Mariana Martins e Rita Pereira Professora Cláudia Barros

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Marco Antônio Alves Oliveira
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1 COLÉGIO CAMPO DE FLORES A força do meu ser Concurso Jovens Autores de Histórias Ilustradas Mariana Martins e Rita Pereira Professora Cláudia Barros

2 Imagina. Não há carros, não há aviões, não há barcos. O céu está vazio, as estradas cheias de nada e os rios com nada a vaguear sobre eles. Uma cidade cheia de coisa alguma. Sem uma simbiose de pessoas, veículos e natureza. O que se passa? Não há ruído. Não há manchas brancas a marcar o céu ou nuvens pretas a marcar os caminhos. O que aconteceu? As pessoas parecem estranhas. Não mais estranhas do que a normal estranheza matinal onde tudo ainda está a tentar perceber se estão a viver um sonho ou um pesadelo. Muitas vezes é um pesadelo. A maior parte das vezes é um pesadelo. Atrevo-me a dizer que para mim é sempre um pesadelo. As pessoas parecem estranhas. Olho-as nos olhos mas não parecem ver-me, o olhar delas passa por mim como se eu fosse transparente, ultrapassa-me. Onde estão os carros? As caixas que todos os dias deixam para trás uma nuvem preta que, passo a passo, invisivelmente, vão deteriorando o ambiente? As buzinas? Onde estão? Os aviões? Onde andam as rotas do céu? Os transeuntes celestes? Onde estão as nuvens compridas e brancas que estão sempre sobre nós? O ruído que nos assola diariamente? Os barcos? Onde estão os que ligam as pessoas de cá às pessoas de lá? Onde está o apito inicial que marca a viagem? Onde estão eles? Onde está tudo? Isto é nada sem os carros, os autocarros, os barcos e os aviões! O que é que nos liga agora? O que aconteceu para desaparecerem? Sei que para todos os atos, há uma consequência. Sei que todos os veículos que nos dão conforto e mobilidade têm um custo, presente e futuro. Se ao menos a minha perceção das consequências viesse antes Se a palavra que uso quando percebo que me devia ter apercebido antes de algo. Se pudesse voltar atrás, se pudesse mudar o mundo, se pudesse reverter a situação. Se, se, se, se. Se o se resultasse, seríamos perfeitos, teríamos uma sociedade ideal? Se ao menos soubéssemos 2

Eu queria mudar o mundo, mas em vez disso apenas olho à minha volta. Quero acreditar em mais que a minha realidade, mas em vez disso fico parada no fluxo inconstante do universo.

3 Eu queria mudar o mundo, mas em vez disso apenas olho à minha volta. Quero acreditar em mais que a minha realidade, mas em vez disso fico parada no fluxo inconstante do universo. Se ao menos ele parasse e me deixasse pensar no que eu podia fazer. Se ao menos eu conseguisse mudar o mundo, se ao menos eu tivesse a vontade indomável de o fazer. Mas eu tenho de mudar o mundo. Eu tenho. Está nas minhas mãos fazê-lo. Está nas minhas mãos, entre os meus dedos sinto a ambição e o medo. Eu posso fazê-lo. Eu tenho o dever de o fazer. Sou capaz? Não sou capaz? Onde estão as respostas a todas as minhas perguntas? 3

4 Afinal de contas, nós, as pessoas, somos os sonhadores, os criadores, os pecadores, os errantes, mas somos os que movem e mexem o mundo. Sempre ao que parece. Temos mais ideias que tempo, mas não sabemos o que é o tempo e temos demasiadas ideias e ses. A minha ideia é mudar. O mundo, as pessoas, a vida. Mudo? Não Mudo? Por onde começo? As pessoas mudam? Serei eu capaz de mudar? Fisicamente, cresço e mudo visualmente, mas o corpo é o mesmo. E psicologicamente? O meu cérebro é o mesmo, os meus órgãos são os mesmos apesar das renovações celulares. Será que a mentalidade de uma pessoa pode mudar? Mudar mesmo, não é ter uma corrente de pensamento durante um período de tempo finito. Estou a falar de uma mudança drástica. Portanto, para reverter esta situação, será que começo por mudar as pessoas e elas mudam a situação envolvente ou, devo mudar o panorama em que vivem para elas também mudarem? É certo que tudo é finito, que não sou, não somos infinito. E isso incomoda-me. Mudo, não mudo? Mudam, não mudam? Consigo, não consigo? Perguntas? Respostas? Primeiro, o que causou isto? Por que é que aconteceu? Como chegou a este extremo? É esta a consequência de usar o carro todos os dias? E o barco? E o avião? E se, de repente, existissem carros, barcos e aviões que não tivessem consequências negativas? E se, de repente todos começássemos a pensar nisto? E se, de repente, mudássemos? Será que isto acabava se tudo aquilo que eu disse acontecesse? Imagine-se que existia um carro que, andava tanto ou mais que os outros, que era tão bom ou melhor que os outros, que não poluía e que não deixava, a cada centímetro de estrada uma nuvem de pós e gases poluentes. Imagine. Agora concretize-se isto. Agora vem a notícia chocante. Este carro, este panorama que parecia utópico, existe. Existe um carro, existem vários carros que fazem isto. Que não são 4

