PENSANDO A PSICANÁLISE NA UNIVERSIDADE INSTITUIÇÃO: SPMS - SOCIEDADE PSICANALÍTICA DE MATO GROSSO DO SUL
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- Pedro Henrique Gorjão Farinha
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1 PENSANDO A PSICANÁLISE NA UNIVERSIDADE AUTORAS: Cerchiari, Ednéia Albino Nunes 1 ; Gonzalez, Ana Diaz 2 ; Prediger, Alaide Ferreira 3 ; Silva, Terezinha Alcântara 4 ; Soares, Maria Fernanda Marques 5 ; Victoriano, Joelma Dibo 6. INSTITUIÇÃO: SPMS - SOCIEDADE PSICANALÍTICA DE MATO GROSSO DO SUL (Provisória) Desde os primórdios Freud se preocupou em difundir a psicanálise nos meios universitários. Em artigo escrito em 1918, Freud diz que o fato da psicanálise ser excluída da universidade levou os psicanalistas a se organizarem em instituições onde pudessem contar com a rica experiência de seus membros mais antigos, passadas através de encontros clínicos, além de uma vasta bibliografia e da prática supervisionada. Diz também que...esses sistemas de organização continuarão a desempenhar uma função efetiva enquanto persistir tal exclusão. Porém considerava 1 Membro Efetivo da SPRJ e da SPMS, Diretora do Departamento Científico (DC) da SPMS. 2 Membro Efetivo da SPMS, Coordenadora da Comissão de Supervisão do DAP da SPMS. 3 Membro Efetivo da SPMS, Coordenadora da Comissão de Triagem do DAP da SPMS. 4 Membro Efetivo da SPMS, Secretária do DAP da SPMS. 5 Membro Efetivo e Analista Didata da SPMS, Coordenadora da Comissão de Estudos e Pesquisa do DAP da SPMS. 6 Membro Efetivo da SPRJ e da SPMS, Diretora do Departamento de Assistência Psicológica (DAP) da SPMS.
2 que a universidade só teria a ganhar com a inclusão dessa disciplina no currículo do curso de medicina por vários motivos. Sabemos que, por muito tempo, de fato os psicanalistas ficaram afastados da universidade, confirmando que a preocupação de Freud continua ser procedente; tanto que, a recomendação da IPA é a de que suas Instituições invistam na difusão da psicanálise dentro das universidades além de também incentivar a pesquisa. Seguindo esta recomendação, a SPMS tem primado por investir nesta difusão e, para tanto, tem feito parcerias com as várias universidades de Campo Grande e região, através de seu Departamento Científico e Departamento de Assistência Psicológica. Desde então o panorama mudou, vários psicanalistas da nossa instituição vêm ministrando aulas na graduação e em cursos de Especialização em Psicanálise, são convidados a proferir palestras e boa parte dos simpósios e jornadas realizadas pela SPMS acontecem nas dependências das universidades de nossa cidade. Assim é que a SPMS, através do DAP e DC, firmou uma parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), especificamente com o Curso de Psicologia. O projeto advindo dessa parceria surgiu do interesse despertado pela inserção no corpo docente do curso de graduação em psicologia de duas candidatas do Instituto de Psicanálise (IP) da SPMS e de uma analista, atual Diretora do DC**. Este projeto tem como objetivos: difundir o pensamento psicanalítico e desmistificar a visão que alguns professores e alunos têm da psicanálise, considerando o acesso ao Candidatas do IP da SPMS: Joselane Campagna; Paula Francisca de Andrade. **Diretora do DC da SPMS: Ednéia Albino Cerchiari.
