Produção orgânica de sementes: desafios e perspectivas
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- Davi Imperial Garrau
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1 Produção orgânica de sementes: desafios e perspectivas Organic Seed Production: Challenges and Prospects LIMA, Viviane Cristina Silva 1 ; ROCHA, Brauly Martins 2 ; LIMA JUNIOR, Edson de Oliveira 3 ; ALCÂNTARA, Ivan 4 1 Universidade Federal Rural do Rio do Janeiro, Seropédica, RJ, ufrrj49@yahoo.com.br; 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais Câmpus Rio Pomba, MG, brauly.martins@ifsudestemg.edu.br; 3 Instituto de Manejo da Biodiversidade, Lorena, SP, ambienterestaurar@gmail.com; 4 Embrapa Agroindústria de Alimentos, Rio de Janeiro, RJ, alcantara.ivan@gmail.com Resumo O objetivo do resumo é descrever os entraves e as potencialidades para a produção de sementes orgânicas destinadas ao sistema orgânico de produção. Os procedimentos técnicos utilizados na construção do texto foram: a revisão bibliográfica e documental e; pesquisa telemática. O mercado de produtos orgânicos está em franca expansão, porém, a produção de sementes orgânicas é o maior entrave. Palavras-chave: Agricultura alternativa; Instrução Normativa; Legislação Abstract: The purpose of the summary is to describe the barriers and the potential for the production of organic seeds destined the organic production system. The technical procedures used in the construction of the text were: a bibliographical and documentary review and search telematics. The organic market is booming, however, the organic seed production is the biggest obstacle. Keywords: Alternative agriculture; Normative statement; Legislation Introdução A comercialização e a recomendação do manejo de produtos orgânicos no Brasil foram aprovados pela Lei /2003. Com a crescente procura desses produtos a Lei foi um importante dispositivo legal para assegurar a diferenciação dos alimentos advindos de sistemas orgânicos de produção e para abrir novos mercados diferenciados. A Lei n , sancionada em 23 de Dezembro de 2003, considera em seu artigo 1 sistema orgânico de produção agropecuária é todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos 1
2 geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente. Em consonância com este lei, a Instrução Normativa 38, de 2 de agosto de 2011, estabelece as normas técnicas para a produção de sementes e mudas de acordo com o sistema orgânico de produção. A Federação Internacional de Movimentos da Agricultura Orgânica (IFOAM) estabelece que a agricultura orgânica esta pautada em quatro princípios básicos: (1)Princípio da saúde: sustentar e promover a saúde do solo, das plantas, dos animais, do homem e do planeta de forma indivisível; (2)Princípio da ecologia: deve estar baseada nos sistemas e ciclos ecológicos vivos trabalhando-os de forma sustentável; (3)Princípio da equidade: deve estar baseada nas relações que assegurem a equidade com respeito ao meio ambiente e as formas de vida e; (4)Princípio da precaução: a agricultura orgânica deve ser gerenciada de forma responsável, tendo a precaução de proteger a saúde e o bem-estar desta e das próximas gerações. As pesquisas realizadas por Neves (2004) revelam que o mercado de produtos orgânicos está em franca expansão. No entanto, pesquisas realizadas pelo IBGE, em 2006, revelam que apenas 1,8% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros praticam a agricultura orgânica, destacando-se o mercado das hortaliças e de flores. Por isto, este texto tem por objetivo descrever os entraves e as potencialidades para a produção de sementes orgânicas destinadas ao sistema orgânico de produção. Metodologia O estudo foi realizado em 2013, através da disciplina, de produção de sementes em sistema orgânico de cultivo, ministrada no Programa de Pós-graduação em Agricultura Orgânica, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Os procedimentos técnicos utilizados na construção do texto foram: a revisão bibliográfica e documental e; pesquisa telemática. Resultados e discussões A Instrução Normativa 38, estabelece em seu artigo 2, parágrafo X que sementes orgânicas são aquelas que seguem os critérios de produção estabelecidos pelo Sistema Orgânico. E ainda no artigo 4, a IN 38 determina que: a produção de sementes e mudas orgânicas deverá obedecer às normas e padrões de identidade e qualidade estabelecidas na regulamentação brasileira para a produção de sementes e mudas. 2
3 Desta forma, para que o Brasil consiga atender o mercado de produtos orgânicos é necessário que a produção de sementes orgânicas cresça na mesma medida, caso contrário a certificação destes produtos será inviabilizada. De acordo com Neves (2004) o mercado de produtos orgânicos cresce cerca de 20 a 30% ao ano, tanto em países desenvolvidos e como os em desenvolvimento. Na América Latina o país que conta com a maior extensão territorial de cultivo no sistema orgânico de produção é a Argentina. De forma complementar, é importante destacar que Brasil e Argentina, fazem parte do mesmo bloco econômico, o Mercosul, e desta maneira abre-se mais um nicho de mercado para o governo brasileiro: a comercialização de sementes orgânicas. Visando atender tanto o mercado externo quanto o interno. Estudos internacionais comprovam que o Brasil está entre os cinco países que mais produzem alimentos orgânicos no mundo. No entanto, mesmo com a ascensão do mercado de orgânico e a necessidade de sementes que atendam aos produtores, é preciso se pensar na qualidade da semente e nos entraves a sua produção e armazenamento. A IN 38 no artigo 7 determina que é permitida a policultura e o convívio com plantas espontâneas nos campos de