Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: apesb@terra.com.br Universidade Federal da Paraíba Brasil

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1 Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: apesb@terra.com.br Universidade Federal da Paraíba Brasil Jaques, Paula; Hebling, Josimeri Influência da Esterilização de Dentes Humanos em Autoclave Sobre a Resistência de União Resina/Dentina Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, vol. 6, núm. 1, janeiro-abril, 2006, pp Universidade Federal da Paraíba Paraíba, Brasil Disponível em: Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

2 * Mestre e Doutora em Odontopediatria pela Faculdade de Odontologia de Araraquara/FOAr, Universidade Estadual Paulista - UNESP. ** Professora Doutora de Odontopediatria do Departamento de Odontologia Infantil da Faculdade de Odontologia de Araraquara/FOAr, Paula JACQUES* Josimeri HEBLING** Resistência de união; Microtração; Esterilização. Bond strength; Microtensile; Sterilization.

3 Dentes humanos extraídos são usados para trabalhos laboratoriais há muito tempo, mas não há uma padronização entre os estudos, segundo Pashley (1991), tornando difícil uma comparação entre os resultados obtidos. Estudos mostram que o controle de infecção sobre os dentes extraídos colabora na elevação da falta de padronização (PASHLEY; TAO; PASHLEY, 1993; De WALD, 1997), além do meio de armazenagem e do tempo de imersão nos mesmos, os quais poderiam afetar a permeabilidade dentinária e a resistência de união (GOODIS et al., 1993; PASHLEY; TAO; PASHLEY, 1993; MIEARS Jr.; CHARLTON; HERMESCH, 1995) ou ainda, afetar as propriedades químicas da dentina (STRAWN et al., 1996). Estas soluções visam minimizar o risco a que se expõe o pesquisador que irá trabalhar com dentes (DOMINICI et al.,2001) cuja origem desconhece, bem como, manter o dente em meio úmido como preconizado para trabalhos que avaliam a resistência de união (BUONOCORE; WILEMAN, BRUDEVOLD, 1956; PASHLEY, 1991; MIEARS Jr.; CHARLTON; HERMESCH, 1995). O risco que o pesquisador se submete ao manipular dentes extraídos é alto, considerando-se o grande número de microrganismos presentes no biofilme, no sangue, no ligamento periodontal, em cavidades de cárie ou na polpa dos dentes extraídos, os quais podem contaminar o pesquisador durante a manipulação dos mesmos (DOMINICI et al., 2001; PASHLEY; TAO; PASHLEY, 1993; DeWALD, 1997). O uso da autoclave para a esterilização de dentes extraídos é recomendado para evitar a contaminação cruzada durante a manipulação dos dentes (PASHLEY; TAO; PASHLEY, 1993; DeWALD, 1997), entretanto, seu efeito sobre a resistência de união à microtração permanece desconhecido. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a influência da esterilização em autoclave sobre a resistência de união de dois sistemas adesivos, um convencional e um autocondicionante. Para este estudo foram utilizados 20 dentes terceiros molares humanos, obtidos após os pacientes terem doado seus dentes e terem assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, escrito de acordo com as normas do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Araraquara/UNESP e aprovado pelo mesmo, sob o Protocolo número 17/04. Para serem incluídos na pesquisa, os dentes deveriam apresentar-se hígidos, livres de trincas, alterações morfológicas ou hipoplasias. Todos os dentes foram limpos em água corrente, sendo removidos todos os restos teciduais com curetas periodontais e mantidos em solução de timol a 0,1%. Houve distribuição aleatória em dois grupos, um grupo teste, GA, com uso da esterilização em autoclave (Autoclave Vertical Phoenix Equipamentos Científicos Ltda., Araraquara/SP) a C, pressão de trabalho