INFLUÊNCIA DO FENÔMENO EL NIÑO NO RENDIMENTO DA CULTURA DE ALGODÃO NO ESTADO DA PARAÍBA

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1 INFLUÊNCIA DO FENÔMENO EL NIÑO NO RENDIMENTO DA CULTURA DE ALGODÃO NO ESTADO DA PARAÍBA Vicente de Paulo Rodrigues da Silva (Professor DCA/CCT/UFPB, Renilson Targino Dantas (Professor DCA/CCT/UFPB, Enilson Palmeira Cavalcanti (Professor/DCA/CCT/UFPB, ABSTRACT In this study data of Paraíba State grain arboreal and herbaceous cotton yields and Pacific Sea Surface Temperature (SST) for the period from 1974 to The average Sea Surface Temperature for the rain season period (February, March, April and May) Paraíba state cotton yields. A reduction of the state cotton crop yields was observed in the years of occurrence of moderate and strong El Niño. It was observed an abrupt reduction in the area grown with cotton crops in Paraíba State after INTRODUÇÃO A maior parte da agricultura do Estado da Paraíba é desenvolvida em sistema de sequeiro, principalmente na parte semi-árida onde predomina a agricultura de subsistência. Nessa região, que é periodicamente afetada por secas, a precipitação pluvial desempenha um papel fundamental para o sucesso da colheita. Atualmente, as principais culturas cultivadas no Estado da Paraíba são: milho feijão, mandioca e cana-de-açucar. Em décadas anteriores a cultura de algodão foi intensamente plantada. No entanto, nos últimos anos a cotonicultura paraibana vem sofrendo uma profunda crise, principalmente devido às periodicidade de secas que assolam a Região Nordeste do Brasil, desistimulando o plantio da cultura de algodão em sistema de sequeiro. A retração na produção de algodão não ocorre apenas no Estado da Paraíba ou na Região semi-árida do Nordeste, agravada pela ocorrência de secas, mas de fato no Brasil inteiro. O algodão arbóreo, conhecido como mocó, plantado tradicionalmente no Nordeste, passa por uma decadência estrutural, devido aos baixos níveis de rendimento. Essa variedade de algodão permanente, plantada em sua maior parte no semi-árido, com ciclo de aproximadamente 5 anos, tem apresentado nos últimos anos um rendimento inferior a 5 Kg/há; enquanto que, a variedade herbáceo em condições irrigadas pode atingir 3. Kg/ha. Segundo Urban et al. (1995) a cotonicultura brasileira reduziu-se de 3,3 milhões de hectares na safra 1985/1986 para 1,2 milhão em 1993/1994, totalizando uma diminuição na área cultivada de

2 62,8%. Esta queda abrupta da área plantada, no período analisado, repercute no contínuo recuo das plantações nordestinas de algodão arbóreo, que não suportaram o impacto da infestação disseminada do Bicudo Algodoeiro. O tradicional plantador de algodão arbóreo não teve outra alternativa a não ser a de arrancar as plantações face à presença dessa nova praga e optar por outra cultura Fontana & Berlato (1996), analisando a relação entre El-Niño Oscilação do Sul (ENOS), precipitação e rendimento de milho no estado do Rio Grande do Sul, observaram que a variabilidade da precipitação pluviométrica nesse Estado é relacionada ao fenômeno ENOS e que essa variabilidade tem influência no rendimento do milho no Estado. Segundo os autores essas informações podem ser incorporados em modelos de simulação de rendimento para efeito de identificação de estratégias de minimização dos impactos da variabilidade climática na produção dessa cultura. Rao et al.(1997) relacionaram o rendimento da cultura de milho no Nordeste do Brasil com o Índice de Oscilação Sul (IOS) e obtiveram uma correlação muito pequena, no entanto, significativa a nível de 99% de probabilidade, variando do valor mínimo de,27, no estado da Bahia, até o valor máximo de,58, no estado da Paraíba. Neste contexto, o presente trabalho objetivou analisar os efeitos provocados pelo fenômeno El-Niño no rendimento em caroço da cultura de algodão e a variação temporal da área cultivada no Estado da Paraíba 2 - MATERIAL E MÉTODOS Neste trabalho foram utilizados os dados de rendimento em caroço da cultura do algodão arbóreo e herbáceo no Estado da Paraíba e anomalias de Temperatura da Superfíciedo do Mar (TSM), da região Niño 3 do oceano Pacífico tropical, correspondentes aos anos agrícolas compreendidos no período de 1974 a Foram utilizadas as médias das anomalias de TSM da quadra chuvosa da região (fevereiro, março, abril e maio). O rendimento da cultura do algodão arbóreo e herbáceo, plantado em sistema de sequeiro, foi comparado com as anomalias de TSM do oceano Pacífico nos anos de ocorrência do fenômeno El-Niño. Foi também analisada as varições de rendimento da cultura, nos anos de ocorrência dos eventos moderados e fortes, em relação a sua média temporal. 3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO No período estudado ocorreram sete episódios do fenômeno El-Niño; sendo dois considerados fracos (1976 e 1986), três moderados (1987, 1991 e 1993) e dois fortes (1982 e 1983). A análise das Figuras 1a, 1b e 2 permite observar que as anomalias de TSM do oceano Pacífico se relacionam com o rendimento em caroço da cultura de algodão arbóreo e herbáceo no Estado da Paraíba,

