Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº PR (2002/ ) RELATOR : MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI RECORRENTE : UNIÃO RECORRIDO : PORTO A PORTO COMÉRCIO IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA ADVOGADO : CÉZAR EDUARDO ZILIOTTO E OUTRO EMENTA PROCESSUAL CIVIL. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. NÃO-CARACTERIZAÇÃO. ADMINISTRATIVO. IMPORTAÇÃO DE VINHO EM RECIPIENTE DE CAPACIDADE SUPERIOR A UM LITRO. IMPOSSIBILIDADE. LEI 7.678/88, ART. 26, 3º. LEI ESPECIAL, DE CUNHO ADMINISTRATIVO, APLICÁVEL AO VINHO E A SEUS DERIVADOS, CUJA DISPOSIÇÃO PREVALECE SOBRE A REGRA GERAL DA LEI 7.798/89, DE CUNHO TRIBUTÁRIO. 1. A falta de prequestionamento das normas insertas nos dispositivos invocados no recurso especial impede o seu conhecimento. 2. Não viola o artigo 535 do CPC, nem importa negativa de prestação jurisdicional, o acórdão que, mesmo sem ter examinado individualmente um dos argumentos trazidos pelo vencido, adotou, entretanto, fundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia posta. 3. O art. 26, 3º, da Lei 7.678/88 estatui que os vinhos e derivados da uva e do vinho de procedência estrangeira "somente serão liberados à comercialização em seu recipiente original, sendo vedada qualquer alteração de marca e classe, e deverão ser acondicionados em vasilhames de até 1 (um) litro de capacidade ". 4. A Lei 7.798/89, que "altera a legislação do IPI", traz em seu Anexo I uma listagem de bebidas alcóolicas, com as respectivas classes mínima e máxima de enquadramento para fins de incidência do tributo, prevendo, em tese, a possibilidade de comercialização em recipiente de volume superior a 1000ml. 5. Trata-se, essa última, de norma geral, que, ao estipular, para a generalidade das bebidas alcóolicas ali indicadas, as faixas de volume do recipiente segundo as quais se fará o enquadramento do produto para fins de incidência do imposto, prevendo, em tese, a possibilidade de comercialização em vasilhame de capacidade superior a 1 litro, em nada afeta a disposição específica relativa ao vinho e aos derivados da uva e do vinho posta na Lei 7.678/88. E isso porque, além do já mencionado caráter genérico da Lei 7.798/89, aplicável a diversas espécies de bebidas alcóolicas, em contraposição à especificidade da Lei 7.678/88, aplicável tão-somente ao vinho e aos seus derivados, tem-se que os diplomas legais em exame têm escopos distintos: o primeiro traz norma geral de natureza tributária, ao passo que o segundo disciplina de forma completa a produção, a circulação e a comercialização do vinho em território nacional, estabelecendo, no âmbito do poder de polícia da Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/10/2004 Página 1 de 7

2 Administração, conceitos e normas de controle para essa espécie de bebida, que de forma alguma se podem considerar revogadas pela mera previsão, em tese, na lei relativa ao IPI, de mecanismo de cobrança do imposto para bebidas alcóolicas acondicionadas em vasilhame de volume maior que 1 litro. 6. Recurso especial parcialmente conhecido e provido. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer parcialmente do recurso especial e, nessa parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Denise Arruda, José Delgado, Francisco Falcão e Luiz Fux votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 28 de setembro de MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/10/2004 Página 2 de 7