de 1Kgf/cm, durante 20min, e um grupo controle, GB, sem uso da esterilização. Para serem autoclavados, os dentes foram submersos em um Becker contendo 300mL de água destilada, o qual foi coberto com auxílio de papel alumínio para evitar-se evaporação da água. Estes dentes foram utilizados no estudo após estarem com temperatura similar à temperatura ambiente. Os dois grupos foram então subdivididos, de acordo com o sistema adesivo empregado, sistema convencional Adper Single Bond (3M/ESPE Dental Products, St. Paul, MN, EUA) ou sistema autocondicionante Clearfil SE Bond (Kuraray Med. Inc. Ltd., Osaka, Japão), totalizando 5 dentes por grupo, que foram preparados para o ensaio mecânico de microtração. Todos os dentes tiveram sua superfície oclusal aplainada com disco diamantado (ISOMET BUEHLER Ltd., Lake Bluf, Il., EUA) sob refrigeração constante, obtendo superfícies expostas de dentina, as quais receberam padronização da smear layer com broca esférica carbide de número 5 (KG Sorensen, Barueri, São Paulo) em baixa rotação durante 60s, seguidos de lavagem com água. Para o sistema Adper Single Bond, ácido fosfórico a 35% foi aplicado sobre a dentina durante 15s, seguido de enxágüe por 20s e secagem com papel absorvente, onde duas aplicações foram realizadas, seguidas de breve secagem com ar previamente à fotoativação durante 10 segundos. O primer do sistema Clearfil SE Bond foi aplicado sobre a dentina coberta com smear layer, deixado passivamente durante 20s, sendo em seguida, aplicado o adesivo do sistema e o conjunto foi fotoativado por 20s. Todas as superfícies foram então restauradas de forma incremental com resina composta Filtek Z250 (3M/ESPE Dental Products, St. Paul, Mn, EUA), onde cada incremento foi fotoativado por 40 segundos individualmente até obter-se uma altura de 5mm (Figura 1). Os corpos de prova foram armazenados em água destilada a 37 C durante 24h antes de serem obtidos espécimes em forma de palito para o ensaio mecânico de microtração (SHONO et al., 1999), reposicionando os mesmos na máquina de cortes (ISOMET BUEHLER Ltd., Lake Bluf, Il., EUA) para obtenção de fatias de 0,7mm de espessura e palitos 2 com área de interface adesiva de 0,49mm, aferida com paquímetro digital (Mitutoyo Absolute, Digimatic Caliper,

4 São Paulo), sendo tracionados 10 palitos por dente. Os palitos ficaram armazenados em água destilada até serem fixados com cola de cianoacrilato (Super Bonder Gel, Henkel Loctite, São Paulo) pelas suas extremidades em dispositivo específico acoplado à máquina de ensaios mecânicos (Material Test System, MTS 810, Mineápolis, MN, EUA), operada à velocidade de 0,5mm/min (Figura 2). Ocorrida a fratura, o resultado da carga máxima era dividido pela área da interface adesiva e o resultado foi expresso em MPa. As médias e desvios-padrões da resistência de união dos grupos estão apresentados na Tabela 1. Segundo a aplicação do teste de ANOVA a dois critérios fixos, a variável autoclave foi significante (p=0,010) e a variável sistema adesivo não foi significante (p=0,235). As médias da resistência de união dos grupos GA/Adper Single Bond e GA/Clearfil SE Bond foram de 59,81MPa e 53,08MPa, respectivamente, e as médias para os grupos GB/Adper Single Bond e GB/Clearfil SE Bond foram 49,65MPa e 50,56MPa. a b Tabela 1. Média e desvios-padrões das resistências de união dos grupos, segundo as variáveis sistema adesivo e autoclavagem. Sistema adesivo Esterilização em autoclave SIM NÃO (controle) Clearfil SE Bond 53,08±18,35 ab* 50,56±11,46 a Adper Single Bond 59,81±16,10 b 49,65±14,95 a * médias seguidas de letras iguais representam ausência de diferença estatística (teste de Tukey, p>0,05) Figura 1. Aferição da altura da restauração de resina