Aloenxerto de Cartilagem Auricular Conservada em Glicerina em Defeito Palatino Produzido Experimentalmente em Cães *
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- Vítor Gabriel Soares Amarante
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1 Trabalho de Pesquisa Aloenxerto de Cartilagem Auricular Conservada em Glicerina em Defeito Palatino Produzido Experimentalmente em Cães * Implant of Allograft Auricular Cartilage Preserved in Glicerin, in Palatine Defect Experimentally Produced in Dogs Manoel Marcelo da Silva FRANCISCO 1 Carlos Roberto DALECK 2 Antonio Carlos ALESSI 3 Marcos Russomano MARTINS 4 Duvaldo EURIDES 5 FRANCISCO, M.M. da S.; DALECK, C.R.; ALESSI. A.C.; MARTINS, M.R.; EURIDES, D. Aloenxerto de cartilagem auricular conservada em glicerina em defeito palatino produzido experimentalmente em cães. MEDVEP Rev Cientif Med Vet Pequenos Anim Anim Estim, Curitiba, v.1, n.2, p.90-95, abr./jun Avaliou-se o aloenxerto de cartilagem auricular de cães, conservado em glicerina a 98% no reparo de defeito palatino experimental. Foram empregados 15 cães adultos, sem raça definida, divididos aleatoriamente em cinco grupos de três animais cada, nos quais foram produzidos cirurgicamente defeitos no palato secundário, seguidos da reparação com aloenxerto de cartilagem auricular. Os cães do grupo controle foram submetidos ao reparo sem emprego do aloenxerto. As observações clínicas e macroscópicas realizadas durante o período experimental demonstraram que não houve deiscência de sutura, edema ou necrose de tecidos. Avaliações histológicas realizadas aos 10, 30, 60 e 90 dias mostraram que a cartilagem apresentava-se preservada e facilmente identificável, conservando seus elementos celulares. Não houve diferenciação na coloração quando comparou-se o enxerto cartilaginoso com a cartilagem do septo nasal natural. Além disso, notou-se que, aos 90 dias, a integridade do implante era bastante visível, havendo fibroblastos proliferados e deposição de colágeno sobre o enxerto, não deixando espaços entre as estruturas. Notou-se, em um animal, ossificação da cartilagem após 90 dias. Os resultados obtidos permitem concluir que o aloenxerto da cartilagem auricular mostrou-se funcional, podendo ser viável no reparo de defeitos palatinos de cães, propiciando bom isolamento entre a cavidade nasal e oral. PALAVRAS-CHAVE: Transplante homólogo; Cartilagem/veterinária; Fissura palatina/terapia; Cirurgia veterinária; Cães. * Tese de Mestrado, programa de pós-graduação em Cirurgia Veterinária da FCAV (Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias) UNESP, Jaboticabal, SP. 1 Médico Veterinário, Mestre em Medicina Veterinária, Área de Concentração Cirurgia Veterinária da FCAV UNESP, Campus de Jaboticabal, SP 2 Médico Veterinário, Professor-adjunto/FCAV UNESP, Campus de Jaboticabal, SP; Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellani, Rural CEP , Jaboticabal, SP; daleck@fcav.unesp.br 3 Médico Veterinário, Professor-adjunto/FCAV UNESP, Campus de Jaboticabal, SP 4 Médico Veterinário, Doutorando em Medicina Veterinária, Área de Concentração Cirurgia Veterinária/FCAV UNESP, Campus de Jaboticabal, SP 5 Médico Veterinário, Professor Titular/Universidade Federal de Uberlândia, MG INTRODUÇÃO Nos animais domésticos, particularmente em cães e gatos, são comuns as afecções congênitas dos palatos primário e secundário, cujo mecanismo etiopatogênico está ligado à herança multifatorial. Dentre os vários métodos de classificação para as fendas palatinas no homem, os critérios propostos por Fogh-Andersen (1971), tendo como base o forame incisivo para separar as lesões do palato primário daquelas