3 RECURSO ESPECIAL Nº PR (2002/ ) RECORRENTE : UNIÃO RECORRIDO : PORTO A PORTO COMÉRCIO IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA ADVOGADO : CÉZAR EDUARDO ZILIOTTO E OUTRO RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI (Relator): Trata-se de recurso especial apresentado contra acórdão do TRF da 4ª Região que, nos autos de ação ordinária visando à desconstituição de ato administrativo que proibiu a entrada no país de mercadorias importadas (garrafas de vinho de capacidade de 1,5 litro), negou provimento à remessa oficial e à apelação da União, alinhando a seguinte fundamentação: (a) o art. 26, 3º, da Lei 7.678/88, que dispõe sobre a produção, a circulação e a comercialização de vinho e de derivados de uva e de vinho, estabelece que esses produtos "deverão ser acondicionados em vasilhames de até 1 (um) litro de capacidade "; (b) a Lei 7.798/89, que trata da incidência do IPI sobre determinados produtos, entre os quais o vinho, estatui, no Anexo I, c, que os produtos acondicionados em recipientes com capacidade superior a 1.000ml pagarão o imposto proporcionalmente ao que for estabelecido no enquadramento para o recipiente de 1.000ml; (c) a superveniência da segunda norma, bem assim os princípios constitucionais da livre iniciativa, da livre concorrência e da razoabilidade desautorizam a aplicação literal do primeiro dispositivo, até porque "a capacidade do vasilhame não guarda nenhuma pertinência lógica com qualquer um dos fundamentos da política agrícola ou econômica, que, aliás, nem são enunciados, tornando a imposição não apenas discriminatória, mas também imotivada" (fl. 429); (d) a capacidade do vasilhame em nada altera as caraterísticas da bebida, "sobretudo quando a Vigilância Sanitária atesta a qualidade do produto e considera atendidas as demais condições de consumo" (fl. 430); (e) a conduta da Administração é desarrazoada, ferindo o princípio da finalidade; (f) a sucumbência imposta pelo juízo singular atende aos requisitos do art. 20, 4º, do CPC. Foram rejeitados os embargos de declaração apresentados pela ora recorrente. No especial, fundado na alínea a, a União aponta ofensa aos arts. 2º, 2º, da LICC, 26, 3º, da Lei 7.678/88, Anexo I, c, da Lei 7.798/89 e 535 e 475, II, do CPC, sustentando, em suma, que (a) é nulo o acórdão recorrido, por não ter sanado as omissões indicadas nos embargos de declaração; (b) deve prevalecer a norma especial do art. 26, 3º, da Lei 7.678/88 sobre a norma geral da Lei 7.798/89, que apenas prevê, para efeitos tributários, a possibilidade de importação de bebida alcóolica em recipiente de capacidade superior a 1.000ml; (c) o intuito da vedação legal é o de preservar a indústria nacional frente aos produtos importados. Pede seja reconhecida a nulidade do acórdão do TRF, ou, sucessivamente, seja julgado improcedente o pedido. É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/10/2004 Página 3 de 7

4 RECURSO ESPECIAL Nº PR (2002/ ) EMENTA PROCESSUAL CIVIL. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. NÃO-CARACTERIZAÇÃO. ADMINISTRATIVO. IMPORTAÇÃO DE VINHO EM RECIPIENTE DE CAPACIDADE SUPERIOR A UM LITRO. IMPOSSIBILIDADE. LEI 7.678/88, ART. 26, 3º. LEI ESPECIAL, DE CUNHO ADMINISTRATIVO, APLICÁVEL AO VINHO E A SEUS DERIVADOS, CUJA DISPOSIÇÃO PREVALECE SOBRE A REGRA GERAL DA LEI 7.798/89, DE CUNHO TRIBUTÁRIO. 1. A falta de prequestionamento das normas insertas nos dispositivos invocados no recurso especial impede o seu conhecimento. 2. Não viola o artigo 535 do CPC, nem importa negativa de prestação jurisdicional, o acórdão que, mesmo sem ter examinado individualmente um dos argumentos trazidos pelo vencido, adotou, entretanto, fundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia posta. 3. O art. 26, 3º, da Lei 7.678/88 estatui que os vinhos e derivados da uva e do vinho de procedência estrangeira "somente serão liberados à comercialização em seu recipiente original, sendo vedada qualquer alteração de marca e classe, e deverão ser acondicionados em vasilhames de até 1 (um) litro de capacidade ". 