Qual embalagem você tem usado para autoclavar os seus materiais?
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- Marina Vilanova Medina
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1 Dica Clínica Qual embalagem você tem usado para autoclavar os seus materiais? Mauricio Jociel Grzesiuk*, André Gasparetto**, Adilson Luiz Ramos*** Resumo O presente artigo apresenta o uso da embalagem industrial de polipropileno, de gramatura 80g/m 2, para esterilização de materiais em autoclave. São apresentados os testes la- boratoriais piloto comprovando sua eficácia. Diante do seu baixo custo e ótima apresentação, recomendamos o seu uso como alternativa ao grau cirúrgico e ao papel kraft. Palavras-chave: Esterilização por autoclave. Polipropileno. * Cirurgião-dentista graduado pela Universidade Estadual de Maringá. ** Professor Adjunto do Departamento de Odontologia da UEM área de Microbiologia. *** Professor Adjunto do Departamento de Odontologia da UEM área de Ortodontia. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 5 - out./nov
2 Qual embalagem você tem usado para autoclavar os seus materiais? Introdução É notória a grande preocupação com o risco de transmissão de HBV e HIV entre pacientes e profissionais da área da saúde 1-6,8,10. Os processos de esterilização dos materiais tem abrangido o uso de estufas, autoclaves, pastilhas de formol, glutaraldeído e até mesmo raios Gama. Dentre estes, tornou-se mais utilizada a técnica de esterilização por saturação de vapor d água, sob pressão, por meio das autoclaves 7,8,9. A utilização da autoclave como instrumento de esterilização de materiais requer o uso de invólucros ao redor dos materiais a serem esterilizados, para que se faça a manutenção do estado estéril, após a retirada do material da câmara da autoclave 8. Para esta finalidade consagrou-se como mais barato e utilizado o material papel kraft, mas que possui como uma das desvantagens ser opaco. Foram introduzidos materiais mais estéticos, como por exemplo o Grau Cirúrgico, que é um invólucro que possui uma face transparente de polipropileno e poliéster, e outra face de papel opaco, porém é comercializado com um custo bem elevado. Como um material alternativo iniciamos o uso do polipropileno para confecção de invólucros para a esterilização de materiais, em virtude de sua boa apresentação e preço acessível, quando comparado com outros materiais. Entretanto, havia poucos estudos mencionando esta embalagem para este propósito 7,9. Diante disto, testamos a viabilidade do polipropileno como material para invólucros na esterilização de materiais, para o uso em autoclave. b A FIGURA 1 - A) Selamento térmico do invólucro de polipropileno; B, C) Embalagens individualizadas para o conjunto clínico e alicates ortodônticos. c 28 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 5 - out./nov. 2006
3 Mauricio Jociel Grzesiuk, André Gasparetto, Adilson Luiz Ramos Materiais e Métodos Conduzimos estes testes com o apoio do laboratório de microbiologia da Universidade Estadual de Maringá. Foram comparados o invólucro de polipropileno e o papel kraft, seguindo as devidas normas para os procedimentos. Primeiramente foi feito o preparo do meio de cultura tipo caldo BHI para a verificação do crescimento de microorganismos, onde foi mensurada a quantidade de 50ml de água destilada para 1,84g de extrato do caldo BHI, assim seguindo as especificações do fabricante do extrato do caldo BHI. Então misturou-se a água e o extrato, sendo armazenados em um Becker com um tampão, para posterior autoclavagem e avaliação da esterilidade. Também foram autoclavados 5 tubos de ensaios e 1 pipeta de 20ml para a mensuração do meio de cultura de caldo BHI, sempre de acordo com as normas internacionais para o uso da autoclave 10. O indicador utilizado para a realização dos ensaios foi o biological indicator SGM Strip da SGM BIOTECH, Inc. (Bozeman, Montana, USA), o qual consiste de uma fita contendo esporos de Bacillus stearothermophilus e Bacillus subtilis 8. Esse indicador é o mesmo utilizado para o controle de eficiência das autoclaves da clínica odontológica da UEM (Fig. 2). Indicadores biológicos foram acondicionados nos invólucros desejados para o experimento, dois foram acondicionados em embalagens de polipropileno de gramatura 80g/m 2 com forma e tamanho pré-determinado de 250mm x 83mm onde três dos seus quatro lados são fechados por selamento e um lado aberto para a sua utilização. O primeiro invólucro de polipropileno, após receber o indicador biológico, recebeu um selamento simples para o acondicionamento do indicador. Esse selamento foi feito por uma seladora modelo thermo only sealing da Odontobrás (Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil) (Fig. 3). O segundo invólucro de polipropileno recebeu o indicador biológico e sua abertura foi fechada com fita adesiva tipo fita autoclave da 3M modelo 1222 (Minnesota, EUA) (Fig. 4), onde foi tomado o cuidado de toda a extensão da abertura do invólucro tivesse sido fechada pela fita. O terceiro invólucro foi feito utilizando-se o papel kraft, onde sua confecção foi feita de modo a deixar uma parede dupla em apenas um dos lados, e o outro lado com parede simples de papel kraft, esse invólucro foi fechado com fita adesiva tipo fita autoclave da 3M modelo 1222 tomando o cuidado para que toda sua extensão fosse fechada pela fita. Em seguida todos os invólucros contendo os indicadores (Fig. 5) foram submetidos ao processo de esterilização utilizando-se uma autoclave modelo 19L da marca DabiAtlante (Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil) (Fig. 6), modelo com capacidade para 19 litros para a realização dos ensaios. Foram dispostas dentro da autoclave os três invólucros juntamente com os tubos de ensaio que foram utilizados para os testes e também o becker contendo o meio de cultura (Fig. 7). O processo de autoclavagem ocorreu de acordo com as normas internacionais, onde os materiais ficaram expostos a uma temperatura de pelo menos 121ºC e uma pressão de 1atm durante 15 minutos 10. Após os 15 minutos o ciclo foi interrompido (Fig. 8) e foi deixado o material secar e esfriar dentro da câmara da autoclave com a porta semi-aberta. FIGURA 2 - Indicador biológico utilizado no experimento. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 5 - out./nov
4 Qual embalagem você tem usado para autoclavar os seus materiais? FIGURA 3 - Seladora utilizada para o experimento. FIGURA 4 - Fita adesiva para autoclave. figura 5 - Invólucro de polipropileno selado termicamente, selado com fita e invólucro de papel Kraft. figura 6 - Autoclave utilizada no experimento. figura 7 - Invólucros, tubos de ensaio e becker dispostos dentro da autoclave para esterilização. figura 8 - Display da autoclave no momento em que o ciclo foi interrompido. 30 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 5 - out./nov. 2006
5 Mauricio Jociel Grzesiuk, André Gasparetto, Adilson Luiz Ramos Já secos, os três invólucros foram armazenados expostos ao ambiente por um período de 7 dias e, em seguida, incubados em meio de cultura. Procedeu-se as identificações para a incubação como: papel kraft; polipropileno selado; polipropileno com fita; controle do indicador e controle do caldo. Em seguida, tendo a manipulação sido feita de maneira asséptica, foi distribuído 5ml de meio de cultura entre os tubos. Nessa fase foi tomado o cuidado de deixar o tubo identificado por controle do caldo como sendo o último tubo a receber meio de cultura, sendo assim, se durante o processo de distribuição do caldo entre os tubos houvesse alguma falha na cadeia asséptica, esse tubo acusaria essa falha. Procedeu-se a incubação dos indicadores biológicos que estavam dentro dos invólucros dentro dos seus respectivos tubos, identificado também o controle do indicador, que não foi submetido à esterilização (validação do indicador). O conjunto com os cinco tubos de ensaios foi levado à estufa para espera dos resultados. Seguiu-se o protocolo de tempo de espera determinado pelo fabricante dos indicadores biológicos, que era de 7 dias em estufa em uma temperatura entre 55 e 60 0 C. Após o período de incubação, o conjunto de tubos de ensaio foi retirado da estufa para as leituras. Numa segunda bateria de testes, repetiu-se os testes por 4 vezes para o invólucro de polipropileno selado termicamente, para confirmação dos resultados, porém dessa vez optou-se em não fazer o teste com a embalagem selada de polipropileno com fita adesiva, por se tratar de uma fita produzida com papel crepado, que possui poros que permitem a passagem do vapor d água. Sendo assim, os testes foram repetidos seguindo todos os procedimentos anteriormente descritos, incluindo portanto mais 4 invólucros de polipropileno selados termicamente, 1 invólucro de papel kraft, 1 controle do indicador e 1 controle do caldo. Resultados A tabela 1 apresenta as leituras obtidas para todos os invólucros, bem como controles, da primeira e segunda bateria de testes. Discussão O invólucro de polipropileno apresenta um preço acessível, fácil manuseio e boa apresentação. Este material também é utilizado como embalagem comercial de alguns alimentos industrializados. Poucos estudos forneçem informações sobre a utilização desse material como invólucro para utilização em autoclave 7,9. No presente estudo, testamos um