produção de sementes orgânicas desde que adotadas medidas que garantam os padrões de qualidade das sementes. Ainda nesta Instrução Normativa o capítulo IV estabelece as normas para o beneficiamento, armazenamento e transporte de sementes orgânicas, assegurando a sanidade da mesma. O armazenamento e o transporte de sementes são etapas muito delicadas da comercialização, pois caso elas não sejam executadas de forma adequadas podem inviabilizar a semente, comprometendo a qualidade física, fisiológica e sanitário. A deterioração das sementes é um processo que não pode ser evitado, mas pode ser retardado, através de técnicas adequadas de produção, colheita, secagem, beneficiamento e armazenamento. Especificamente no caso da produção de sementes orgânicas essas técnicas devem ser realizadas respeitando os critérios estabelecidos pela legislação, no que se refere a utilização de defensivos agrícolas e ao respeito ao meio ambiente. A produção orgânica de sementes A lei /03 que determina os rumos a serem seguidos pela agricultura orgânica no país, estabeleceu um prazo de 5 anos para que os agricultores orgânicos abolissem a utilização de sementes convencionais no sistema de manejo orgânico. Atualmente, no processo de certificação, os produtores precisam comprovar que não 3
4 encontraram sementes orgânicas para que recebam a certificação. No entanto, as sementes não podem ser tratadas com defensivos sintéticos, não havendo no mercado sementes convencionais sem tratamento, fica a critério da empresa certificadora enquadrar ou não o produtor como orgânico. No entanto, essa flexibilização na legislação só poderá ocorrer até dezembro de 2013, pois a partir desta data valerá o que está sancionado no artigo 5 : é proibida a certificação como orgânicas de todas as sementes e mudas de cultivares geneticamente modificadas ou obtidas por meio de indução de mutação utilizando irradiação. Mas caso o produtor de sementes e mudas precise de sementes que não estejam disponíveis no mercado orgânico, a lei abre flexibiliza no artigo 10 para a utilização de sementes convencionais. No caso de o produtor de sementes e mudas orgânicas necessitar adquirir material de propagação oriundo de sistema de produção convencional, ele terá que respeitar um período de conversão que compreende uma geração completa com manejo orgânico para culturas anuais, e dois períodos vegetativos ou 12 meses (considerando o período mais longo) para as culturas perenes, para que a semente ou muda produzida possa ser considerada orgânica. (Lei /03, artigo 8 ) A legislação brasileira permite a troca e comercialização de sementes crioulas entre as comunidades tradicionais (agricultores familiares, quilombolas e indígenas). No sentido de minimizar o entrave da oferta de sementes orgânicas a IFOAM tem tomado algumas medidas, tais como: estimulando a produção de sementes crioulas; incentivando a agrobiodiversidade; promovendo o melhoramento orgânico como forma de aumentar a produtividade, a qualidade e a resiliência. O estímulo à troca e comercialização de sementes crioulas é muito oportuno no sentido conservar o banco genético desses cultivares. Pois, em tempos de erosão e poluição genéticas é fundamental que se estimule a conservação e o desenvolvimento dos recursos genéticos de plantas, a fim de assegurar a rusticidade de cada espécie, sem que haja a necessidade de transgenia (proibido na agricultura orgânica). Ainda é preciso se pensar nos entraves inerentes a produção orgânica de sementes, tais como: Capacitação: é preciso que tanto o produtor de sementes, quanto os extensionistas e certificadores estejam bem afinados no manejo orgânico a ser empregado. No caso do produtor é preciso que ele compreenda as dificuldades quanto a produção, beneficiamento, secagem e armazenamento das sementes, atentando de forma especial para o controle de pragas e doenças (para a produção orgânica só podem ser utilizados os defensivos recomendados pelo MAPA); 4
5 Mercado: para iniciar uma produção orgânica é preciso que esteja disponível no mercado sementes orgânicas, caso contrário o produtor deverá obedecer os ciclos vegetativos preconizados na legislação. Entretanto, há culturas que demandam muito tempo para conversão (do convencional para o orgânico), fazendo com que o produtor passe um tempo descapitalizado. O mercado de produção de sementes orgânicas no país ainda é muito incipiente, dificultando a meta do governo de certificar até 2013, apenas agricultores orgânicos que utilizam sementes orgânicas e; Legislação: a lei impôs a utilização de sementes orgânicas, mas não se preocupou com um trabalho prévio de estimulo a produção, dificultando a certificação no final de Conclusões O mercado de produtos orgânicos está em plena expansão, porém, a produção de sementes orgânicas é o maior entrave. Dificilmente as empresas que comercializam e produzem sementes conseguirão se adequar no prazo estipulado pelo governo, sendo necessário fortalecer e ampliar a pesquisa no campo de produção de sementes orgânicas, garantindo qualidade, diversidade e disponibilidade ao consumidor. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa 38 de 02 de Agosto de Dispõe sobre normas para produção de mudas e sementes orgânicas. BRASIL. Presidência da República. Lei n de 23 de Dezembro de Dispõe sobre sistema orgânico de produção agropecuária. IFOAM - International Federation of Organic Agriculture Movements Marcos Orgânicos. Disponível em: Acesso em 12/2013 NEVES, M. C. P. Cadeia de produtos orgânicos: aspectos relacionados com a qualidade e o mercado. Seropédica: Embrapa Agrobiologia, p. (Embrapa Agrobiologoia. Documentos, 185). 5
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