INTERVENÇÃO DA SRA BENILDE NHALIVILO PRESIDENTE DO FÓRUM DA SOCIEDADE CIVIL PARA OS DIREITOS DA CRIANÇA ROSC, EM NOME DA SOCIEDADE CIVIL MOÇAMBICANA

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1 INTERVENÇÃO DA SRA BENILDE NHALIVILO PRESIDENTE DO FÓRUM DA SOCIEDADE CIVIL PARA OS DIREITOS DA CRIANÇA ROSC, EM NOME DA SOCIEDADE CIVIL MOÇAMBICANA POR OCASIÃO DO DIA INTERNACIONAL DA RAPARIGA SOB O LEMA INOVANDO EM PROL DA EDUCAÇÃO DA RAPARIGA INSTITUTO COMERCIAL E INDUSTRIAL DA MATOLA CIDADE DA MATOLA, 11 DE OUTUBRO DE 2013 S. Excia Vice-Ministra da Educação, S. Excia Secretaria Permanente da Provincia de Maputo, Prezado Representante da Organização das Nações Unidas Raparigas e Rapazes aqui presentes Caros Convidados Minhas Senhoras e Meus Senhores 1

2 É uma grande honra para mim e para as organizações da sociedade civil moçambicana poder partilhar algumas idéias e dar a nossa contribuição para uma maior valorização da Rapariga por ocasião deste importante Dia Internacional que lhe é dedicada. Esta comemoração acontece três dias depois de mais uma criança ter sido raptada na nossa cidade. Por isso, com a vossa permissão, quero antes de mais e em nome das Organizações que fazem parte do Fórum da Sociedade Civil para os Direitos da Criança ROSC e em meu nome pessoal, prestar a nossa solidariedade às famílias cujos filhos menores de idade foram vítimas de rapto quando se encontravam a caminho da escola. A nossa solidariedade é extensiva às crianças e às respectivas famílias que, em tão tenra idade e por razões que não se justificam, ficaram expostas a actos de abominável violência por via do rapto de um dos colegas da escola. Desta forma, juntamos a nossa voz a de todos moçambicanos para apelar à consciência dos protagonistas destes actos condenáveis no sentido de devolverem rapidamente estas crianças ao convívio familiar e dos colegas e completar a sua caminhada em direcção à escola onde iam em busca do conhecimento. Tanto elas, como a nossa sociedade, precisam de construir e viver um mundo melhor e desenvolvido. Ao Governo solicitamos que tome medidas mais enérgicas e capazes de evitar que as nossas crianças no geral, e as nossas raparigas em particular, continuem sendo vitimas de violência tanto quando se encontram a caminho da escola, na escola ou fora dela. 2

3 Excelências Gostaríamos de reconhecer o trabalho meritório realizado até aos dias de hoje direccionado á rapariga e á mulher moçambicana. Temos igualmente consciência de que Moçambique ainda tem muitos desafios pela frente no que toca à construção de uma sociedade onde as crianças, rapazes e raparigas, mulheres e homens, tenham oportunidades e direitos iguais. As diferenças fisionómicas entre os rapazes e as raparigas, algumas práticas culturais que caracterizam as nossas comunidades, mesmo a fraca disponibilidade de recursos são argumentos suficientes e, nem tão pouco, devem servir para justificar que os direitos de uns sejam sobrepostos aos dos outros. Queremos desta forma nos associar às nossas raparigas e dizer que não aceitamos que as nossas irmãs, primas, filhas e companheiras continuem a ser forçadas a abandonar a escola sem completar pelo menos o ensino secundário, sem que pelo menos saibam ler e escrever. As estatísticas actuais mostram um cenário preocupante onde a taxa de conclusão do Ensino Primário do Segundo Grau (EP2), ou seja a 7ª Classe, é de 50% para os rapazes e 44% para as raparigas. Entre os motivos e relativamente às raparigas, estão o casamento prematuro, a gravidez precoce e, em muitos casos, associado a alguns aspectos culturais nocivos. Excelências, Infelizmente, Moçambique tem uma das maiores taxas de casamentos prematuros do mundo: encontra-se em 7º lugar nesta 3

4 lista, depois do Níger, do Chade, do Mali, do Bangladesh, da Guiné e da República Centro Africana. Ao nível de África ocupa a 6 ª posição, e, na região da África Austral e Oriental ocupa a 1ª posição, o que é bastante preocupante. Os dados do Inquérito de Indicadores Múltiplos do Instituto Nacional de Estatística de 2008, mostram que 18 por cento das raparigas com idade entre 20 e 24 anos se casaram antes da idade de 15 anos, e 52 por cento delas se casou antes da idade de 18 anos. A gravidez na adolescência também é uma realidade em Moçambique, onde 41 por cento das raparigas com idade entre 15 e 19 anos está grávida ou já ficou grávida (IDS, 2003). A prática crescente deste fenómeno é muitas vezes imposta pelos pais ou encarregados de educação, que em nome da tradição, da honra familiar ou para garantir o seu próprio bem-estar e sobrevivência material, submetem as suas filhas a esta prática inaceitável e que compromete o direito da rapariga à educação e saúde e concorre desta forma para perpetuar o país no ciclo da pobreza, se não vejamos: O que podemos esperar de um filho cuja mãe é também uma criança? O que podemos esperar de uma sociedade onde as muitas crianças não têm o previlégio e o direito de brincar, de estudar e de serem crianças? Aos rapazes e as raparigas que me ouvem pergunto: É possível construirmos uma sociedade justa e equilibrada quando as crianças e adolescentes vivem num mundo de violência, de 4