3 conhecimento psicanalítico privilégio de poucos, pelo seu grau de dificuldade, como um compêndio teórico-clínico, e pelo alto custo financeiro, restringindo sua aplicabilidade aos consultórios e a uma classe social privilegiada. Para tanto, estamos realizando, desde abril de 2004, encontros mensais denominados discussões clínicas, entre os psicanalistas da nossa sociedade e professores supervisores e acadêmicos do curso de graduação em psicologia. Esses encontros acontecem uma vez por mês, com duração de duas horas, nas dependências da universidade; são coordenados pelos psicanalistas de nossa sociedade, que em sistema de rodízio e voluntariamente, de acordo com sua especialidade, participam desse projeto. A SPMS vai à Universidade. A atividade consiste em discussões sobre os casos clínicos atendidos na Clínica de Psicologia do curso de graduação, que, na UFMS, funciona dentro do ambulatório do Hospital Universitário e, portanto, atende a uma clientela do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa clientela é encaminhada pela equipe médica, pelo serviço de Psicologia do HU, e também por procura espontânea. São casos atendidos em psicoterapia individual, pelos alunos do quarto e quinto ano. Em geral, são apresentadas as entrevistas iniciais diagnósticas, alguns relatos de sessões ou relatos do tratamento de crianças, adolescentes e adultos. A forma de apresentação do material fica a critério do aluno-apresentador. O projeto não pretende dar supervisão nos moldes conhecidos dos institutos de psicanálise ou dos cursos de graduação mesmo sendo a supervisão,... um tipo especial de processo de aprendizagem, baseado no exame conjunto do registro de
4 uma interação terapêutica entre o paciente e o seu analista" (PERDIGÃO 1994), mas sim usando a sutil visão do analista coordenador, contribuir para despertar no aluno de graduação a curiosidade e o gosto pela observação clínica cuidadosa do paciente. e oferecer a possibilidade de um espaço de descoberta da riqueza da escuta psicanalítica. O enfoque principal é a dinâmica de cada caso, sendo que as discussões se ampliam de acordo com o interesse dos participantes. Podemos abordar conceitos psicanalíticos, conteúdos já estudados pelos alunos e aqueles pertinentes ao caso clínico que está sendo discutido. Houve, desde o começo do trabalho, a preocupação em avaliar a sua repercussão junto aos participantes. Para isso formulamos algumas perguntas e encaminhamos aos alunos, indagando sobre de que forma estes encontros contribuíram para os seus atendimentos e se houve alguma mudança na idéia que tinham acerca da psicanálise. A partir dos depoimentos, levantamos algumas reflexões sobre esta sempre instigante, inovadora e polêmica atividade de difusão da psicanálise nos meios universitários. As respostas obtidas apontam para a importância que os alunos deram aos encontros, considerados como muito produtivos, favorecendo a escuta analítica, a compreensão da dinâmica dos casos, proporcionando-lhes mais segurança e mais vontade de aprender esta arte de escutar além das palavras e ver além do que lhes é mostrado.
5 Através da vivência de interação com os colegas, houve uma troca de experiências, uma reflexão sobre os seus próprios atendimentos, podendo aplicar os conhecimentos adquiridos em sua prática. Segundo eles, os conceitos teóricos ganham vida no estudo do caso clínico. Além disso, apontam para a diversidade de formas de ver o material clínico, na medida em que, a cada mês, tem um novo psicanalista coordenando o grupo de discussão. Os alunos demonstram um interesse maior em se aprofundar no conhecimento psicanalítico, ampliando sua visão sobre a psicanálise, agora percebida como uma ciência dinâmica, aplicada por pessoas, observando também, segundo eles, que o instrumento tem a cor do profissional. Lembrando Freud o importante é que aprenderam algo sobre a psicanálise e algo a partir da psicanálise (1918) Em decorrência desses encontros clínicos, e devido ao fato desses alunos também fazerem estágio em um posto de saúde e na enfermaria de pediatria do HU, houve a solicitação de um curso sobre a teoria de winnicott e, dessa vez, a universidade é que se desloca até a Sociedade, já que as aulas são ministradas na sede da SPMS. O curso tem 33 alunos pagantes, professores e acadêmicos do curso de psicologia. Foram programados dez seminários de três horas cada com freqüência quinzenal. Durante uma hora e meia, há uma discussão dos aspectos teóricos; e, na outra hora e meia, uma discussão de casos clínicos levados pelos alunos.
