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1 FELIPE MASSA POR VANESSA RUIZ massa no divã Quatro anos depois de perder o título mundial na última curva da temporada, o brasileiro vê sua posição em xeque na ferrari e recorre a terapia para entender as razões de sua interminável má fase nas pistas 2 PHOTOGRAPH BY

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3 ENTREVISTA Na ponta de uma das largas mesas de madeira dentro da área reservada para os convidados de Ferrari, em Montreal, Felipe Massa está sentado em frente a um laptop com seus dois engenheiros, um de cada lado. O sol não deixa ver o que há na tela, mas é possível ouvir o piloto: Não, não vou fazer isso. Não vamos fazer isso, diz, espaçando as palavras para enfatizar que será difícil convencê-lo do contrário. O início da entrevista para a ESPN atrasa alguns minutos porque Massa não pode sair dali. Ele expõe seu ponto de vista com uma veemência que não combina com a imagem que o piloto passa ao público. A cena chama atenção para quem está habituado à imagem de um piloto discreto, pouco incisivo e sem grande carisma. Sobretudo agora, durante a fase que ele mesmo já classificou como a pior da carreira. Massa disputa seu décimo campeonato na F-1, o sétimo pela Ferrari. Há três anos, no treino classificatório para o GP da Hungria de 2009, sofreu o acidente cuja marca deixada vai muito além da cicatriz no supercílio esquerdo. Só voltou a correr em 2010, mas aquele ano de 2009 já não era tão brilhante quanto o anterior, quando perdeu o título para Lewis Hamilton na última curva do GP do Brasil. Massa venceu aquela corrida, a última de suas 11 vitórias nos 160 GPs que disputou até o GP do Europa, dia 24 de junho. Hoje, enquanto o companheiro de equipe, Fernando Alonso, briga pelo título, Massa enfrenta dificuldades para encontrar o piloto que ficou para trás. Por isso, não hesita em dizer que pretende permanecer na F-1 mesmo se não renovar com a Ferrari, desde que seja em uma equipe grande. Um time pequeno, diz, não é uma opção que aceitaria para Quando você olha para trás e vê o que fez na F-1, que Felipe Massa você enxerga? Um piloto que conquistou muitas coisas, que sempre teve momentos difíceis, mas conseguiu passar por eles. Um piloto que teve talvez mais momentos difíceis do que a maioria dos pilotos. Crises, problemas para entrar na F-1. Cheguei e fui mandado embora no primeiro ano. Aí retornei como piloto de testes [da Ferrari]. Tive depois a chance de voltar a ser piloto da equipe que tinha me mandado embora [Sauber] e, após dois anos [2004 e 2005], a equipe não queria que eu saísse de jeito nenhum, me ofereceu um contrato com a BMW. [Em 2006], tive a chance de correr pela Ferrari um ano, porque é assim: eles te dão um ano para saber se vai ou não. Todos diziam que eu seria mandado embora e aqui estou há sete anos, venci muitas corridas. Tive um acidente difícil, né? E voltei, lógico, em um momento mais difícil do que antes, mas ainda confiando no meu taco. Acredito que esse momento vai passar, sempre acreditei. Quando eu não acreditar mais, aí é o momento de fazer outra coisa. O seu contrato com a Ferrari termina no fim do ano. Será o fim de um ciclo? A gente nunca sabe. Enquanto não acontece algo, é muito difícil prever. O mais importante é o resultado, isso é tudo o que me interessa: com resultados, as coisas ficam muito mais fáceis. Dependendo deles, terei uma chance maior ou menor. 4

4 FELIPE MASSA Você falou do acidente. No Brasil, é um assunto que não morre... [Interrompe] No Brasil, não! Em qualquer lugar. Sim, sempre que é preciso estabelecer um marco na sua carreira, fala-se do acidente. E há ainda uma série de especulações de que a sua família estaria te pressionando, pedindo para você parar. [faz sinal negativo com a cabeça enquanto ouve a pergunta] Fofoca é o que mais tem em qualquer lugar. Minha família nunca foi contra, nunca me pressionou para parar de correr. É claro que eles têm mais medo por causa do que eles tiveram que enfrentar, mas nunca me pressionaram. Eu sempre quis correr, é o que eu mais gosto de fazer e minha família sempre me ajudou. Enquanto eu não sentir que é hora certa de parar, vou continuar. E você concorda que o acidente é mesmo esse marco? Se você olhar que houve o acidente, e que depois do acidente eu não consegui a performance que tinha antes, é muito fácil dizer isso, né? Ultimamente, nas entrevistas pós-corrida, você tem falando muito em lado psicológico. É algo ligado ao acidente? O que influiu mais no lado psicológico foram os resultados ruins. Eles não ajudaram, ainda mais vindo de um acidente. É um momento mais difícil para a cabeça. Quando eu começar a ter bons resultados, isso vai ajudar também. Fui procurar um psicólogo, comecei a fazer terapia. Tenho que tentar tudo até o fim porque eu acredito que as coisas vão mudar, vão voltar ao normal. As duras críticas da imprensa italiana, que chegou a te chamar de desperdício de gasolina, te atingiram de que forma? É, mas depois da última corrida [em Mônaco] só falaram bem. Quer dizer, tudo muda rapidamente em função de um resultado. Você está mais acostumado com a imprensa italiana? Ah, cem por cento. Desde quando entrei na Ferrari, a imprensa italiana não cansa de me tirar da equipe. Desde o primeiro momento, desde que eu vencia corridas, que disputava campeonato. Então, que dizer, mais acostumado do que eu... ninguém. [risos]. Mas o que você acha que eles querem com isso? A imprensa italiana é muito de momento. Acontece muitas vezes de o mesmo jornalista escrever duas coisas completamente diferentes de um dia pro outro. E nem me interessa cobrar. FOTOS NONONONOONNONONONONONO GP do Brasil de 2008: mesmo vencendo, Massa perdeu o título para Lewis Hamilton na última curva. Foi a última vitória do ferrarista na F-1 acredito Você já fez essa relação? Já cansei de pensar nisso. Até porque eu posso ser o que for, mas não sou estúpido. Não só pensei como fiz 45 mil exames. E depois de todos que eu já tinha feito na época [do acidente], eu cansei de fazer mais coisas pra ver se tinha algo que a gente não consegue enxergar. E não tem. Todos os médicos dizem que não tenho nada, que estou absolutamente igual. Então, não tem um porquê, não tem um motivo, entendeu? No Brasil, há esportistas que dizem a mesma coisa sobre a imprensa do País. Eu entendo a imprensa, nunca tive atrito algum com jornalistas. Entendo o trabalho de cada um. Tem aquele que faz o trabalho só pra que esse momento vai passar. Quando não acreditar, aí vou fazer outra coisa vender jornal e tem aquele que realmente entende do que está escrevendo. Mas, sem dúvida, para uma grande parte, o que a gente fala entra por uma orelha e sai pela outra. Você acha que o jeito como a transmissão de TV foi feita no Brasil nos últimos anos colabora para aumentar a pressão sobre vocês, pilotos brasileiros? Eu acho que não, pelo contrário. Se você olhar para os outros países... O que a imprensa espanhola faz? Você quer dizer que ela protege Fernando Alonso? [faz sinal afirmativo com a cabeça] O que a imprensa inglesa faz? O que a imprensa alemã 5

