ao suporte documental que pode servir de base ao registo a efetuar no âmbito de um procedimento de habilitação de herdeiros com registos.

Transcrição

1 P.º n.º C.P. 39/2012 SJC-CT Procedimento de habilitação de herdeiros com registo dos bens comuns do casal. Inscrição de aquisição sem determinação de parte ou direito atualizada. PARECER 1. Tendo em conta um caso concreto passado no balcão das heranças e divórcio com partilhas (BHDP) da Conservatória do Registo Civil de, coloca-se a questão de saber como proceder ao registo de aquisição dos bens comuns do casal no âmbito do procedimento de habilitação de herdeiros deste casal quando existam modificações na titularidade decorrentes do posterior falecimento dos herdeiros habilitados e consequente transmissão do direito de suceder ou do direito à herança indivisa O ponto radica na dificuldade em inscrever a aquisição em comunhão hereditária a favor dos atuais interessados, condensando nela as vicissitudes relativas à titularidade da herança, posto que para tanto seria necessário associar ao procedimento documentos externos (habilitações de herdeiros realizadas previamente, no balcão ou pelas vias «tradicionais») ou admitir que o título a elaborar no âmbito do procedimento em causa pudesse conter, também, a habilitação de herdeiros do herdeiro falecido Segundo o que se diz na proposta de remessa do processo ao Conselho Técnico, o helpedesk do BHDP, em pronúncia interna sobre o caso concreto, declinou a cumulação de atos, sugeriu que se realizasse um procedimento autónomo de habilitação de herdeiros do herdeiro falecido ainda por habilitar e, dado existir procedimento de habilitação de herdeiros do outro herdeiro falecido, propôs que, depois, se associassem ambos os procedimentos ao procedimento principal (habilitações de herdeiros do casal titular dos bens a registar), permitindo-se, deste modo, tal como na hipótese prevista no ponto I.8.c) do Manual anexo ao despacho n.º 61/2010, um único registo de aquisição, tendo por base os três procedimentos de habilitação. 2. O problema reconduz-se, pois, à cumulação de atos (habilitações de herdeiros) no mesmo procedimento, concretamente à sua admissibilidade face ao quadro legal em vigor e às orientações vinculativas emanadas em despacho (das quais se retira já um certo entendimento quanto à dita cumulação e aos casos em que esta pode ocorrer), e 1

2 ao suporte documental que pode servir de base ao registo a efetuar no âmbito de um procedimento de habilitação de herdeiros com registos. Pronúncia 1. Como se sabe, os procedimentos simplificados de sucessão hereditária, cujo regime se enxertou no Código do Registo Civil (artigos 210.º-A a 210.º-R) e posteriormente se densificou através da Portaria n.º 1594/2007, de 17 de dezembro, figuram entre as medidas de simplificação e desburocratização introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 324/2007, de 28 de setembro, visando a realização de todas as operações e atos relacionados com a sucessão hereditária de forma simplificada e num só local, com a comodidade inerente dos cidadãos que deles necessitam Note-se, por isso, que o objetivo não foi o de replicar o paradigma de titulação e registo ínsito na lei notarial e no Código do Registo Predial, antes se trata aqui de instrumentos criados segundo um critério de simplificação de meios e de formalidades, de que se desprende a necessidade de clareza e inequivocidade acerca do seu âmbito material, dos seus requisitos essenciais e dos atos de titulação e registo que comportam Daí que, para nós, se mostre essencial recortar, em cada um destes procedimentos, as especificidades que tais objetivos de simplificação e de desburocratização reclamam, recolhendo da lei os indícios que justamente permitem delimitar o seu objeto e caracterizar o iter processual correspondente. 2. Considerando que a questão da consulta não é apenas a de saber se num mesmo procedimento, e num único suporte de titulação, podem concentrar-se diversos atos de habilitação de herdeiros, mas, também, se nele podem entrar documentos externos que permitam realizar um único ato de registo, tendo por base o conjunto dos atos titulados e dos documentos oferecidos, nos precisos termos em que tal unidade inscritiva se admite num processo de registo exclusivamente orientado pelas regras do Código do Registo Predial; 2.1. Impõe-se então verificar, em primeiro lugar, se o regime do procedimento de habilitação de herdeiros, com ou sem registos, concretizado nos artigos 210.º-A e seguintes do Código do Registo Civil (CRC) permite incluir num único procedimento a 2