6 Observamos que, a partir destas atividades, ocorreu uma maior procura de alunos para os tratamentos oferecidos pela CAP, uma maior curiosidade em relação à formação psicanalítica e a respeito da psicanálise como um todo. A troca entre nossa instituição e a universidade vem sendo muito enriquecedora, nos colocando diante da necessidade de refletirmos sobre alguns obstáculos para difundir a psicanálise no meio universitário em nível de graduação. Um destes obstáculos se dá no sentido de adequarmos nossa linguagem psicanalítica de modo compreensível para o público em geral. A psicanálise enfrenta uma série de dificuldades internas em decorrência do fenômeno de babelização (Canestri,1995) de novas teorias, isto é, damos vários nomes para as mesmas coisas, vários nomes para diferentes vieses de um mesmo fato, sendo este um fator complicador no ato de transmissão; junta-se a isto, a necessidade de encontrarmos uma forma possível de sermos compreendidos por um público que, em geral, desconhece a psicanálise. Quando resolvemos esta questão, nos deparamos com um novo dilema, que, aparentemente, deveria anteceder o anterior, mas que nem sempre é o que acontece: o que podemos transmitir neste contexto? O que pode ser útil para os acadêmicos? Em nossa experiência, o interesse maior é pelo binômio transferênciacontratransferência, complexo de Édipo a luz das relações objetais,diagnóstico, o papel do terapeuta, setting e tipos de intervenção.
7 Também nos vemos mais expostos, confrontados, desafiados e questionados a partir do momento que saímos dos nossos consultórios e da vivência institucional psicanalítica, onde contamos com o apoio dos nossos pares. Além disso, as discussões levantadas nos remetem a um contato maior com outras disciplinas e abordagens terapêuticas, visto que, em muitos momentos, enfrentamos situações que envolvem um cenário muito diferente daquele que vivenciamos no setting analítico, o contexto social se apresenta mais urgente em algumas situações, como por exemplo o trabalho de apoio a familiares de pacientes internados, ou pacientes terminais. Os atendimentos de baixa freqüência, prazo determinado e que possam favorecer um maior número de pessoas são os mais valorizados. A questão que se apresenta é: como adequar nosso conhecimento psicanalítico nessas novas frentes de atuação que os profissionais nos apresentam? Diante deste prisma, parece que uma das causas da crise na psicanálise poderia ser uma dificuldade dos analistas de sair do fechado e protegido espaço dos consultórios e da própria instituição e interagir com um meio mais amplo e diversificado. Em seu tempo, Freud foi profundamente questionado e rejeitado quando desvendou os mistérios do inconsciente e da sexualidade infantil: estava levando a peste onde quer que fosse. Parte dessa história se reedita quando nos propomos a difundir a psicanálise com o objetivo de aplicar e transmitir os conhecimentos a situações diversas da clínica psicanalítica.
8 Essa ampliação do vértice psicanalítico nos impõe uma nova definição do que é psicanálise nos nossos tempos, além de que não podemos perder de vista a questão:... Qual a razão de ser do ensino da psicanálise na universidade, e com que compromisso ético ele pode ser realizado?... (COELHO NETO,1994) BIBLIOGRAFIA CANESTRI,J.Algumas Considerações sobre a Supervisão na Formação Psicanalítica, Palestra Proferida em in Coletânea sobre Supervisão, CD, SPMS. COELHO, JR. Teoria Psicanalítica na Universidade: Ensino e Pesquisa. In Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisa da PUC-SP, nº FREUD, S. Sobre o Ensino da Psicanálise nas Universidades. SE vol. XVII, p217,220. Imago ed., RJ PERDIGÃO, G. Supervisão. Artigo discutido na Sociedade Psicanalítica de Nova Orleans em ZONANA, R. Sobre Supervisão. Artigo publicado no Jornal de Psicanálise da SBPSP. Vol. 34- Nº 62/
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