EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DA CESTA BÁSICA FAMILIAR DO VALE DO PARAÍBA EM 2014

Transcrição

1 UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ PRO-REITORIA DE EXTENSÃO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA, CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO - ECA NÚCLEO DE PESQUISAS ECONÔMICO-SOCIAIS NUPES EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DA CESTA BÁSICA FAMILIAR DO VALE DO PARAÍBA EM INTRODUÇÃO A partir de 1996, o NUPES - Núcleo de Pesquisas Econômico e Sociais da Universidade de Taubaté iniciou a divulgação mensal do custo e variação da Cesta Básica recomendada para uma família com cinco pessoas e renda mensal de cinco salários mínimos. Os valores apurados na primeira semana de setembro de 1996 são utilizados como base para observação da evolução dos valores da Cesta. A Cesta Básica Familiar é composta de produtos que, segundo as ponderações da evolução da participação dos principais grupos de bens nas despesas familiares (Pesquisa de Orçamento Familiar feita pela FIPE-USP-90/91), preenchem as necessidades de higiene, limpeza e alimentação de uma família-padrão brasileira, com poder de compra de cinco salários mínimos vigentes. São pesquisados 32 produtos de alimentação, 5 produtos de higiene pessoal e 7 produtos de limpeza doméstica e suas respectivas quantidades, essenciais à sobrevivência. Devido à densidade populacional e localização geográfica, as cidades pesquisadas são Taubaté, São José dos Campos, Caçapava, Campos do Jordão, representando assim o Vale do Paraíba. Semanalmente são coletados preços, em cinco estabelecimentos de Taubaté, cinco de São José dos Campos, quatro em Caçapava e de três em Campos do Jordão. Os resultados das pesquisas são divulgados no site: Aqui apresentamos a análise da variação dos preços ocorrida no ano de. 1

2 RESULTADOS A tabela 1 mostra o custo da Cesta Básica Familiar nas quatro cidades pesquisadas do Vale do Paraíba. Em dezembro de, o preço da Cesta foi de R$ 1.243,25, maior do que a de dezembro de 2013, R$ 1.136,69, representando um aumento de 9,40%, percentual maior do que a inflação oficial brasileira anual que foi de 6,41% (IPCA do IBGE). A Cesta mais cara é a de São José dos Campos do Jordão (R$ 1.250,56) e a mais barata a de Caçapava (R$ 1.229,86). A diferença entre o preço da Cesta mais cara (São Jose dos Campos) para a mais barata (Caçapava) foi de 1,68%, apontando uma grande proximidade dos preços entre as cidades onde são realizadas as pesquisas. O preço da Cesta sofreu aumento em todas as cidades onde são feitas as pesquisas pelo NUPES. A maior variação de preços, no ano de, ocorreu em São José dos Campos (10,01%) e a menor variação em Campos do Jordão (8,90%). Tabela 1. Custo da Cesta Básica Familiar e variação em 2011 e 2012 Custo DEZ/13 Custo DEZ/14 Variação % Taubaté R$ 1.138,98 R$ 1.244,08 São José dos Campos R$ 1.136,76 R$ 1.250,56 Caçapava R$ 1.124,52 R$ 1.229,86 Campos do Jordão R$ 1.146,48 R$ 1.248,52 Vale do Paraíba R$ 1.136,69 R$ 1.243,25 9,23% 10,01% 9,37% 8,90% 9,37% Uma das razões que pode explicar os comportamentos diferentes nos preços das Cestas entre as cidades pesquisadas pelo NUPES é a concorrência entre os supermercados. A abertura de novos estabelecimentos de supermercados e atacadistas pode ter acirrado essa concorrência, em algumas cidades o que resulta em menores preços dos produtos que compõe a Cesta. A tabela 2 mostra o valor da Cesta Básica a partir de dezembro de 1996, primeiro ano da pesquisa, até. E a maior variação foi em 2002, aumento de 23,35%. Observa-se que 2005 foi o único ano com variação negativa no preço da Cesta (-1,68%). Em a variação dos preços (9,37%), muito semelhante de 2013 (9,45%). 2

