1. SOBRE A CONSISTÊNCIA DO ÍNDICE DE BAIXA DENSIDADE MUNICIPAL

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1 1. SOBRE A CONSISTÊNCIA DO ÍNDICE DE BAIXA DENSIDADE MUNICIPAL Após uma análise pormenorizada do índice de baixa densidade municipal, percebe-se que alguns indicadores-chave na identificação de situações de vulnerabilidade territorial não foram contemplados, nomeadamente: i) ao nível do perfil territorial área destinada à Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola Nacional e Rede Natura no total da área da freguesia (%); ii) ao nível do perfil demográfico índice de renovação da população em idade ativa (%); iii) ao nível do perfil de povoamento famílias com um ou dois elementos com mais de 65 anos (%), famílias com apenas um elemento (%); iv) ao nível do perfil socioeconómico taxa de atividade geral (%); v) ao nível do perfil acessibilidades não se percebe que apenas tenha sido considerada a distância em tempo de deslocação para a sede de concelho 1, quando o que está em causa nestes territórios é, por um lado, o acesso aos serviços de saúde, de educação, de finanças, de segurança social, entre outros, alguns dos quais inexistentes a nível municipal, o que obriga a uma leitura supramunicipal, e por outro, a existência ou não de meios de transporte público que assegurem as ligações em causa. No cálculo do indicador Ganho mensal em 2009 foi utilizada a referência por concelho, quando teria sido possível ao GEP fornecer dados ao nível das freguesias, que melhor permitiriam aferir as disparidades internas existentes em cada município. Sendo possível confirmar a preocupação existente de trabalhar toda a informação ao nível de freguesia, não se percebe que não tenham existido critérios de base qualitativa que permitissem analisar a diversidade dos territórios. Mesmo dentro de uma freguesia se podem encontrar situações muito díspares, o que poderia ter sido aferido com dados ao nível de secção e subsecção (que o INE disponibiliza) e que permitiriam perceber os contextos para além dos «números», para não falar de um trabalho de proximidade aos atores regionais que permitiria chegar a esta análise contextual mais precisa. Veja-se a título de exemplo o caso de São Brás de Alportel (único concelho do Algarve que tem apenas uma freguesia), que tem registado uma boa dinâmica ao nível da sede de freguesia, mas que em contrapartida possui parte importante do seu território completamente isolado e em grave perda demográfica. Falamos especificamente da zona serrana que representa cerca de 50% do território municipal e que conta apenas com cerca de 200 habitantes. 1 Pensando especificamente no caso do indicador calculado ao nível de freguesia. 1

2 2. SOBRE A BASE DE INCIDÊNCIA TERRITORIAL DO ÍNDICE Não se percebe a razão pela qual se utilizou por referência para cálculo global do índice a escala do município quando foram realizados cálculos por freguesia. Esta abordagem metodológica cria injustiças estruturais que carecem de uma revisão. Tomando como exemplo o Algarve, o índice agora proposto agrava as injustiças anteriormente criadas com a classificação de região de transição, quando são estatística e socialmente conhecidas as gritantes disparidades existentes entre o interior e o litoral deste território, o mesmo é dizer entre freguesias do interior e do litoral. Isto significa que a o município não é a melhor unidade estatística para compreender a realidade desta região e para concluir sobre a classificação do território em matérias como as que estão em causa, sobretudo quando essa influenciará a definição de políticas públicas de discriminação positiva na atribuição de apoios financeiros ao abrigo do Portugal O estudo que suporta o índice proposto estabelece como critério central para a classificação das freguesias como áreas de baixa densidade a existência de um valor inferior a 62,77. Adicionalmente, não se compreende que se utilize um critério de base municipal para o cálculo do índice, quando simultaneamente se vão financiar no âmbito do Portugal 2020, como aliás acontece desde 2001, estratégias de desenvolvimento local para áreas rurais de baixa densidade, suportadas pela abordagem LEADER 2, cujos territórios de incidência são definidos tendo como fronteira a unidade administrativa das freguesias. Parece-nos por isso que o índice agora proposto representa um retrocesso em matéria de política pública sobre os territórios de baixa densidade. Mesmo que não se registassem alterações à composição do índice (face ao exposto no ponto anterior) e se considerasse o nível de freguesia, o mapa da baixa densidade do Algarve seria distinto, como se pode ver de seguida. CONCELHO FREGUESIA Índice de Territórios de Baixa Densidade Freguesias atualmente incluídas nos territórios de baixa densidade Freguesias que têm um valor no índice < a 62,77 ou concelhos com uma classificação de acordo com o critério de ruralidade superior a 67%, e que seriam incluídos nos territórios de baixa densidade caso a base de incidência fosse a freguesia Guia Paderne Ferreiras Olhos de Água Giões Martim Longo Pereiro Vaqueiros Bordeira Odeceixe Rogil 105,49 72,05 92,35 85,44 54,61 46,57 46,99 38,94 38,06 75,97 64,39 69,05 66,69 2 Agora designada de Desenvolvimento Local de Base Comunitária (DLBC). 2

