Guia Brasil-Japão. Brasileiros no Japão

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1 VIDA NO JAPÃO O Japão já foi considerado o país das oportunidades para o enriquecimento rápido dos dekasseguis brasileiros. Atualmente, embora o número de vagas disponíveis tenha sido reduzido e os salários estejam mais baixos, o arquipélago ainda oferece boas chances para quem deseja juntar economias. Apesar da profunda recessão que a segunda maior economia do planeta atravessa há uma década, as oportunidades ainda existem, e os brasileiros continuam a viajar para o Japão para construir um futuro melhor. Mesmo não tendo as mesmas facilidades de enriquecimento dos anos 90, o número de brasileiros que deixa a terra natal rumo ao Japão não pára de crescer. Em 1999, segundo o Ministério da Justiça do Japão, a comunidade brasileira somava pessoas. Em 2001, passou para , o que representa um crescimento de 16,45% em apenas dois anos. Isso é sinal de que o movimento dekassegui já se firmou como um processo de imigração, semelhante ao que ocorreu com os imigrantes nipônicos que vieram ao Brasil no início do século passado. PERFIL DA COMUNIDADE BRASILEIRA NO JAPÃO Já se passaram 15 anos desde o início do fenômeno dekassegui. Historicamente, é um tempo curto, mas as tendências levam a crer que os brasileiros estão formando uma comunidade que visa à fixação definitiva no arquipélago. Ou seja, não são apenas uma mão-de-obra passageira. É claro que muita gente cumpre o que havia planejado em geral, dois ou três anos de trabalho no Japão, mas a maioria acaba adiando o retorno ao Brasil. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior (Ciate), em 2002, mostra que 57,5% dos nikkeis entrevistados em 11 províncias japonesas querem morar definitivamente no Japão. Eles alegam que se adaptaram ao país (59%), não teriam emprego no Brasil (16,9%) ou querem realizar o sonho da casa própria no arquipélago (15,7%). A pesquisa revelou também que 49,6% dos entrevistados moram no Japão há mais de sete anos e apenas 5,2% há menos de um ano. Há outro dado relevante que confirma a fixação: 71,7% são casados e 67,7% moram com a família ou cônjuge. Quando o movimento dekassegui começou, os trabalhadores casados, em sua maioria, foram ao Japão sozinhos. Com o passar do tempo, os maridos passaram a levar famílias inteiras, e os solteiros se casaram. Isso bastou para que o perfil da comunidade sofresse as primeiras mudanças. Conseqüentemente, os pedidos de visto permanente aumentaram nos últimos anos. Só na jurisdição de Nagoya (que inclui as províncias de Aichi, Shizuoka, Mie e Gifu), a imigração nipônica tem despachado mil solicitações por mês. Brasileiros no Japão Províncias com maior concentração de brasileiros* Aichi Shizuoka Nagano Mie Gunma Gifu Saitama Kanagawa Ibaraki Shiga Dados de 2001 Fonte: Ministério da Justiça *A cidade com maior concentração de brasileiros é Hamamatsu, em Shizuoka, com (dados de janeiro de 2003). Pág 01 CURIOSIDADES Brasileiros em Toyohashi Dos brasileiros residentes em Toyo-hashi, 72,9% não têm previsão de volta ao Brasil. Isso é o que indica uma pesquisa realizada pela prefeitura, localizada na província de Aichi. Da população de 374 mil pessoas da cidade, 9,6 mil são brasileiros. O levantamento foi realizado de 1º a 17 de novembro de Um dado curioso é que 8% dos entrevistados decidiram morar definitivamente em Toyohashi, e 10,3% só pretendem voltar ao Brasil dentro de três anos.

