Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba Gabinete do Desembargador José Ricardo Porto

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1 Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba Gabinete do Desembargador José Ricardo Porto DECISÃO MONOCRÁTICA APELAÇÃO CÍVEL N /001 - Sapé Relator : Desembargador José Ricardo Porto. Apelante : Antônio Carlos Meireles. Advogado : José Augusto Meirelles Neto. Apelado : Décio Gouveia Neto. Advogados :Manoel Inácio dos Santos. APELAÇÃO CÍVEL. PLEITO REIVINDICATÓRIO FUNDADO EM AÇÃO DIVISÓRIA TRANSITADA EM JULGADO. IMPROCEDÊNCIA. IRRESIGNAÇÃO. NÃO ACOLHIMENTO. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE DOMÍNIO DO AUTOR E DE POSSE INJUSTA DO DEMANDADO PARA FINS DE REIVINDICAÇÃO DO IMÓVEL. ÁREA DE TERRA ESCRITURADA EM NOME DO APELADO. NECESSIDADE DE CANCELAMENTO DO REGISTRO. PRECEDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA EM CASO IDÊNTICO. NEGATIVA DE SEGUIMENTO AO RECURSO. A ação reivindicatória pressupõe a existência de domínio do autor e posse injusta do réu. Portanto, demonstrando que o demandado detém o domínio da área que ocupa, inclusive através de escritura pública, a improcedência da ação é medida que se impõe. Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, a pessoa indicada no registro público continua a ser havida como proprietária do imóvel.(resp / DF, Rel.(a).: Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, D.J.: 26/06/2008). VISTOS. Antônio Carlos Meirelles ajuizou Ação Reivindicatória em face de Décio Gouveia Neto, objetivando, em resumo, imitir-se na posse de 4,401 hectares de terra, com base em Ação Divisória, já transitada em julgado, na qual restou comprovado que o demandado teria ocupado indevidamente a citada área. Às fls. 548/554, o magistrado julgou improcedente o pedido, ante a incerteza \ da área reivindicada, aduzindo que "deverá prevalecer a força jurídica de transmissão da propriedade das escrituras públicas devidamente registradas perante o Cartório de Registros de Imóveis acostadas com a contestação do promovido, mesmo ante a homologação do auto de divisão exarado nos autos em apenso".

2 Inconformado com o resultado da sentença, a parte vencida apelou, pedindo a reforma do julgado, sob o argumento de que o recorrido, quando comprou terras ao Senhor Antônio Muniz, já sabia que este era dono de cerca de 7ha e queria se apossar e posteriormente escriturar 10ha, portanto teria agido com má-fé. Ao final, requereu a reforma da monocrática, a fim de que seja reconhecida a má-fé no ato de re-ratificação de escritura, ordenando-se a restituição dos bens e documentos questionados no incidente em análise em seu favor. Contrarrazões, fls. 570/575, pela manutenção do decisum. Instada a se pronunciar, a Procuradoria de Justiça, fls. 584/585, ofertou cota, abstendo-se de emitir parecer meritório. É o relatório. DECIDO A questão que se discute é se o recurso merece ser provido, a fim de que o apelante seja imitido na posse dos hectares pleiteados na inicial, com base na ação divisória, já transitada em julgado. Compulsando atentamente o caderno processual, vislumbro não merecer guarida a presente irresignação. É que a ação reivindicatória pressupõe a existência de domínio do autor e a posse injusta do réu, requisitos que não foram demonstrados no caso em apreço. Nesse sentido, segue aresto do Superior Tribunal de Justiça: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. TERRENOS CONTÍGUOS. POSSE INJUSTA NÃO-COMPROVADA. TERRENO INEXISTENTE NO PLANO FÁTICO. INÉRCIA DO TITULAR DO DOMÍNIO EM OCUPÁ-LO. DIREITO DE PROPRIEDADE. ARTIGO 524 DO CÓDIGO CIVIL DE I. A ação reivindicatória pressupõe a existência de domínio do autor e posse injusta do réu. Portanto, demonstrando o réu que detém o domínio da área que ocupa, afastando, por conseguinte, a hipótese de posse injusta, a ação deve ser julgada improcedente. 2. Se autor e réu detêm o domínio de uma área cujo espaço físico não comporta os terrenos conforme descrito em seus respectivos títulos, o direito de um não pode se sobrepor ao do outro. Assim, mantém-se na posse aquele que a exerce regularmente em detrimento daquele que, por longos anos, desinteressou-se pela ocupação da área em questão. 3. A preferência do titular do título mais antigo deve ser analisada em relação à cadeia dom inial. 4. Recurso especial não-conhecido.] O que ficou evidenciado, no caso, foi que o recorrido possui não só o domínio da área (tanto é que faz prova através de Escritura Pública de Re-ratificação), como detém a posse 1 Resp n / SC, Rel.: Min. João Otávio de Noronha, Órgão Julgador: Quarta Turma, D.J.: 28/09/