3 titulação de dois ou mais atos jurídicos e realizar um conjunto mais ou menos extenso de atos de registo com base no documento elaborado Ora, sobre a vontade legislativa de o procedimento poder conter diversos atos jurídicos ilustram claramente o artigo 210.º-A/5 do CRC, quando prevê que nele se possa incluir a celebração de contratos e negócios jurídicos diversos, nos termos a definir por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça, e o artigo 210.º-F do CRC, quando agrega em procedimento único a habilitação de herdeiros e a partilha E que a cumulação de atos tenha sido superiormente aceite, afirma-o expressamente o disposto no ponto I.8 do manual anexo ao despacho n.º 61/2010, designadamente as alíneas a) e b) Donde, o problema que nos ocupa é, sobretudo, da extensão ou alcance que a dita cumulação pode ter; o que agora se discute é se, à luz da legislação em vigor, tal possibilidade de cumulação de atos também existe para outros atos de habilitação de herdeiros nos quais se detete alguma relação, seja através dos sujeitos ou da titularidade de algum ou alguns dos bens sujeitos a registo envolvidos, posto que só nesses casos, em princípio, se revelará útil a aludida cumulação Diríamos, à partida, que a única razão substancial para afastar esta possibilidade assenta na regra de legitimidade fixada no artigo 210.º-B do CRC, posto que pode acontecer que as funções de cabeça de casal, em cada uma das heranças implicadas, devam ser desempenhadas por pessoas diversas, e, assim, por via da cumulação dos atos, poderia ter de caber uma conciliação de vontades entre cabeças de casal em tudo contrária aos objetivos de agilização, desburocratização e simplificação ínsitos neste tipo de procedimento Cremos, todavia, que tal obstáculo legal se perde quando coincidam na mesma pessoa a qualidade de cabeça de casal relativa a cada uma das habilitações de herdeiro em causa, e que aqueles objetivos se destacam quando, antes de mais, se vise a feitura de uma inscrição de aquisição atualizada dos bens que compõem o acervo hereditário do primitivo de cuius. 1 Ao admitir que, a coberto de um procedimento único, com ou sem registos, se exarem as habilitações de herdeiros dos cônjuges. 2 Cfr. processo CP 91/2010 SJC-CT. 3

4 Vale isto por dizer que, na nossa opinião, a cumulação de atos em causa (só) ganha utilidade e razão de ser enquanto via para a realização de um registo atualizado 3, a obter em inscrição única e a pretexto de um único procedimento Daí que a categoria a eleger pelo requerente deva ser a de habilitação de herdeiros com registos, porquanto só dessa forma se justifica a cumulação e se legitima o uso de todos os atos inseridos no título para efeitos de unidade da inscrição Mesmo quando se trate de procedimento de habilitação de herdeiros de marido e mulher, hipótese que se acha tratada no ponto I/8/a) do manual anexo ao despacho n.º 61/2010, a viabilidade da cumulação dependerá, a nosso ver, de ser a mesma pessoa a desempenhar as funções de cabeça de casal, numa e noutra herança, e a sua utilidade existirá quando se pretenda a simultânea inscrição no registo da aquisição do património do casal 5 ; Ainda que, em qualquer caso, do mesmo procedimento possam irradiar outros registos, reportados a bens próprios de cada um dos cônjuges ou, na formulação que agora avançamos, de bens que integram o acervo hereditário do herdeiro falecido, com 3 À luz do motivo-fim que determinou a criação do balcão único, a cumulação de atos só logrará razão de ser quando se destine a assegurar um registo tão atualizado quanto possível, a coberto de uma única apresentação e de um impulso processual unitário, logo, se o procedimento requerido for de habilitação de herdeiros sem registos, não vemos realmente que apoio legal ou utilidade possamos reivindicar para a cumulação. 4 Ainda que portador de vários títulos, capazes de, isoladamente, suscitar outros atos de registo, e suscetível de gerar um emolumento diferenciado por cada ato efetivamente realizado. 5 Realmente, não descortinamos fundamento para a cumulação de atos e, menos ainda, para o benefício emolumentar propugnados no ponto I/8/a) do manual, se as habilitações de herdeiros, embora respeitando a marido e mulher, não tiverem como objetivo permitir o registo simultâneo (habilitação de herdeiros com registos) ou subsequente (habilitação de herdeiros sem registos, seguida de partilha do património conjugal) e atualizado dos bens comuns do casal, dando-se conta da modificação do seu estatuto com base na sucessão, antes ou depois de deferida em partilha. É esta leitura integrada que se nos oferece fazer dos pontos I/8/a) e I/8/b) do referido manual, desde logo em face da epígrafe escolhida: Partilha do Património Hereditário do Casal ; e da certeza de que, para haver património do casal, é mister que o casamento dissolvido tenha sido regido por um regime de comunhão e ou que existam bens comuns a partilhar. 4

