EDUCAÇÃO & MEMÓRIA: SABERES E FAZERES DE MULHERES PARTEIRAS NA REGIÃO SERRANA DE SC
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- Luzia Bergler Molinari
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1 UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE UNIPLAC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO LINHA DE PESQUISA II - EDUCAÇÃO E PROCESSOS SÓCIO-CULTURAIS E SUSTENTABILIDADE EDUCAÇÃO & MEMÓRIA: SABERES E FAZERES DE MULHERES PARTEIRAS NA REGIÃO SERRANA DE SC LAGES 2008
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3 ROSANA STUDNICKA LOPES EDUCAÇÃO & MEMÓRIA: SABERES E FAZERES DE MULHERES PARTEIRAS NA REGIÃO SERRANA DE SC Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação. Universidade do Planalto Catarinense UNIPLAC. Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação. Linha de Pesquisa II: Educação, Processos Socioculturais e Sustentabilidade. Orientadora: Prof. Dra. Elizabete Tamanini. LAGES 2008
4 UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE - UNIPLAC ROSANA STUDNICKA LOPES EDUCAÇÃO & MEMÓRIA: SABERES E FAZERES DE MULHERES PARTEIRAS NA REGIÃO SERRANA DE SC Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação. Universidade do Planalto Catarinense UNIPLAC. Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação. Linha de Pesquisa II: Educação, Processos Socioculturais e Sustentabilidade. Orientadora: Prof. Dra. Elizabete Tamanini. COMISSÃO EXAMINADORA: Prof. Dra. Elizabete Tamanini Orientadora:... Profa. Dra. Marisa Monticelli NFR/UFSC:... Prof. Dra. Zilma Izabel Peixer PPGE Mestrado em Educação UNIPLAC:... LAGES 2008
5 Dedico este estudo: À bisavó Alzira Delfes Barbosa (in memorian), mulher, esposa, mãe e parteira, que foi luz para mulheres e crianças cujas condições de vida encorajavá-as a viver.
6 AGRADECIMENTOS O sentimento de gratidão que acompanha o cumprimento de qualquer etapa de nossa vida seja ela, acadêmica, profissional ou pessoal é o que torna essas passagens mais leves. Neste instante, o que move ao agradecimento é o estímulo, companheirismo e afeto recebido de inúmeras pessoas para o cumprimento dessa caminhada. Em primeiro momento quero agradecer a Sebastião Eliseu Lopes (Zeu), meu amigo, companheiro e esposo, por seu amor, solidariedade, bom humor e paciência; por me substituir como mãe nos tantos momentos que este Mestrado me exigiu, por algumas leituras e comentários sempre preciosos; enfim, não existem palavras ou gestos que possam expressar meus sentimentos e agradecimentos a você. À Gabriela Francisca Studnicka Lopes, minha amada filha, que suportou sem tantas queixas minhas ausências, muitas vezes em momentos importantes de sua vida, mas soubestes ser compreensiva e tenho certeza que adquiriu conhecimentos para o seu futuro. Estarei sempre contigo, te amo. Aos colegas do Mestrado, em especial a você, Mailza, e a Adriana, pelo carinho e ancoramento em momentos cruciais de nossa jornada. Não posso deixar de acarinhar nesse momento minhas colegas e amigas Josilaine (a Jô), Andréia (Dedéia), Jocemara e Mariléia, pelas viagens de estudo. A ANPED ficará para sempre em nossas lembranças. A colega Mestre Professora Ilsen que dentre suas atividades deu-me o privilégio na correção ortográfica deste trabalho. À coordenação do Mestrado, Ana Maria Machado Netto, obrigado por ter me acolhido. Costuma-se dizer que toda dissertação pode ser comparada a um parto. Talvez no meu caso, este dito popular acadêmico seja bem condizente. Seguindo esta analogia, gostaria de agradecer à Professora e Drª Elizabete Tamanini Betinha, por ter me incentivado à gravidez deste tema, por ter me acompanhado em todos os sinais e sintomas de conforto e desconforto desta gestação, responsável pelo trabalho final de parto, posicionando-se como uma parteira firme, mas paciente e carinhosa, conhecedora de manobras, rezas, chás e benzeduras, úteis para trazer à vida este trabalho.
