EFEITO DO ESTERCO DE AVE POEDEIRA NO RENDIMENTO DE GRÃOS DE TRIGO 1
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- Pedro Maranhão Tuschinski
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1 EFEITO DO ESTERCO DE AVE POEDEIRA NO RENDIMENTO DE GRÃOS DE TRIGO 1 Figueroa, E.A. 2 ; Escosteguy, P.A.V. 3 ; Wiethölter, S. 4 1 Trabalho realizado com apoio da Fapergs (Processo nº ). 2 Pesquisador do INTA, Corrientes, Argentina, Mestrando em Produção Vegetal, Programa de Pós- Graduação em Agronomia (PPGAgro), Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV), Universidade de Passo Fundo (UPF), Br 285 Km 171, , Passo Fundo-RS Brasil, efigueroa@correo.inta.gov.ar 3 Professor do PPGAgro, FAMV, UPF, escosteguy@upf.br 4 Pesquisador da Embrapa Trigo,Br 285 Km 294, , Passo Fundo-RS, siriow@cnpt.embrapa.br Resumo O uso do esterco de ave poedeira como fertilizante, em culturas produtoras de grãos, como o trigo, tem sido crescente nas lavouras do Planalto do RS, embora existam poucas informações sobre o efeito desse material nesta cultura. O objetivo deste trabalho foi o de avaliar o efeito da aplicação do esterco de ave poedeira, em quantidades equivalentes a: 2,8; 4,2; 5,6 e 11,2 t ha -1, sobre o rendimento de grãos de trigo. O efeito destes tratamentos em fornecer nitrogênio foi comparado com o fornecimento desse nutriente pela uréia e pelo solo testemunha (Sem fertilizante nitrogenado). O experimento foi conduzido em um Latossolo Vermelho, em Passo Fundo, RS. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com quatro repetições. Foi avaliado o rendimento de grãos e os componentes de rendimento da cultura de trigo. Houve pouca diferença entre as quantidades aplicadas de esterco sobre o rendimento de grãos. O componente do rendimento que mais contribuiu para aumento do rendimento de grãos foi o número de grãos por espiga. A eficiência do esterco de aves em proporcionar aumento do rendimento de grãos de trigo decresceu com a aplicação das maiores doses deste material. A maior eficiência do esterco em fornecer nitrogênio ao trigo foi verificada na dose de 2,8 t ha -1, sendo esta eficiência equiparada a da uréia. Palavras-chave: adubação, fertilizante orgânico, nitrogênio, resíduos animais. 316
2 EFFECT OF POULTRY MANURE ON GRAIN YIELD OF WHEAT Abstract The utilization of poultry manure as fertilizer on grain crop such as wheat, has increased in farms of Planalto region, located in Rio Grande do Sul state, although there is little information about the effect of this material on this crop. The objective of this study was to evaluate the effect of poultry manure application on the follow rates: 2.8, 4.2, 5.6, and 11.2 t ha -1, on the wheat grain yield. The effect of these treatments as nitrogen source was compared to urea, besides a control (soil with no nitrogen fertilizer). The experiment was carried out on a Red Latosol (Typic Haplortox), in Passo Fundo, RS, Brazil. A completely randomized block design was used, with four replications. Grain yield and yield components were evaluated. There was little difference among the amounts of poultry manure applied as far as the grain yield. The higher efficiency of poultry manure as far as the increase on wheat grain yields was observed with the rate of 2.8 t ha -1, in relation to this nutrient supplied by urea. The number of grains per spike was the yield component that influenced the most the increase of grain yield. The efficiency of poultry manure to increase the wheat grain yield tends to decrease with larger rates applied of this material. Key-words: fertilization, organic fertilizer, nitrogen, animal waste. Introdução O uso de fertilizantes