3 Castro Marim Faro Lagos Loulé São Brás de Alportel Azinhal Castro Marim Odeleite Altura Estoi Santa Bárbara de Nexe Faro (São Pedro) Faro (Sé) Montenegro Estômbar Ferragudo Porches Carvoeiro Parchal Barão de São João Bensafrim Odiáxere Lagos (Santa Maria) Lagos (São Sebastião) Almancil Alte Ameixial Boliqueime Quarteira Querença Salir Loulé (São Clemente) Loulé (São Sebastião) Benafim Tôr Alferce Marmelete Fuseta Moncarapacho Pechão Quelfes Alvor Mexilhoeira Grande São Brás de Alportel Alcantarilha Algoz Armação de Pêra 56,09 76,22 43,86 79,21 82,66 74,41 76,24 108,57 102,37 102,63 88,01 78,26 96,86 79,61 81,66 91,03 75,51 71,74 79,69 76,06 103,48 97,18 92,85 55,30 39,60 75,58 102,07 54,12 59,22 95,07 84,56 55,45 69,79 Tôr seria incluída porque faz atualmente parte da UF Querença, Tôr e Benafim) 56,42 56,95 73,36 96,40 77,68 104,45 85,84 101,31 73,14 95,32 85,16 73,88 77,78 95,72 3

4 Tavira Vila do Bispo Vila Real de Santo António Pêra São Bartolomeu de Messines São Marcos da Serra Tunes Cachopo Santa Catarina da Fonte do Bispo Tavira (Santa Maria) Tavira (Santiago) Santo Estêvão Santa ia Cabanas de Tavira Barão de São Miguel Budens Raposeira Sagres Vila do Bispo Vila Nova de Cacela Vila Real de Santo António Monte Gordo 76,49 72,86 54,73 83,91 80,37 35,61 65,00 74,12 57,52 93,85 94,46 72,67 76,95 77,62 72,34 71,53 68,06 73,35 72,85 72,25 100,51 92,64 Face ao exposto, perguntamos se esta proposta de distribuição por freguesia não oferece uma aproximação mais real aos territórios de baixa densidade, apesar das outras limitações já referenciadas em relação aos indicadores e índice? A consideração dos fatores de correção regional deturpam a análise territorial que se pretende incluir no índice. Tal dilui completamente o esforço levado a cabo com uma pesquisa de dados nacionais ao nível de freguesia. De resto, vários estudos sobre a realidade demográfica e socioeconómica portuguesa têm demonstrado que o interior do país possui um conjunto de vulnerabilidades que são esbatidas nos concelhos sedes de distrito, o que não é de todo refletido na aplicação deste índice. Este acaba por não traduzir cabalmente a realidade do conceito de «baixa densidade» que se procurou operacionalizar. Apenas a título de exemplo: faz sentido considerar a freguesia de Évora (São Mamede) como território de baixa densidade e as freguesias de Cachopo (Tavira) e do Ameixial (Loulé) não? Relembramos que Évora (São Mamede) tinha, em 2011, uma densidade populacional de 7421 hab/km 2, enquanto que esse indicador era de 4 hab/km 2 nas freguesias de Cachopo e Ameixial. Poderíamos continuar a refletir sobre outros indicadores que permitiriam dar conta de situações igualmente discrepantes em relação a estes territórios, embora nos pareça que este indicador é suficiente para compreendemos as injustiças territoriais que estão em causa com o índice proposto. A aplicação de fatores de correção regional vem apenas beneficiar as regiões que não têm uma litoralização do crescimento e da dinâmica socioeconómica, prejudicando todas as que têm essa tendência, mas que ao nível da sua estrutura interna apresentam realidades muito díspares, como é o caso do Algarve. Existe ainda, em nossa opinião, outro erro flagrante na estruturação do índice. Porque razão objetiva e científica se utilizou como critério de classificação dos municípios de baixa densidade os que têm 4