2 Brasileiros em Hamamatsu O número de brasileiros continua aumentando em Hamamatsu e chegou a pessoas (dados de maio de 2003). Segundo pesquisa da Fundação para Comunicação e Intercâmbio Internacional de Hamamatsu (Hice), 80% dos brasileiros possuem ligações com empreiteiras no trabalho, principalmente em fábricas anufatureiras (74%), sendo 58% relacionados a fábricas de autopeças. A faixa salarial entre 100 mil e 200 mil ienes abrange 43%; mais da metade desses casos sofreu queda nos salários e acima de 90% já trocaram de emprego. INFRA-ESTRUTURA No início dos anos 90, o mais comum era o dekassegui deixar a família no Brasil e viver um período de cerca de três anos no Japão. Hoje, são cada vez mais numerosos os casos de famílias inteiras que deixam a terra natal para tentar a vida no arquipélago. Um dos motivos para estada mais longa dos brasileiros é a infraestrutura, que nunca foi tão boa. Em cidades com grande concentração de dekasseguis, como Oizumi, na província de Gunma, ou em Hamamatsu, na província de Shizuoka, é possível ver placas e ouvir conversas em português em cada esquina. Comércio Já existem cerca de 400 estabelecimentos comerciais espalhados pelo arquipélago (restaurantes, butiques, açougues, mercearias e outros) que vendem produtos verdeamarelos. Antes os brasileiros chegavam ao desespero de levar feijão e café na bagagem, tamanha a dificuldade de encontrar esses produtos. Hoje as lojas vendem de tudo: desde o mais recente lançamento de CD até um quilo de picanha para o tradicional churrasco de fim de semana, uma das diversões preferidas dos brasileiros. Caminhões Uma forma peculiar de comércio de itens tupiniquins são os caminhões de produtos brasileiros. Adaptados para funcionar como verdadeiras lojas, eles cruzam o arquipélago transportando comida, roupas, CDs e outros itens para serem vendidos nas regiões onde não há muitas lojas com produtos brasileiros. Ensino No Japão, também é possível encontrar uma estrutura de colégios brasileiros. São 23 escolas particulares reconhecidas pelo MEC, que oferecem ensino semelhante ao do Brasil. Com isso, os filhos dos dekasseguis não perdem mais o ano letivo mesmo estando longe da terra natal. Serviços A boa infra-estrutura facilita a adaptação de quem vai ao Japão pela primeira vez e também possibilita aos brasileiros a chance de trabalhar fora das fábricas, principalmente na área de serviços, como vendedores, professores, cabeleireiros, comerciantes e outras atividades. Apesar de os salários serem menores que os das fábricas, alguns tipos de trabalho são menos cansativos. Um exemplo é o trabalho de atendente de telemarketing de empresas de telefonia. Elas ganham um salário de cerca de 150 mil ienes (3,8 mil reais) mensais para trabalhar cinco dias por semana, um valor bem menor que a média das fábricas. Criminalidade O crescimento da comunidade verde-amarela no Japão acarretou um problema que tem preocupado as autoridades nipônicas: o aumento da criminalidade. Apesar de representar a terceira maior população estrangeira, os brasileiros ocupam o primeiro lugar no ranking de delinqüência juvenil. Casos de roubo de carros, assaltos e até assassinatos estão se tornando freqüentes na comunidade. A conseqüência direta é o aumento da discriminação por parte dos japoneses. 02 Diversão Além dos entretenimentos tipicamente japoneses, os brasileiros também desfrutam lazer e diversão voltados especificamente para eles. Discotecas conhecidas discos tocam os últimos sucessos da música brasileira e, eventualmente, realizam shows com cantores nacionais. Há também os luaus nas cidades praianas e karaokês de música brasileira em algumas regiões. Uma das diversões prediletas dos dekasseguis, porém, é fazer um bom churrasco às margens dos rios japoneses. Um típico programa de domingo. Esporte Para quem aprecia futebol de salão, não vão faltar times nas províncias com maior concentração de brasileiros. Shizuoka, Mie, Aichi e Gunma, por exemplo, possuem ligas que disputam campeonatos o ano todo. A maioria dos times é patrocinada por empresas e lojas brasileiras. A infra-estrutura esportiva no arquipélago ainda inclui academias de artes marciais. como judô, jiu-jítsu e caratê, rodas de capoeira, surfe, mergulho, corridas de automóveis entre outros. MERCADO DE TRABALHO Quando os primeiros descendentes de japoneses foram trabalhar nas fábricas, no começo dos anos 90, havia tantas vagas sobrando que os salários chegavam facilmente a 500 mil ienes ( reais). Hoje a realidade é