4. A Lei 7.798/89, que "altera a legislação do IPI", traz em seu Anexo I uma listagem de bebidas alcóolicas, com as respectivas classes mínima e máxima de enquadramento para fins de incidência do tributo, prevendo, em tese, a possibilidade de comercialização em recipiente de volume superior a 1000ml. 5. Trata-se, essa última, de norma geral, que, ao estipular, para a generalidade das bebidas alcóolicas ali indicadas, as faixas de volume do recipiente segundo as quais se fará o enquadramento do produto para fins de incidência do imposto, prevendo, em tese, a possibilidade de comercialização em vasilhame de capacidade superior a 1 litro, em nada afeta a disposição específica relativa ao vinho e aos derivados da uva e do vinho posta na Lei 7.678/88. E isso porque, além do já mencionado caráter genérico da Lei 7.798/89, aplicável a diversas espécies de bebidas alcóolicas, em contraposição à especificidade da Lei 7.678/88, aplicável tão-somente ao vinho e aos seus derivados, tem-se que os diplomas legais em exame têm escopos distintos: o primeiro traz norma geral de natureza tributária, ao passo que o segundo disciplina de forma completa a produção, a circulação e a comercialização do vinho em território nacional, estabelecendo, no âmbito do poder de polícia da Administração, conceitos e normas de controle para essa espécie de bebida, que de forma alguma se podem considerar revogadas pela mera previsão, em tese, na lei relativa ao IPI, de mecanismo de cobrança do imposto para bebidas alcóolicas acondicionadas em vasilhame de volume maior que 1 litro. 6. Recurso especial parcialmente conhecido e provido. VOTO O EXMO. SR. MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI (Relator): Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/10/2004 Página 4 de 7

5 1. Não pode ser conhecido o recurso especial quanto à alegada violação ao art. 475, II, do CPC. Isso porque (a) não há nas razões recursais indicação da forma como teria ocorrido a ofensa ao dispositivo, aplicando-se, por analogia, a orientação posta na Súmula 284/STF; (b) não houve emissão de juízo sobre a norma aí contida pelo acórdão recorrido, mesmo após a interposição dos embargos de declaração, o que atrai a incidência da Súmula 211/STJ; (c) a norma "Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: I - proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas autarquias e fundações de direito público " não contém comando capaz de inverter o comando emitido pelo Tribunal de origem. 2. Não viola o art. 535 do CPC, nem importa negativa de prestação jurisdicional, o acórdão que, mesmo sem ter examinado individualmente um dos argumentos trazidos pelo vencido, adotou, entretanto, fundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia posta. No caso concreto, o acórdão recorrido decidiu fundamentadamente sobre a questão posta à sua apreciação, tendo inclusive se manifestado, ao julgar os embargos de caráter nitidamente infringente, sobre o tema da alegada declaração de inconstitucionalidade, razão pela qual não há cogitar de omissão que determine sua nulidade por ofensa ao art. 535 do CPC. 3. É o seguinte o teor do art. 26 da Lei 7.678/88, que "dispõe sobre a produção, circulação e comercialização de vinho e derivados da uva e do vinho": Art. 26. Somente poderão efetuar a importação de vinhos e produtos derivados da uva e do vinho estabelecimentos devidamente registrados no órgão indicado no regulamento. 1º Os vinhos e os derivados da uva e do vinho de procedência estrangeira somente poderão ser comercializados no País, se forem observados os Padrões de Identidade e Qualidade fixados para similares nacionais, ressalvados os casos previstos pelo Ministério da Agricultura. 2º Para os efeitos deste artigo, será obrigatória a apresentação dos certificados de origem e de análise expedidos por organismo oficial do país de origem, além de análises de controle pelo Ministério da Agricultura. 3º Os produtos referidos neste artigo somente serão liberados à comercialização em seu recipiente original, sendo vedada qualquer alteração de marca e classe, e deverão ser acondicionados em vasilhames de até 1 (um) litro de capacidade. 