7 5 Agradeço também a Professora e Drª Zilma Isabel Peixer e a Professora Enfermeira, Drª Marisa Monticelli, que participaram da banca de qualificação, pelos valiosíssimos comentários e sugestões que resultou nesta Dissertação. Em especial meu afeto à Fran, Tati, e Ana Paula, Enfermeiras Obstétricas, colegas de trabalho, unidas desde a graduação, que em muitos momentos felicitaram as minhas viagens de estudo, por comungarem das mesmas instigações culturais e pela amizade que nos une. Adoro vocês. Aos meus pais, Irene e Silvio, por terem me ensinado a perseverar, e a lutar pela vida. Aos meus sogros, Eugenia e seu Lopes, enfim irmãos, cunhadas(os), sobrinhos e afilhados, por entender minhas ausências em família. Não posso deixar de agradecer a elas mulheres parteiras que foram protagonistas deste estudo, Dona Santa Barbosa, Dona Nenê, Maria Parteira, Dona Maria de Lurdes e Dona Zulmira, sem as quais esta gestação estaria incompleta e cujas memórias determinaram o registro da história da região serrana de SC. Enfim, penso terem sido necessários todos esses agradecimentos. Às pessoas que tiveram sua importância, mas que aqui não estiveram presentes, peço desculpa. Afinal, a memória nos prega peças, e o que não é recordado, não necessariamente está esquecido. À todos meu muito obrigado.
8 A Educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. PAULO FREIRE
9 RESUMO A Dissertação - Educação & Memória: Saberes e Fazeres de Mulheres Parteiras da Região Serrana de SC tem como objetivo compreender as experiências do ato de partejar destas mulheres que aprenderam com a experiência, este oficio. Transformar tais saberes populares em fonte histórica para o contexto da educação, acessibilizando a outros pesquisadores e estudiosos, constitui em si um dos resultados qualitativos deste trabalho. Esta pesquisa é significativa sob o ponto de vista teórico e metodológico para a área de conhecimento da Educação que transcende a concepção de Ensino. Trata especialmente de categorias da Educação Popular á medida que parte dos saberes e fazeres herdados, acumulados e ressignificados por mulheres que não tiveram acesso ao ensino formal de modo regular; cujas condições sócio-culturais configuravam um quadro de desigualdade elevada. O nosso grande encontro nesta dissertação foi com estas mulheres corajosas e destinadas a tomar conta de vidas. Falamos de destinadas, pois tiveram que assumir muito cedo a responsabilidade social de aprender para cuidar aprender para ajudar a parir, a partejar. Quando analisamos o contexto sócio-cultural tem-se uma leitura de que pouco restava naquela situação para optarse por outras coisas. Por outro lado, mesmo em mundos projetados para um certo fim, estas mulheres e muitas outras que se foram permitiram que a coragem, a curiosidade e o desejo suplantassem o destino já apontado pelas circunstâncias da vida. Muitas delas, compreendendo a função de parteira como inspiração simbólica, como um dom divino ou ainda como se fosse uma predestinação para ser. Outras misturam o divino com a tradição, com as heranças de outras mulheres que praticavam em passados distantes o ato de partejar. Também nessa tessitura estão presentes a idéia da responsabilidade pelo outro, o cuidado e a necessidade de interferir no mundo enquanto sujeitos e protagonistas. Palavras-chave: educação, educação popular, mulheres parteiras, saberes e fazeres.
10 ABSTRACT The present study Education and memory: knowledge and work of Midwives living in the Mountain region of S.C aims at recording narratives of there women in order to incorporate their knowledge to the educational context. These reports may lean to new approaches to reflect about education and its interface with the local knowledge and action of the learning process concerning to theact of giving birth to children. The methodological approach took into accorent an ethnographic research based on the oral history suggested sy Delgado (2006). The information was collectial through semi-structured in tenrews and observation during the data collection. The discussion in the present work, rescues the most relevant aspects of the experience of five midwives (age varying from 64 to 100 years olla) who have been giving birth to kindred s of children in the region. The results of the study suggest that other studies should be carried out to deep and at value the identity and culture of men and women what construct the history of region. The study is concluded analyzing the common characteristics of the women subject of this research. Keywords: education, midwives, the eat of giving birth to children, knowledge and work.