composta com auxílio de sonda milimetrada, onde, a) resina composta inserida em incrementos de 1mm; b) superfície dentária previamente condicionada e com aplicação do sistema Adper Single Bond. Corpo de prova pertencente ao GA. Figura 2. Espécime em forma de palito fixado no dispositivo de microtração com cola de cianoacrilato, momentos anteriores à aplicação da força de tração. Desde os primórdios até os dias atuais, os trabalhos in vitro que avaliam a resistência de união de resinas ao tecido dentário, utilizam dentes extraídos armazenados em algum líquido, como água (BUONOCORE et al., 1956), timol (MUENCH; SILVA; BALLESTER, 2000; ARRAIS et al., 2004), timol em solução salina (SANO et al., 1995; SHONO et al., 1999), solução salina (GORACCI et al., 2004), azida sódica (SANO et al., 1995; JACQUES e HEBLING, 2005), azida sódica em solução salina (SANO et al., 1994; NAKAJIMA et al., 2000), cloramina (MIEARS; CHARLTON; HERMECH, 1995; ABO; UNO; SANO, 2004), formalina (SABOIA; RODRIGUES; PIMENTA, 2000) ou etanol (HAAK; WICHT; NOACK, 2000). Outros estudos utilizam dentes que foram esterilizados em autoclave (PASHLEY; TAO; PASHLEY, 1993), em gás de óxido de etileno (PASHLEY; TAO; PASHLEY, 1993) ou que foram irradiados com radiação gama (STRAWN et al., 1996; OLIVEIRA et al., 2004). Os dentes também podem ser mantidos congelados em água imediatamente após a extração até o momento do uso (NAKABAYASHI; WATANABE; IKEDA, 1995; NAKABAYASHI; WATANABE; ARAO, 1998). Isto posto, fica notória a falta de padronização para a esterilização e para as soluções de armazenagem

5 dos dentes extraídos que são utilizados em diversos estudos. Segundo Pashley et al. (1995) há um grande número de variáveis que podem afetar os testes de adesão, entre elas, a solução de armazenagem dos dentes. Entretanto, foi demonstrado que a resistência de união à tração de molares humanos recém extraídos e armazenados em timol não diferiu estatisticamente da resistência de união encontrada em dentes extraídos de crânios secos e armazenados em água destilada (MUENCH; SILVA; BALLESTER, 2000). Em nosso estudo, não houve variação da solução de armazenagem dos dentes, visto que todos foram mantidos em solução de timol até o momento do experimento, e em água destilada para os dois grupos, com ou sem esterilização em autoclave, não interferindo nos nossos resultados. Dentes humanos extraídos são agentes contaminados, possuindo um grande potencial para patógenos sanguíneos e devem ser tratados como se estivessem contaminados por hepatite B, C e infectados por vírus HIV (DOMINICI et al., 2001). Comparando a efetividade da diminuição de crescimento bacteriano de várias soluções, estes autores não encontraram crescimento bacteriano nos dentes que foram autoclavados durante 40 min nem nos que ficaram imersos em solução de formalina durante uma semana, entretanto, isto não elimina a necessidade da utilização de barreiras protetoras adicionais - máscara, óculos de proteção, luvas - pelos pesquisadores durante os experimentos. Segundo Palenik et al. (1999), para operar efetivamente, é essencial que a autoclave seja manipulada corretamente e testada regularmente para assegurar que sua temperatura e pressão possam eliminar todos os microrganismos (PALENIK et al., 1999). Outras soluções, entretanto, não foram capazes de impedir o crescimento bacteriano de dentes extraídos, incluindo, hipoclorito de sódio, glutaraldeído, amônia quaternária e solução salina (DOMINICI et al., 2001). Foi utilizado em nosso estudo um ciclo de trabalho da autoclave de 20min, diferente do trabalho de Dominici et al. (2001), não sendo nosso objetivo a verificação do potencial de inibição do crescimento bacteriano. A esterilização em autoclave