5 tudo o que tal implica em matéria de cumprimento de obrigações tributárias, formalidades prévias, pedidos complementares e diligências subsequentes (artigos 210.º- C, 210.º-E, 210.º-I e 210.º-J do CRC) Outro argumento capaz de suscitar a dúvida acerca da cumulação de habilitações de herdeiros num só título (formal), a elaborar em sede de procedimento de habilitação de herdeiros com registos, assenta na ideia de unicidade da sucessão e do ato de titulação que parece perpassar dos artigos 210.º-C do CRC e 3.º da Portaria n.º 1594/2007, de 17 de dezembro Ora, também aqui se afigura pertinente contrapor que a interconexão dos atos a realizar, designadamente para efeitos de registo, encontra paralelo nas disposições contidas nos citados artigos 210.º-A/5 e 210.º-F, e que a garantia da plenitude do serviço, a economia processual e a utilidade e celeridade que a cumulação de atos permite alcançar são justamente os valores que integram a ratio legis enunciada no preâmbulo do Decreto-Lei n.º 324/2007, neles se condensando o objetivo de simplificação que guiou toda a reforma do registo civil. 3. Claro que se já houver procedimento ou escritura de habilitação dos herdeiros do herdeiro chamado à sucessão em causa, o problema passa todo para o plano do registo, implicando, agora, dizer se o registo a efetuar no âmbito do procedimento de habilitação de herdeiros com registos pode conter a indicação atualizada dos titulares da herança e, para tanto, ser suportado, também, por documentos externos e ou outros procedimentos simplificados, ou se, ao invés, o registo de aquisição hereditária a efetuar não deverá contemplar, como sujeitos ativos, senão os habilitados no título elaborado e, como tal, basear-se, exclusivamente, no título produzido no dito procedimento Ora, em face do que dispõe o artigo 210.º-G do CRC, também aqui nos inclinamos para aderir às dúvidas manifestadas na proposta dos serviços jurídicos a propósito da 6 Como sublinhámos, já assim pode ser a pretexto da cumulação de atos prevista no ponto I.8.a) do manual, nomeadamente, quando, a par do registo dos bens comuns do casal, houver de ser feito o registo de aquisição hereditária dos bens próprios de cada um dos cônjuges, a favor dos mesmos sujeitos ou de sujeitos diferenciados, consoante os herdeiros de cada um dos cônjuges sejam ou não os mesmos. 5

6 solução avançada pelo helpdesk do BHDP, porquanto, também a nós nos parece faltar analogia com as situações descritas nos pontos I/8/e) e I/8/f) do manual É que, nas situações descritas no manual, os procedimentos simplificados ou os documentos externos (escritura de habilitação de herdeiros ou títulos comprovativos da transmissão do quinhão hereditário) são associados para comprovação da legitimidade dos partilhantes, e, como tal, são analisados a título de requisito e segundo os parâmetros definidos no regime legal atinente ao procedimento (artigo 210.º-E do CRC) Porém, na hipótese aqui considerada, de procedimento simplificado de habilitação de herdeiros com registos, tal associação ou junção de documentos ou de procedimentos simplificados não cabe como requisito ou pressuposto do procedimento, pelo que obrigaria sempre a uma qualificação documental autónoma, balizada no artigo 68.º do CRP, logo, a uma interseção do processo comum do registo no procedimento especial, sem que na lei se localize a disciplina necessária a tal articulação de regimes Do mesmo modo, diante de uma situação como a descrita no processo CP 98/2011 SJC, em que os direitos à herança foram cedidos a terceiro, e como, aliás, se decidiu, a atualização do registo, quanto à titularidade da herança, só poderia ocorrer fora do procedimento simplificado de habilitação de herdeiros com registos, precisamente por se mostrar inviável a junção de documentos externos como título para registo. 4. Finalmente, no que concerne às questões emolumentares suscitadas pela cumulação de atos, na falta de uma disposição expressa como a que está escrita no artigo 7 Naturalmente, se pudéssemos aceitar a associação de títulos proposta pelo helpdesk, toda a questão da cumulação de atos atrás tratada perderia relevância, posto que, desta forma, se obtinha o resultado que, com aquela, se visava alcançar. 8 Daí que não nos custe aceitar a nota impositiva ínsita no ponto I/8/c) do manual anexo ao despacho n.º 61/2010 precisamente porque, no procedimento de habilitação de herdeiros, partilha e registos, a própria natureza do ato (partilha) consente a interferência de documentos externos para a prova da legitimidade de todos os intervenientes, e o registo a efetuar, em princípio, não se basta com os títulos a produzir no âmbito do procedimento, antes exigindo que, a título complementar, se faça prova de todo o facto complexo de produção sucessiva em que se analisa o fenómeno sucessório (Cfr. processo RP 150/2011 SJC-CT). Neste caso, a reunião dos documentos necessários à feitura do registo não depende exclusivamente da fase da titulação e, como tal, nenhuma utilidade se retira da cumulação de atos de habilitação de herdeiros, logrando-se, pois, o mesmo resultado através da associação demandada no mencionado ponto do manual. 6