11 LISTA DE SIGLAS ACS Agente Comunitário de Saúde AMURES - Associação dos Municípios da Região Serrana CNS Conselho Nacional de Saúde COHAB Conjunto Habitacional CORE N Conselho Regional de Enfermagem FHMCPHFR Fundação Hospitalar Municipal de Correia Pinto Hospital Faustino Riscarolli HGMTR Hospital Geral e Maternidade Tereza Ramos NFR Enfermagem PPGE Programa de Pós-Graduação em Educação PSF Programa Saúde da Família SC Santa Catarina SUS Sistema Único de Saúde UFSC Universidade Federal de Santa Catarina UNIPLAC Universidade do Planalto Catarinense UNISUL Universidade do Sul de Santa Catarina
12 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 - Representação cartográfica dos municípios da região da AMURES - em destaque os municípios pesquisados...24 FIGURA 02 - Santalina Anacleto da Silva Barbosa (dona Santa Barbosa tia Santa)...49 FIGURA 03 - Mailza abraçada em dona Nenê...53 FIGURA 04 - Maria de Lurdes Küster Scheleder...59 FIGURA 05 - Zulmira Rodrigues de Jesus...68
13 SUMÁRIO FOLHA DE APROVAÇÃO...02 DEDICATÓRIA...03 AGRADECIMENTOS...04 EPÍGRAFE...06 RESUMO...07 ABSTRACT...08 LISTA DE SIGLAS...09 LISTA DE FIGURAS...10 INTRODUÇÃO...13 I MOMENTO 1.1 O SABER E O FAZER DO PARTEJAR: DA MINHA VIDA AO ENCONTRO COM AS MULHERES PARTEIRAS O MESTRADO...21 II MOMENTO 2.1 O SABER E O FAZER DO PARTEJAR: DOS OBJETIVOS A METODOLOGIA OS CAMINHOS E AS APRENDIZAGENS O APRENDER AO CAMINHAR: AGULHAS NO PALHEIRO A Procura - Os Trajetos - Os Caminhos...34 III MOMENTO A EDUCAÇÃO SE FAZ AO CAMINHAR: ATUAÇÃO DAS MULHERES PARTEIRAS - UM POUCO DA HISTÓRIA UM POUCO DE HISTÓRIA...36
14 3.2 ATUAÇÃO DAS MULHERES PARTEIRAS...40 IV MOMENTO 4.1 OS SABERES, O CUIDADO E A TROCA: O PARTO NA VOZ DAS MULHERES PARTEIRAS...47 V MOMENTO EDUCAÇÃO & MEMÓRIA: CONVERSAS E TESSITURAS SOBRE OS SABERES E FAZERES DE MULHERES PARTEIRAS...72 FINALIZANDO O CAMINHAR, O PARTEJAR...80 REFERÊNCIAS...82 APÊNDICE...87
15 13 INTRODUÇÃO O presente estudo socializa a trajetória acadêmica percorrida a partir do ingresso no Curso de Mestrado em Educação da Universidade do Planalto Catarinense. Traz, em forma de escrita, memórias de mulheres parteiras que, a partir de relatos de suas histórias, materializam saberes e fazeres, apreendidos na vida e com a vida. Para organizar nossas estruturas de análises recorremos a um conceito muito usado pelas parteiras o momento. Para as nossas protagonistas o nascimento é um dos momentos mais importantes da vida no mundo. Assim, faz sentido chamarmos a nossa organização da pesquisa também de momentos. O I momento com o título: O Saber e o Fazer do Partejar: da Minha Vida ao Encontro Com as Mulheres Parteiras narra em forma de memorial à trajetória acadêmica, buscando fios e memórias da infância ao processo de escolarização - formação e atuação profissional. A incursão no Mestrado em Educação UNIPLAC passa a ser um divisor de águas em relação a minha postura acadêmica. Fui aprendendo a ler e a escrever naquilo que o mestre Paulo Freire ressalta, aprendi a ler o mundo e do mesmo modo passei a compreendêlo de forma mais complexa. Sinto que o tempo todo estou aprendendo, mas vivo com um sentimento de extremo desconforto por compreender que com a educação podemos fazer uma pequena parte para melhorar o mundo lido. No II Momento apresentamos O Saber e o Fazer do Partejar - dos objetivos àmetodologia - os caminhos e as aprendizagens, documentando as narrativas de mulheres parteiras que ainda vivem na região serrana de SC, adotamos como metodologia nas narrativas, o suporte filosófico e social para as reflexões e análises na história oral. Estiveram presentes na pesquisa mulheres parteiras com idade entre setenta a noventa e oito anos de idade, residentes em diferentes municípios da região da AMURES Associação dos Municípios da Região Serrana de SC. Na construção das narrativas buscamos entender o que significavam as práticas femininas a respeito do nascimento, de que forma aconteciam, onde partejavam o cuidado com as mulheres que atendiam, do conhecer e o entender.
16 14 O III momento desta produção, com o título A Educação se faz ao caminhar: atuação das mulheres parteiras: um pouco da história, problematizamos a inexistência da produção historiográfica em educação e apontamos possibilidades de novos estudos que contribuam com uma nova reconfiguração de estudos regionais. Nesse contexto problemático, a opção discursiva foi destacar alguns pontos nevrálgicos para que, em estudos futuros, se tenha maior compreensão destas complexidades. Ainda destaca um pouco da história do ato de partejar historicamente trazendo reflexões acerca da mulher na sociedade. Os saberes, o cuidado e a troca: o parto na voz das mulheres parteiras é o IV momento deste trabalho, onde procura dar visibilidade às narrativas gravadas durante as visitas realizadas. Nesse momento as cinco mulheres parteiras que compuseram o cenário da pesquisa contam como aprenderam a arte de partejar, os caminhos trilhados para auxiliar no momento do nascimento, a experiência vivida por cada uma delas, o uso de ervas medicinais, orações, benzimentos e suas crenças para que tudo ocorresse bem no momento do parto. No V momento, trata-se da Educação e memória: conversas e tessituras sobre os saberes e fazeres de mulheres parteiras Dona Santa, uma mulher cheia de saberes e conhecimentos, aos cem anos de vida declara ter vivido muita coisa. Coisas boas encantadas especialmente pela difícil tarefa de ajudar a pôr no mundo muitas crianças, Numa época onde a situação social e econômica era demais da conta perversa nestas regiões onde fazia e faz ainda muito frio, parecendo que para morar nestes campos, o campo de fato era o mundo rural, alimentados pelo vento minuano, geadas e a neve as condições de vida não deveriam ser as melhores possíveis. Dona Nenê, noventa e dois anos de idade como Dona Maria Parteira, sessenta e três anos, Dona Maria Dolores, setenta e nove anos e Dona Zulmira com noventa e dois anos, sabiam e viveram tentando compreender que a vida que lhes era oferecida era a única possível, mas por coragem desviaram o caminho por outros atalhos, entrando assim, em um universo que em nossa região continuam sendo silenciados. Estas mulheres demarcaram novos espaços cuja aprendizagem está posta nas palavras, nos objetos, gestos, na cultura familiar, nas memórias pessoais e coletivas que por ora e às vezes se esvai pelo adiantado do tempo.