3 Tabela 2 - Variação no Preço da Cesta Básica Familiar Ano Preço em Dezembro Variação em relação ao ano anterior 1996 R$ 329, R$ 334,98 1,70% 1998 R$ 337,95 0,89% 1999 R$ 385,06 13,94% 2000 R$ 419,88 9,04% 2001 R$ 450,50 7,29% 2002 R$ 555,69 23,35% 2003 R$ 595,06 7,08% 2004 R$ 656,65 10,35% 2005 R$ 645,65-1,68% 2006 R$ 648,04 0,37% 2007 R$ 761,57 17,52% 2008 R$ 817,55 7,35% 2009 R$ 831,20 1,67% 2010 R$ 924,95 11,28% 2011 R$ 955,10 3,26% 2012 R$ 1.038,53 8,74% 2013 R$ 1.136,69 9,45% R$ 1.243,25 9,37% A tabela 3 apresenta a variação mensal dos preços nas cidades consideradas por esta pesquisa, no ano de, e entre elas, aqui considerada Vale do Paraíba. Os maiores aumentos dos preços foram registrados nos meses de março (3,81%) e abril (1,97%) e os menores ocorreram nos meses de julho (-0,98%) e junho (-0,48%). Tabela 3. Variação Mensal da Cesta Básica Familiar em (%) Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Taubaté 0,66-0,03 3,79 1,87 0,89-0,68-1,00 0,76 0,40 0,0 2 1,06 1,21 São José dos Campos Campos do Jordão Vale do Paraíba 0,52-0,07 3,85 2,18 0,85-0,62-0,89 0,64 1,02 0,0 1 1,07 1,11 Caçapava 0,21-0,02 3,79 2,01 0,84-0,32-1,01 0,84 0,58 0,0 1 1,03 1,32 0,33-0,02 3,83 1,83 0,64-0,30-1,03 0,45 0,72 0,0 2 1,02 1,14 0,43-0,04 3,81 1,97 0,80-0,48-0,98 0,67 0,68 0,0 1 1,04 1,19 3

4 A tabela 4 apresenta o comprometimento dos cinco salários mínimos com a aquisição da Cesta Básica Familiar nas cidades pesquisadas e a média do Vale do Paraíba. No período, predominou um aumento no comprometimento do salário com a aquisição da Cesta Básica Familiar do Vale do Paraíba, que passou de 33,52% em 2013 para 34,34% em. Esse resultado foi em função do aumento do salário mínimo de (6,78%) em, inferior à o aumento no preço da Cesta que foi de (9,37%). Entre as cidades pesquisadas em o menor comprometimento da renda na aquisição da Cesta foi em Caçapava (33,97%) e o maior em Campos do Jordão (33,55%). Tabela 4. Comprometimento da renda na aquisição da Cesta Básica para famílias que recebem 5 salários mínimos. Comprometimento da renda Comprometimento da renda Dez/13 Dez/14 Taubaté 33,60% 34,37% São José dos Campos 33,53% 34,55% Caçapava 33,17% 33,97% Campos do Jordão 33,82% 34,49% Vale do Paraíba 33,52% 34,34% ALIMENTAÇÃO O item alimentação, maior peso na Cesta, média de 88,77% em dezembro de, apresentou uma variação média de 9,89% (R$ 1.004,39 em 2013 e R$ 1.103,69 em ), acima da média da cesta no período (9,37%). Os produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica juntos (R$ 132,30 em 2013 e R$ 139,56 em ) tiveram uma variação positiva de 5,49% no ano, com um aumento menor do que a média da cesta e abaixo da inflação oficial de 6,41%. Ou seja, o aumento maior que a inflação no preço da cesta foi provocada pela alta nos preços dos alimentos. A tabela 5 aponta as variações ocorridas nos preços médios dos alimentos no período entre a 4 a. semana de dezembro de e a 4 a. semana de dezembro de A tabela mostra que 35 produtos/ou tipos de produtos tiveram aumento nos preços e 7 apresentaram redução. Os principais destaques entre os vilões da Cesta Básica no ano foram: batata (61,32%), abobrinha (37,56%), cebola (33,53%), tomate (25,95%) e mamão (23,15%). As maiores reduções 4