orgânicos tem aumentado nas lavouras do Rio Grande do Sul (RS), em particular nas culturas de grãos, destacando-se o esterco de ave poedeira. Atualmente, a avicultura, em particular a de postura, está em expansão no RS. Segundo Moreng & Avens (1990), poedeiras geram 12 t dia -1 de esterco, sendo que o destino deste considerado um dos fatores que limitam a expansão desta atividade, quando ela é realizada de forma intensiva. Por outro lado, este esterco, assim como outro fertilizante orgânico, pode contribuir para o aumento de macronutrientes do solo, como o nitrogênio, o cálcio, o potássio e o fósforo, da CTC, da inativação de elementos tóxicos, como o alumínio, da estabilização de micronutrientes, como o ferro e o manganês; da estrutura do solo, propiciando maior infiltração e retenção de água no solo, maior aeração e a atividade e diversidade microbianas (Simonete, 2001; Ceretta et al., 2003; Rocha et al., 2004). Embora estes efeitos tem sido observados quando estes fertilizantes são aplicados em quantidades elevadas no solo, eles têm sido associados ao aumento da capacidade produtiva do solo. Entre os diferentes tipos de esterco animal, o de aves poedeiras é um dos que concentram nutrientes em maior quantidade, pois contém as dejeções líquidas e sólidas misturadas, de galinhas alimentadas com ração contendo alto teor de proteína. A soma dos teores de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) do esterco dessas aves é duas a três vezes maiores que o encontrado nas dejeções de mamíferos ou de outros animais (Kiehl, 1985). O N do esterco de aves é considerado de fácil degradação, pois este material apresenta baixa C:N, disponibilizando rapidamente o N, entre outros nutrientes. Devido à quantidade gerada ser crescente no RS, o uso deste tipo de esterco, como fonte de nutriente às plantas e como condicionador do solo, tem sido proposto como forma de descarte 317
3 deste material. Por outro lado, este uso deve ser recomendado com critérios técnicos, para que a adubação seja eficiente em termos agronômico e não cause contaminação ambiental (CQFS-RS/SC, 2004). A quantidade de esterco e outros resíduos orgânicos a ser adicionada em determinada área depende, entre outros fatores, da composição de nutrientes e do teor de matéria orgânica dos referidos resíduos, classe textural e nível de fertilidade do solo, exigências nutricionais da cultura explorada e condições climáticas regionais (Durigon et al., 2002). No caso do esterco de aves poedeiras, estes aspectos ainda não são conhecidos, sendo poucos os estudos relacionados à determinação de dosagens adequadas de esterco de aves, em culturas de grãos cultivadas no RS. O objetivo deste trabalho foi o de avaliar o efeito de doses de esterco de aves poedeiras sobre o rendimento de grãos de trigo. Material e Métodos O experimento foi conduzido na área experimental da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, da Universidade de Passo Fundo, em Passo Fundo, RS. O solo da área experimental é um Latossolo Vermelho distrófico típico, textura argilosa, sem limitações químicas e físicas para o desenvolvimento de trigo. O esterco foi gerado por aves poedeiras da raça Hy-line, criadas em sistema de confinamento. Ele foi armazenado durante cinco dias, nas esteiras coletoras de esterco, situadas dentro do aviário, antes do transporte até a UPF. Uma amostra de 7 L, composta de cinco subamostras, foi coletada de uma pilha deste material, logo após que ele foi descarregado na área experimental. Para a determinação dos teores de água e de matéria seca, a amostra de esterco foi secada a 65 C e a 105 C, respectivamente, em estufa com circulação