3 bem diferente. Quem ganha mais de 350 mil ienes (8,8 mil reais) pode se considerar um privilegiado. Na maioria das vezes, para chegar a esse valor, estão incluídas muitas horas extras e disposição para fazer serviço pesado, como nos setores automobilístico, reciclagem de metais, componentes eletrônicos e processamento de madeira. Lei de Igualdade Como o número de vagas foi reduzido nos últimos anos, a concorrência aumentou. A conseqüência direta foi que os salários ficaram mais baixos. Em 2000, uma nova lei estabeleceu que os salários de homens e mulheres devem ser iguais quando desempenham a mesma função. Mas, na prática, as empreiteiras ainda dão preferência às mulheres (que continuam ganhando 25% menos que os homens), pois elas são consideradas mais detalhistas e atenciosas, principalmente para preencher vagas no setor de inspeção de peças e controle de qualidade. Exigências A preferência por funcionárias do sexo feminino não é a única mudança nas exigências que as empresas fazem na hora da contratação. Idade de 20 a 40 anos (são os mais ágeis), fluência no idioma japonês (facilidade de se comunicar) e carteira de motorista (facilita a locomoção) fazem parte do perfil do novo dekassegui. Isso não significa que quem não possui essas características está fora do mercado de trabalho ou que os altos salários não existam mais. É possível encontrar homens de mais de 50 anos, sem fluência no idioma japonês, em fábricas de alimentos (bentoya), que exigem menor esforço físico. Mas os salários para quem tem mais de 40 anos costumam ser menores. A justificativa é que os mais velhos são mais lentos e sua produção é menor. Quem está disposto a fazer sacrifícios pode engordar o rendimento trabalhando em sistema de troca de turno (uma semana de dia e uma de noite), além de fazer de três a cinco horas extras por dia. Empreiteiras A maioria dos trabalhadores é contratada por empreiteiras, espécie de intermediadoras entre o funcionário e a fábrica. Para quem vem do Brasil, elas cobram cerca de dólares pela colocação no mercado, indicação de moradia e passagem aérea. Parte da dívida é debitada diretamente do salário. Já o Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior (Ciate) oferece serviço semelhante, com a vantagem de as vagas serem em empresas cadastradas no Ministério do Trabalho do Japão. O interessado só precisa arcar com o custo da passagem aérea, cerca de 900 dólares. O Ciate oferece poucas vagas porque a maioria das empresas não é cadastrada. Salários mais altos* Construção civil: 450 mil ienes**( mil reais). Motoristas de caminhão: 450 mil ienes ( mil reais). Fundição: 400 mil ienes ( mil reais). Eletrônicos: 350 mil ienes (8.800 mil reais). Autopeças: 350 mil ienes (8.800 mil reais). *Os valores variam muito conforme as empreiteiras. Já estão incluídas as horas extras. **Cotação: 1 dólar = 118 ienes / 1 dólar = 2,99 reais. 03 Empregados mais requisitados - Idade entre 20 e 40 anos. - Domínio do idioma japonês. - Possui carteira de motorista do Japão. - Disposição para trabalhar até 12h por dia. - Tem apartamento alugado por conta própria. - Comprometimento (os japoneses não toleram quem muda muito de emprego). - Assiduidade (evite ao máximo faltar ao trabalho). ETIQUETA NO TRABALHO Ao longo dos anos, os brasileiros ganharam a fama de esforçados, versáteis e responsáveis, qualidades fundamentais aos japoneses e muito elogiadas. Para um empregado desempenhar bem suas atividades no Japão, é preciso que o empregado entenda melhor como funciona o sistema de trabalho e conheça a etiqueta japonesa. Hierarquia Muitos brasileiros vão se assustar com uma cultura bastante enraizada no Japão no que se refere à hierarquia. Independentemente da idade e problemas pessoais, o subalterno deve demonstrar respeito perante os superiores. Sempai e kouhai