17 15 I MOMENTO 1.1 O SABER E O FAZER DO PARTEJAR: DA MINHA VIDA AO ENCONTRO COM AS MULHERES PARTEIRAS Ontem um menino que brincava me falou Ele é semente do amanhã para não ter medo que este tempo vai passar Não se desespere e nem pare de sonhar Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar Fé na vida, fé no homem, fé no que virá nós podemos tudo nós podemos mais Vamos lá fazer o que será (Gonzaguinha) Nasci no hospital de São Joaquim no dia 23 de outubro de 1973, de parto normal, assistida por uma parteira. Esta parteira atendia aos nascimentos em várias localidades próximas dali. Com a construção do hospital, foi chamada para atuar no mesmo. Residíamos em Bom Jardim da Serra, sendo então o hospital de São Joaquim a referência para a região. No primeiro ano de vida tive muitos problemas de saúde a serem diagnosticados. Minha mãe, sem entender ou ter experiência, precisava deixar meu irmão e me levava ao farmacêutico em Criciúma. Ela sempre conta que tinha medo de descer a serra do Rio do Rastro, sendo que na maioria das vezes, descíamos de carona. Meu pai trabalhava em uma serraria e ganhava muito pouco, o que dificultava as condições de vida em muitos sentidos. Quando eu tinha cinco anos de idade, meu pai conseguiu emprego na então denominada: Fábrica de Papel e Celulose Olinkraft em Otacílio Costa, hoje pertencente ao grupo Klabin 1. Mudamos para Otacílio Costa em cima de uma caçamba e tivemos muitas dificuldades com os poucos utensílios que possuíamos. Não tínhamos casa para morar, e, no primeiro mês de trabalho de meu pai, ficamos morando com uma tia, irmã de minha avó paterna. Após este período, passamos a viver como nômades, sempre fazendo mudanças, pois morávamos em casa de aluguel. Éramos três irmãos e a situação se agravou quando, com sete anos, comecei a ter crises de asma. Minha mãe entrava em desespero, pois sempre que 1 Klabin indústria de produção de celulose e papel através do uso de pinus eliote para transformar em papel, na década de 60, ocorrendo o marco da extinção da araucária.
18 16 conseguia fazer uma pequena economia para comprar um lote e construir nossa casa tinha que gastar com medicamentos. Outro agravante era eu conseguir acompanhar o ano letivo pela dificuldade de deslocamento. Eu tinha que caminhar 3 km, o que acabava desencadeando crises de falta de ar, por isso parava várias vezes pelo caminho para usar minha bombinha de remédio para acalmar-me. Às vezes, faltava na aula, principalmente no inverno, em função da crise de asma e infecções pulmonares. Mas, aos poucos, fui superando e me recuperando. Gostava de estudar e pude ir dando conta das coisas dentro das próprias limitações pessoais, sociais e do tempo. Com o passar dos anos conseguimos comprar nossa casa. Minha saúde melhorou e comecei a estudar na Escola Nossa Senhora de Fátima, onde fiz parte da primeira turma da 2ª série. Era uma escola estadual nova, inaugurada no ano de 1982 e ficava perto da nossa casa. Logo cheguei até a oitava série, em 1988, e após a formatura acabei ficando muito triste, pois meu pai disse que para eu ser uma dona de casa e para as funções de cozinhar, lavar e cuidar de criança, já tinha estudado muito. Eu ignorei estas afirmações. Peguei meus documentos, sem que meus pais soubessem, e fui com uma amiga até o Colégio Elza Deeke, o mesmo colégio em que cursei o primeiro ano primário, e fiz minha matrícula para o segundo grau. Na época, já havia certa afinidade com o ato de cuidar dos nossos vizinhos que eram idosos, pois sempre que adoeciam eu estava lá, cuidava deles, pernoitava em suas casas e administrava seus medicamentos conforme a receita do médico. Algum tempo depois, surgiu a vontade de fazer o Curso Técnico em Enfermagem. Então, pedi a meu pai para ir estudar em Lages. Ele ficou furioso e disse: Filha minha nunca vai estudar em Lages porque a maioria das meninas chegam com o diploma antes da hora grávidas. Também não dispunha de recursos e dinheiro para manter meus estudos e viagens. Foi então que arrumei um emprego em uma farmácia. Ganhava pouco, mas guardava tudo para estudar. Um dia, a proprietária da farmácia perguntou se eu queria, ou gostaria de trabalhar em hospital, pois havia uma vaga para a qual, ela incentivara a filha, que não quis o trabalho. Aceitei na hora e não pensei em mais nada do que eu estava fazendo. Então, meu pai acompanhou-me até a cidade de Trombudo Central. Conhecemos o hospital e ele conversou com a Irmã (eram freiras evangélicas da ordem Luterana do Brasil, que se responsabilizaram por mim), e eu fiquei no internato do hospital. Fui contratada como auxiliar de serviços gerais, (para auxiliar onde fosse necessário, desde cozinha central, limpeza, em qualquer local que fosse solicitada). Ajudava a dar banho nos pacientes, limpava as comadres e papagaios (objetos em aço inox, usado para eliminações