2 do palato secundário, têm sido freqüentemente aceitos. Howard et al. (1974) sugerem que, em cães, qualquer fenda rostral em direção ao forame incisivo que envolva o lábio seja considerada fenda palatina primária, enquanto uma fenda caudal em direção ao forame incisivo é considerada secundária. O tamanho da fenda pode variar desde uma pequena falha no palato mole, em forma de cunha, até uma fenda completa, estendendo-se do palato mole à papila incisiva, podendo ser ainda uni ou bilateral (THOLEN & HOYT, 1990). De acordo com os mesmos autores, as fendas do palato secundário são mais freqüentes e normalmente passam despercebidas até que demonstre sinais de crescimento deficiente, drenagem de leite pelas narinas externas durante ou depois de mamar, tosse, engasgamento e espirros durante a ingestão de alimentos associados às infecções do sistema respiratório. Diversas técnicas têm sido propostas para o fechamento primário de fenda palatina secundária, dentre as quais ressaltam-se a técnica de Von Langenbeck ou de deslizamento (HOWARD et al., 1974), flap em 180 (HOWARD et al., 1974; SINIBALDI, 1979; CAYWOOD & LIPIOWITZ, 1989; HEDLUND, 1997). Roehsig et al. (2001) relataram a oclusão de defeito palatino em um gato da raça Persa com resina acrílica autopolimerizável, não observando sinais clínicos locais ou sistêmicos que sugerissem a prótese. O tecido cartilaginoso tem sido amplamente utilizado em diferentes procedimentos cirúrgicos, podendo ser autógenos, alógenos ou xenógenos. Assim, Manganello-Souza & Livanin (1997) utilizaram aloenxerto de cartilagem conservada em álcool absoluto para cirurgias corretivas de nariz em humanos. Eurides (1996) utilizou cartilagem costal autógena e Bracciali (1997), xenoenxerto de cartilagem auricular para corrigir desvio de pavilhão auricular de cães. Krajnik et al. (1978) utilizaram placa de cartilagem liofilizada xenógena em fenda palatina experimentalmente induzida em cães, tendo como resultado o recobrimento da mesma por espessa camada de exsudato fibrilar, tanto do lado nasal como do lado oral, após seis dias de pós-operatório. No décimo quarto dia, houve formação de grande quantidade de tecido conjuntivo com fibras colágenas e vasos, expessando-se ainda mais aos 21 dias. A glicerina a 98% tem sido amplamente utilizada como meio de conservação para tecidos biológicos. Desta forma, são citados os trabalhos de Pigossi (1964) com dura-máter, seguido pelos de Andretto et al. (1976) e Alvarenga et al. (1982), com centro frênico de eqüino e saco pericárdio; de Daleck (1986), com peritônio; de Braccialli (1997) com cartilagem de bovino e de Daleck (1999) e Costa Neto (2000) com ligamento nucal de bovino. A principal vantagem da glicerina, segundo esses autores, é que há indícios de que ela reduz a antigenicidade e aumenta a resistência do tecido à tração sem alterar a elasticidade, sendo a mesma um agente fixador e desidratante de atuação rápida, com propriedades anti-sépticas de amplo espectro de ação, exceto nas formas bacterianas esporuladas. Para evitar complicações durante o período de pós-operatório, a faringostomia é um procedimento indicado pela maioria dos autores, concomitantemente ao reparo do defeito palatino (HOWARD et al., 1974; SINIBALDI, 1979, BAUER et al., 1988; NELSON, 1993; POPE & CONSTANTINESCU, 1998; MARRETA, 1998). Objetivou-se avaliar a praticidade do aloenxerto de cartilagem auricular, conservada em glicerina a 98%, em defeito palatino experimentalmente induzido em cães. Para tanto, foram realizados exames clínicos, radiográficos e histopatológicos da região do enxerto, em diferentes tempos de observação. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados 15 cães mestiços, machos ou fêmeas, adultos dolicocefálicos, pesando entre seis e 10 quilos, clinicamente sadios, fornecidos pelo Hospital Veterinário Governador Laudo Natel da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, Unesp. Os cães, alocados aleatoriamente em cinco grupos de três animais cada, foram submetidos ao procedimento cirúrgico para criação de defeito no palato secundário com reparação imediata do mesmo com aloenxerto de cartilagem auricular. Em um dos grupos, o defeito no palato não foi reparado com o aloenxerto, deixando o mesmo com a fenda (Grupo 5= G5). Os demais grupos foram identificados como G1, G2, G3 e G4, de acordo com o período de observação, ou seja, 10, 30, 60 e 90 dias, respectivamente. O grupo G5 (controle) foi avaliado aos 30, 60 e 90 dias de pós-operatório. As cartilagens auriculares utilizadas para reparo foram obtidas de cães hígidos, com idade de três a quatro meses, submetidos a corte estético de orelhas. Após dissecção do segmento cartilaginoso, as mesmas foram lavadas em água corrente e acondicionadas em frasco estéril de boca larga, contento glicerina a 98%, e mantidas à temperatura ambiente por um período mínimo de 30 dias. Para implante das cartilagens no palato, as mesmas foram removidas do frasco com glicerina e recortadas em placas com cerca de 3 x 1,5 centímetros. Em seguida, procedeu-se à hidratação das mesmas em 91
3 uma cuba estéril de aço inoxidável, contendo solução fisiológica a 0,9% e iodopovidona, por 15 minutos, até serem implantadas (COSTA NETO, 2000). Após avaliação clínica, os cães passaram por um período de jejum alimentar de 12 horas e hídrico de seis horas. Aplicou-se o metronidazol suspensão na dose de 25mg/kg de peso corpóreo, via oral (VO), a cada 12 horas, associado a ceftiofur sódico na dose de 2mg/kg de peso corpóreo, via subcutânea (SC), a cada 12 horas, profilaticamente, por 10 dias após o ato cirúrgico. Como medicação pré-anestésica, foi administrado cloridrato de clorpromazina na dose de 1mg/kg, por via intravenosa (IV), seguida da indução anestésica com tiletamina associado ao zolazepam na dose de 5mg/kg de peso corpóreo (IV). Os animais foram entubados e mantidos anestesiados com halotano e oxigênio em circuito fechado. Infiltrou-se cloridrato de lidocaína a 1% e adrenalina 1: no tecido mucoperiostal, cinco a sete minutos antes do procedimento cirúrgico (CARREIRÃO & PITANGUY, 1989; WIJDEVELD et al., 1991; IN DE BRAEKT et al., 1995). Os animais foram posicionados em decúbito dorsal, fixando-se a cabeça paralelamente à mesa. A anti-sepsia da cavidade oral foi realizada com solução aquosa de iodopovidona a 0,2%, após colocação de tampão de gaze na região da faringe. Uma incisão de aproximadamente três centímetros foi realizada no tecido mucoperiosteal em região da rafe palatina, seguida de divulsão e rebatimento do mesmo, tomando-se o devido cuidado para preservação da artéria palatina. Com auxílio de um elevador de periósteo, fez-se o descolamento do periósteo do osso maxilar. Seqüencialmente, brocas odontológicas cirúrgicas foram acopladas a um micromotor odontológico de baixa rotação, para realização da osteotomia de um centímetro de largura por três centímetros de comprimento, na linha média do palato (Figuras 1A e 1B). Nesse local, aplicou-se uma placa de cartilagem auricular de tamanho similar ao da osteotomia do palato, sendo a mesma introduzida subperiostealmente (Figuras 1C e 1D). Para melhor mimetização de uma fenda palatina, realizaram-se incisões de dois milímetros em cada borda mucoperiosteal. Em seguida, duas incisões opostas de relaxamento foram feitas, adjacentes aos FIGURA 1: Seqüência cirúrgica para a implantação de cartilagem auricular no reparo de defeito palatino experimentalmente induzido em cães. Em a, o maxilar osteotomizado. dentes caninos e ao quarto pré-molar. Ambos os lados do tecido foram tracionados para a linha média e suturados com fio náilon 4-0, deixando duas áreas de osso desnudas adjacentes aos dentes. Na seqüência, os animais foram colocados em decúbito lateral e, após realização da faringostomia, uma sonda de polipropileno foi introduzida no estômago para administração de água e ração balanceada em forma de pasta, de acordo com as necessidades hídricas e nutricionais. Foi administrado flunixin meglumine na dose de 1,1mg/kg de peso corpóreo (SC) a cada 24 horas, durante três dias. Foram realizados curativos locais a cada 12 horas, durante oito dias, com solução de digluconato 92