4 No que se refere ao ambiente escolar e de trabalho, a pessoa que está mais tempo no serviço, que é chamada de veterano (sempai), tem experiência e deve ter o respeito do novato, chamado iniciante ou calouro (kouhai). O sempai orientará a respeito do serviço e do ambiente de trabalho. Em relação aos chefes de seção ou departamento, recomenda-se ter um contato ou mesmo pedir conselhos caso haja alguma insatisfação ou reclamações no trabalho. O empregado nunca deve agir baseado em suas conclusões, pois a sociedade japonesa preza a vida em conjunto. Tomar decisões que afetem o grupo sem consultá-lo é sinal de falta de respeito diante da sociedade. Roupas No arquipélago, de forma geral, há uniformes para cada tipo de serviço. Se o emprego não requer uniforme, o trabalhador fica encarregado de perguntar na empresa qual é o melhor traje. O ideal é usar roupas discretas. O uso de jeans e tênis não é recomendável em ambiente de trabalho, porém é melhor se informar. Pontualidade Os japoneses prezam a pontualidade. Por esse motivo, deve-se obedecer aos horários de entrada, saída e intervalos. O trabalhador será mais respeitado caso consiga cumprir os horários estipulados pela empresa. Carteira de Habilitação Para obter a Carteira de Habilitação japonesa, o interessado precisa fazer os testes psicotécnico e de conhecimentos específicos, além de uma prova prática. A quantidade de aulas em uma auto-escola deve ser de, no mínimo, 30 horas de aula teórica e 20 horas de aula prática. A habilitação custa, aproximadamente, 300 mil ienes, e o prazo para obtê-la pode variar de um a dois meses, dependendo da freqüência às aulas. As provas são realizadas nos Centros de Exames de Habilitação (Unten Menkyo Shikenjyou) nas cidades. A parte escrita pode ser feita em hiragana ou em inglês. Os interessados em transferir a Carteira de Habilitação brasileira para a japonesa devem seguir alguns critérios. Primeiramente, devem ser apresentados alguns documentos para a análise nos Centros de Exames de Habilitação de sua região (Unten Menkyo Shikenjyou). O interessado só pode tirar a carta de motorista no centro localizado na região onde reside. 04 Documentos necessários No caso de a Carteira de Habilitação brasileira estar dentro do prazo de validade, o interessado deverá ter morado no país onde tirou a carta no mínimo três meses após a emissão; documento traduzido da Carteira de Habilitação emitido pela Japan Automobile Federation (JAF); passaporte (nesse caso, deve-se levar consigo todos os passaportes antigos para comprovar que residiu no mínimo três meses após a emissão no país de origem); Carteira de Registro de Estrangeiro (Gaijin Tourokushou ou Gaijin Touroku); duas fotos recentes apropriadas para carteira de habilitação; pagamento da solicitação de transferência. Com esses documentos, deve-se procurar o guichê de transferência. Geralmente o horário de atendimento é restrito, por esse motivo recomenda-se se certificar antecipadamente. Chegando ao guichê, é preciso entregar todos os documentos ao atendente. Depois disso, é feita uma checagem dos dados e a indicação do procedimento que o interessado deverá adotar. No final da análise da documentação, há exames escritos em português e exames práticos. A validade da Carteira de Habilitação japonesa é de três a cinco anos. Documentos para a renovação - Carteira de Habilitação. - Carteira de Registro de Estrangeiro (Gaijin Tourokushou). - Pagamento da taxa de renovação. - Documento de Aviso de Renovação. Seguro de Carro Existem dois tipos de seguro - Seguro de Responsabilidade de Indenização de Veículo (Jidousha Baishou Sekinin Hoken): seguro obrigatório e obtido no momento da compra do veículo. Cobre os danos corporais ou mortes em acidentes de trânsito. - Seguro Autorizado (Nin-i Hoken): seguro opcional. Em muitos casos, o valor de indenização do seguro obrigatório é baixo, por esse motivo recomendamos que o motorista também se inscreva nesse tipo de seguro. Imposto sobre veículo (Jidousha Zei) Todos os veículos que expelem um volume acima de 661 cc de gás poluente terão de efetuar pagamento anual de imposto sobre veículo nas suas respectivas cidades até o final do mês de maio. Sistema de Inspeção de Veículo (Jidousha no Shutoku Shaken Seido) A inscrição no Shaken é obrigatória para todos os veículos adquiridos. Todos os proprietários também devem estar em dia com os impostos e seguros mencionados anteriormente.

5 A inspeção ocorre a cada três anos para veículos novos e dois para os demais. No momento da inspeção, é necessário pagar altas taxas de impostos. Por esse motivo, quando se adquire um veículo no Japão, é importante ter em mente que deve ser feita uma pequena poupança para o Shaken. 05