19 17 fisiológicas, como urina e fezes), auxiliava os pacientes acamados no banho nas excreções fisiológicas e alimentação. Neste tempo haviam algumas colegas que, durante o plantão noturno e finais de semana, me ensinavam a ver sinais vitais (verificar pressão arterial, pulso, respiração e temperatura), fazer injeções, introduzir soro na veia, afiar agulhas, enrolar ataduras, lavar, secar e passar talco nas luvas. Tudo isto acontecia quando a Irmã não estava por perto. Após três meses de trabalho, para minha alegria, fui promovida à Atendente de Enfermagem. Até aquele momento eram poucos profissionais de enfermagem que possuíam algum tipo de qualificação, chamado de Prático em Enfermagem. Em 25 de junho de 1986 sob a Lei N o 7.498, regulamenta esta atividade Profissional, Art.2 o A Enfermagem e suas atividades somente pode ser exercida por pessoas legalmente habilitadas e inscritas no Conselho Regional de Enfermagem com jurisdição na área onde ocorre o exercício, Fazendo parte da equipe de Enfermagem: o Enfermeiro com nível superior, o Técnico de Enfermagem com formação de nível médio e o Auxiliar de Enfermagem conforme COREN SC (2008 p.46). A sensação foi melhor que receber o primeiro salário. Neste período, privei-me de uma série de confortos pessoais para poder ter recursos para fazer o curso técnico de enfermagem. Aproveitei muito destes momentos para aprender. Queria ver e aprender tudo. Lembrarei sempre da cena do primeiro parto que assisti. A Irmã chegou e disse que eu era muito nova para estar ali, naquele local. Nesse hospital, tinha uma médica muito querida que sempre conversava comigo e me dizia: Spud (ela fazia relação do meu nome com o 1º foguete, o Sputnik, e, por isso me chamava de Spud) vai estudar, menina, tu és muito jovem. Dizia assim: Daqui a alguns anos, ninguém vai poder trabalhar como atendente de enfermagem. Nesta época já havia determinação do COREN - Conselho Regional de Enfermagem e o prazo de dez anos a partir de 1986, para todos os práticos em Enfermagem se qualificarem. No dia que você for estudar e voltar, talvez não tenha mais nenhuma das tuas colegas por aqui. Na época eu tinha dezesseis anos. Avalio que esta caminhada fez meu pai perceber que, de fato, minha busca estava correta. Resolveu fazer minha matrícula no Colégio Estadual Aristiliano Ramos, em Lages, e segui adiante. Cursei o Técnico de Enfermagem em 1991 e, já com saberes e práticas acumuladas, pude compreender e absorver com mais intensidade os ensinamentos do curso técnico em enfermagem. No ano de 1993, prestei prova na prefeitura de Otacílio Costa para uma vaga de Técnico em Enfermagem, sendo classificada em primeiro lugar. Logo tive que assumir a
20 18 função na Unidade de Saúde (postinho) e assim, as mamadas de minha filha aconteciam lá, no meu local de trabalho, pois faziam poucos dias que minha filha havia nascido. Três meses após eu estar trabalhando na Unidade Básica de Saúde do bairro Fátima, foi inaugurado o Hospital Santa Clara. Faltavam profissionais para o período noturno, o que motivou a minha entrada neste Hospital, onde atuei por oito anos e meio em todas as clínicas, com um maior período na cirúrgica e obstétrica. Algumas vezes, no período noturno, quando chegavam gestantes, elas me olhavam e diziam: Nossa! Tu és uma menina! Eu fico com vergonha de ter que ficar assim, só com essa camisola e eu respondia: Sou mãe e já passei por este momento. Assim, conseguia obter a confiança dessas mulheres, pois era orientada a chamar o médico somente quando estivessem aparecendo os cabelinhos do bebê. Havia um compromisso muito grande, pois elas necessitavam de apoio e incentivo naquele momento de suas vidas, porque o hospital e o médico não permitiam a presença de acompanhante. Então, era a enfermagem que fazia esse papel. O papel do cuidado, do