3 de forma legítima. Verifica-se no auto de divisão, fl. 166, no item 11- Propriedade do Sr. Dércio Gouveia Neto: " Comprou terras encravadas na propriedade "Cuieiras", totalizando 60,4614 há. Após levantamento topográfico foi encontrada uma área de 64,1828 há, resultando assim, em uma diferença de 3,7214ha, cuja área é de propriedade do Sr. Antônio Carlos Meirelles, com os seguintes limites: (..)", A despeito do que ficou decidido naquela sentença, transitada em julgado no dia 05 de novembro de 1998, conforme certidão de fl. 171, o fato é que consta nos autos Escritura Pública de Compra e Venda, datada de 14/01/1985, fls. 184, da qual se afere que a propriedade é do recorrido, vejamos: Outorgante: Antônio Muniz de Andrade e sua mulher. Outorgado: Décio Gouveia Neto. (..) pelo outorgante vendedor me foi dito que por justo título de aquisição legal tornou-se legítimo senhor e possuidor de um imóvel constante de uma parte de terra medindo 10,2 há no Sítio Cuieiras, deste município e comarca, (..), adquirido pelos outorgantes por compra a Antônio Carlos Meireles, conforme escritura lavrada em , re-ratificaç'ão conforme escritura lavrada em , matriculada sob n. 1194, liv. 2-E, às fls. 41v em data de n/cartório." Por sua vez, a Escritura de Re-ratificação de área do imóvel Cuieira, datada de 19/05/1978, feita por Antônio Muniz de Andrade e sua mulher, revela: (..) por escritura pública.., lavrada no livro.., em data de ,... a Antônio Carlos Meireles, adquiriu uma parte de terra medindo 7,0 há limitando-se ao Norte, com terras de Otávio Paula, Pedro Vitorino e Francisco Laurentino, ao poente... Que o senhor Antônio Muniz de Andrade, desejando conhecer a área real do imóvel através do agrimensor Geraldo Luiz Soares de Melo Crea Cart-65 TD, reg. 262/76 16.' região, que fazendo a planta, apresentou o imóvel uma área de 10,06 há e com as seguintes confrontações. (..) que pela presente escritura e na melhor forma de direito, ratifica a mencionada escritura, como de fato e na verdade tem para os fins de direito". Deduz-se, assim, que antes mesmo de o apelado escriturar a área de 10,06 hao senhor Antônio Muniz havia sido especialmente previdente e realizado levantamento planimétrico, re-ratificando a dita compra, não se vislumbrando má-fé, quer por parte do primeiro adquirente, quer por parte deste recorrido. Nesse contexto, destaque-se trecho da sentença a quo, in verbis: " (..) O fato então é que a escritura pública de re-ratificação da área feita por Antônio Muniz em 1978 foi registrada corretamente já na nova matrícula do imóvel, que, como dito, somente ocorreu quando ele vendeu a propriedade a Décio Gouveia. Assim, por tal motivo, a nosso ver é que acertadamente, quando da matrícula do imóvel, foi considerada a área correta da propriedade ao tempo da venda, 3