5 foram: mandioca (-9,39%), queijo muzzarella (-4,00%), banana prata (-3,51%), açúcar refinado (- 2,89%), e carne frango (-1,56%). Tabela 5. Preços dos alimentos pesquisados e suas variações, Vale do Paraíba Preço Médio R$ 4ª sem. dez/2013 Preço Médio R$ 4ª sem. dez/ Variação dos preços dez/13 - dez/14 (%) 1.1- LEITE Tipo C 2,21 2,55 15, LEITE Tipo B 2,77 3,18 14, LEITE Caixa 1litro 2,61 2,64 1, IOGURT-COPO 1,43 1,52 6, QUEIJO Fresco(Minas)Kg 18,61 20,68 11, QUEIJO Muzzarella Kg 23,73 22,78-4, CARNES Acem Kg 11,76 14,38 22, CARNES Alcatre Kg 23,91 26,92 12, CARNES Contra Filé Kg 24,02 26,44 10, CARNES Bisteca porco Kg 10,98 12,60 14, CARNES Patinho Kg 17,25 20,49 18,78 4-FRANGO Kg 5,12 5,04-1,56 5-OVOS Branco Dz 3,99 4,15 4,01 6-FEIJÃO - Carioquinha Kg 3,72 4,09 9,95 7-ALFACE pé 1,59 1,88 18,24 8-COUVE Maço 1,84 2,09 13,59 9 TOMATE Kg 3,43 4,32 25,95 10-CENOURA Kg 1,70 2,13 25,29 11-ABOBRINHA Kg 2,05 2,82 37,56 12-BATATA Kg 2,12 3,42 61,32 13-MANDIOCA Kg 2,13 1,93-9, BANANA NANICA Kg 2,30 2,48 7, BANANA PRATA Kg 3,42 3,30-3,51 15 LARANJA PERA Kg 1,51 1,62 7,28 16-MAMÃO FORMOSA Kg 3,11 3,83 23,15 17-ARROZ AGULINHA t1 Kg 2,52 2,80 11,11 18-MACARRÃO Kg 3,84 4,13 7,55 19-FARINHA TRIGO Kg 2,96 2,99 1,01 20-FUBÁ Kg 2,91 3,07 5,50 21-PÃO FRANCÊS 50g 0,35 0,42 20,00 22-PÃO DOCE 11,14 12,03 7,99 23-AÇUCAR- Refinado Kg 1,73 1,68-2, MARMELADA Kg 10,90 12,00 10, GOIABADA Kg 9,71 10,03 3,30 25-ÓLEO SOJA 900 ml 2,76 2,74-0,72 26-MARGARINA 500g 3,64 3,78 3,85 27-MANTEIGA 200g 3,95 4,33 9,62 28-CEBOLA Kg 1,70 2,27 33,53 29-ALHO Kg 11,19 13,13 17,34 30-SAL Kg 1,59 1,73 8,81 31-CAFÉ 500g 6,57 7,04 7,15 32-FAR. MANDIOCA 5,77 5,69-1,39 5

6 A seguir são apresentados os produtos de alimentação responsáveis pela alta da Cesta e as razões dos aumentos. Batata (61,32%) - Estiagem prolongada nas principais regiões produtoras. - Redução na área plantada em 9%, segundo dados do CEPEA/USP. Abobrinha (37,56%) - Estiagem que reduziu a produtividade e a área plantada. Cebola (33,53%), - Estiagem prolongada nas principais regiões produtoras. - Realinhamento preços em relação ao ano anterior, pois o produto tinha apresentado redução de preço de 20,93% em 2013, por conta de uma grande oferta no mercado. Em, com a redução desse estoque os preços voltaram à normalidade. Tomate (25,95%) - Problemas climáticos nas principais regiões produtoras. - As temperaturas elevadas e o maior consumo do fruto. Mamão (23,15%) - A redução na área plantada, em especial no Sudeste da Bahia em 22%, resultou na menor oferta do produto e nos preços mais elevados. Fonte: ( - Excesso de pragas na lavoura que reduziu a produtividade do fruto. Carne Bovina; acém (22,28%), patinho (18,78%) e bisteca de porco (14,75%) - O aumento do valor do custo de reposição dos bezerros e dos demais insumos de produção. - Aumento nos preços internacionais do produto. - A estiagem prolongada aumentou os custos de produção com maior período de confinamento. 6