5 injustiça, onde os direitos de uns são superiores aos dos outros? Gostaríamos de apelar ao sector de educacao para intensificar o seu trabalho para que as escolas tenham muito melhores condicoes do que as actuais e que as raparigas tenham a dignidade necessária durante o periodo em que estiverem na escola. Os cuidados da rapariga exigem o máximo de higiene e pouco mais de privacidade. Isso passa por ter acesso à água e uma casa de banho em condições aceitáveis. Solicitamos também ao Governo para que crie condições de segurança no percurso de ida e volta, assim como na propria escola. Denunciamos e exigimos que a violência nas escolas, particularmente o assédio e o abuso sexual sejam veementemente condenados e exigimos que sejam tomadas medidas na escola e nas instâncias judiciais contra todo aquele que fôr o autor destes crimes, sejam eles colegas, professores, directores, pais ou outras pessoas. Sabemos que não são todos os professores ou pais que cometem este tipo de crimes. Felizmente, são a minoria, mas essa minoria deve ser denunciada e exemplarmente punida e, em caso de serem professores, condenamos a medida da transferência que geralmente é tomada em algumas instituições de ensino. Condenamos, também, aqueles que não sendo autores, este tipo de crimes. são cúmplices e que encobertam Apelamos, uma vez mais, ao Ministerio da Educacao, para a revisão do Despacho Ministerial 39/2003 que estabelece a transferência de 5

6 toda a rapariga grávida para o curso nocturno. Para nós a gravidez não é a causa, mas sim, a consequência de um problema. No nosso entender, a transferência de raparigas grávidas para o curso noturno soa como uma espécie de punição por mau exemplo. Mas, perguntamos nós: O mau exemplo é da adolescente? E o autor? Por outro lado, quando se transfere a rapariga grávida para o curso nocturno a idéia é de frequentar o ensino com pessoas mais adultas. Mas hoje, é bem frequente ter crianças no curso nocturno. Além disso, nem todas as escolas tem curso nocturno. A transferência da rapariga para o curso nocturno é mais uma das razões que as coloca fora da escola, pois muitas desistem, nunca mais voltam e passam a fazer parte das milhares de raparigas e de mulheres sem formação alimentando, desta forma, o ciclo de pobreza do qual muitas famílias não conseguem se libertar. Estamos, também, muito preocupados com a onda de investimentos na área dos recursos minerais e naturais, onde, em algumas regiões, em nome do desenvolvimento, muitas raparigas estão a ser retiradas da escola e entram para o mundo da exploração sexual. Nós, como Sociedade Civil, em parceria com o Governo, estamos envolvidos em diferentes acções para promover o acesso e retenção da rapariga na escola tais como a campanha Tolerância Zero ao Abuso Sexual e Deixa-me estudar, meu Futuro é Agora, casamento Só mais tarde. Campanhas que desde já convidamos estudantes, professores, pais e encarregados de educação a se juntarem a nós. Acreditamos que Unidos Podemos Fazer a Diferença. 6

7 Assim, apelamos ao Governo, e particularmente ao Ministério da Educação, ao Ministério da Saúde, ao Ministério do Interior, ao Ministério da Justiça e ao Ministério da Mulher e da Acção Social para o aprimoramento na definição e implementação de políticas e programas de prevenção e de mitigação dos problemas supracitados, nomeadamente, as gravidezes precoces, o abuso sexual, os casamentos prematuros e nos últimos dias, o rapto de estudantes, dentro e fora da escola. Estes problemas emperram, em grande medida, o acesso, a retenção e a conclusão do ensino pela rapariga. Precisamos de mecanismos que possam promover o acesso da rapariga a escola tais como: Redução da distância entre a escola e a casa, particularmente nas zonas rurais; Continuar e reforçar os programas de apoio as raparigas como bolsas de estudo, provisão de material escolar e de um ambiente seguro e são; Reduzir a carga de trabalho doméstico; Denunciar e punir exemplarmente os perpetradores de crimes como o Assédio e o Abuso Sexual, como casamentos prematuros e outras formas de violência e de discriminação contra a rapariga. Nesta apresentação focalizámos a rapariga que está no sistema de ensino. as, queremos também lembrar que este dia deve ser celebrado por todos nós recordando que temos que trazer para a escola aquelas raparigas que por razões diversas não tem o previlégio de estar numa escola, de estudar, de ter colegas, de ter professores como a nossa plateia de hoje. 7

8 Sob o lema das comemorações deste ano Inovar em Prol da Educação da Rapariga, proponho que saiamos deste encontro com cada um de nós a procurar respostas para a seguinte pergunta: O que eu posso fazer para que todas as raparigas do meu bairro, da minha comunidade ou do meu País possam estudar sem receios, sem violência e sem discriminação? Matola, 11 de Outubro de