4 de clorhexidina a 20% (ROBINSON, 1995). Após 10 dias, os animais foram novamente anestesiados para retirada dos pontos do palato e remoção da sonda gástrica. Todos os animais foram avaliados diariamente nos primeiros 15 dias e, posteriormente, a cada sete dias, quanto ao aspecto da ferida cirúrgica. Os cães foram submetidos a exame radiográfico do palato no período pré-cirúrgico, imediatamente após o término do procedimento cirúrgico e também aos 10, 30, 60 e 90 dias do pós-operatório para se avaliar a evolução da calcificação. A região do enxerto foi avaliada macroscopicamente, com especial atenção à cicatrização da ferida, à formação de eventuais fístulas ou áreas de necrose tecidual. Foram colhidos fragmentos por biopsia da região do enxerto, constituído de mucosa oral, osso maxilar, palatino e mucosa nasal. Esse material foi descalcificado em solução ácida (ácido nítrico), seguida da inclusão em parafina. Cortes histológicos foram realizados com micrótomo comum em secções de cinco micra de espessura e corados pelos métodos de Hematoxilina e Eosina (HE) e do Tricrômio de Masson (TM). O exame histopatológico foi feito em microscópico óptico binocular com equipamento para fotomicrografia (Olympus BX50). RESULTADOS A cartilagem auricular obtida de cães submetidos a cirurgia estética das orelhas foi adequada para a confecção dos enxertos. Durante o procedimento cirúrgico, verificou-se relativa dificuldade de identificação da artéria palatina. O emprego da lidocaína a 1%, associado a adrenalina na proporção de 1: , cinco a sete minutos antes da cirurgia, foi insatisfatório, traduzindo-se em significativa hemorragia durante o transcirúrgico. O emprego de brocas cirúrgicas e aparelho odontológico de baixa rotação facilitou a realização do defeito palatino, delineando corretamente a porção osteotomizada. A técnica de Von Langenbeck, empregada para revestimento mucoperiosteal, recobriu e manteve o enxerto adequadamente sepultado, proporcionando em todos os animais o isolamento das cavidades oral e nasal, mesmo naqueles do grupo controle. A faringostomia realizada logo após o reparo do palato e a permanência da sonda durante 10 dias de pós-operatório facilitou a administração de líquidos e alimentos, evitando o contato mecânico e o acúmulo de restos alimentares na área operada. O animais apresentaram satisfatória evolução clínica, com os parâmetros fisiológicos dentro da normalidade. No local dos enxertos, não foi observado deiscência de sutura ou presença de infecções (Figura 2). Apenas três animais apresentaram, no período pósoperatório imediato, epistaxe e, conseqüentemente, certo grau de dispnéia. Após a retirada da sonda gástrica e a remoção da sutura do palato, todos os animais voltaram a se alimentar normalmente, sem qualquer sinal de disfagia durante todo o período de observação. Por ocasião do período pré-operatório e imediatamente após a cirurgia, as imagens radiográficas da região do palato, quando comparadas com aquelas obtidas aos 10, 30, 60 e 90 dias, não diferiram no que se refere à reação periosteal e crescimento ósseo em nenhum dos cinco grupos. Após 10 dias de pós-operatório, era possível evidenciar resquícios do processo cicatricial, sendo menos evidente após este período. Já aos 60 dias, tornavam-se imperceptíveis. A partir dos 30 dias, mediante palpação digital, observou-se que, nos animais do grupo controle, o local do defeito apresentava menor resistência quando comparado aos animais submetidos ao enxerto