de ar, até peso constante. Os macronutrientes foram extraídos desse material por digestão com H 2 O 2 +H 2 SO 4 e mistura de digestão, sendo o nitrogênio (N) determinado pelo método semimicro Kjeldahl; o P por colorimetria; o K por fotometria de chama e o Ca e o Mg por espectrofotometria de absorção atômica (EAA). Os micronutrientes foram extraídos com digestão nitroperclórica (HNO 3 +HClO 4 ) e determinados por EAA. Os atributos físico-químicos do esterco de ave poedeira, utilizado no experimento (base seca), foram os seguintes: ph = 8,78; condutividade elétrica = 7,33 ms/cm, umidade (65 ºC) = 64,4%, umidade (105 ºC) = 67,5%, carbono orgânico = 29,3%, P 2 O 5 total = 3,5%, K 2 O total = 2,0%, Mg total = 1,6%, Ca total = 6,5%, S total = 0,3%, N total = 6,9%, N mineral = 0,6%, Densidade = 0,85 kg/dm 3 e relação C:N = 20:3. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com quatro repetições. Os tratamentos testados consistiram em: 1) testemunha, sem adubação nitrogenada, mas com aplicação de P, K, Ca, Mg e S em quantidades equivalentes ao aplicado com 5,6 t/ha de esterco; 2) fertilizante mineral com NPK no sulco de semeadura, mais Mg, Ca e S e uréia (60 kg N/ha), em cobertura; nas quantidades equivalentes ao aplicado com 5,6 t/ha de esterco; 3) 2,8 t/ha de esterco; 4) 4,2 t/ha de esterco; 5) 5,6 t/ha de esterco e 6) 11,2 t/ha de esterco. O esterco foi aplicado manualmente, em área total, sobre a superfície do solo, um dia antes da semeadura. As dimensões das parcelas do experimento foram: 6 m de comprimento por 2,25 m de largura. A área útil de colheita correspondeu a 7,8 m 2 (4 m x 1,95 m), sendo esta efetuada de forma manual. O cultivar de trigo foi o BRS Camboatá, sendo ajustada a densidade de plantas para 300 sementes aptas/m 2. Para a determinação dos componentes do rendimento de trigo, foram colhidas as plantas presentes em um 318
4 metro linear, na linha central das parcelas. Após, determinou-se o número de grãos/espiga e realizada a contagem do número de espigas. O número de grãos/m 2 foi obtido com a multiplicação do número de grãos/espiga pelo número de espigas/m 2. O peso de mil grãos foi avaliado nas amostras colhidas e secadas a 65 ºC. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão O rendimento de grão de trigo variou pouco entre os tratamentos. Os rendimentos obtidos com as duas menores doses de esterco: 2,8 e 4,2 t/ha (4.249 e kg/ha, respectivamente) não diferiram dos obtidos com a aplicação de uréia (4.129 kg/ha), mas todos estes tratamentos proporcionaram maior rendimento que o observado no solo testemunha (3.196 kg/ha). Por outro lado, o rendimento de grãos obtido nas maiores doses de esterco (>4,2 t/ha) não diferiu do obtido na testemunha (Tabela 1). Possivelmente, a pouca diferença no rendimento de grãos obtidos com os tratamentos testados deva-se a elevada fertilidade do solo da área experimental, além deste estar sendo manejado há vários anos sob o sistema de plantio direto, tendo sido escarificado um ano antes da implantação do experimento. Além disso, as condições climáticas, principalmente, a distribuição de chuva foi favorável ao desenvolvimento da cultura de milho. Como no tratamento com 2,8 t/ha de esterco, o rendimento de grãos foi semelhante ao obtido com a aplicação de uréia (Tabela 1), isso indica que 80 kg de N total adicionados na forma de esterco proporcionaram o mesmo rendimento obtido com 80 kg de N adicionado na forma de uréia. Assim, a eficiência deste tratamento foi equivalente a eficiência da uréia e maior que a indicada nas recomendações técnicas, para a cama de frango ou outros resíduos, que é de 50 %, no primeiro cultivo (CQFS-RS/SC, 