saber cuidar, que Leonardo Boff descreve em sua obra. Aprendi muito com estes momentos. Foi gratificante poder assistir a cada nascimento, na sala de parto, no próprio pré-parto. Certa ocasião, não deu tempo de a mãe sair de dentro do carro. Então foi lá mesmo que fizemos o parto e segurei aquele ser humano completamente indefeso, que chegava ao mundo às pressas, parecia um anjinho! Nesse processo de construção profissional, eu sabia que deveria ir buscar mais fundamentação e que eu deveria compreender o ser humano na sua complexidade. No ano de 1997, quando a UNIPLAC ofereceu o curso de Ciências Biológicas, prestei o vestibular, fui aprovada e comecei a cursar Biologia. Mas não recebi apoio da instituição onde eu trabalhava, por não ser um curso voltado para saúde, e acabei tendo que desistir do mesmo. Após três anos, abriu o Curso de Enfermagem nesta mesma instituição. Fiz novamente o vestibular e fui selecionada. Durante o Curso de Graduação, muitas dificuldades: primeira turma, poucos livros disponíveis, os campos de estágios ainda não consolidados, alguns preconceitos em relação à área e ao profissional enfermeiro(a), coisas construídas no caminhar e na prática com vidas e saúde, que, aos poucos, foram e estão mudando. Durante esse período houve muitas atividades de campo, levando-nos a refletir com mais cuidado sobre saúde da família, educação e saúde, cuidar e ser atuante na comunidade, conhecendo e convivendo com as pessoas, de integrar as famílias e sentir suas necessidades e realidades, temas que passaram a
21 19 fazer parte de nossas observações e reflexões, mas ainda sem muitas condições de análises e aprofundamentos teóricos. Com a intenção de aprofundar estas questões, ingressei para especialização em Saúde da Família, extensão UNISUL/UNIPLAC. Concluí a graduação em 2004 e em 2006 terminei a Especialização em Saúde da Família. Com este trabalho, pude perceber o quanto alguns conceitos e práticas estavam longe das políticas públicas e da sociedade de um modo geral. O trabalho de saúde e educação ainda está muito distante das qualidades necessárias e da humanização do Sistema Único de Saúde. A cultura da medicina curativista é muito forte nas pessoas. A comunidade continua indo ao posto em busca de remédios, receitas de remédios controlados e exames. Segundo Czeresnia (2003 p.45), as ações preventivas definem-se como intervenções orientadas a evitar o surgimento de doenças específicas, reduzindo sua incidência e prevalência nas populações (...). Seu objetivo é o controle da transmissão de doenças infecciosas e a redução do risco de doenças degenerativas ou outros agravos específicos. Para cuidar da saúde não basta apenas fazer exames preventivos ou seguir corretamente o tratamento médico, mas entender, como explicita Zampieri (2001), que numa ação humanística, a educação é vista como uma forma de intervenção no mundo, que contribui para a construção da autonomia do ser humano e do processo de vir-a-ser, ou seja, onde o ser humano interage com o meio em que convive e esse meio com o mundo. Neste sentido, ressalta Freire (1997 p.11): que mulheres e homens, seres históricosociais, tornamo-nos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, e, por tudo isso fizemo-nos seres éticos. Sendo, então, a educação um processo histórico, dinâmico onde quem ensina aprende e quem aprende, ensina. A área da Saúde compreendida nesta concepção humanista propicia essa troca mútua de conhecimentos e saberes, crenças, culturas e valores entre a comunidade e os profissionais da saúde. Assim a saúde está relacionada com a vida, com a compreensão de si e sobre si e o mundo. Os seres humanos necessitam da interação, relação com o outro e com a educação, conceito intrínseco a cultura construída historicamente, como salienta Monticelli: É importante que se entenda as práticas de saúde como fenômenos sociais. Sabe-se que, incluindo-se neste macro contexto, torna-se difícil (mas não impossível), separa as atividades do fazer, das atividades do pensar. É esta dicotomia que precisa ser revista e transformada, para que ações educativas em saúde caminhem para a mudança do comportamento de todos os indivíduos (profissionais e clientes) na busca da cidadania possível. A educação precisa ser encarada como um processo que só acontece no convívio social (1994 p.09).