de cartilagem. Microscopicamente, verificaram-se áreas com infiltrado celular inflamatório na submucosa (Figura 3) que não se estendia até a cavidade nasal. O epitélio de revestimento da cavidade oral estava íntegro. A cartilagem implantada em todos os tempos analisados apresentava-se preservada e facilmente identificável (Figura 4). Microscopicamente, os elementos celulares estavam nítidos, não havendo diferença na coloração, principalmente quando comparados com cartilagem natural do animal, no septo nasal. Após 10 dias de enxerto, encontrou-se área de infiltrado celular inflamatório entre o enxerto e o epitélio da cavidade nasal. Um dos cães apresentou início de regeneração óssea já nesse tempo. O epitélio da mucosa oral apresentava-se totalmente restabelecido, embora ainda fosse possível notar o local da incisão. A partir dos 30 dias, e mais notavelmente aos 90 dias, a integração do enxerto era bastante visível. Havia fibroblastos proliferados e deposição de colágeno junto ao enxerto, não deixando espaços entre as estruturas. As extremidades ósseas mostravam pouco tecido ósseo regenerado, não preenchendo os espaços entre as extremidades. No entanto, um dos cães mostrou, aos 90 dias, ossificação na cartilagem implantada. O epitélio da cavidade oral mostravase íntegro, não sendo possível diferenciar a região submetida à cirurgia. Alguns enxertos atingiram a cavidade nasal. No entanto, estes apresentavam-se recobertos por epitélio respiratório, não mostrando sinais de contaminação. 93
5 FIGURA 2: Aspecto macroscópico do palato 90 dias após o enxerto de cartilagem. Notar que a região do enxerto não apresenta nenhum sinal de rejeição da cartilagem implantada. FIGURA 3: Fotomicrografia de palato de cão com reparação cirúrgica sem enxerto de membrana biológica. Observar ao centro área de necrose e infiltrado celular inflamatório (N). TM, obj. 4x. FIGURA 4: Fotomicrografia de palato de cão submetido a enxerto de cartilagem 10 dias após a cirurgia. Observar cartilagem implantada preservada, sem reação inflamatória. TM, obj. 10x. DISCUSSÃO A colheita da cartilagem auricular alógena canina foi realizada de forma criteriosa, não havendo necessidade de cuidados assépticos, conforme preconiza a literatura para obtenção de membranas biológicas (PIGOSSI, 1964; DALECK, 1986; ALVARENGA, 1982). Deve-se ressaltar a dificuldade na localização da artéria palatina durante o ato operatório, embora concordemos com as observações feitas por Howard et al. (1974) ao afirmarem que deve-se tomar extremo cuidado para que, durante o procedimento cirúrgico, não ocorra ruptura da mesma. A escolha do aparelho de baixa rotação e das brocas odontológicas facilitou a criação da lesão no palato, pois foi possível mimetizar uma fenda palatina de maneira uniforme em todos os animais. A utilização de lidocaína associada à adrenalina através da técnica de anestesia infiltrativa em palato para controlar a hemorragia não foi eficaz, sendo necessário a compressão digital durante o procedimento cirúrgico, para coibir a hemorragia. A técnica cirúrgica de Von Langenbeck utilizada neste experimento mostrou-se eficiente e rápida, entretanto, para fendas de grande extensão, pode não ser a melhor técnica, devido à limitação de tecido a ser tracionado. A ausência de complicações pós-operatórias e o sucesso em 100% dos procedimentos cirúrgicos foi diferente do estudo realizado por Howard et al. (1974), que obtiveram 42% de êxito na primeira reparação, ao empregarem a mesma técnica em cães com fenda palatina, fato que pode ser analisado sob diferentes aspectos, como: a) correta quimioprofilaxia preventiva controlando a proliferação bacteriana e conseqüente contaminação da região; b) flora bacteriana diferente daquela encontrada em uma fenda palatina congênita; c) isolamento total entre cavidade nasal