4º Os vinhos e derivados da uva e do vinho, quando destinados à exportação, poderão ser elaborados de acordo com a legislação do país a que se destinam, não podendo, caso estejam em desacordo com esta Lei, ser comercializados no mercado interno. O 3º do dispositivo legal referido, portanto, estabelece com o intuito de preservar a produção nacional, segundo afirma a União (fl. 467) vedação à importação de vinhos e de derivados da uva e do vinho acondicionados em recipientes de volume superior a 1 litro. A Lei 7.798/89, que "altera a legislação do IPI", traz em seu Anexo I uma listagem de bebidas alcóolicas, com as respectivas classes mínima e máxima de enquadramento para fins de incidência do tributo. Determina, em nota ao Anexo, que tal enquadramento realizar-se-á de acordo com a capacidade do recipiente em que são comercializados, distribuídas em quatro faixas (I - até 180ml; II - de 181 a 375ml; III - de 376 e 670ml; IV - de 671 a 1000ml), sendo que os "produtos acondicionados em recipientes de capacidade superior a 1000ml pagarão o imposto proporcionalmente ao que for estabelecido no recipiente de capacidade de 1000ml, arredondando-se para 1000ml a fração residual, se houver " (item c). Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/10/2004 Página 5 de 7

6 Trata-se, essa última, de norma geral, que, ao estipular, para a generalidade das bebidas alcóolicas ali indicadas, as faixas de volume do recipiente segundo as quais se fará o enquadramento do produto para fins de incidência do imposto, prevendo, em tese, a possibilidade de comercialização em vasilhame de capacidade superior a 1 litro, em nada afeta a disposição específica relativa ao vinho e aos derivados da uva e do vinho posta na Lei 7.678/88. E isso porque, além do já mencionado caráter genérico da Lei 7.798/89, aplicável a diversas espécies de bebidas alcóolicas, em contraposição à especificidade da Lei 7.678/88, aplicável tão-somente ao vinho e aos seus derivados, tem-se que os diplomas legais em exame têm escopos distintos: o primeiro traz norma geral de natureza tributária, ao passo que o segundo disciplina de forma completa a produção, a circulação e a comercialização do vinho em território nacional, estabelecendo, no âmbito do poder de polícia da Administração, conceitos e normas de controle para essa espécie de bebida. Tais normas, por essa razão, não se podem considerar revogadas pela mera previsão, em tese, na lei relativa ao IPI, de mecanismo de cobrança do imposto para bebidas alcóolicas acondicionadas em vasilhame de volume maior que 1 litro. 4. Pelas razões expostas, conheço parcialmente do recurso especial e, nessa parte, dou-lhe provimento, para julgar improcedente o pedido, com inversão dos ônus sucumbenciais. É o voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/10/2004 Página 6 de 7

7 CERTIDÃO DE JULGAMENTO PRIMEIRA TURMA Número Registro: 2002/ RESP / PR Números Origem: PAUTA: 28/09/2004 JULGADO: 28/09/2004 Relator Exmo. Sr. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro LUIZ FUX Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS FONSECA DA SILVA Secretária Bela. MARIA DO SOCORRO MELO AUTUAÇÃO RECORRENTE : UNIÃO RECORRIDO : PORTO A PORTO COMÉRCIO IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA ADVOGADO : CÉZAR EDUARDO ZILIOTTO E OUTRO ASSUNTO: Tributário - Imposto de Importação CERTIDÃO Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu parcialmente do recurso especial e, nessa parte, deu-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Denise Arruda, José Delgado, Francisco Falcão e Luiz Fux votaram com o Sr. Ministro Relator. O referido é verdade. Dou fé. Brasília, 28 de setembro de 2004 MARIA DO SOCORRO MELO Secretária Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 18/10/2004 Página 7 de 7