5 mais de metade das freguesias com um índice inferior a 62,77? Parece-nos que se trata de opção metodológica fortemente questionável. Se, em alternativa, se utilizasse um outro critério, mais justo e cientificamente consistente, como a percentagem do território municipal classificado como de baixa densidade, estaríamos certamente a discriminar positivamente os municípios onde as disparidades são mais visíveis. Assim, apresentamos uma tabela com a distribuição dos municípios do Algarve em que mais de metade da sua área está incluída em território de baixa densidade, tendo por base a classificação do índice nas freguesias: CONCELHO FREGUESIA Índice de Territórios de Baixa Densidade Freguesias atualmente incluídas nos territórios de baixa densidade Municípios em que mais de 50% da área é classificada como de baixa densidade (com um valor no índice < a 62,77) ou com uma classificação de acordo com o critério de ruralidade superior a 67% Castro Marim Faro Lagos Guia Paderne Ferreiras Olhos de Água Giões Martim Longo Pereiro Vaqueiros Bordeira Odeceixe Rogil Azinhal Castro Marim Odeleite Altura Estoi Santa Bárbara de Nexe Faro (São Pedro) Faro (Sé) Montenegro Estômbar Ferragudo Porches Carvoeiro Parchal Barão de São João Bensafrim Odiáxere Lagos (Santa Maria) Lagos (São Sebastião) 105,49 72,05 92,35 85,44 54,61 46,57 46,99 38,94 38,06 75,97 64,39 69,05 66,69 56,09 76,22 43,86 79,21 82,66 74,41 76,24 108,57 102,37 102,63 88,01 78,26 96,86 79,61 81,66 91,03 75,51 71,74 79,69 76,06 103,48 97,18 5

6 Loulé São Brás de Alportel Tavira Vila do Bispo Vila Real de Santo António Almancil Alte Ameixial Boliqueime Quarteira Querença Salir Loulé (São Clemente) Loulé (São Sebastião) Benafim Tôr Alferce Marmelete Fuseta Moncarapacho Pechão Quelfes Alvor Mexilhoeira Grande São Brás de Alportel Alcantarilha Algoz Armação de Pêra Pêra São Bartolomeu de Messines São Marcos da Serra Tunes Cachopo Santa Catarina da Fonte do Bispo Tavira (Santa Maria) Tavira (Santiago) Santo Estêvão Santa ia Cabanas de Tavira Barão de São Miguel Budens Raposeira Sagres Vila do Bispo Vila Nova de Cacela Vila Real de Santo António Monte Gordo 92,85 55,30 39,60 75,58 102,07 54,12 59,22 95,07 84,56 55,45 69,79 56,42 56,95 73,36 96,40 77,68 104,45 85,84 101,31 73,14 95,32 85,16 73,88 77,78 95,72 76,49 72,86 54,73 83,91 80,37 35,61 65,00 74,12 57,52 93,85 94,46 72,67 76,95 77,62 72,34 71,53 68,06 73,35 72,85 72,25 100,51 92,64 6

7 Para que se perceba melhor a diferença dos critérios, apresentamos de seguida a distribuição que foi considerada e aquela que propomos: CONCELHO MUNICÍPIOS INCLUÍDOS EM TERRITÓRIOS DE BAIXA DENSIDADE DE ACORDO COM A REGRA DE QUE MAIS DE METADE DAS FREGUESIAS TEM UM VALOR NO ÍNDICE < A 62,77 MUNICÍPIOS QUE SERIAM INCLUÍDOS SE MAIS 50% DA ÁREA CLASSIFICADA COMO DE BAIXA DENSIDADE (COM UM VALOR NO ÍNDICE < A 62,77) OU COM UMA CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM O CRITÉRIO DE RURALIDADE SUPERIOR A 67% Todas as freguesias com índice < 62,77 100% Nenhuma freguesia com índice < 62,77 Utilizado o critério de ruralidade Utilizado o critério de ruralidade superior a 67% Castro Marim Duas freguesias em 4 com índice < 62,77 69,94% Faro Lagos Loulé 5 em 11 freguesias com índice <62,77 64,4% 2 em 3 freguesias com índice <62,77 59,71% São Brás de Alportel Tavira 2 freguesias em 9 com índice < 62,77 52,9% Nenhuma freguesia com índice < 62,77 Utilizado o critério de ruralidade Vila do Bispo Utilizado o critério de ruralidade superior a 67% Vila Real de Santo António Nota: nas várias tabelas a verde está assinalado o atual mapa de baixa densidade do Algarve e a azul as propostas que realizamos em função da introdução de critérios de maior justiça na redistribuição dos recursos pelo território. Consideramos que esta deliberação representa muito mais do que uma mera classificação territorial, podendo mesmo ser considerada uma política pública, com influência decisiva na distribuição de recursos, que naturalmente deveria ter merecido um processo de consulta pública. Face ao exposto, parece-nos essencial alguma prudência e a necessária revisão da decisão de aprovação entretanto adotada. Associação In Loco São Brás de Alportel, 03 de Abril de