2004). Dessa forma, persistem dúvidas quanto ao índice de eficiência do esterco de ave poedeira, pois o índice de 50 %, sugerido pela pesquisa, para outros resíduos é menor que o índice de 100 % obtido neste experimento. Dos componentes do rendimento avaliados, o número de grãos por espiga foi o que acompanhou a variação observada no rendimento de grão dos tratamentos (Tabela 1). Esse componente é o mais influenciado pela adubação nitrogenada, quando o N é aplicado entre as etapas iniciais até a expansão da sétima folha (Bredemeier e Mundstock, 2001). Ao contrário do número de grãos por espiga, o valor de PH foi maior nos grãos provenientes da parcela testemunha (Tabela 1). Possivelmente, isso se deve ao menor número de grãos observado na testemunha, pois isso possibilita maior aproveitamento ou redistribuição de fotoassimilados, aumentando o PH dos grãos. Assim, nos tratamentos com esterco e com a aplicação de uréia, os fotoassimilados foram destinados a formar mais afilhos ou mais grãos por área, decrescendo o PH. 319
5 Conclusões I Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos de Animais Nas condições em que este trabalho foi realizado, o esterco de ave poedeira promoveu o aumento do rendimento da cultura de trigo, sendo este maior com a aplicação da dose equivalente a 2,8 t/ha de esterco. Literatura Citada BREDEMEIER, C.; MUNDSTOCK, C.M. Estádios fenológicos do trigo para a adubação nitrogenada em cobertura. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, 25: , CERETTA, C.A.; DURIGON, R.; BASSO, C.J.; BARCELLOS, L.A.R. & VIEIRA, F.C.B. Características químicas de solo sob aplicação de esterco líquido de suínos em pastagem natural. Pesq. Agropec. Bras., 38: , CQFS-RS/SC. COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO. Manual de adubação e de calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Porto Alegre, S. Bras. C. Solo, 400p DURIGON, R.; CERETTA, C.A.; BASSO, C.J.; BARCELLOS, L.A. R.; PAVINATO, P.S. Produção de forragem em pastagem natural com o uso de esterco líquido de suínos. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, 26: , KIEHL, E.J. Fertilizantes orgânicos. Agronômica Ceres, São Paulo, 492 p MORENG, R.E.; AVENS, J.S. Ciência e produção de aves, aquecimento, criação, alojamento, equipamento e produção de aves. São Paulo: Roca p ROCHA, G.N.; GONÇALVES, J.L.M. & MOURA, I.M. Mudanças da fertilidade do solo e crescimento de um povoamento de Eucalyptus grandis fertilizado com biossólido. R. Bras. Ci. Solo, 28: , SIMONETE, M.A. Alterações nas propriedades químicas de um Argissolo adubado com lodo de esgoto e desenvolvimento e acúmulo de nutrientes em plantas de milho. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", p. (Tese de Doutorado) TEDESCO, M.J.; GIANELLO, C.; BISSANI, C.A.; BOHNEN, H.E VOLKWEISS, S.J. Análises de solo, plantas e outros materiais. 2ed. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 174p. (Boletim técnico 5),
6 Tabela 1. Efeito de diferentes doses de esterco de ave poedeira no rendimento de grãos (RG), no peso do hectolítrico (PH), no número de espigas por área (NEA), no peso de mil grãos (PMG), e no número de grãos por espiga (NGE) de trigo. Tratamento Nitrogênio 1 RG, Trigo 2 PH NA PMG NGE...kg/ha... kg/hl Espiga/m 2 g/1000 grãos Testemunha b 85,6 a 401 ns 33,4 ns 24 c Uréia a 83,4 bc ,0 31 ab 2,8 t/ha a 82,8 c ,5 31 ab 4,2 t/ha a 84,5 abc ,6 29 ab 5,6 t/ha ab 85,2 ab ,5 28 b 11,2 t/há ab 84,6 ab ,9 32 a C.V. (%) 7,3 9,0 16,9 4,4 4,8 1 N total. 2 Umidade = 13 %. ns não sisgnificativo (P>0,05). Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. 321
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