3 principalmente nos anos de ocorrência do fenômeno El-Niño. A redução do rendimento de algodão é maior nos anos de ocorrência dos eventos moderados e fortes do que nos anos de ocorrência dos eventos fracos. A variedade de algodão arbóreo é mais susceptível às anomalias de TSM do que a variedade herbáceo a) Algodão Arbóreo Rendimento em caroço(kg/ha) b) Algodão herbáceo 8 Rendimento em caroço(kg/ha) Figura 1. Rendimento da cultura do algodão a) arbóreo e b) herbáceo no Estado da Paraíba As anomalias positivas de TSM no oceano Pacífico tropical, particularmente da região Niño 3, são relacionadas com seca na Região Nordeste do Barsil (Aragão, 1985). Através da Figura 2 observam-se que as maiores anomalias positivas de TSM ocorreram nos anos de 1983, 1987, Nesses anos o rendimento do algodão arbóreo foi de 22 t/ha em 1983, 82 t/ha em 1987, 74 t/ha em 1992 e 17 t/ha em 1993; e de algodão herbáceo foi de 95 t/ha em 1983, 191 t/ha em 1987, 435 t/ha em 1992 t/ha e 282 t/ha em O rendimento médio de algodão arbóreo no Estado da Paraíba é de 116 t/ha e de algodão herbáceo de 43t/ha. Assim, em todos os anos, exceto o de 1992, no caso do algodão herbáceo, o rendimento de algodão no Estado da Paraíba foi abaixo da média. Por outro lado, a fase inversa do fenômeno, ou seja, as anomalias positivas, não são bem relacionadas com o rendimento da cultura no Estado. Isto é comprovado no ano de 1985; onde a média da TSM da quadra chuvosa foi de -,8 C e o rendimento de algodão arbóreo e herbáceo foi de 94 t/ha e 27 t/ha, respectivamente. Observam-se que, no período estudado, o fenômeno El Niño contribuiu aproximadamente com 86% na queda de rendimento do algodão arbóreo e herbáceo no Estado da Paraíba

4 2.5 2 Anomalias de TSM (C) Figura 2. Anomalias de Temperatura da Superfície do Mar do oceano Pacífico no período compreendido entre 1974 e 1996 A Figura 3 exibe a variação temporal da área colhida do algodão arbóreo e herbáceo no Estado da Paraíba. Observam-se que a área plantada das duas variedades de algodão sofreu um intenso declíneo no período estudado. A área colhida do algodão herbáceo manteve-se aproximadamente constante em torno da média até o ano de 1981, seguindo um rápido declíneo até o ano de Algodão herbáceo Algodão arbóreo Área colhida x 1 (ha) Figura 3. Variação temporal da área colhida de algodão arbóreo e herbáceo, no período compreendido entre 1974 e 1996, no Estado da Paraíba. Por outro lado, a área colhida da variedade arbóreo, manteve-se constante durante um período maior, aproximadamente até o ano de Em seguida decresceu rapidamente até praticamente atingir a mesma área colhida do algodão herbáceo.

5 4 - CONCLUSÕES Os resultados aqui apresentados permitem as seguintes conclusões: 1. no período estudado o fenômeno El Niño contribuiu aproximadamente com 86% na queda de rendimento do algodão arbóreo e herbáceo no Estado da Paraíba 2. as anomalias negativas de TSM não são bem relacionadas com o aumento de rendimento de algodão no Estado da Paraíba; 3. a área colhida de algodão no Estado da Paraíba sofreu um abrupto declínio a partir do ano de 1981, no caso da variedade herbáceo e a partir de 1995 no caso da variedade arbóreo. 5 - BIBLIOGRAFIA ARAGÃO, J. O. R. A general circulation model investigation of the atmospheric response to El Niño. Ph. D. Dissertation. University of Miami, Coral Gables, Florida/USA, 144p, FONTANA, D. C., BERLATO, M. A. Relação entre El Niño Oscilação Sul (ENOS), precipitação e rendimento de milho no Estado do Rio Grande do Sul. Pesq. Agrop. Gaucha, v.2, n.1, p RAO, V. V., SÁ, L. D. A., FRANCHITO, S. H., HADA, K. Interannual variations of corn yields in northeast Brazil. Agricultural and Forest Meteorology, n.85, p , URBAN, M.L.P.; BESEN,G.M.V.; GONÇALVES,J.S.; SOUZA,S.A.M. Abrindo o Fardo de Algodão: caracterização dos efeitos da crise na cotonicultura do Centro-Sul Brasileiro. Informações econômicas, Artigos Técnicos ISSN 1-449, São Paulo-SP, v.25, n.1, p.33-59, 1995.