4 em 1985, à luz da escritura pública apresentada e do laudo que a fundamentava, conforme espelha a certidão de fls. 1983: 10ha e não 7ha. Ora, do que se percebe a seguir, vê-se que, quando esse agrimensor simplesmente afirmou que Antônio Muniz comprou 7,0 e vendeu 10,0ha ao réu Décio, assim o fez com base nas certidões do CRI, sem ter pesquisado que esse aumento da área se deu através de escritura pública de re-ratificação da área com base em levantamento topográfico do ano de Parece confirmar essa assertiva o fato de que, na planta topográfica entregue por esse agrimensor, e juntada aos autos às fls 495, consta partes de terras já totalizadas em nome de Décio Gouveia, sem especificar qual era a antiga área ocupada por Muniz e revendida a ele promovido. É dizer, pode-se concluir que o agrimensor ateve-se à certidão de fls. 182 e deixou de lado a de fls. 183, aparentemente não percebendo que os registros estavam em livros diversos bem como ainda não consultando a existência de escritura de regularização da área, ou ao menos a ela não tendo acesso." Assim, mesmo diante do auto de divisão, deve-se reconhecer que quem detém a propriedade e exerce a posse é o senhor Décio, que, repita-se, possui a escritura do imóvel com a área correta. Por isso, não há que se falar em "apropriação injusta." De acordo com a legislação civil, " Os direitos reais sobre imóveis constituídos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts a 1247) salvo os casos expressos neste Código." (artigo do Código Civil). No caso, há em favor do recorrido Escritura Pública, regularmente registrada no Cartório de Imóveis competente. Assim, não poderia o senhor Antônio Carlos Meireles reivindicar a área, sem antes proceder com o cancelamento do registro. Essa também foi a conclusão a que chegou a La Câmara Cível do nosso egrégio Tribunal, ao julgar a Apelação Cível n , de relatoria do eminente Des. José Di Lorenzo Serpa, cujo trecho merece destaque: "O procedimento correto a ser tomado pelo apelante ao dizer que é o legítimo proprietário, e sabendo que os apelados são portadores de um título de propriedade seria entrar com uma ação de anulação, pois, de acordo com o art do Código Civil o registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial do registro, e este o prenotar no protocolo. Logo, após, no art. 1247, o legislador diz que se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule". A propósito, destaque-se a íntegra da ementa desta decisão, envolvendo, inclusive, o mesmo apelante: CIVIL - AÇÃO REI VINDICATÓRIA -Improcedência do pedido - lrresignação - Promovidos portadores de título de propriedade - Desprovimento do apelo -Manutenção da sentença. - Na ação de reintegração de posse, cabe ao autor provar a sua posse, o esbulho praticado pelo réu, a data do esbulho e a perda 4

5 da posse, nos moldes do art. 927 do CPC. Não atendidos tais pressupostos, não há como se acolher o pedido. 2 Saliente-se que a pessoa nominada no registro é a proprietária do imóvel, enquanto não for decretada a invalidade deste, bem como o seu cancelamento, através de ação própria. Vejamos: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO REIVINDICATORIA. PROPRIEDADE CUJO REGISTRO DE TITULARIDADE É QUESTIONADO EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INSUFICIÊNCIA DESTE FATO PARA AFASTAR A FÉ PÚBLICA DO SISTEMA REGISTRAL. LEGITIMIDADE ATIVA RECONHECIDA. ILEGITIMIDADE PASSIVA AFASTADA. - Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, a pessoa indicada no registro público continua a ser havida como proprietária do imóvel. - Não basta, para ilidir a fé pública que o registro imobiliário reveste, o ajuizamento de ação tendente a invalidá-lo; exige-se sua procedência. - Até a estabilização do processo, a parte autora pode emendar a inicial, com a correção do pólo passivo, não havendo que se falar em "defeito insanável" que justifique a imediata extinção do feito sem resolução de mérito. Inteligência dos arts. 264 e 294, CPC. Recurso Especial Provido.' Ante o exposto, com fulcro no art. 557, caput, do Código de Processo Civil, nego seguimento ao apelo, mantendo incólume a decisão recorrida. Intimem-se as partes. Providências ecessárias. João Pessoa, 1 e setembro de J07 J01 Des. José Ricaru o Relator 2 Apelação Cível n , Rel.: DES. JOSE DI LORENZO SERPA, 1" Câmara Cível, D.J.: 18/09/ REsp / DF, Rel(a).: Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, D.J.: 26/06/2008.

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