não modificou a permeabilidade nem influenciou a resistência de união ao cisalhamento de dois sistemas adesivos, quando comparados aos grupos nos quais os dentes foram esterilizados em gás de óxido de etileno (PASHLET; TAO; PASHLEY, 1993). De acordo com os nossos resultados, a esterilização em autoclave não exerceu influência significativa sobre o sistema adesivo autocondicionante Clearfil SE Bond, entretanto, houve um aumento da resistência de união do sistema adesivo convencional Adper Single Bond, em ensaio mecânico de microtração. Os sistemas adesivos convencionais necessitam da aplicação prévia de ácido fosfórico sobre a dentina, promovendo alterações importantes em sua estrutura. Ocorre a desmineralização da dentina peritubular, conseqüentemente alargando a entrada dos túbulos dentinários e desmineralização da dentina intertubular com dissolução dos cristais de hidroxiapatita, expondo a rede de fibrilas colágenas, as quais são responsáveis pela difusão de monômeros hidrofílicos do primer entre a rede de colágeno exposta e no interior dos túbulos, formando a camada híbrida de fibrilas colágenas reforçadas por resina (BURKE; McCAUGHEY, 1995). Parece lícito sugerirmos que as fibrilas colágenas não foram afetadas negativamente durante a autoclavagem, comprovado pelo aumento da resistência de união encontrado neste grupo. Os sistemas autocondicionantes não necessitam da prévia aplicação de ácido fosfórico sobre a dentina, atuando simultaneamente como c o n d i c i o n a d o r e s e p r i m e r s, o c o r r e n d o a desmineralização e penetração concomitantes da resina na superfície da dentina (PERDIGÃO et al., 2000). O sistema Clearfil SE Bond contém em seu primer o componente MDP, comprovadamente capaz de se unir quimicamente à hidroxiapatita, segundo Yoshida et al. (2004), indicando que seu mecanismo de ação depende, em parte, da interação química entre este monômero funcional e a hidroxiapatita da dentina. Isso está refletido em alguns trabalhos de resistência de união à microtração do sistema Clearfil Se Bond (JACQUES; HEBLING, 2005). Em nosso trabalho atual, a resistência de união deste sistema não foi influenciada pela autoclavagem, sugerindo que o método de esterilização não afetou a hidroxiapatita da dentina. De acordo com os resultados obtidos, concluiuse que a autoclavagem influenciou de forma positiva o sistema Adper Single Bond, aumentando os valores de resistência de união, sem exercer influência significativa sobre o sistema Clearfil SE Bond. As autoras agradecem as colaborações necessárias ao desenvolvimento deste trabalho: a CAPES, a 3M/ESPE pela doação da resina composta Filtek Z250 e a Henkel Loctite pelo ativador da cola de cianoacrilato.

6 PALENIK, C.; BURKE, F.; COULTER, W.; CHEUNG, S. Improving and ABO, T.; UNO, S.; SANO, H.Comparison of bonding efficacy of an all-inone adhesive with a self-etching primer system. Eur J Oral Sci, Copenhagen, v. 112, n. 3, p , Jun BUONOCORE, M.; WILEMAN, W.; BRUDEVOLD, F. A report on a resin composition capable of bonding to human dentin surfaces. J Dent Res, Chicago, v. 35, n. 6, p , Dec BURKE, F. J. T.; McCAUGHEY, A. D. The four generation of dentin bonding. Am J Dent, San Antonio, v. 8, n. 2, p , Apr DeWALD, J. P. The use of extracted teeth for in vitro bonding studies: a review of infection control considerations. Dent Mater, Copenhagen, v. 13, n. 2, p , Mar DOMINICI, J. T.; ELEAZER, P. D.; CLARCK, S. J.; STAAT, R. H.; SCHEETZ, J. P. Disinfection/sterilization of extracted teeth for dental student use. J Dent Educ, Washington, v. 65, n. 11, p , Nov GOODIS, H. E.; MARSHALL Jr, G. W.; WHITE, J. M.; GEE, L.; HORNBERGER, B.; MARSHALL, S. J. 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