período de 7 dias em exposição ambiental do invólucro, já que um ortodontista dificilmente ficará mais que uma semana sem utilizar determinado material (é mais provável que seja feito mais de um ciclo diário). tabela 1 - Análises do crescimento microbiano. Invólucros/Controles n Crescimento Microbiano Papel Kraft Fita 2 Negativo Polipropileno Selado 5 Negativo Polipropileno Fita 1 Negativo Controle Indicador 2 Positivo Controle Caldo 2 Negativo Gerard Ozanne et al. 9 utilizaram o polipropileno como material para o invólucro em testes para a descontaminação de lixo laboratorial, porém não houve nenhuma citação com relação à maneira que foi utilizado o polipropileno ou como essa embalagem foi fechada. Apenas demonstrou-se que, após o ciclo da autoclave, o conteúdo da embalagem foi adequadamente esterilizado. Da mesma forma, James L. Lauer et al. 7, preocupados em estabelecer um protocolo para o uso das autoclaves com câmaras de aço ou de polipropileno na descontaminação de descartes laboratoriais contaminados, utilizaram também sacos de polipropileno para acondicionar o material para a esterilização, porém também não fizeram a descrição da maneira como foi feita a manipulação desse invólucro. O presente experimento envolveu a utilização de uma autoclave de pequeno porte, que é mais susceptível a variações de temperatura e pressão, aproximando-se da realidade cotidiana de um ortodontista. Outro aspecto também a ser pontuado foi com relação à maneira de se fazer o fechamento desse invólucro. O fechamento desse invólucro pode ser feito empregando-se a fita adesiva tipo fita de autoclave ou por selamento térmico, também reproduzindo duas realidades clínicas. O indicador biológico utilizado neste estudo é facilmente encontrado e acessível com relação ao seu custo. E compreende um teste padrão utilizado em vários ambientes, a exemplo de prefeituras e também da UEM. Diante do exposto, recomendamos o uso desta embalagem para o uso na clínica odontológica. Conclusão Pode-se afirmar que, para um tempo de conservação de 7 dias, o uso do polipropileno como invólucro para embalagem de materiais para esterilização em autoclave é eficaz; e pode ser fechado tanto com fita adesiva para autoclave como por selamento térmico. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 5 - out./nov
6 Qual embalagem você tem usado para autoclavar os seus materiais? What package are you using for material steam sterilization purpose? Abstract This study presents the use of polypropylen packages (80g/ m 2 ) for steam sterilization purpose. Laboratory preliminar tests are shown to prove its efficacy. Do to its low cost as well as its optimal appearance, we recomend the use of polypropylen for steam sterilization purpose as an alternative to surgical and kraft papers. key words: Steam sterilization. Polypropylen. Referências 1. BELL, D. M. Human immunodeficiency virus transmission in health care settings: risk and risk reduction. Am J Med, New York, v. 91, p. 3B-294S-300S, CIESIELSKI, C. et al. Transmission of human immunodeficiency virus in a dental practice. Ann Intern Med, Philadelphia, v. 116, p , COMER, R. W.; McCOY, B. P.; PASHLEY, E. L. et al. Analyzing dental procedures performed by an HIV-positive dental student. J Am Dent Assoc, Chicago, v. 123, p , GERBERT, B.; BERNZWEIG, J.; BLEECKER, T. et al. Risks of the big three. J Am Dent Assoc, Chicago, v. 123, p , GOOCH, B.; MARIANOS, D.; CIESIELSKI, C. et al. Lack of evidence for patient-to-patient transmission of HIV in a dental practice. J Am Dent Assoc, Chicago, v. 124, p , GRUNINGER, S. E.; SIEW, C.; CHANG, S. B. et al. Human immunodeficiency virus type I infection among dentists. J Am Dent Assoc, Chicago,v. 123, p , LAUER, J. L.; BATTLES, D. R.; VESLEY, D. Decontaminating inflectious laboratory waste by autoclaving. Appl Environ Microbiol, Washington, DC, v. 44, no. 3, p , Sept BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Programa Nacional de DST/ AIDS. Hepatites, AIDS e herpes na prática odontológica. Brasília, DF, OZANNE, G.; HUOT, R.; MONTPETIT, C. Influence of packaging and processing conditions on the decontamination of laboratory biomedical waste by steam sterilization. Appl Environ Microbiol, Washington, DC, v. 59, no. 12, p , Dec TIPPLE, A. F. V. As interfaces do controle de infecção em uma instituição de ensino odontológico f. Tese (Doutorado)-Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Endereço para correspondência Adilson Luiz Ramos Rua Arthur Thomas 831 CEP: Maringá / PR alramos@ortodontista.com.br 32 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 5 - out./nov. 2006
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