5 ENTREVISTA FELIPE MASSA faz? Você acha que é certo todo mundo se virar contra um piloto que representa o seu país? Não! Sinto muito, mas é o que a gente vê com 99% da imprensa [brasileira]. Você vê o Brasil sem piloto na F-1 em um futuro próximo? Eu espero que isso não aconteça, mas não é impossível. Até em função disso que a gente vê... E, olha, eu nunca tinha visto isso acontecer: a própria Globo está ajudando mais os pilotos jovens. Isso aconteceu com essa turma que está chegando e acho que é muito positivo. Você se refere ao Felipe Nasr e ao Luiz Razia, da GP2? Não só eles, até mesmo o Bruno [Senna] teve uma ajuda. Ajuda com exposição na mídia, você diz? De mídia, mas de gente que conseguiu arrumar um patrocínio para ele também. Acho que é tarde, mas é positivo. É importante para que continue havendo pilotos brasileiros. Desde O que não deu certo na Fórmula Futuro (categoria de monopostos criada por Massa e que durou duas temporadas)? Nunca vi uma categoria ser tão barata quanto não ter piloto para pagar. Então não dá certo. É o melhor momento econômico do Brasil, custava R$ 200 mil para fazer um campeonato. A gente deu desconto para os três primeiros do Campeonato Brasileiro de Kart: o primeiro ganhava 70% de desconto. Mas o que falta, então? O que falta é que eu comprei 20 carros, né? Eu, do meu bolso. Comprei 20 carros para colocar nesse campeonato porque eu sempre achei que estava faltando ajuda, alguém que fizesse um campeonato direito. Tudo o que eu fiz foi um campeonato o mais direito possível, o mais barato possível, com o maior prêmio possível. Não deu certo porque não temos piloto para pagar. E isso não é um problema de agora, isso veio se acumulando nos últimos anos. Chegamos a uma situação em que os que cheguei à Ferrari, a imprensa italiana não cansa de me tirar da equipe Tenho que tentar tudo até o fim porque eu acredito que as coisas vão voltar ao normal [carros do tipo] fórmula são menos bem-vindos no Brasil do que outro tipo de categoria. Antes de começarmos a entrevista, você estava sentado com seu engenheiro batendo o pé sobre algo que ele queria que você fizesse, e você dizia que não. Deu para notar uma personalidade forte, decidida, que não chega para o público. Eu sempre fui assim. Isso mostra que eu sempre fui um cara tranquilo, que quando eu quero uma coisa eu vou atrás e faço o máximo possível para tentar o que quero. Dentro da equipe acontecem muitas coisas que vocês não sabem. Você tem que ir atrás daquilo que você acha que é certo. Dentro do carro, a última palavra é sua? Não, porque às vezes você está vendo as coisas que acontecem na pista, perto de você, mas não está vendo a história da corrida como um todo. Você tem uma equipe que trabalha para isso, para a estratégia, para uma série de coisas. E você tem que acreditar nas pessoas que trabalham com você. Já houve rumores de que Paul di Resta e Sergio Pérez assumiriam seu lugar ainda em 2012: você se sente velhinho pelo fato de pilotos mais jovens estarem sendo citados para a sua vaga? Não, tenho 31 anos. Eu não me preocupo nem um pouco com o fato de serem mais jovens do que eu. Nem a Ferrari sabe ainda o que vai acontecer. Você se vê correndo de turismo ou outro tipo de fórmula? Não sei, não tenho ideia. Acho que eu tenho muita coisa para pensar agora [risos]. FOTOS NONONONOONNONONONONONO 6