22 20 Baseando-me nos pressupostos anteriormente apontados, que postulam Educação e Aprendizagem, como práticas interativas, entende-se que os profissionais que atuam com Saúde e Educação necessitam de formação e capacitação permanente. Falamos da concepção de profissão e profissional que considera que o ser humano deveria compreender a educação como um ato humanizador produtor de saberes, valores e que assumisse para si a condição da vida e da cultura. Todavia, com base nas realidades estudadas, teremos que trilhar longos caminhos, para alcançar o que preconiza Freire: O passado acompanha o presente, persegue as novas formas de entender o mundo e torna o processo de desvelamento (retirada dos véus) cheio de encruzilhadas, de avanços e retrocessos, voltamos a afirmar, irreversível. É um processo contínuo e infinito, quanto mais conscientizamos nos tornamos, mais capacitados estamos para ser anunciadores e denunciadores, graças ao compromisso de transformação que assumimos (1980 p.28). Nesta caminhada, minha trajetória profissional vem sendo construída, todavia com aquela sensação de estar sempre faltando muita coisa. Tentando compreender estas ausências, ingressei na Especialização em Enfermagem Obstétrica, oferecida pelo Ministério da Saúde em parceria com Universidade Federal de Santa Catarina, em Concluí a especialização com um estudo mais aprofundado sobre assistência à mulher no ciclo gravídico puerperal, em 2006, orientada pela Profª. Dra. Marisa Monticelli, com o título: A Inserção da Enfermeira Obstetra na Atenção ao Parto no Brasil. Este ensaio traz uma abordagem histórica sobre as parteiras até o surgimento da Enfermeira Obstetra, profissional que hoje se faz presente em várias instituições hospitalares. No Hospital Geral e Maternidade Tereza Ramos, neste mesmo período, fiz processo seletivo para ocupar o cargo de Enfermeira Obstetra. Também neste momento eu já estava cursando o Mestrado em Educação da Universidade do Planalto Catarinense/UNIPLAC. Enfim, a vida dá muitas voltas e, às vezes, o sonho sonhado não é conquistado, mas sim, transformado. Schopenhauer nos ajuda a compreender estes dilemas: Enquanto vivemos, nos sentimos levados por uma força interior a que não conseguimos resistir, que nos dita o que é normal, nos faz decidir os rumos de nossa vida e traça nosso caráter. É o destino, embora visto a posteriori, quando percebemos que seguimos um caminho que tínhamos que seguir para terminar sendo o que somos. Não se trata de um destino que pode ser descoberto a priori, na palma da nossa mão, ou no desenho das cartas de baralho. No entanto, alguma coisa foi escrita para nós, cegamente, sem finalidade, e nossos atos a tornam clara. Quando pensamos em tudo que fizemos ao longo de nossa vida, vemos um caminho traçado por decisões que acabam revelando o nosso caráter mais íntimo.
23 21 Não o conhecíamos antes. Chegamos a conhecê-lo a posteriori (JORNAL DC, 2006 p.02). Diante deste processo de construção tentando compreender estas inúmeras realidades, cada vez mais, fica evidente que a transformação social, cultural e educacional passará a ser entendida como resultado da ação e reflexão dos homens e das mulheres sobre a realidade. Através da práxis teoria e prática do ser humano conscientizado, é que acontecerá a transformação; muitas vezes, gritante, palpável e muito visível; outras vezes, tímida, subliminar e demorada (SAUPE, 1998 p.256). Tendo como pressupostos, reflexões teóricas e práticas vivenciadas durante toda a minha trajetória de formação, compreendo com mais profundidade a análise de Bordenave (1996), quando ele diz que a realidade é algo inacabado, que pode ser melhorado. Esta perspectiva para a compreensão da realidade é que despertou em mim a necessidade de atuar (conhecer mais profundamente) a área de Educação. Atuar na construção de novos saberes e conhecimentos e, ao mesmo tempo, contribuir com a formação dos profissionais de Saúde, com vistas à ação humanizadora. Para Paulo Freire, esta ação exige apreensão da realidade, não para nos adaptarmos a ela, mas para transformá-la, para nela intervir, recriando-a (1987 p.77). Educar não significa adestrar, mas desenvolver a capacidade de aprender como sujeito crítico, epistemologicamente curioso, que constrói o conhecimento do objeto ou participa de sua construção. Ninguém nasce feito. Vamo-nos fazendo, aos poucos, na prática social de que tomamos parte, construindo a nossa própria libertação (FREIRE, 1993:88). 1.2 O MESTRADO O primeiro passo foi de curiosidade e expectativa. Seria esse o exato momento de cursar um Mestrado? Onde? Em que área? Dúvidas pairavam nos pensamentos até o momento de decidir e enfrentar o processo seletivo do Mestrado em Educação, e seria uma oportunidade para aprofundar mais na Área da Educação, pois ser profissional em Saúde é ser educador e cuidador. Passamos um bom tempo profissional orientando, educando as pessoas para que tenham saúde ou para que recuperem a mesma, sendo educador, mas para Brandão (2005 p.69), podemos estar ou não conscientes disso, mas cada troca de palavras, de gestos, e de serviços com outra pessoa, costuma ser também um momento de ensino-aprendizagem. Eram muitas as angústias. Seria possível alguém da área da Saúde ser aprovado no processo seletivo de um Mestrado em Educação? Enfim, iniciou-se mais um desafio. Folder na mão, a corrida atrás dos artigos e livros solicitados para a prova escrita. Entre um intervalo
