓRIA - PROVA DE DOMÍNIO - PROCURAÇÃO EM CAUSA PRÓPRIA - POSSE INJUSTA - RETENÇÃO PRO BENFEITORIAS. I- A procuração em causa própria, de caráter excepcional, por outorgada no interesse exclusivo do procurador, se devidamente transcrita no Registro de Imóveis, opera a transferência da propriedade e faz prova do domínio. Agravo retido improvido.(...) 4 Destarte, ausentes os elementos essenciais a dar valor jurídico efetivo a procuração em causa própria, despropositado pretenderse a formal anulação do ato jurídico em questão. DIANTE DO EXPOSTO, conheço do recurso de apelação, mas nego-lhe provimento, para manter inalterada a sentença objurgada. É o voto. Goiânia, 20 de abril de Desembargador CAMARGO NETO Relator 4 TJGO. 1ª Câmara Cível, ApC nº /188, Rel. Des. Júlio Resplande de Araújo, DJ nº de 23/04/
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