5 poluentes, que, a cada minuto que passa, não degradam o éter. Que, em cada metro que percorrem, nos salvam aos poucos. E, se estes carros existem, por que não os usamos? Por que é que continuamos a poluir? Se todos sabemos as consequências dos nossos atos, por que os perpetuamos? Se podemos escolher o bem ao invés do mal, por que escolhemos o mal? Será o caminho mais fácil? O futuro é o lugar onde vamos passar o resto das nossas vidas por isso, porque o ignoramos? Porque não nos preocupamos com ele? Porque continuamos a fazer estas escolhas que o prejudicam? Tenho mesmo de mudar o mundo. Tenho de mudar o futuro, o meu futuro, o teu futuro, o nosso futuro. Tenho de mudar. Inovar. Diversificar. Tenho de fazer com que todos andem em carros que protegem o ambiente, tenho de fazer com que andem em barcos que não deixam na água a sua marca, que não prejudiquem os animais marinhos. Em aviões que não deixem a sua impressão nos céus. Diz-se que para mudar o mundo, tenho primeiro de deixar que ele me mude. Diz-se que tenho de ser a mudança que quero ver no mundo. Diz-se que tenho em mim todos os sonhos do mundo. Diz-se que cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre. Alguém disse que a mudança é criada por aqueles cujas imaginações são maiores que as suas circunstâncias. Comecei a falar com as pessoas e a dizer-lhes que tudo aconteceu porque ninguém teve discernimento, porque ninguém se preocupou com o futuro. Aos poucos e poucos, as pessoas foram percebendo a gravidade dos atos presentes e das reações futuras. Foram-se apercebendo que o tempo de mudar é o agora, é o presente, é o imediato porque o amanhã, o depois, pode ser tarde demais. As pessoas não mudavam, as pessoas não pensavam de forma diferente. Durante todo este tempo, elas apenas não pensavam. Agora, têm o conhecimento que leva ao discernimento. 5

Começaram a mover-se. Começaram a defender o sítio onde viviam. Aquilo que lhes parecia normal, agora já não o é. Deixaram os valores velhos e usaram os novos.

6 Começaram a mover-se. Começaram a defender o sítio onde viviam. Aquilo que lhes parecia normal, agora já não o é. Deixaram os valores velhos e usaram os novos. Deixaram os carros velhos, e compraram os novos. Foram à garagem velha, e tiraram a bicicleta nova. Foram às memórias e criaram novas. As memórias de um mundo poluído, de um mundo fragilizado, de um mundo abatido por nós e criaram memórias de um mundo reabilitado por nós, de um mundo que se tornou claro, por nós, para nós e para todos os que vierem. Os barcos recomeçaram a ligar os de cá, e os de lá. Os aviões continuaram a levar uns e a trazer outros. Mas tudo com uma diferença. É que agora, os nossos filhos, os nossos netos, vão poder viver num mundo bom, livre de problemas porque nós mudámos. Nós, a geração do agora e do imediato, desligou-se do que a tirava da seriedade do mundo e concentrou-se na mudança. Porque nós, a geração do agora e do imediato mudou o mundo. 6

7 Porque eu, tu, porque nós podemos mudar o mundo se apenas nos mudarmos a nós próprios e acreditarmos que podemos mudar tudo à nossa volta. Porque agora, a geração presente vai ser a geração futura, e vai ser a geração geradora da mudança. Porque eu acreditei, e mudei. 7

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