7 20.º/ do RERN, terão, a nosso ver, de valer a proporcionalidade consagrada no artigo 3.º do mesmo Regulamento e a regra manifestada no seu artigo 11.º/1, de onde, julgamos, se extrai um princípio geral de que os emolumentos são devidos por cada habilitação de herdeiros com registos integrados, por razões de simplificação, no mesmo procedimento Encerramento É o que, em linhas gerais, se nos oferece dizer sobre as questões colocadas, acrescentando-se, pois, a certeza de que a cumulação de atos há de servir para facilitar o procedimento, tornando-o menos oneroso e burocrático. Donde, será mister que, no caso concreto, se localizem os critérios de utilidade, de simplificação e de economia de esforço que, afinal, orientam todo o normativo atinente aos procedimentos simplificados previstos e regulados no Código do Registo Civil, porquanto só nessas condições se entende existir viabilidade para a cumulação de atos no âmbito do procedimento de habilitação de herdeiros com registos. 9 Atento o disposto no ponto I.8.a) do manual, numa hipótese como a dos autos, em que o único registo a efetuar, a coberto das três habilitações de herdeiros, seria o de aquisição em comunhão hereditária dos bens comuns do casal, parece que, salvo o disposto no ponto do artigo 18.º do RERN, os emolumentos a cobrar seriam os previstos nos pontos (100 euros) e (250 euros) do dito artigo, obtendo-se, a final, o mesmo resultado emolumentar proposto pelo helpdesk. Se, além do registo dos bens do casal, fosse necessário fazer outros registos, agora apenas a favor dos herdeiros do herdeiro falecido e com base na habilitação de herdeiros deste, então os emolumentos a cobrar seriam os que se acham previstos no ponto do artigo 18.º do RERN, ou seja 250, ,00, mais uma vez, sem prejuízo do disposto no ponto do mesmo artigo. Em princípio, nesta hipótese, a vantagem emolumentar da cumulação de atos só poderia advir do número de bens envolvidos em cada uma das heranças. 10 Naturalmente, estamos a considerar o texto do RERN anterior às alterações introduzidas pelo DL 209/2012, de 19 de setembro, o qual já estabelece um conteúdo próximo do que está previsto no referido artigo 20º e onde se reforça precisamente a admissibilidade da cumulação, a consentir extensão interpretativa à cumulação agora proposta. 7

8 Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 27 de setembro de Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Luís Manuel Nunes Martins, António Manuel Fernandes Lopes, António José dos Santos Mendes, Maria de Lurdes Barata Pires de Mendes Serrano, Laura Maria Martins Vaz Ramires Vieira da Silva, Maria Filomena Fialho Rocha Pereira, José Firmino Fernandes Lareiro, José Ascenso Nunes da Maia. Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente em

9 FICHA P.º C.P. 39/2012 SJC-CT SÚMULA DAS QUESTÕES TRATADAS Procedimentos simplificados de sucessão hereditária Da cumulação de atos de habilitação de herdeiros Sua viabilidade Reflexos emolumentares 9