7 A seguir são apresentados os produtos de alimentação responsáveis que apresentaram as maiores reduções em seus preços e as razões dessa redução. Mandioca (- 9,39%) - realinhamento de preços em relação ao ano de 2013, com a seca intensa nas principais regiões produtoras. - aumento da produção nordestina com a volta das chuvas. Banana prata (-3,51%) - Aumento da produção e da produtividade da fruta. Açúcar refinado (- 2,89%) - Redução das exportações de açúcar brasileira em 32,3% e dos preços internacionais dessas exportações em 11,8% conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Carne de Frango (- 1,56%) - Redução das exportações 12,3%, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). - Queda no preço do milho o que reduziu os custos de produção. HIGIENE PESSOAL E LIMPEZA DOMÉSTICA A tabela 6 mostra que dentre os 12 produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica, 8 tiveram aumento de preços e 4 apresentaram quedas. Embora a maioria dos produtos tivesse aumento, observa-se um equilíbrio entre os preços dos produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica muito maior do que entre os preços dos alimentos. Enquanto a variação dos preços dos alimentos está diretamente associada aos períodos de safra e aos efeitos climáticos, a dos produtos 7

8 de higiene e limpeza doméstica está mais ligada à estrutura de mercado ou concorrência e à renda dos consumidores. Os destaques em relação aos aumentos foram os preços dos produtos de limpeza: barbeador (16,89%), dentifrício (12,87%) e sabonete (11,76%). Enquanto os produtos que apresentaram redução foram: água sanitária (-8,52%), papel higiênico (-8,18%) e cera líquida (6,68%). Tabela 6. Preços dos produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica e suas variações, no Vale do Paraíba Produtos Preço Médio R$ Preço Médio R$ Variação dos preços 4ª sem. dez/2013 4ª sem. dez/ entre dez/12 e dez/13 ( %) 1-DENTIFRÍCIO 90g 1,71 1,93 12,87 2 PAPEL HIGIÊNICO emb c/4 rolos 4,28 3,93-8,18 3-SABONETE 90g 1,02 1,14 11,76 4-ABSORVENTE pte 2,66 2,97 11,65 5-BARBEADOR Unid 2,25 2,63 16,89 6-SABÃO EM PÓ -Caixa 1Kg 6,11 6,58 7,69 7-SABÃO EM PEDRA -Unidade 1,10 1,22 10,91 8-ESPONJA DE AÇO -Pacote 1,58 1,57-0, DESINFETANTE -Pinho 500ml 2,77 3,02 9, DETERGENTE -500 Ml 1,23 1,35 9, CERA LÍQUIDA -900 Ml 9,13 8,52-6,68 12-ÁGUA SANITÁRIA-lt 2,23 2,04-8,52. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Cesta Básica Familiar pesquisada pelo NUPES é para uma família padrão brasileira com cinco pessoas e com o poder de compra de cinco salários mínimos. Entretanto, cada família tem seus hábitos de consumo e, conseqüentemente, há uma enorme diferença na composição de cada Cesta, e por isso apresenta uma variação de preço diferente. Os consumidores poderão encontrar diferenças extremamente expressivas em estabelecimentos diferentes dentro de uma mesma cidade, cuja pesquisa pelo consumidor proporcionaria uma maior relação custo-benefício. Além disso, é necessária uma atenção especial às quantidades nas embalagens. Podemos destacar como os principais responsáveis pelas variações dos preços dos produtos da Cesta Básica Familiar no ano de os seguintes fatores: 8

9 1) Quebras de safras por problemas climáticos. Em grande parte, a variações das produções agrícolas estão relacionadas com problemas climáticos. A lei da oferta e procura é soberana em relação a essas variações, ou seja, os preços tendem a reduzir com uma maior oferta e aumentar com a escassez. O setor de hortifruti foi o que sofre mais com a escassez de chuvas e a crise hídrica no estado de São Paulo com a redução das áreas de plantações irrigadas. O consumidor precisa ficar atento a esse fato, principalmente na compra dos produtos hortifrutigranjeiros que tem uma grande sazonalidade na produção. 2) O comportamento do salário mínimo no Brasil. O salário mínimo manteve aumento real em relação a inflação oficial, mas subiu menos do que os preços dos alimentos, reduzindo o poder de compra dos mais pobres que receberam aumento igual ao do salário mínimo. Para os trabalhadores que tiveram reajuste salarial igual ao da inflação esses reduziram, ainda mais, o seu pode de compra dos produtos que compõe a Cesta que teve uma variação de preço maior que a inflação. 3) Exportação Em, sobretudo com a queda nos preços internacionais de alguns produtos como o açúcar e a carne de frango, tivemos preços menores no mercado interno brasileiro e, por outro lado, outros produtos que dependem de importação, no caso o pão francês (insumo farinha de trigo é importado) sofreram aumento de preço devido à valorização do dólar. 9