24 22 do trabalho e do curso de especialização em Obstetrícia, muita leitura, autores que não me eram conhecidos, mas algumas leituras gostosas despertavam a curiosidade para ir além. Então, realizou-se a prova escrita, entrevista e a surpresa de ser selecionada. Foi assim que se deu minha inserção no Mestrado em Educação/Uniplac em Um grande desafio a ser conquistado e compreendido, mais uma profissional da saúde que passa a pensar a Educação e Pesquisa mais profundamente. Conhecer novos estudiosos que se relacionam com a Educação até então pouco conhecidos por mim: Karl Marx, Anísio Teixeira, Dermeval Saviani, Paulo Freire, Mauricio Tragtemberg, Antonio Gramsci, Hanna Arendt, e outros como Benard Charlot e Miguel Arroio com os quais tive o privilégio de conversar pessoalmente. O grande receio era o de me expressar de forma equivocada. Afinal, eram muitas concepções, muitas idéias, leituras e debates. A maior dificuldade ficou com a escrita. Como organizar as idéias e expressá-las em documentos acadêmicos? A linguagem agora havia mudado muito. Os argumentos não poderiam vir sem fundamentação, sem coerência teórica. Mas como dar conta de tudo isto quando a nossa tradição escolar pouco ou nada incentivou para estas práticas? Esse vem sendo o nosso grande drama, escrever sobre algo de que gostamos, desejamos e pesquisamos, porém, como descrevê-los? Como narrá-los? Aos poucos, fomo-nos atrevendo a falar, a pensar de outros jeitos e a começar a pensar que deveríamos escrever também saberes e conhecimentos de forma qualitativa e comprometida a ser compreendidas por muitos. As disciplinas, os encontros nos deram possibilidades para sairmos do lugar comum e buscar outras reflexões. As aulas de Conhecimentos e Saberes sempre deixavam um gosto de quero mais, as dúvidas que se colocavam com relação ao objeto de pesquisa, caminhos idos e vindos. Numa das aulas da Profª. Drª Elizabete Tamanini, falava-se de identidades, saberes e fazeres usando como exemplo uma árvore e daí as relações com nossas origens, nossas raízes, nossas marcas. Segundo a Professora, o conhecimento que construímos e socializamos, a postura profissional que adotamos e a pesquisa que realizamos nunca são desinteressadas e distanciadas destes traços, desses valores, dessas ideologias construídas ao longo da história. Assim, a escolha de uma problemática deve estar intrinsecamente relacionada às nossas histórias de vida e o que desejamos para o mundo. Foi neste momento que tomei a decisão de pesquisar sobre o as memórias de mulheres que atuaram como parteiras. Neste momento, eu ainda não sabia que minha bisavó, avó - a nona de minha mãe havia sido parteira. Depois desta descoberta, passei a perceber que, além de eu ser enfermeira obstetra, descobrira que havia algo muito próximo presente em minha história de vida e isso foi o que me impulsionou a pesquisar sobre os saberes e fazeres de mulheres parteiras na região serrana de SC, suas
25 23 trajetórias, suas experiências de aprendizagens e a socialização destes conhecimentos para outras mulheres. Nossa busca se deu através do contato direto com mulheres que ainda estão presentes nesta região.
26 24 II MOMENTO 2.1 O SABER E O FAZER DO PARTEJAR: DOS OBJETIVOS A METODOLOGIA OS CAMINHOS E AS APRENDIZAGENS Oração de São Bartolomeu Senhor São Bartolomeu, se vestiu e se calçou, seu caminho bendoiu. Por onde vai senhor São Bento? Vou em busca de vós senhor. Tu comigo não irá. Tu na casa do fulano ficará. Na casa que vós estiverdes não morrerá mulher de parto nem menino de abafo, nem fogos levantais. Paz, dom, misericórdia. (In: Marília Largura) A cartografia abaixo é um ensaio na tentativa de registrar nossos caminhos percorridos na pesquisa à procura de mulheres parteiras da serra catarinense - protagonistas do nosso trilhar acadêmico. Correia Pinto FIGURA 01 - Representação cartográfica dos municípios da região da Legenda = AMURES - em destaque os municípios pesquisados = Localização dos municípios da Região da AMURES pesquisados Fonte: em 20/11/2007.
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