e oral pela cartilagem implantada. Deve-se destacar que a sondagem gástrica através da fargingostomia durante o período pós-operatório, procedimento também citado por Howard et al. (1974), Sinibaldi (1979), Bauer et al. (1988), Nelson (1993), Pope & Constantinescu (1998) e Marreta (1988), facilitou que a administração de líquidos e alimentos interferisse na cicatrização, além de diminuir ou mesmo evitar uma possível contaminação da ferida cirúrgica. O tamanho da placa utilizada foi adequado para todos os animais, não havendo necessidade da fixação da mesma ao leito receptor. Macroscopicamente, aos 30 dias, pôde-se observar que a cartilagem estava aderida tanto em região de osso como de mucoperiósteo, o que demostra a perfeita adaptação da mesma. Neste mesmo período, observou-se, também, a reconstituição do tecido epitelial respiratório, acarretando um isolamento das cavidades respiratória e oral, necessidade primária para crescimento ósseo. 94
6 O processo de calcificação de cartilagem ocorrido em dois cães condiz com o experimento de Manganello-Souza & Livani (1997), apenas contrariando-os no que diz respeito à reabsorção lenta e progressiva da cartilagem, embora o tempo de observação tenha sido diferente, ou seja, 2 anos, o que provavelmente influenciou na reabsorção da cartilagem. A exemplo de outras membranas biológicas conservadas também em glicerina a 98%, o emprego da cartilagem alógena, mantida no mesmo meio, para reparar experimentalmente a fenda palatina de cães mostrou-se satisfatório. Assim sendo, segundo Pigossi (1964), Andretto et al. (1976); Alvarenga et al. (1982); Daleck (1986); Braccialli (1997); Daleck (1999); Costa Neto (2000), a glicerina a 98% tem um poder anti-séptico e antigênico, fatores que podem ter determinado ausência de complicações no referido experimento. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados clínicos, radiográficos, macroscópicos e histopatológicos obtidos permitem concluir que a cartilagem auricular alógena apresentou evolução clínico-cirúrgica satisfatória, podendo ser utilizada para reparação de defeitos palatinos, propiciando isolamento entre cavidade nasal e oral. FRANCISCO, M.M. da S.; DALECK, C.R.; ALESSI. A.C.; MARTINS, M.R.; EURIDES, D. Implant of allograft auricular cartilage preserved in glicerin, in palatine defect experimentally produced in dogs. MEDVEP Rev Cientif Med Vet Pequenos Anim Anim Estim, Curitiba, v.1, n.2, p.90-95, abr./jun The auricular allograft preserved in glicerine was evaluated in experimental palatine defects produced in dogs. Fifteen mongrel adult dogs were randomly divided in five groups with three animals each. A surgical procedure was done to produce a secondary palate defect, subsequently repaired with allograft auricular cartilage. The control group was operated without the use of allograft. The clinical and macroscopical observations during the experimental period demonstrated that there was not surgical wound dehiscence, edema or tissue necrosis. Histological analysis at 10, 30, 60 and 90 days showed that the cartilage presented itself preserved and easily identifiable, and its cellular elements were kept clear, with no color variations when compared whit the natural nasal septum cartilage. Besides, the implant integration was quite visible at 90 days, with fibroblasts proliferation and collagen accumulation in the implant, without gaps among the structures. It was also noticed the ossification of the implanted cartilage in some animals. It was concluded that the allograft auricular cartilage can be used to repair palatine defects, because it provides a good isolation between oral and nasal cavities. KEYWORDS: Transplantation, homologous; Cartilage/veterinary; Palatine cleft/therapy; Surgery veterinary; Dogs. 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